sábado, 29 de dezembro de 2007

SALSA BRAVA

Estou nesse momento numa praia da Costa Rica chamada Salsa Brava. Trata-se de um point de surf mundialmente famoso. Direitas imensas, tubulares, em fundo de coral, com gente de varias (desculpe-me, mas nao estou conseguindo botar acento em nada nos computadores daqui)partes do mundo surfando. O que percebi? Que nao esta facil para mim pegar certas ondas. Estou caindo nos mares, mas com grande necessidade de usar a inteligencia, saber o momento de entrar nas ondas, e voltar para o pico (lugar onde as ondas quebram), pois percebo que "yo no tengo mas la forca de antes". Caramba, hoje nao foi facil. O proprio pessoal que esta comigo ficou meio apavorado.

O duro e reconhecer que meus filhos estao melhores do que eu. Mal acreditei no que vi. Eles estao se lancando em tudo. Amanha iremos para um lugar chamado Limon, onde ha uma ilha que quebra as ondas que mais gosto, as esquerdas (so no surf sou de esquerda).

Que legal o GLOBO REPORTER botar na retrospectiva do ano os protestos do Rio de Paz. Que alegria saber que cristao estao envolvidos com movimento tao importante. Como esse trabalho tem aberto portas evangelisticas. Nao posso descrever minha alegria de ter participado de tudo isso. O surf e bom, mas servir o Senhor de nossa vida e infinitamente melhor.

Soube da morte por assassinato de evangelicos no Rio. Sera que a igreja vai agora se despertar para a necessidade de fazer algo? Nos nao estamos livres dessa tragedia.

Um forte abraco para todos!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

YO HABLO DE COSTA RICA!

Cheguei ontem à noite aqui na Costa Rica. Estou realizando um antigo sonho. Meus filhos, mais alguns irmaos da nossa igreja na Barra e eu, estamos fazendo uma surf trip(uma viagem exclusivamente voltada para a prática do surf) por três países: Costa Rica, Panamá e Nicaraguá. Sim, batem altas ondas nesses lugares, uma verdadeira maravilha. E, bons preços. Hoje tirei a ferrugem. Peguei umas três a quatro horas de onda. Começando por baixo, pegando as chamadas "merrecas" (ondas pequenas) para nao fazer feio quando tiver que pegar as chamadas "morras" (ondas grandes).

Como é que fiz? Vendi um carro. Paguei umas contas, e, com a economia, meti o pé na estrada. Penso que mais vale as recordaçoes de uma viagem como essa do que andar num carro mais confortável.

Por enquanto está muito legal. Depois do ano de maior, mais ampla e mais diversificada atividade pastoral de toda a minha vida, estou descansando e tendo tempo de estar com os filhos biológicos e com os filhos espirituais, rapazes calvinistas, amantes de teologia e que aprenderam a surfar para a glória de Deus.

Para mim é uma volta ao passado. Um retorno às raízes. E eu que larguei o sonho de andar pelo mundo pegando onda, para ser pastor, vejo agora a fidelidade divina, concedendo-me esta oportunidade inesquecível. Como é bom andar com o Senhor Jesus. " Refrigera-me a alma".

REPORTAGEM DA VEJA
Espero, assim que tiver tempo, poder responder às sandices de um certo escritor americano que teve algumas de suas idéias divulgadas pela revista VEJA. Mas, que trabalho mal feito. Um festival de idéias fáceis inconsistentes.

REVERENDO ANTONIO ELIAS
Que saudade.

QUEM QUISER FALAR COMIGO:
1.Se for possível, espere pela minha volta.
2.Escreva para o blog.
3.Fale com a minha secretária (2618 9034).

RIO DE PAZ
Está firme. Fique de olho nos debates desse verao na praia de Copacabana. Nao deixe de orar pela queda na taxa de letalidade no nosso estado. Quando cheguei à Costa Rica, fui avisado por alguém que aqui há assalto a turista, mas sem morte. O rapaz inclusive completou: "Nao é como o Brasil, onde se mata muito". Nossa fama é mundial, lamentavelmente.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

A ÚLTIMA MENSAGEM DO REVERENDO ANTONIO ELIAS

Acabei de receber a triste notícia que o reverendo Antonio Elias faleceu hoje pela manhã. Ele é o pai espiritual de toda uma geração. Meu pai espiritual. Fui convertido na igreja que ele plantou, ele exerceu papel decisivo na minha entrada no ministério sagrado, batizou minha mãe, pregou inúmeras vezes na igreja onde sou pastor, concedeu-me conselhos em momentos cruciais da minha vida, ensinou-me a amar a igreja de Cristo, a pregar para consolar o abatido de espírito, entre tantas outras bênçãos mais que recebi através da sua preciosa vida.

Num dos meus últimos encontros com ele, quando ele encontrava-se internado no CTI de um hospital em Niterói, o reverendo da cama que se encontrava, virou-se para mim quando encontrava-me à porta para sair e disse-me: "eu te amo". Até então ele nunca havia dito isso para mim, embora sempre o tivesse demonstrado das formas mais comoventes possíveis. Espero até o fim da minha vida andar nos seus passos, amando a Deus e a Sua Palavra e pregando uma mensagem que seja ao mesmo tempo simples e capaz de encorajar os seres humanos, nesta vida dura, curta e incerta que todos levamos.

Escrevo essas linhas na sua casa, ao lado do seu quarto. Há um solenidade e paz que não sou capaz de descrever. Dona Maria José, sua esposa, acabou de me passar a última mensagem dele, escrita há três semanas quando ele se encontrava no hospital, tendo que se submeter a sessões diárias de diálise.

ACEITE ESSE PRESENTE !

Lc. 2:8-11
“...é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi,
O Salvador, que é Cristo, o Senhor”. (v.11)

Ele era esperado, anunciado pelas Escrituras. Mas, quando chegaria?
Somente o Pai conhecia o tempo certo.
“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel”
(Is 7:14).
“...um menino nos nasceu, um filho se nos deu...e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz....” (Is. 9:6).
- Mas, quando viria?
E naquela noite o anjo diz aos pastores que guardavam os seus rebanhos: “Hoje vos nasceu o Salvador...” !
Veio a palavra, primeiramente, a quem talvez nem estivesse, no momento, preocupado com o assunto. E as pessoas simples e humildes, não a ilustres e importantes. (É verdade que também os Magos viram a Sua estrela - Mt.2:1-2 -, tiveram a sua oportunidade e a aceitaram!).
“...hoje vos nasceu...”
“Hoje” é o dia aceitável! “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações"! (Hb.4:7) Pois a mensagem do anjo ainda afirma: “...vos nasceu”. Ou seja: nasceu para vós, para mim e para você!
- Quem nasceu? “Cristo, o Senhor”! O “Emanuel” (Deus conosco)! O “Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”!
Seu valor não pode ser descrito: apenas é mencionado e pode ser provado por aquele que o desejar, pois Ele não se impõe: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo”.
(Ap. 3:20)
Depois de conhecê-lO, de encontrá-lO ainda na manjedoura, os pastores, felizes, saíram divulgando “o que lhes tinha sido dito a respeito desse menino”! E todos se admiravam!
É muito importante aceitar esse Presente! E nós que O aceitamos, vamos, como aqueles pastores, contar aos que passam pelo nosso caminho, o que Ele tem feito em nossa vida, o que tem sido para nós!

Vale a pena!

Feliz Natal em 2007! E que Deus o abençoe e a toda a sua casa!

Antonio Elias e Maria José

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

A ROSA 6001


Ontem, pela manhã, estive presente no enterro da menina Fabiana Santos Oliveira de 11 anos, morta no último sábado no complexo da Mangueira, vítima de bala perdida. O que passo a relatar jamais sairá da minha memória, como lembrança amarga de anos de irracionalidade, maldade, indiferença e dor.

Assim que cheguei ao Cemitério do Caju, pude observar o pranto de centenas de pessoas simples, e os gritos da avó, que implorava à neta para que esta saísse do caixão a fim de que ambas retornassem para casa: “Fabiana, sai daí" (falava em alta voz), "vamos voltar para casa, eu te amo”. A mãe, inconsolável, era amparada por dois parentes. Procurei me aproximar. Disse para ela que a Bíblia diz através dos lábios de Cristo que o reino dos céus é dos pequeninos. Ao que ela me respondeu: “Moço, tira a minha filha de lá, ela não nasceu para ficar ali. O que vou dizer para o irmão dela, de cinco anos, que está aguardando o retorno da irmã? Oh! Eu tinha um casal de filhos, agora só tenho um filho”.

A menina é enterrada. Volto, a fim de ir embora, e observo que estou caminhando ao lado do pai e do avô, o mesmo que havia presenciado a morte da neta e recebera um tiro no braço. Tratei de me identificar, dizendo, entre outras coisas, que havia realizado o protesto do último sábado na Praia de Copacabana, no qual penduramos num varal de 2km 6000 rosas, que representavam o número aproximado de homicídios no nosso estado em 2007. O avô e o pai da vítima recebem-me de modo muito gentil. Caminhamos lentamente. O avô resolve abrir o seu coração em meio as palavras de consolo que eu procurava lhe comunicar: “Eu vi a hora que ela foi atingida pela bala. Pedimos ajuda a alguém para levar minha neta para o hospital, mas os pneus do fusca que haveria de levá-la, foram furados à bala, por homens que não queriam que saíssemos do local. Mas, conseguimos ir para o hospital. No caminho minha neta dizia: “Vovô eu vou ficar bem?" "Fabiana", dizia o avô, "vamos orar o Pai Nosso”. Ao que ela prontamente obedeceu. Fizeram a oração. Logo após, a menina vinha a falecer.

Por duas vezes, enquanto caminhávamos na direção da saída do cemitério, o avô contou-me o que ocorrera poucas horas antes da morte da neta. Naquele mesmo dia, a Fabiana, ao ver o noticiário na televisão sobre o protesto das rosas, virou-se para a avó e disse: “Vovó, veja, botaram 6000 rosas na praia porque 6000 pessoas foram assassinadas”. A avó respondeu: “É Fabiana, nós estamos vivendo em um mundo muito mau”. O que a avó não sabia é que dentro de instantes, sua netinha de 11 anos, haveria de fazer parte desta estatística. Ao tomar conhecimento da morte da menina, a avó, na sua angústia, foi levada a dizer para seus familiares: “Oh! A minha netinha é a rosa 6001”.

Saí do cemitério, e com a permissão da família, voltei para a Praia de Copacabana para montar novamente um varal. Só que agora, com o propósito de o varal receber uma única rosa. Uma rosa que simbolizasse a vida que foi ceifada logo após brotar. A vida da Fabiana, que tal como a menina Alana, e os meninos Hugo e João Hélio, perdeu a vida de modo brutal, numa cidade que tem permitido que crianças não cheguem à vida adulta.

Por que estou contando esta história? Respondo francamente: para emocioná-lo. Apresento esse relato na esperança de que alguém se comova. Se não formos tocados no campo dos nossos sentimentos, os mais nobres e humanos de que somos capazes de experimentar, de modo algum vamos ter energia suficiente para acabar com estas mortes que têm desgraçado a vida de tantas famílias. No fundo, sabemos o que deve ser feito, mas parece que falta-nos como sociedade, compaixão, a fim de que ajamos de modo determinado para que mais vidas não sejam desarraigadas antes do tempo.

Antônio Carlos Costa
Rio de Paz

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

MANIFESTO RIO DE PAZ

“Para que o mal triunfe, é necessário apenas que os homens de bem permaneçam inativos”.

Entre 1991 e 2007 foram mortos mediante assassinato aproximadamente 116.000 cidadãos fluminenses. Cerca de 80% destas vítimas tiveram sua vida interrompida na região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro. A maioria esmagadora, moradores de comunidades pobres das zonas norte e oeste. E tudo isto, num contexto em que não se sabe quantos dentre os mais de 4000 desaparecidos de 2007 foram assassinados. São números inaceitáveis. Representam o colapso do pacto social no seu item mais fundamental, o direito à vida. Nós, cidadãos cariocas, reconhecemos o erro de havermos permanecido calados. Milhares de conterrâneos tiveram a vida quitada pelo crime e não oferecemos resistência.

Sendo assim, entendemos que não basta botarmos a culpa no poder público, que agora, mais do que nunca, por estar enfrentando um problema crônico, endêmico e histórico, carece da mobilização de todos nós, homens e mulheres que reconhecem o valor incalculável da vida humana, a fim de que ao lado dos seus governantes o povo carioca obtenha a maior conquista social de toda a sua história: a vitória da vida sobre a morte.

O Rio de Paz, após ouvir as principais autoridades em segurança pública do nosso estado (meio acadêmico e poder público), vem por meio deste manifesto apresentar as principais medidas que julgamos que precisam ser tomadas no campo da segurança pública, no anelo de que em 2008 comecemos a experimentar a maior queda da taxa de homicídio de toda a nossa história. Não aceitamos em hipótese alguma a assunção de que não há o que se fazer para que o número de homicídios de 2007 não se repita no próximo ano.

MEDIDAS PRINCIPAIS:

 Estabelecer como prioridade central das políticas de segurança a redução dos crimes letais, com metas específicas de diminuição.

 Redefinir a metodologia de intervenção policial em comunidades pobres para um policiamento de tipo comunitário (baseado no modelo GPAE), de modo a reprimir o uso indiscriminado de armas de fogo, reduzir as balas perdidas, afirmar a autoridade da lei.

 Priorizar a investigação dos crimes letais e do uso de armas e munições ilegais a fim de que homicidas sejam julgados e condenados. A não apuração destes crimes estimula a prática do crime.

 Reforçar o policiamento ostensivo.

 Fazer com que a aplicação das sanções da lei seja mais rápida e certa a fim de dissuadir a prática do crime.

 Construir mais presídios e oferecer condições dignas de vida para os nossos presos. Não podemos conviver em pleno século XXI com campos de concentração.

 Determinar metas de redução da letalidade policial, de forma que diminua o número de policiais feridos e mortos e o número de civis feridos e mortos em operações policiais.

 Monitorar o consumo de munição por unidades de polícia e por policial. Para tanto, contratar marcação de munição por lotes de 50 cartuchos e aprimorar controle de estoques nas unidades.

 Lançar grande programa de formação e reciclagem, segundo doutrina e métodos que levem à qualificação do uso da força, à redução dos riscos para terceiros e para os próprios policiais, bem como à eficiência na resolução de problemas e prevenção de desordens.

 Aumentar o salário dos policiais militares, num valor compatível com a importância social destes profissionais e riscos que enfrentam no exercício do seu trabalho. Segurança não tem preço.

 Ampliar programas de apoio à segurança dos policiais e à de suas famílias.

 Reforçar as Corregedorias, conferindo a elas independência em relação às chefias de polícia.

 Valorizar a Ouvidoria, para que amplie sua independência e capacidade investigativa.

 Atualizar os dados da violência apresentados pelo Instituto de Segurança Pública a partir da informatização das chamadas delegacias tradicionais.

 Priorizar a juventude, em políticas de integração educacional, lazer, saúde e de geração de trabalho e renda.

 Restaurar os direitos fundamentais das comunidades pobres (livre expressão, ir e vir e vida).

 Tratar como problema de saúde pública a dependência química de drogas alucinógenas e realizar um amplo trabalho de educação e combate ao uso de drogas.

 Promover ações de interação positiva entre as polícias e as comunidades, particularmente com a infância e a juventude.

 Reivindicar que o governo federal cumpra o seu papel no combate à violência, investindo nas áreas pobres da cidade, disponibilizando recursos para a segurança pública e fazendo a fiscalização das principais vias de acesso à região metropolitana do Rio de Janeiro, no intuito de combater a entrada de drogas e armas.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Adeus, Hugo - "Oito mil terão a vida interrompida em 2008"


Este texto foi publicado no blog Repórter de Crime, do jornalista do jornal O GLOBO, Jorge Antonio Barros. Eu o escrevi logo após haver recebido a notícia de que o menino Hugo, de apenas do 12 anos, que na semana passada fora vítima de uma bala perdida enquanto jogava futebol em um clube do Leblon, havia acabado de morrer.

A partir daqui o Jorge Antonio faz a introdução do seu post. A parte em intálico é o texto que enviei.

Estou acabando uma jornada pesada de plantão de sábado, a cabeça gira, o coração bate meio conturbado depois de saber da notícia da morte de Hugo, de 12 anos, que estava há uma semana internado em estado grave, vítima de uma bala perdida no Clube Federal, no Leblon. Dimmi Amora, repórter, me avisa: "Morreu o menino do Leblon". Corro para fazer a terceira edição, troca matéria de lugar, a busca rápida por destaque na edição, o editor decide dar chamada na primeira página.

Estou cansado de tanta violência, mas não podemos desistir. A inspiração foge totalmente e um internauta me salva. Por acaso, não é um internauta anônimo e sequer usa apelido (nick) para fazer três comentários que transformo num texto único neste post. É o líder do movimento Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, a quem aprendi a admirar ainda mais este ano, por sua incansável luta pela vida e contra os números absurdos de homicídios, com os quais nos acomodamos há mais de uma década.

Nem pedi licença a ele, mas aqui vai seu desabafo, que assino embaixo:

"Acabei de receber a notícia de que o menino Hugo de 12 anos, atingido por uma bala perdida no Leblon há uma semana, que gostava de futebol e torcia pelo Botafogo, morreu. Faço duas orações nesta noite de sábado: "Deus, consola o coração desta família. Deus, perturba os que estão calados e recusam-se ir para as ruas protestar.

Peço a todos perdão pela minha forma de falar. Mas, entendam que escrevo numa noite de sábado, na qual meus dois filhos adolescentes (que gostam de futebol, torcem para o Botafogo, ou seja, crianças reais, iguais ao Hugo) estão na sala assistindo a um filme, após termos passado o dia de hoje na praia. Como está a cabeça dos pais do Hugo neste momento? Eu não posso esperar a tragédia alcançar a minha família a fim de aprender a ser gente. Não creio em um Deus carrasco. Nao creio que a única forma de ajudar é indo para as ruas. Mas, não resta dúvida de que em muitas ocasiões nossas consciências precisam de ser despertadas. E, de igual modo, é fato fora de controvérsia que, milhares nas ruas protestando contra a letalidade pode fazer toda a diferença. A média anual de homicídios no nosso estado é de 8.000 vítimas. Isto significa que 8.000 seres humanos terão a vida interrompida mediante assassinato ano que vem. Não aceito em hipótese alguma a assunção de que nao podemos fazer nada para evitar essas mortes

Fala-se muito em termos de solução de médio e longo prazo para o problema da segurança pública no nosso estado, devido à gravidade e complexidade do problema. Isto é inegável. Julgo, contudo, que temos que pensar também em termos de solução de curto prazo. Qualquer governo capaz de afirmar que não tem como salvar estas vidas (8.000, de acordo com a estatística do SUS), está admitindo numa certa medida o colapso do pacto social no qual nos encontramos, e isto no que nele há de mais fundamental: o direito à vida.

Vejam os números parciais da violência no nosso estado no ano de 2007: 5.000 homicídios dolosos 4.000 desaparecimentos, 60.000 lesões corporais dolososas, 30 policiais mortos em serviço 1.100 autos de resistência Tenho vergonha destes números. É a nossa geração que está sendo derrotada e presenciando este massacre de vidas humanas. No espírito de M. Luther King, gostaria de encerrar dizendo que, o silêncio dos bons me deixa aturdido, mais do que o grito dos facínoras."


Num país europeu, nem precisa ser sério, no mínimo grande parte da sociedade sairia às ruas para manifestar sua dor, se unindo por exemplo ao protesto dos policiais, marcado para às 10h deste domingo, perto do Forte de Copacabana, contra a morte do policial Eduardo Demoro, ocorrida em novembro.

Mas certamente cada um tem muito o que fazer pela própria sobrevivência e a vida segue seu curso, e o que é pior, sem solidariedade nem lágrimas.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

LUTERO, O AMADO LUTERO!


Acabei de ler uma série de sermões e livros do grande reformador alemão, que marcam o início do seu trabalho, numa época em que sua teologia encontrava-se em pleno desenvolvimento e marcada em parte pela sua herança católica. Mas, mesmo assim, que mergulho na graça de Deus! O Deus de Lutero não amedronta. É pão para o faminto de misericórdia, fonte de água viva para o sedento de perdão. Um Deus maior do que aquele que é apresentado pela religião.

Lendo Lutero diretamente na fonte, ficamos com a nítida impressão que grande parte das igrejas evangélicas do Brasil não é protestante.

Aqui vai uma das suas declarações, extraída da sua "Demonstração das Teses Debatidas no Capítulo de Heidelberg (1518):

"... o amor de Deus, vivendo no ser humano, ama pecadores, maus, tolos, fracos, para torná-los justos, bons, sábios e fortes; assim, antes se derrama e proporciona o bem. Pois os pecadores são belos por serem amados, e não amados por serem belos. O amor humano evita os pecadores e os maus. Cristo diz: Não vim chamar justos, mas pecadores".

terça-feira, 27 de novembro de 2007

IPANEMA E COPACABANA: PROFECIA PROFANA (FORA DO TEMPLO)

Continuamos profetizando nas ruas (praias). A exemplo de Jonas, julgamos que não dá para ser valente dentro do templo, enviando mensagens para o destinatário errado. Mas, com ousadia continuar bradando nas ruas: "Não matarás".

A experiência em Ipanema entrou para sempre na história da nossa vida. Não tenho tempo hoje para relatá-la. É aquele tipo de coisa sobra a qual um dia a gente se lembra e chora de gratidão a Deus - por Ele haver nos separado, na nossa maluquice, esquisitice e pecado, para sermos porta-vozes da sua mensagem eterna.

Ontem, em Copacabana, trouxemos o debate para a praia, em plena luz do dia. Convidamos um especialista em segurança pública da UERJ, o professor e pesquisador Ignacio Cano, para discutirmos sobre a taxa de letalidade do nosso Estado. Debate riquíssimo. Ficou claro que não precisamos separar defesa dos direitos humanos de repressão. Queremos um Rio desarmado e seguro, com marginais presos, mas com todo o processo transcorrendo em obediência às leis do país e respeito à santidade da vida humana.

Pela manhã estive num encontro do Conselho Comunitário de Segurança. Triste constatação: estes conselhos (excelente idéia) lutam com a enorme dificuldade de proporem políticas públicas para as áreas onde a criminalidade é alta, mas num contexto de intimidação e violência. Com que liberdade estas pessoas vão procurar os orgãos públicos para apresentarem suas demandas, enquanto uma arma está apontada para suas cabeças?

Continuo pensando na mobilização das igrejas evangélicas. Por que estamos em silêncio? Por que somos valentes apenas no púlpito? Por que não estamos na vanguarda desta luta pela defesa da vida? Por que assistimos esta tragédia com os olhos secos e os braços cruzados? Que Bíblia estamos lendo? Que igrejas, hoje, podem ser consideradas como comunidades que têm no seu rol de membros cidadãos do reino dos céus? Por que a sociedade não cristã está tão parecida com aqueles que dizem ser habitação de Deus?

Que dificuldade de divisar a presença de nascidos de novo em algumas das nas nossas igrejas. Penso que chegamos ao ponto de ter que dizer: cuidado com igreja. Cuidado com a subcultura obscurantista, alienadora, que transforma a fé mais libertadora em narcótico religioso. Religião mata. O inferno pode transformá-lo de um tarado em um casto e respeitável fariseu. Uma coisa fria, alienada, escravisada por um cultura religiosa que emburrece - que não nos dá o reino de Deus e ainda nos priva do intercurso legítimo com o mundo.

Amo a igreja. Devo tudo a ela. Sou protestante. Amo Lutero ("minha consciência é cativa da Palavra de Deus". "Se vocês não me convencerem pela razão e pelas Escrituras de que estou errado, eu não me retratarei". "Se a correção da injustiça praticada contra você representar a pratica de uma injustiça ainda maior, mande para o inferno o seu senso de justiça".). Não consigo me imaginar longe da igreja. Nunca aconselharia cristianismo sem igreja. Ora, Aquele que é santíssimo, nos dias da sua carne andou noite e dia com a igreja - seus discípulos, apesar de todas as doenças destes. Crise que nos impulsiona para fora da igreja, que nos faz sentir melhor do que os demais, que nos leva a crer que não cabemos na igreja, que nos conduz a levar pessoas a se afastarem da comunhão cristã, pode ter certeza, procede das trevas.

Contudo, temos que falar. E eu afirmo: a nossa falta de mobilização no combate contra o desrespeito aos direitos humanos no Brasil, afasta o Espírito Santo das nossas assembléias, torna- nos vistos como alienados pelos de fora, representa uma péssimo legado que deixamos para a próxima geração de crentes e nos faz entrar para a história como a primeira geração de protestantes, que passou por um país e deixou tudo intocável, tragicamente igual, como se os filhos da luz, com sua presença, não representassem o estabelecimento da possibilidade de o homem sem Cristo, passar a ver o que sem esta luz, é incapaz de enxergar.

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

CARTA DE AGRADECIMENTO DO CÔNSUL GERAL DA ITÁLIA

"Prezado Senhor Costa,

Agradeço em nome do povo italiano a participação e as ações de solidariedade do 'Rio de Paz' pela trágica morte de Giorgio Morassi. A mobilitação de seu movimento foi acompanhada também na Itália e demonstra concretamente o sentido de responsabilidade e a rejeição da violência por parte da sociedade civil brasileira. Não deixarei de informar também a família de Giorgio Morassi em relação ao Vosso ato e à carta que me foi enviada.

Sensibilizado,

Massimo Bellelli
Cônsul Geral da Itália"

COMENTÁRIO DA AMIGA MÔNICA REIS SOBRE O PROTESTO DO RIO DE PAZ EM IPANEMA



Os manifestantes seguram velas diante do "corpo" coberto por bandeiras do Brasil e da Itália, a nacionalidade do turista que foi atropelado e morto por um ônibus, após um assalto em Ipanema

A enviada especial deste blog à manifestação do movimento Rio de Paz em Ipanema (ontem à noite), a repórter-voluntária Mônica Reis, mandou um longo relato sobre o evento que ajudou um grupo de pessoas a refletir um pouco mais sobre o caos em que estamos vivendo.

Aqui segue o texto da Mônica, que é para mim hoje uma representante do "new journalism", o novo jornalismo como foi chamado na América, que nada mais é do que um olhar menos distante da suposta realidade e mais pleno de significados do que o nosso jornalismo dito civilizado em busca da eterna isenção:

"Cheguei a manifestação e encontrei o Antônio Carlos Costa, coordenador do Rio de Paz, sentado com algumas pessoas que o acompanhavam. As pessoas que passavam foram se aproximando e mais pessoas chegando e ficando. Foram chegando e ficando em respeitoso silêncio, sentadas em torno da representação do "corpo" de um rapaz morto.

O "corpo" representa o turista italiano morto ontem após ser assaltado no Rio. Mas, pasmem, não era apenas a representação do corpo. Havia ali, meu Deus, na nossa frente no asfalto, pedaços do corpo do rapaz, nada menos que quatro dentes da vítima deixados no meio-fio. A gente logo se perguntava por que a perícia não os recolheu antes. Então um policial civil se aproximou, disse que estava ali para fazer isso e os levou.

Todos estavam sentados conversando sobre o valor da vida, pensando juntos nesse jovem e em sua família, quando chegaram os carros de PM. Abruptamente, sem muita conversa, os policiais queriam nos retirar dali, diziam que era preciso liberar o trânsito. Então o Antônio vai conversar com os policiais. Armas em punho. As do Antônio são só duas: suas palavras e a certeza de que precisa fazer alguma coisa contra a barbárie que teima em se instalar em nossa cidade. Parece que foram foram eficientes as armas dele. Os policiais “nos permitiram” ficar.

Depois da chegada barulhenta dos carros de polícia, chegam duas ambulâncias do Corpo de Bombeiros. Estacionam, descem bombeiros com luvas, prontos para “buscar o corpo” que está no asfalto. Meus senhores, o corpo desse rapaz não está mais no asfalto. Está em nossa indignação, representada ali no asfalto por sacos de areia, simulando um corpo, coberto com as bandeiras do Brasil e da Itália. A noite vai chegando, escura, escura... Nosso futuro também será uma noite escura? Vamos acendendo velas. Somos essa chama e a luz de cada um, vai iluminando a escuridão que teima em nos rodear. Nosso silêncio se faz ouvir no meio do barulho. É mais alto que qualquer grito e vale por muitos discursos.

Percebo que sentados em silêncio somos todos iguais. Não há um líder que fala e um grupo que apenas ouve. Dizemos juntos: queremos caminhar em segurança pelas calçadas da cidade. Os apartamentos de Ipanema são de quem tem dinheiro para comprá-los, porém as calçadas em frente ao mar são de todos nós (ou deveriam ser). Essas calçadas são de pobres, de ricos, de pessoas da Baixada Fluminense, são de nordestinos e de estrangeiros. Por que a “calçada é do povo”, inclusive dos turistas que vêm ao Rio e levam consigo nossa hospitalidade e a beleza de nossa cidade em suas retinas. Eles nos deixam os numerosos empregos gerados pelo setor do Turismo e o intercâmbio de experiências culturais. Não queremos que eles deixem aqui a própria vida, por causa da violência. Lutar por uma cidade segura também é garantir empregos.

Hoje (Dia da Consciência Negra, 20 de novembro) no Rio, mais um protesto. Ontem (dia 19 de novembro, Dia da Bandeira) no Rio mais uma pessoa morta por causa da insegurança. Não é apenas outro protesto, assim como, uma pessoa morta, nunca pode ser aceita como “apenas mais uma pessoa morta”. Não devemos aceitar que uma vida seja retirada pela falta de um direito básico: uma estrutura decente de segurança pública. Porém, se não conseguirmos ser uma cidade com segurança, podemos ser uma cidade solidária, de pessoas que não cruzam os braços e ignoram que mais uma vida se foi em nossas ruas manchadas de sangue, onde dentes são esquecidos no meio-fio.

Quantas vidas ainda serão retiradas por todo esse terror e para que algo mude? Quantas vítimas ainda serão imoladas para que o sacrifício desse sangue nos traga mais segurança?"

Por Mônica Reis, enviada especial do blog REPÓRTER DE CRIME.

Obs. Veja a repercussão na imprensa no blog A Bíblia e o Jornal (http://abibliaeojornal.blogspot.com). É só clicar no alto à direita.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

CONFLITOS DESNECESSÁRIOS

 


Faz dias que estou para postar esta foto. Ela foi tirada po mim num jogo do Botafogo no Engenhão. Observe a fila. Falta de organização e respeito ao ser humano. O que tudo isto acarreta? conflitos desnecessários, pois há uma tendência de as pessoas se exasperarem quando estão amontoadas desta forma. É isto o que pude testemunhar em vários jogos.

É por isto que precisamos ver o problema da violência urbana em termos de políticas públicas também. O Estado permite que seres humanos vivam em condições tais, que acabam fomentando o crime. Aplique isto às áreas pobres do Rio de Janeiro. Pense nos nossos presídios com problema de superlotação. Você suportaria viver em tais condições?
Posted by Picasa

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

PANE NA INTERNET


Que pena! Tive que sair do ar nestes últimos dias. Houve um problema com o nosso provedor de internet, seguido de alguma coisa que aconteceu no aparelho que distribui as linhas de computador aqui de casa.

Aproveitei para ler bastante (Lutero, Agostinho, Norbert Elias). Depois falo sobre minhas impressões sobre estas leituras. Muita coisa maravilhosa.

Domingo passado preguei lá na igreja, já me sentido melhor da crise de sinusite que me acometeu há 15 dias.

Ontem encerrei minha série de mensagem sobre a Carta aos Colossenses. Antes da exposição bíblica, tive uma ótima reunião com a Kelly, doutoranda em psicologia pela UFRJ. Ela vai assumir um dos projetos sociais do Rio de Paz, cujo objetivo será dar apoio aos parentes das vítimas de assassinato no Rio de Janeiro. Ela pretende desenvolver ao mesmo tempo, todo um trabalho de estatística sobre o problema da violência. Isto possibilitará ao nosso movimento apresentar relatórios sobre este tema, o que espero haverá de lançar mais luz sobre o drama social mais grave da história presente do Brasil.

Agora, vou sair para atualizar o blog A Bíblia e o Jornal. Quanta coisa interessante deixei de comentar por causa deste problema com a internet.

A foto acima, foi tirada por um amigo, em um destes últimos jogos do Botafogo no Engenhão. Quem veste o manto sagrado é o Matheus, meu filho mais novo.

Bom feriado a todos!

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

QUANDO PERDEMOS O TEMPO

Tem dia que acontece aquilo para o que não vemos proveito algum. Perda de tempo. Gasto inútil de dinheiro. Energia perdida. O que fazer?

Se você pode dizer que não falhou no planejamento, fez o que estava ao seu alcance para que a coisa fosse bem sucedida, e, mesmo assim, nada deu certo, descanse na providência divina. O justo viverá pela fé. Não apenas será salvo pela graça mediante a fé, mas esta mesma fé que o ajudou a receber a salvação, de igual modo, o ajudará a encontrar propósito na chamada "vida debaixo do sol". O desafio é viver numa confiança implícita na bondade de Deus.

O NOVO BLOG

Não deixe de visitar o blog A Bíblia e o Jornal (http://abibliaeojornal.blogspot.com). Ali, você terá acesso ao ponto de vista teológico sobre os principais assuntos do nosso noticiário semanal. Um boa oportunidade de aprender teologia e relacioná-la aos fatos da vida.

CIDADANIA NO BRASIL

Mais uma vez, gostaria de recomendar este livro, do escritor José Murilo de Carvalho. Imprescindível para todo aquele que quer ajudar este país a sair do buraco, e isto a partir da compreensão da história dos direitos civis, políticos e sociais do povo brasileiro.

LUTERO

Estou lendo as obras completas do grande reformador alemão. Que delícia. É se lambuzar na graça de Deus. Que Deus bom é o Deus de Lutero!

Vai aí uma frase extraída do livro: "Não nos tornamos justos por realizarmos coisas justas; é tendo sido feitos justos que realizamos coisas justas".

terça-feira, 6 de novembro de 2007

UM BLOG CRISTÃO DE NOTÍCIAS - http://abibliaeojornal.blogspot.com

Na ocasião em que me converti ao cristianismo (outubro,1982), meu desejo era o de entrar para o jornalismo. Naquela época, havia uma grande influência sobre a minha vida, por parte do meu tio João Alves, jornalista do Jornal do Brasil, que costumava me levar na redação do jornal, nas belíssimas instalações da Avenida Brasil.

Veio a conversão, e, com ela, a descoberta de um mundo novo. O que resultou num completo fascínio pelo cristianismo, acompanhado de uma compulsão para pregar. Para mim, ficara tão evidente que o real problema do homem é o distanciamento do seu Criador - que sem Deus o homem está perdido metafisicamente, pois não há nada no universo que lhe ofereça sentido para viver, que decidi consagrar minha vida à pregação do evangelho. Daí, entrei no seminário e passei a me dedicar a proclamação da fé cristã. O que faço ininterruptamente há 25 anos com prazer crescente e profundo senso de privilégio.

Com este blog, procuro satisfazer estes dos prazeres: estar em contato com as notícias do Brasil e do mundo e ensinar teologia, ou, revelar a relevância da rainha das ciências (o saber mais sublime é o que trata do tema mais importante) para este início de século XXI, através das respostas do cristianismo bíblico às questões levantadas pelo noticiário.

É isto o que pretendo realizar: fazer uma análise das notícias dos principais jornais do mundo (El Pais, Le Figaro, The New York Times, The Washington Post, O Globo, Folha) a partir de uma perspectiva bíblica. Com isto, espero que possamos fazer uma leitura dos acontecimentos mais importantes à luz das Escrituras do Antigo e do Novo Testamento, e, ao mesmo tempo, aprendermos teologia.

Antônio Carlos Costa

Obs. O que muda a partir de agora? Este blog que você tem acompanhado, continua tendo um cunho mais pessoal, e, portanto, espontâneo e aberto. Penso que aqui posso me sentir livre para falar sobre aquilo que, a partir das minhas experiências de vida, pode edificar meus irmãos na fé. Espero em Deus, sempre visando a edificação no lugar da exaltação pessoal.

Veja e divulgue o novo blog. Creio que ele pode ser um instrumento evangelístico e socorrer a igreja, a fim de que possa ajudar, quem sabe, à comunidade cristã a discernir os tempos.

O endereço é: htpp://abibliaeojornal.blogspot.com

Estou lhe aguardando!

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Estou saindo para Copacabana...

Daqui a pouco teremos mais um "1 Hora pela Vida" na praia de Copacabana. Estaremos reunidos lá, pela graça de Deus, entre 20h e 21h, com nossas velas acesas, apesar do dilúvio que está caindo na cidade. Nada que um bom guarda-chuva não ajude a resolver. Além do mais, isto não é ir para uma arena romana para morrer por amor a fé.

Isto é o que chamo de ato profético na acepção da palavra. Não é fazer declarações tolas, do tipo "os céus vão se abrir sobre o Rio de Janeiro", "toda a maldição desta cidade está sendo quebrada", isto tudo é bricadeira de criança: Modo sutil de apaziguar uma consciência culpada pela sua covardia.

Coisas acontecem e o inferno treme quando a igreja de joelhos oferece a garganta a Deus para que Sua verdade seja proclamada mediante a profecia que denuncia o mal. O término do regime da escravidão na Inglaterra não se deveu a "atos proféticos", mas a oração acompanhada de ação no parlamento inglês através de um crente metodista de nome William Wilberforce.

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

O CORAÇÃO E O BRAÇO DA SOCIEDADE CIVIL

Acabei de receber por e-mail, um documento que conta com a adesão de várias pessoas e instituições conhecidas, convidando-me a apoiar um manifesto contra o que chamam de “política de extermínio” do atual governo do Estado do Rio de Janeiro. Fiquei feliz com esta mobilização por pelo menos três motivos.

Em primeiro lugar, é uma nota de esperança observar pessoas tão conhecidas, talentosas e dos mais diferentes setores da sociedade preocupadas com a violência no Rio de Janeiro. O nosso silêncio em face da barbárie é tão revelador da nossa patologia social quanto os crimes praticados.

Em segundo lugar, a preocupação com uma política de segurança que respeite as leis do estado democrático de direito, revela o amadurecimento de uma sociedade capaz de compreender que, o caminho da lei e da democracia é mais lento e trabalhoso, mas seus ganhos são mais profundos e duradouros. Os que não têm conhecimento da saga humana na busca de relações sociais justas, somente estes, são capazes de anuir à busca de solução para problemas sociais ao arrepio da lei.

Em terceiro lugar, o entendimento de que não se resolve o problema da violência com bala, mas com política pública que respeite a santidade da vida humana, especialmente a do pobre, trata-se de uma aspiração legítima de uma sociedade capaz de compreender que, é melhor prevenir o crime do que puni-lo.

Sendo assim, ao ver tanta gente boa junta ao lado de instituições respeitáveis, com preocupações tão justas, pensei que poderíamos estar começando a virada de que este estado carece no campo da segurança pública. O elemento novo: o engajamento da sociedade civil. Contudo, sem o braço do poder público, pouco podemos fazer. É assim que ficou acordado neste chamado pacto social sob o qual estamos como povo. Precisamos de uma união da sociedade civil com os seus governantes, o coração e o braço, respectivamente, de uma nação organizada politicamente.

O governo do estado carece do apoio da sua população. Não proclamo uma participação acrítica. Mas, falo sobre a compreensão, apesar de as divergências que possam haver (eu mesmo tenho as minhas), de que os nossos atuais governantes estão administrando um problema grave e crônico. Assumiram a direção do nosso estado num contexto em que 19 pessoas haviam sido assassinadas em pontos diferentes da cidade (oito delas mortas carbonizadas) numa ação orquestrada por facções criminosas. Lembro-me da comoção social daqueles dias, que assumiu proporções mais amplas, por ocasião, um mês e meio após aos crimes supramencionados, da morte do menino João Hélio. A cidade clamava uníssona por ordem e paz. Fora isto, qual governante é capaz de enfrentar os interesses corporativistas sem o apoio da população? Precisamos criar um situação apta a fazer com que os anseios do povo sobrepujem os interesses egoístas de uns poucos que lucram com a desgraça. A praga da violência tem raízes culturais que para serem arrancadas exigem a mobilização de toda a sociedade.

Por estes e tantos outros motivos mais, venho propor o seguinte caminho, a fim de que associemos ao manifesto, o que pode representar benefício positivo para a população. Este acréscimo que representaria ganho concreto e amplo para os cidadãos cariocas, envolveria humanizar a ação da polícia, levar cidadania para comunidades pobres e buscar a segurança de uma população que encontra-se cativa da ação de marginais, cujas espécies de crimes que têm praticado sistematicamente na nossa cidade, não encontram justificativa na pobreza. Não há miséria que justifique arrancar a mama da moça e depois degolá-la, ou deixar um animal faminto durante dias, para depois este ter seu instinto de fome satisfeito no corpo de uma pobre vitima humana, ou retalhar o corpo de alguém para após agonia inimaginável do refém, matar.

É fundamental que procuremos o diálogo com o governo do estado. Carecemos de propor ao nosso governador a assunção de que o Rio de Janeiro é ingovernável no campo da segurança pública sem a presença e o investimento maciço do governo federal. Clamamos por policiamento ostensivo, por exemplo, mas não há efetivo, e o que há não recebe investimento à altura do seu valor social. O Rio de Janeiro precisa de ser desarmado já. Discussão que não passe por uma tentativa de salvar os quase 10000 cidadãos fluminenses que serão mortos ano que vem, não está à altura da principal e mais urgente necessidade social da nossa sociedade.

Chegou a hora de mostrarmos que nesta terra pessoas não se reúnem apenas para cantar e sambar, mas que temos aqui um povo que não perdeu a alma, amante da justiça, e que está se levantado como um só corpo para que no ano de 2008, a taxa de letalidade do nosso estado caia de modo espantoso. Este ano (10 meses) já foram 4500 mortos por assassinato, 45000 lesões corporais dolosas e mais de 3000 conterrâneos estão desaparecidos. Fora, os autos de resistência (pessoas mortas em confronto com a polícia). Que estes números não mais se repitam. E que a sociedade civil e o poder público encontrem solução que leve em consideração, tanto a desigualdade social que precisa ser mitigada, quanto a crueldade que precisa ser reprimida.

O CAMINHO DA LEI E DA DEMOCRACIA

Esta história de que ser a favor dos direitos humanos significa necessariamente ser a favor do criminoso, é um equívoco. No meu caso, posso dizer que sou da opinião de que não há miséria que justifique os crimes que estão acontecendo na nossa nação. Forno microondas (incinerar a vítima), tortura acompanhada de morte, estupro, deixar um animal faminto durante vários dias para em seguida devorar a vítima (estão fazendo isto em certas áreas do Rio de Janeiro, utilizando porco), ora isto não significa busca por condição digna de vida. Isto é maldade que precisa ser detida. Contudo, só quem não conhece história geral e a saga humana em busca de relações sociais justas, para aplaudir o combate ao crime ao arrepio da lei. O caminho da lei e da democracia é sempre mais difícil e lento, mas seus ganhos são mais profundos e duradouros.

QUEM CALA CONSENTE

É urgente a necessidade de a igreja passar a defender com mais clareza os direitos humanos no Brasil. Falar sobre políticas públicas é mais difícil para todos nós, mas denunciar o que está errado não exige especialização da parte de ninguém. Basta ver corpos ensangüentados estendidos na rua, presídios lotados, crianças fora da escola soltando pipa em plena luz do dia em cima de laje, hospitais públicos em decadência, disparidade social, para sabermos que algo está errado. Não acredito que só especialista têm o direito de falar. Os profetas bíblicos, em muitas ocasiões, são apresentados denunciando o erro sem apresentarem políticas públicas. Contudo, nada disso deveria nos desestimular à busca de informação.

A SUBIDA VERTIGINOSA DO BLOG

Fiquei muito feliz, ao checar ainda agora, o número de pessoas que visitaram o blog nos últimos dias. Houve uma subida significativa, cuja razão desconheço, com a exceção da graça de Deus, evidentemente. Digamos (falando em termos teológicos) que não sei quais as causas secundárias que a causa primária (a graça de Deus) está usando.

Espero que você sempre encontre neste espaço uma análise dos fatos à luz da verdade bíblica. Meu sonho, entre tantas outras coisas, é despertar a igreja de Cristo para sua missão integral.

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

O LIVRO DO JOSÉ MURILO DE CARVALHO

Gostaria de recomendar a leitura de Cidadania no Brasil de José Murilo de Carvalho. Ele vai ajudá-lo a conhecer a história dos direitos políticos, civis e sociais do povo brasileiro. Leitura indispensável para todo aquele que sonha com transformações no campo dos direitos do homem neste país, a partir de uma ação lúcida por parte da igreja.

Deixe-me falar sobre algo que está me ocorrendo agora. Muitos evangélicos não se envolvem com obras de mudanças estruturais a partir da ação política, do lobby do bem, do exercício de um ministério profético, por julgarem que o mundo não tem jeito. Dizem que só nos resta aguardar o fim. Mas na Primeira Epístola a Timóteo, no capítulo dois versículo dois o apóstolo Paulo diz: "... para que vivamos vida tranqüila e mansa, com toda a piedade e respeito". Ele está falando sobre o papel do Estado. A graça de Deus, mediante a ação e oração da igreja, pode tornar nossas cidades lugares que propiciem a prática de uma vida boa e justa. Ele não fala de paraíso, mas de algo que pode ser certamente melhor do que viver nas cidades grandes brasileiras.

VÍDEOS DO RIO DE PAZ

Se você puder, dê uma olhadinha nos vídeos do Rio de Paz que encontram-se na parte mais baixa da coluna da direita. Um deles, trata-se de uma edição que foi feita com base em imagens cedidas pela Rede Globo, sobre os protestos do Rio de Paz.

Com um pouco mais de paciência, assista o vídeo do Blade Runner (lembre-se que as imagens são sempre apresentadas no alto desta coluna), para que você possa entender o porquê de não me imaginar dedicando minha vida exclusivamente a assuntos sociais, negligenciando a pregação da palavra de Deus.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

AS ÚLTIMAS 72 HORAS

Não está sendo fácil manter o ritmo de trabalho com o meu atual estado de saúde. Nada grave. Não se trata de um espinho na carne. Acredito que a agenda, somada à chuva que tomei no protesto de segunda-feira retrasada em Copacabana, arruinaram comigo. Caí de cama com uma virose que deu ensejo à minha crise anual de sinusite. Contudo, não pude parar.

Domingo preguei duas vezes na minha igreja. Procurei falar sobre a base bíblica para a atuação da igreja ao lado da sociedade não cristã na luta pela defesa dos direitos humanos. Procurei dar ênfase ao conceito calvinista de graça comum. Esta ação do amor de Deus mediante a qual o não cristão torna-se capaz de enriquecer a vida dos seres humanos das mais diferentes formas - no campo da arte, da ciência, da tecnologia, da literatura, e assim por diante.

Terminei a segunda pregação sem voz. Fui dormir me sentindo bastante mal. Mas, veio a segunda-feira e com ela uma reunião ao ar livre na praia de Copacabana para definirmos os rumos do Rio de Paz e realizarmos o protesto contra a violência que fazemos toda segunda-feira em frente à Avenida Princesa Isabel. Foi um momento riquíssimo. Cristãos e não cristãos juntos, lutando pela vida.

Hoje participei de um protesto em frente ao fórum do Rio, que foi realizado pelo Gabriela Sou da Paz, dos meus caríssimos Santiago e Cleyde, pais da Gabriela, que foi morta no metrô da Tijuca no ano de 2003, com um tiro no coração, quando tinha apenas 14 anos.

Agora, estou retornando para a leitura de um livro que está me agradando imensamente: Cidadania no Brasil, de José Murilo de Carvalho. Ele fala sobre a história dos direito civis, políticos e sociais do povo brasileiro. Na verdade, um histórico de indiferença e desrespeito à vida. Parece que no nosso país nunca houve na prática um contrato social.

sábado, 27 de outubro de 2007

ESTRANHO SILÊNCIO

Vejo com espanto o silêncio da igreja em face da violência reinante na nossa cidade. Primeiro, porque o cristianismo prega a santidade da vida humana. Crer que o homem foi criado a imagem e semelhança de Deus e ao mesmo tempo conviver com um massacre de vidas humanas, trata-se de uma injustificável inconsistência intelectual. Segundo, porque Deus julga sua igreja quando esta deixa de exercer sua função profética na história. Um peixe grande pode engoli-la, caso ela se proponha a fugir da face de Deus. Por que o avivamento não vem? Por que falta transcendência em nossos cultos? Por que tantos escândalos em nossas comunidades? Por que tanta perda de membros? Deus não tem interesse em derramar do seu Espírito sobre uma igreja desalmada. Terceiro, porque estamos diante de uma oportunidade única de restaurarmos nossa credibilidade e confiança perante a opinião pública. Milhares passariam a nos levar a sério caso nos vissem nas ruas expressando nossa indignação em face do alto índice de letalidade da nossa cidade.

Ainda é tempo de nos arrependermos. O peixe grande pode nos vomitar na praia da vontade de Deus para nossa vida. E que na nossa Nínive, preguemos contra sua violência, com compaixão por este povo grande e que não sabe discernir o certo do errado.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

DESABAMENTO NO COMPLEXO DO ALEMÃO

Três crianças entre dois e três anos morreram hoje soterradas num desabamento ocorrido no Complexo do Alemão. A tragédia ocorreu no mesmo lugar onde a polícia recentemente matou 19 supostos traficantes. Será que o Estado não poderia entrar com a mesma energia nesta comunidade pobre, mas para evitar que desgraças, como a morte dessas crianças, ocorram novamente? Por que a sociedade do Rio de Janeiro não se levanta para levar condições dignas de vida para estas pessoas?

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O FÓRUM - I

O Primeiro fórum sobre Violência, Participação Popular e Direitos Humanos, realizado pelo Rio de Paz e a ONU, chegou ao fim na tarde de hoje. Todos os cariocas deveriam ter ouvido tudo o que pudemos ouvir nestes dois dias. O quadro do desrespeito à vida, em especial, da violência no Rio de Janeiro (o que não é privilégio apenas da nossa cidade)é gravíssimo.

Um ex-comandante do Bope fez as seguintes declarações: "estamos enxugando gelo", "estou cansado da guerra", "não dá mais para ver áreas ocupadas pelo crime sem a presença do Estado". Isto significa, que um policial tarimbado, percebe a ineficácia de um política de segurança pública de confronto, que não venha acompanhada da presença definitiva do Estado nessas comunidades dominadas por bandidos. A classe média está vibrando com uma espécie de combate ao crime, comprovada historicamente como ineficaz. Lembre-se que o filme Tropa de Elite, retrata uma realidade de dez anos atrás. Dez anos. O que mudou? É so morte de policial e traficante.

O delegado da polícia federal, Antonio Rayol, falou no debate de hoje sobre o quanto uma ação inteligente da polícia poderia prender estes mesmos traficantes sem derramar tanto sangue. Esses homens namoram, comemoram aniversário, vão ao shopping, assistem partida de futebol no estádio, ou seja, basta usar a cabeça, e essa gente haverá de parar atrás das grades, sem a necessidade de uma criança de 4 anos levar um tiro no coração.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A AGENDA DE HOJE

Hoje a tarde e a noite serão intensas. Estou saindo agora para o escritório da ONU a fim de fazer as checagem final dos preparativos do fórum de amanhã. Mais tarde estarei na praia de Copacabana em mais um "1 Hora Pela Vida". Assim que terminar nosso ato público, partirei para um encontro no jornal o Globo com um dos nossos mais importantes consultores, o excelente jornalista Jorge Antonio Barros.

A partir de amanhã, começaremos a escrever os principais ítens do nosso manifesto contra a violência do Rio. Marco histórico. Esperamos que surja um documento que corresponda às expectativas da sociedade, e acima de tudo, da justiça, no que tange a defesa do direito à vida.

É difícil variar de assunto quando tantas pessoas morrem por assassinato todos os dias. Estamos na luta. Creio que com a ajuda dos céus vamos ver a taxa de letalidade do nosso Estado cair.

Antes que eu me esqueça, estou esperando por você em Copacabana (em frente à avenida Princesa Isabel) hoje às 20h.

sábado, 20 de outubro de 2007

QUERES FOGO DO CÉU?

"... Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir? Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las...". (Evangelho de Lucas 9: 54-56)

É considerável o número de pessoas que aprovaram a recente incursão da polícia do Rio de Janeiro na favela da Coréia, no bairro de Senador Camará, esta semana. Uma cena que chamou a atenção de todos, em especial, foi a do helicóptero da polícia atirando nos rapazes que fugiam. Todos foram mortos, apesar da facilidade com que poderiam ser presos.

Há base teológica para o Estado usar o poder da espada. A vida em sociedade exige o poder de coerção da lei para que haja ordem. A natureza humana jamais permitiu que as coisas fossem diferentes. O Estado tem que aplicar a lei.

O que muitos se esquecem, contudo, é que aplicar a lei significa também as seguintes coisas, num caso como esse:

1. Entrar na comunidade comandada pelo crime para ficar, e isto mediante planejamento fruto de serviço de inteligência, capaz de garantir um mínimo de letalidade.

2.Foge ao espírito do evangelho desejar a morte a priori. É melhor prevenir o crime do que puni-lo. E se tiver que haver punição, que a morte seja recurso usado apenas após a utilização de todas as tentativas possíveis para impedir o malfeitor de ir adiante no seu intento de continuar na prática do crime.

Vou ter que parar por aqui. Domingo tem mais. Infelizmente estou escrevendo numa noite de sábado. Amanhã é trabalho duro. Dois sermões logo de manhã cedo. Só um pouco mais. Acabei de chegar do Engenhão, onde fui assistir um jogo do Botafogo (ganhamos!). Mais uma vez pude ver o quanto a falta de ordem gera conflitos inevitáveis. Pouquíssmos guichês e locais de entrada. Centenas e centenas de pessoas se acotovelando para entrar no estádio, inclusive muitas crianças. O que ocorre? as pessoas acabam ficando nervosas, vendo o tempo passar, a hora do jogo se aproximar, a fila que não anda, entre tantos outros inconvenientes mais. Ali, pude ver, de forma resumida, o quanto o Estado, ao se fazer ausente e não cumprir a lei, conduz os homens a conflitos que poderiam ser evitados. Depois eu vou mostrar as fotos que tirei.
Um bom domingo (dia do Senhor - domini) para todos!

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O NONSENSE DO PRESENTE MOMENTO


Estou atônito, com o lugar que foi dado pela nossa mídia, para o que aconteceu ontem, na zona oeste do Rio de Janeiro. Supostos traficantes mortos (10), uma criança de 4 anos assassinada por um bandido, policiais feridos (1 morto), enfim, cenas de guerra, e o noticiário dá mais destaque ao insosso jogo da seleção brasileira de futebol do que a uma tragédia social.

Veja os absurdos do noticiário de hoje:

1. Garotos correndo atrás da bola para ganharem milhões, e policiais expondo suas vidas à morte para receberem no fim do mês, um soldo absolutamente incompatível com a importância social do seu trabalho.

2. Rapazes rendidos, fugindo desarmados, caçados como animais, quando poderiam ser facilmente imobilizados e presos, em vez de serem mortos pela polícia. A polícia tem o direito de matar? não resta dúvida que sim. Não tenho como defender bandido que resiste, com forte armamento, a investida justa da polícia. Mas, se pode prender, por que matar? Se isto não foi possível ontem, sugiro que argumentos mais fortes do que as cenas da televisão (que podem nos enganar) nos sejam apresentados. Por que esta preocupação? Para defender marginal? Não, para fazer cumprir a lei. E, matar é sempre uma tragédia. Trata-se de solução para situações in extremis.

3. O colpaso do nosso sistema penitenciário, associado às brechas da lei, estimulam o policial a sentenciar o criminoso à morte (embora não justifique), mesmo quando este já está rendido, pois aquele sabe que no Brasil o crime não é devidamente punido. O policial prende, para ser morto lá na frente pelo mesmo criminoso, agora solto novamente.

4. Estas ações da polícia, tão aclamadas pela classe média, têm se mostrado, ineficazes (até admito que sem algumas delas as coisas estariam piores). Esta política está aí há anos. Faz-se a incursão à comunidade pobre, mata-se um monte de gente, para no minuto seguinte, deixar a área ser ocupada novamente pelo crime. Isto equivaleria a seguinte situação: após o desembarque da Normandia, as tropas aliadas, irem embora no dia seguinte, deixando a área entregue aos alemães novamente. Venceu a batalha, mas não conquistou o território. Sem a presença do Estado nestas regiões, policiais e civis inocentes continuarão a ser mortos.

5. Sem repressão não há esperança para o problema da criminalidade do Rio. Mas, sem política pública para as comunidades pobres, uma nova geração de garotos pobres se levantará de novo, para matar e ser morta.

6. O governo do Estado carece da ajuda do governo federal. Sem este, o Rio é ingovernável no campo da segurança pública. Nosso Estado não fabrica armas nem drogas. É responsabilidade da União coibir a entrada destes materiais no Brasil e no nosso Estado. Não há governador, por mais capaz e firme na tentativa de acabar com a violência que seja, que consiga, sem esta ajuda, dar um fim neste inferno em que nos encontramos.

Há muito mais o que falar. É tudo tão óbvio, que a vontade que dá é a de não falar nada. Mas, algo me diz que devemos oferecer nossa garganta a Deus, para que mais uma vez ele diga aos homens: "Não matarás".

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

ACONTECIMENTOS DECISIVOS


Este dias estão certamente entre os mais importantes para a curta história do movimento Rio de Paz. Nós nos encontramos na reta final dos preparativos para o fórum sobre "Violência, Participação Popular e Defesa dos Direitos Humanos", que será realizado nos dias 23 e 24 do corrente, no Palácio Itamaraty, no Rio. Este encontro, trata-se de uma parceria do Rio de Paz com a ONU, cujo objetivo é o de informar a sociedade civil sobre o que está acontecendo no campo da segurança pública no Estado do Rio de Janeiro, a fim de que haja um envolvimento consciente da população carioca, no combate àquilo que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acredita ser, o problema social mais grave da história presente do Brasil: a violência das nossas cidades. Pesquisa recente indica que 59% da população brasileira têm a mesma opinião.

Ao término deste fórum, um documento será redigido, no qual constará uma lista de reivindicações a ser apresentada pela sociedade civil às autoridades públicas brasileiras. Nossa esperança é que o povo se una em torno deste manifesto, e faça a constituição federal ser cumprida num dos seus pontos mais básicos - o direito à vida.

domingo, 14 de outubro de 2007

FAZ 25 ANOS

Há 25 anos, neste mesmo feriado que está terminando hoje, eu me convertia ao cristianismo. O acontecimento mais importante de toda minha vida foi o encontro com o Deus que me criou, preservou e revelou-se a mim na pessoa de seu único Filho. Não é a fé em Deus que me dá esperança, mas a fé neste Deus (C. S. Lewis). Eu não creio em Deus, eu creio em Cristo (Lutero). Oh! graça bendita que me abriu os olhos e fez-me desejar a beleza perfeita e que se afeiçoou por mim.

Como comemorei este aniversário de conversão? Na sexta passada fui para a cidade de Mendes a fim de participar como preletor do retiro anual da minha igreja. Falei sobre a essência do evangelho na noite do mesmo dia, e a partir de sábado fiz uma análise da doutrina da santificação à luz do capítulo 3 da Carta aos Colossenses. Minha impressão é que saímos de lá lavados pela palavra de Deus.

Após o encerramento do retiro, parti com os voluntários do Rio de Paz para o Maracanã, com o propósito de realizar mais um ato público contra a violência no Rio de Janeiro. Levamos um cartaz escrito: "O Rio Chora pelas suas 4100 Vítimas de Assassinato em 2007"; e e mais 4100 velas que seriam acesas no intervalo do jogo, em memória do número correspondente de cidadãos fluminenses assassinados só este ano. As estatísticas mostram que 41% destes homicídios ocorrem na capital. Infelizmente, não pudemos realizar o protesto. Fomos impedidos de utilizar as velas acesas no estádio. Porém, pudemos apresentar a faixa, cujo conteúdo só nós conhecíamos. Ali ficamos, indo de um lado para o outro, até pararmos num lado da arquibancada que se encontrava mais vazio. Nenhuma manifestação de apreço por parte dos torcedores pelos locais que passamos. Para nós é tudo muito chocante, pois julgamos que tantas mortes em tão pouco tempo deveriam abalar todos os moradores da cidade. Mas, como os que morrem, na maioria das vezes são negros e pobres, isto não faz diferença para nossa vida. Alguma coisa me diz que quando dizemos que a morte desta gente não nos importa, estamos menosprezando nossa própria existência, negando o sentido da vida e nos tornando sujeitos aos justo julgamento de Deus. Amigo, Deus tem que julgar nossa sociedade. Como um Deus santo pode tolerar que suas criaturas racionais vivam uma vida contrária à vida do próprio Deus?

Todos foram embora do estádio, e ali ficamos. A arquibancada vazia e nós ali querendo dizer: agora vamos voltar à vida real. Vamos lutar pelo nosso próximo. Já nos divertimos, vamos agir como homens. Um policial apareceu e disse-nos que alguém, cuja identidade prefiro não revelar, pediu que tirássemos a faixa. Foi o que fizemos.

Agora estou em casa. Escrevendo este texto. Cansado do final de semana, atônito com a insensibilidade humana. Entrei no site de um dos jornais da cidade e vi as fotos da passeata gay em Copacabana. Um milhão de pessoas nas ruas. Um milhão. Veja as fotos. Aconteceu hoje. Na mesma cidade que viu a morte no início do ano da menininha Alana de 12 anos, vítima de bala perdida, cuja mãe em seguida perdeu o irmão por assassinato. O Rio, que presenciou a morte do menininho João Hélio.

Esta mesma mobilização em favor da defesa do direito à vida, salvaria milhares. Amanhã estarei em Copacabana, às 20h, com a minha vela acesa e o meu "Placar da Barbárie". Quantos estarão lá? Tenho vontade de chorar.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

1 HORA PELA VIDA


O mais novo ato público do Rio de Paz, tem como objetivo criar um mecanismo de mobilização popular constante e crescente. Agora, quem se encontra indignado com a violência no nosso país, vai ter a oportunidade de participar de um protesto pacífico e ininterrupto, pois é nossa intenção não sair das ruas até a taxa de letalidade cair na nossa cidade. A persistência do amor haverá de vencer a presença crônica da barbárie. Outras cidades brasileiras estão aderindo a esta nova forma de protesto. Já temos gente se preparando para criar este tipo de ato público em Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e São Paulo. Aqui no Rio, no decurso de uma semana, já conseguimos pessoas que vão organizar o "1 Hora pela Vida" em Icaraí (algo me diz que teremos muita gente nesta praia de Niterói), Cinelândia (18h), Ipanema e Barra.

Nossa esperança é que milhares de pessoas estejam todas as semanas nas ruas. Recentemente, fui entrevistado por um correspondente da revista americana TIME, desejoso de conhecer um pouco mais a história do Rio de Paz. Ao término da entrevista, fiz o papel de entrevistador, e perguntei ao jornalista: "O que você sugere quanto a estes protestos que temos realizado?" Ele me respondeu: "O grande problema com os protestos no Brasil é que eles não têm continuidade". Esta declaração não saiu mais da minha cabeça. Estou certo de que uma multidão sistematicamente nas ruas faria toda a diferença. É o que os franceses chamam de "Le Pouvoir da la rue". O poder da rua.

Meu Deus, uma coisa simples como esta, salvaria a vida de milhares. Agora, você tem a oportunidade. Participe conosco. Crie um "1 Hora pela Vida" no seu bairro. Em breve estaremos apresentando um conjunto de reivindicações a fim de que nos unamos em torno de um documento que represente nossas principais aspirações - e aí, pressão pacífica e respeitosa sobre o poder público para que algo aconteça.

Como nossas cidades estão precisando destes "ingênuos" nas ruas.

Obs. A foto acima foi tirada de um ato público na faculdade americana Virgina Tech, após a morte de vários dos seus alunos, num atentado. Mas, nós somos muito espertos e julgamos que este tipo de coisa que nações civilizadas fazem, não deve ser praticado por nós.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

SERMÃO DE DOMINGO 7 DE OUTUBRO

A VOZ DO SANGUE

“Disse Caim a Abel, seu irmão: vamos ao campo. Estando eles no campo, sucedeu que se levantou Caim contra Abel, seu irmão, e o matou. Disse o Senhor a Caim: onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei: acaso sou eu tutor de meu irmão? E disse Deus: que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim” (Gn 4:8-10)

Aqui estamos diante de um relato digno de constar em qualquer livro de história geral – a história do primeiro caso de homicídio. A riqueza desta passagem consiste no fato de que uma análise teológica do episódio é feita – o dia em que pela primeira vez um ser humano matou um de sua raça. Tal acontecimento, para sermos mais pessoais, é relatado pela Bíblia tal como foi visto pelo olhar do Criador do homicida e da vítima.

Uma lição básica e preliminar nos é ensinada por esta passagem: Deus atentou para o que ocorreu. Deus viu.

Uma grande verdade emerge deste texto: Deus conhece a forma como cada um de nós se relaciona com o próximo. Uma pergunta se impõe: o que significa aos olhos de Deus a nossa prática do mal contra aquele que faz parte da nossa raça?

1. DEUS TEM COMO DETESTÁVEL O DOLO DAS NOSSAS AÇÕES.
Observe que a Bíblia descreve não apenas o homicídio, mas a forma como ele foi tramado. Um dia Caim virou-se para seu irmão e o convidou para ir ao campo. O convidou para quê? Orar, contemplar a natureza, conversar, trabalhar? Não. Tudo o que ele queria era destruir a vida do seu irmão longe da vista de todos. Este é o ponto: Deus sabe também diferenciar homicídio culposo de homicídio doloso. Ele conhece o que fazemos. Ele conhece o que nos motiva a fazer o que fazemos. Sabe das nossas ações. Sabe das nossas intenções. De longe penetra nossos pensamentos, a ponto de saber de antemão quando estamos maquinando o mal contra alguém. Ele tem consciência da nossa trama para adulterar, passar alguém para trás, destruir a reputação do próximo, manipular os sentimentos de uma pessoa. Ele sabe até mesmo quando nossa boa obra não é boa. Quando ela é boa apenas no gesto e não no propósito.

2. DEUS CONHECE O NOME DO PECADO DO HOMEM.
Tudo é pecado aos seus olhos. Alguns pecados são mais graves do que outros. Uma coisa é pecar contra um estranho, outra coisa é pecar contra a mãe. Ambos são pecado. Mas, o primeiro é menos grave do que o segundo. Quanto mais devemos a alguém, quanto mais uma pessoa é excelente, quanto mais por motivos naturais devemos nos mostrar inclinados a amar um ser humano, pior a nossa iniqüidade praticada contra o mesmo.

Nossos pecados podem receber os mais diferentes tipos de classificação. Uns são intelectuais, outros são emocionais. Alguns estão na categoria de pecado de omissão. Outros na categoria de pecado de comissão. Pecamos quando fazemos certas coisas. Pecamos quando deixamos de fazer outras.

Nosso pecado contra o nosso semelhante pode receber o nome de inveja, traição, indiferença, entre tantas outras designações mais. São muitas as formas de tornarmos a vida de alguém mais difícil. No caso do texto que acabamos de examinar, a Bíblia diz que Caim matou Abel. Seu pecado é chamado de homicídio.

3. DEUS TEM COMO ABOMINÁVEL O ATO DE DEIXARMOS DE VER NOSSO SEMELHANTE NA PERSPECTIVA CORRETA.

É curioso observar nesta passagem a quantidade de vezes em que a palavra irmão aparece no texto. Ela ocorre cinco vezes. Às vezes de modo aparentemente desnecessário: “Onde está Abel, teu irmão?”.

O texto enfatiza o fato de que Caim era irmão de Abel. E isto cinco vezes em três versículos. Por que? Certamente para enfatizar o fato de que um dos erros de Caim foi o de deixar de ver seu irmão pela perspectiva correta. Ela não havia matado um boi, uma galinha ou uma lagartixa. Ele matara um homem. Alguém criado a imagem e semelhança de Deus. Um ser com potencial para fazer ciência, mandar uma espaçonave para Marte, escrever poesia, governar nações, olhar para as estrelas e atribuir sua existência a Deus. Caim interrompera a vida de alguém a quem Deus muito estimava. Matou alguém cuja vida pertencia a um outro – a Deus.

O homem até hoje tem dificuldade de saber o que se passa na cabeça de um animal. Os cães pensam e amam? Ao matar Abel, Caim havia matado um irmão. Alguém da sua raça. Um ser cuja interioridade ele conhecia muito bem – pelo simples fato de ser homem, irmão, membro da mesma raça.

Sem este irmão a vida se tornaria insossa. Deus criou o homem para ser feliz ao lado de um semelhante. Felicidade plena é justamente aquele que é compartilhada. Ao destruir a vida de Abel, Caim havia destruído a sua.

4. DEUS NÃO APROVA QUALQUER ESPÉCIE DE RELAÇÃO DO HOMEM COM O SEU SEMELHANTE QUE SEJA IRRESPONSÁVEL.

No verso nove, o texto de Gênesis apresenta o homem funcionando da pior forma. O ser humano numa péssima condição espiritual, moral e psicológica. O que caracteriza este homem? Primeiro a mentira. Ele mente a Deus. Ele diz que não sabia do paradeiro do seu irmão: “Onde está Abel, teu irmão? não sei”. Claramente a Bíblia quer dizer que ele sabia e deveria saber. Esta é a pergunta que nos é feita todos os dias: “onde está Abel, teu irmão?”.

Em seguida, Caim oferece sua resposta final a Deus: “por acaso sou eu tutor do meu irmão?”. Note, perdoa-me repetir, que quem diz é Caim. Um homem num péssimo momento de sua vida. Como funciona a alma de um homem mau? O que o caracteriza? Segundo a passagem que estamos examinado, este homem é profundamente individualista. Julga que não tem nenhuma responsabilidade pela felicidade do seu semelhante. Tem como certo o fato de que não cabe a ele atentar para o bem estar da vida do seu irmão. Tudo o que lhe cabe fazer é viver. Cuidar do que é seu.

5. DEUS, NA SUA SANTIDADE, SEMPRE OUVE OS APELOS DA JUSTIÇA.
Agora, a informação espantosa. A voz do sangue. A voz do sangue clamando aos céus. O que a Bíblia quer dizer com isto? Obviamente, não se trata de ensinar que a alma esteja no sangue – que o sangue fale literalmente. Tudo o que a passagem quer nos ensinar é que a maldade praticada pelo homem, demanda da parte de Deus uma resposta. A vítima é apresentada como apelando ao céu. Note que não é a vítima que demanda por justiça. O que exige justiça é o fato. O sangue derramado. A vida que se foi.

Deus não pode ver a maldade praticada pelo homem contra o homem sem se irar. Sua santidade exige que ele revele seu desprazer. Ele não pode deixar de condenar aquele que vive uma vida diferente da vida que o próprio Deus vive. Não se trata de capricho. O texto não diz que ele está condenando o homem por motivo tolo. O homem é apresentado aqui como alguém que está praticando algo que inviabiliza a vida. E não apenas isto: está se comportando como fera. Destruindo o que Deus ama e tem em alta estima. Em suma, vivendo de modo diferente de Deus.

APLICAÇÃO

Quais as conseqüências práticas do que acabamos de ver para nossa vida?

1. ELIMINE O DOLO DE SUAS AÇÕES.

Não seja maquiavélico. Não maquine o mal. Não ludibrie as pessoas. Por que você está propondo este tipo de coisa para esta pessoa? O que você tenciona no fundo com esta conversa, este convite, esta aproximação? Quem você está querendo destruir?

Que todo seu movimento na direção do próximo seja no sentido de promover a vida deste, e não, egoisticamente, exaltar a sua. Caim levou Abel para o campo a fim de destruir a vida do seu irmão. Para onde você está levando esta pessoa do seu relacionamento? O que você quer com ela? Quem você está usando? Quem você está enganando? Deixe de ser malvado! Aprenda a se relacionar com as pessoas para a glória de Deus. Que quem cruzar o seu caminho volte para casa se sentindo melhor. Seja ovelha. Que as pessoas não tenham medo de você. Que você não seja uma coisa lisa, perigosa, traiçoeira. Que ninguém esteja vivendo pior por causa de você.

2. DÊ NOME A FORMA COMO VOCÊ ESTÁ SE RELACIONADO COM O PRÓXIMO.

Que nome dar ao tipo de objetivo de suas relações com o próximo? O que você tem feito pode ser chamado do quê? Mentira, inveja, ódio, traição, leviandade, homicídio? O que você está matando na vida do seu semelhante? Seu nome? Sua auto-estima? Sua saúde? Sua alegria de viver? Sua felicidade está sendo construída às custas da desgraça do seu semelhante?

Quem é você? Mentiroso, fraudulento, preguiçoso, encostado, traidor, ladrão, amargurado? O que você espera alcançar através deste plano de ser feliz passando por cima de um monte de gente?

3. VEJA O PRÓXIMO PELA PERSPECTIVA CORRETA.

Você sabe quem é aquele que tem sido menosprezado, usado e destruído por você? Qual o seu conceito sobre o homem? Ele é o seu irmão? Você por acaso pensa que a dor do seu estômago é diferente da dele? Você pensa que para ele, perder um filho, é mais fácil do que o é para você? Insensível. Quem lhe disse que você é a alma mais nobre que existe, a criatura mais sensível do planeta, e que o seu semelhante não sente o que você sente?

Você é daqueles que diz que quanto mais conhece os homens mais ama o seu cão? Quem lhe disse que você não faz parte desta raça, que no seu caso é diferente, pois você é bom e não precisa de salvação? O que o impede de usar a mesma misericórdia e paciência de que você carece?

Você acha que a solução para a violência no nosso país é a bala? Você quer que bombas sejam jogadas nas comunidades pobres? Você quer ver "descer fogo do céu"? O que o faz desejar mais a destruição dos malfeitores do que a prevenção do crime? Por que você não luta com o mesmo ardor para que políticas públicas sejam implementadas em áreas pobres, a fim de que situações de conflito não se estabeleçam? A miséria jamais justificará o crime. Mas, seres humanos bem alimentados, vivendo em condições dignas e que passaram pela escola, tendem a lidar melhor com o seu semelhante. Por que não se mata tanto em Paris, Londres e Santiago do Chile? Você vibra com o assassinato de um homem? Olha amigo, mesmo nos casos em que quem morreu mereceu, porque se insurgiu contra a autoridade constituída por Deus e atentou contra a vida do próximo, penso que a satisfação do nosso senso de justiça deveria vir acompanhada do pesar de ver uma obra prima destruída, uma vida que tomou o rumo que não deveria ter tomado. Que nessas horas você também diga, e com espanto: “ali estaria eu, se Deus não tivesse tido misericórdia de mim”.

4. ASSUMA SUA RESPONSABILIDADE PERANTE O SEU SEMELHANTE.

Você e eu somos responsáveis pelo nosso próximo. Deus,está perguntado: “Onde está Abel, teu irmão?”. Onde estão os três mil cidadãos fluminenses que desapareceram no ano de 2007? Por que mais de 4000 foram assassinados? Como explicar os 42000 feridos? O que falar dos presos que vivem em condição subumanas?

Será que você está dizendo: “Não sei: por acaso sou eu tutor de meu irmão?”. Você se condena pelas suas próprias palavras. Se você o chama de irmão, já é responsável. Se você não o chama, sua condição é trágica. Você não o vê tal como Deus o vê. Você está cego. As trevas lhe cegaram os olhos. Se você o chama de “homem”, ou, “ser humano”, e ao mesmo tempo não se importa, você já se condenou também. O que você está dizendo é: “ali vai um de minha raça”. Se você sabe que ele é da sua raça, você também sabe o que ele sente. Você sabe o que deve significar ter um filho preso, estuprado e assassinado. Você sabe o que é ser caluniado, desprezado e perseguido.

Poucos textos da Bíblia mostram de modo tão claro o quanto Deus rechaça o liberalismo puro, o mercado regendo tudo, o darwinismo sendo aplicado à vida econômica e social, num contexto em que o Estado não é capaz de socorrer os que ficaram para trás na corrida. O cristianismo certamente não é contrário a meritocracia, a liberdade e o Estado ágil e democrático. O que o cristianismo condena é o modelo econômico e social que não ampara os necessitados, que nem sempre são os preguiçosos. A verdadeira religião, diz a Bíblia, é amparar os órfãos e as viúvas nas suas necessidades.

Fazendo uma aplicação prática à realidade que nos cerca: nós somos responsáveis pelo que está acontecendo no Brasil no campo da segurança pública. Não podemos ficar calados, especialmente quando nossa legislação nos dá o direito de falar. Um genocídio ocorre diante dos nossos olhos, e não o resistimos, nem nos comovemos.

5. TEMA A DEUS.

A voz do sangue clama. Pode ser que autoridades públicas e líderes religiosos não a ouçam. Mas, aquele que reina, tem todo o poder e mantém o nosso batimento cardíaco, ouve. A maldade que você pratica contra o seu semelhante não passa despercebida por Deus. O massacre de vidas humanas que hoje ocorre na nossa nação está patente aos olhos daquele que tudo vê.

Como Deus não haverá de nos julgar? Se o Brasil não se arrepender da sua maldade, Deus haverá de julgá-lo. Se a igreja não ouvir o que Deus ouve, Deus haverá de julgá-la também.

Surpreende-me o fato de não havermos passado por uma tragédia natural qualquer. Nossas iniqüidades são conhecidas do mundo inteiro, e seu odor tem chegado aos céus.

Não estabeleça nenhuma espécie de relação com ninguém que provoque a Deus. O sofrimento que esta pessoa tem passado por sua causa tem chegado aos ouvidos de Deus. Não destrua a obra de Deus. Não brinque com o que Deus ama.

CONCLUSÃO

Sei que todos nós nos sentimos confrontados por uma passagem como esta, que expõe o que somos e fazemos. O que fazer? Nos desesperarmos, a ponto de desistirmos de nós mesmos, assumindo nossa animalidade e incapacidade de nos transcendermos? Creio que não. Uma outra parte desta história é o sacrifício daquele amou, por isto se habilitou a salvar mediante sua morte aqueles que desaprenderam a amar.

A primeira decisão a tomar é correr para Cristo em busca de perdão, confessando nossa participação no pecado de Caim. Cristo veio justamente para salvar os que não sabem o que fazer de suas próprias vidas, por se sentirem partícipes de toda esta história de maldade, que tem marcado de modo tão claro, a trajetória da raça humana na face da terra.

Saiba, contudo, que ele não quer apenas perdoar você, mas transformá-lo também. Peça a ele que o livre da sua participação na natureza de Caim. Todo aquele que vem a Cristo, de modo algum ele o lançará fora. É na presença dele, como um doente na presença de um médico, que você será curado da incapacidade de nossa raça de amar e considerar o próximo irmão, em razão dessa nossa origem comum.

Antônio Carlos Costa
Igreja Presbiteriana da Barra

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

UMA OPORTUNIDADE ÚNICA DE PARTICIPAÇÃO POPULAR CONTRA A VIOLÊNCIA


O que houve com a nossa geração? Esta é a pergunta que devemos todos fazer quando pensamos no nosso convívio com a barbárie no Rio de Janeiro. Que justificativa podemos encontrar para o nosso silêncio? Um genocídio acontece diante dos nossos olhos e não fazemos resistência e nem nos comovemos? Nosso chão tem recebido mais do sangue dos nossos conterrâneos do que água da chuva. Somente em 2007 já presenciamos a morte de mais de 4100 seres humanos no nosso Estado. Cerca de 42.000 pessoas foram feridas. O que isto representa? Corpos mutilados, deformados e inválidos. Neste exato momento 3000 vidas encontram-se sem paradeiro. Desapareceram. Onde estão?

A dor dos que ficam não pode ser menosprezada. Por um único instante, pense em você no lugar de um pai e uma mãe, que foram privados pelo crime, da vida de um filho. Imagine olhar para um armário com as roupas penduradas e ainda com o cheiro de alguém que saiu das suas entranhas, por quem você era capaz de dar a vida, e que foi torturado e morto. Não me chame este texto de piegas e sentimentalista. Ele apenas expressa o desespero de alguém que tenciona tocar nas cordas do coração daqueles que são a solução para esta tragédia.

A resposta para a violência do Rio de Janeiro está na população desta cidade. Não há polícia e governante que possa estancar este rio de sangue sem o apoio dos habitantes deste Estado. O problema é de tal magnitude que, somente a mobilização de todo o organismo social para salvarmos os milhares cuja vida está por um fio. Se nada acontecer até o final do ano, toda a estatística histórica dos últimos dez anos se repetirá.

Milhares de cidadãos cariocas querem fazer alguma coisa. Outros tantos, estão acordando do sono da indiferença. O que de mais precisamos neste atual momento da nossa história é nos organizarmos como sociedade para o combate ao crime. Alguém já disse que "o problema do crime organizado, é que o crime é organizado, e nós não".

Pensando na urgência da participação popular, no combate pacífico à violência, estamos tomando uma decisão esperançosa. Um grupo de cidadãos da nossa cidade decidiu que não vai mais sair das nossas ruas enquanto a taxa de homicídio no Rio de Janeiro não cair. Sim, não vamos sair. Dizem que não há solução. Que se há uma, esta passa somente pela bala. Não cremos nisto. Estamos certos de que mediante o engajamento da população, sem romantismos e espírito fascista, ao lado dos seus governantes, podemos testemunhar da vitória da vida sobre a morte. As gerações futuras vão reconhecer que a nossa foi responsável pelo fim da banalização da vida humana no Rio de Janeiro. Toda uma história de horror está com os dias contados.

A partir do dia 8 de outubro, estaremos todas as segundas-feiras, das 20h às 21h, na Praia de Copacabana, em frente a Avenida Princesa Isabel, num ato público pacífico e silencioso, que está sendo chamado de "1 Hora pela Vida". Os participantes deste gesto de apreço pelo ser humano, deverão estar trajados de uma camisa preta, trazendo nas mãos uma vela acesa dentro de um copo de papel, tal como outros povos têm feito em ocasiões análogas as que nos movem hoje a agir. E ali ficaremos em silêncio. Você pode assumir o compromisso de ficar menos tempo, ou aparecer pelo menos uma vez por mês, não importa. O que vale é que você apareça.

Nossa intenção é que o movimento comece em Copacabana, e parta na direçãos de outras praias, como também ruas, praças e demais locais públicos da nossa cidade. Tudo leva a crer, devido aos contatos que já fizemos que, outros Estados brasileiros se juntarão a nós. Tudo isto significa a oportunidade que, talvez você sempre sonhou de poder participar. Se alguém disser que isto é ingênuo, responda: nações desenvolvidas têm feito assim. Um milhão de ingênuos, sistematicamente nas ruas do Rio de Janeiro, são capazes de mudar a nossa história. Quem pode se opor a todo um povo unido, em torno de uma causa justa? Nesses encontros poderemos conversar uns com os outros. E quem sabe, propostas de políticas públicas surjam, a fim de que as apresentemos ao governo, para que em união com ele, encontremos solução para problema que aflige a todos nós.

Concluo, com a declaração que nunca é demais de ser enfatizada: "Para que o mal triunfe, é necessário apenas que os homens de bem permaneçam inativos".

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

O DEUS DOS GREGOS E O DEUS DOS HEBREUS

Passei os útimos dias estudando filosofia grega. Vim dos pré-socráticos até Aristóteles. Espero amanhã terminar, com os estóicos e os neo-platônicos. Duas coisas me chamaram a atenção nestes estudos, à luz da excelente história da filosofia de Frederick Copleston: a primeira, minha profunda identificação com estes homens, especialmente, Sócrates, Platão e Aristóteles, na busca apaixonada pela verdade - "uma vida não examinada não é digna de ser vivida", "a filosofia nasce do espanto". Sinto-me mais próximo desses homens do que daqueles que fazem parte da minha geração - homens e mulheres mais preocupados com o próximo lançamento de telefone celular do que com o sentido da nossa curta, dura e incerta existência.

Contudo, minha conexão com o passado encontra-se mais em Jerusalém do que em Atenas. Causa-me constante perplexidade, nas ocasiões em que separo tempo para estudar filosofia grega, a falta de encanto por Deus, de expressões de amor pelo Criador, de um conceito de providência e de um Ser para quem eu possa dizer: "eu o amo", e isto ter sentido para Ele e para mim.

Não há salmos na filosofia grega. Eles falam do demiurgo (este agente intermediário da criação), do movedor inamovível, do logos (a razão universal), do Bem, mas não há uma só orientação litúrgica. Não há paixão. Você correrá toda a filosofia grega e não encontrará nada parecido com: "O pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si onde acolha os seus filhotes; eu, os teus altares, Senhor dos exércitos, Rei meu e Deus meu".

Conclusão: aquilo sobre o que os gregos falavam, os hebreus viam.

sábado, 29 de setembro de 2007

O CULTO IDEAL


Amanhã, milhares de pessoas no Brasil se dirigirão para os templos evangélicos. É domingo, dia em que nos reunimos para adorar a Deus. A relevância de uma reunião como essa é difícil de ser exagerada. A Bíblia ensina com muita clareza que os cristãos devem se reunir para adorar ao seu Criador. O poder de transformação de um encontro como este é fato incontestável e amplamente atestado pela história do cristianismo, sem mencionar nossa experiência pessoal.

Qual seria o culto ideal? Como os que freqüentam estes encontros podem aproveitá-los da melhor maneira, e os que são responsáveis pela sua organização, torná-los o mais bíblico, atraente e relevante possível?

1. Os pastores devem ter um texto bíblico para expor. A autoridade do ministro reside na autoridade da Palavra de Deus.

2. Os pastores devem subir ao púlpito com o texto bem estudado e um sermão bem redigido. O que seria um sermão bem redigido? Um sermão bem redigido tem uma introdução, na qual o texto é visto à luz do seu contexto, uma apresentação clara da verdade essencial contida no texto que o pregador anelar proclamar, uma defesa dessa mesma verdade, mediante a apresentação de proposições solidamente alicerçadas na Bíblia e defendidas mediante o uso de textos da própria Escritura que comprovam a doutrina, em seguida, este sermão deve ser aplicado, de uma tal maneira que, suas implicações práticas sejam observadas por todos, e, por fim, uma conclusão rápida.

3. Os pastores deveriam amanhecer com seus corações aquecidos pela verdade, suas consciências apaziguadas pela graça de Deus, seus pecados confessados e abandonados, e, em espírito de oração, se dirigirem para suas congregações, a fim de causar a clara impressão aos seus ouvintes de que acabaram de sair da presença de Deus.

4. Os pastores deveriam pregar como homens, anunciando a verdade de modo franco, claro, objetivo, educado, simples, sem afetação, evitando falar sobre si mesmos, mostrando a relevância do texto bíblico e de uma tal forma que as pessoas sejam levadas a crer que o pregador crê no prega.

5. Os músicos deveriam chegar cedo, a fim de ajustarem o som, separarem as letras que serão exibidas e orarem. Todos bem vestidos, em trajes apropriados, entoando as canções como adoradores e não como artistas, participando do momento da entrega da mensagem e atentos para a conclusão do culto a fim de que sua participação final seja condizente com a obra que o Espírito revelou na mensagem tencionar operar na vida da igreja.

6. Este culto deve abrir espaço para o exercício das principais formas de oração: adoração (onde Deus é adorado pelo que ele é), confissão de pecados (o culto a Deus produz inevitavelmente convicção de pecado. Neste momento a igreja pode ser orientada a confiar mais na misericórdia de Deus do que na sua inocência), ações de graça (onde Deus é louvado pelo que Ele faz), petição (onde os pedidos são apresentados a Deus) e oração de iluminação (onde o pastor pede juntamente com a igreja, que o texto bíblico a ser exposto, seja compreendido por todos).

7. Os avisos devem ser mínimos e breves.

8. Nenhuma exigência que a Bíblia não faz deve fazer parte do culto a Deus. A Confissão de Westminster ensina que idolatria não é apenas adorar a um deus falso, mas adorar ao Deus verdadeiro de uma forma diferente daquela que é prescrita na sua Palavra.

9. O culto deve ter como meta alimentar as ovelhas, em vez de entreter os bodes (Richard Lovelace).

10. A principal marca desta reunião é um senso de transcendência que se apodera do coração de todos. O objetivo não é entretenimento, mas comunhão com Deus. Há pastores e músicos que destróem este senso de transcendência por quererem parecer bem humorados.

11. Todos devem se dirigir para este tipo de encontro na firme expectativa de que o Espírito Santo pode cair sobre a congregação repentinamente.

12. A igreja deve ouvir mais do que cantar.

13. O dirigente do culto deve se lembrar que não está em casa para ficar saudando pessoas. O adorado é Deus.

Poderíamos falar muito mais. Quem sabe mais tarde escreva alguma coisa. Mas, penso que o que já vimos até aqui, caso fosse aplicado por todos nós em nossos cultos, faria com que nos dirigíssemos para a igreja no domingo com um enorme senso de privilégio.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

DOS DELITOS E DAS PENAS – BECCARIA (PARTE FINAL)


Chegamos a parte final desta obra tão oportuna para o presente momento da nossa história. Beccaria continua falando sobre como prevenir os crimes. É neste ponto que o jurista italiano enfatiza a necessidade de educação: O meio mais seguro, porém mais difícil, para prevenir os delitos é aperfeiçoar a educação. Por isso é levado a dizer: “Quereis prevenir os delitos? Fazei com que as luzes acompanhem a liberdade. Os males nascidos dos conhecimentos estão na razão inversa de sua difusão e os bens, na razão direta. Um impostor audacioso, que nunca é um homem vulgar, é adorado por um povo ignorante e vaiado por um povo esclarecido”. Como podemos ter democracia numa nação de analfabetos funcionais? Milhares de brasileiros não sabem interpretar texto. Certamente aí se encontra a razão pela qual uma parcela significativa da população prefere mais o assistencialismo governamental, do que a inserção da população carente na vida produtiva, geradora de riqueza, promotora da boa auto-estima e fomentadora de aperfeiçoamento pessoal. Esta é a razão de certos homens haverem sido reeleitos no Brasil. O motivo pelo qual a classe média apóia o crime para se livrar do crime, em vez de lutar pelas vias da democracia e do direito. Como diz Beccaria: "Não há homem esclarecido que não aprecie os pactos públicos, claros e úteis da segurança comum, ao comparar a pequena e inútil parcela de liberdade que sacrificou com a soma de todas as liberdades sacrificadas pelos outros homens, os quais, sem as leis, poderiam conspirar contra ele”. Só quem não estudou, não conhece história geral e é suficientemente estúpido para não apreciar a veracidade e o valor de uma afirmação como esta. A anarquia é um mal infernal.Quando a Bíblia pede que nos sujeitemos às autoridades, assim o faz, para a nossa preservação numa sociedade que desaprendeu a amar.

Mas, a educação não é suficiente. Carecemos de um Estado onde ninguém esteja solto, agindo na clandestinidade, sem ter a quem prestar contas ou quem observe sua conduta nas questões públicas: “A venalidade é mais difícil entre membros que se observam uma aos outros”. Como precisamos, entre outras coisas, de boas ouvidorias, de corregedores implacáveis e de um ministério público limpo e atento as demandas do povo.

As leis precisam gozar de qualidade, tanto quanto os homens públicos: “Que as leis sejam, pois, inexoráveis e inexoráveis sejam também seus executores nos casos particulares, mas que o legislador seja brando, humano e indulgente”. Quer dizer, que jamais passemos por cima das leis. Se queremos um conjunto de lei diferente, que lutemos para que nossos legisladores sejam o que há de melhor e executem com excelência o seu trabalho, promulgando leis justas. Mas, uma vez estabelecidas, que sejam cumpridas, a não ser que estas leis proíbam o que Deus exige, ou exijam o que Deus proíbe.

Estas leis, ao serem promulgadas, devem levar em consideração as circunstâncias históricas e a índole de uma nação. Isto é indiscutível no meu modo de ver. É fato que cada povo tem suas virtudes e o seus vícios: “Mais fortes e sensíveis devem ser as impressões sobre os espíritos endurecidos de um povo apenas emergido do estado selvagem... mas à medida que os espíritos se abrandam nos estados de sociedade, cresce a sensibilidade e, com ela, deve decrescer a força da pena, se houver que se manter constante a relação entre o objeto e a sensação”.

Beccaria conclui sua obra com uma declaração que, caso fosse levada a sério por esta nação, muitos problemas que enfrentamos seriam solucionados e muitas vidas poupadas: “Para que cada pena não seja uma violência de um ou de muitos contra um cidadão privado, deve ser essencialmente pública, rápida, necessária, a mínima possível nas circunstâncias dadas, proporcional aos delitos e ditadas pelas leis”. É tudo. Por que não lutarmos por este tipo de coisa? É a santidade da vida humana que está em jogo.