sexta-feira, 2 de novembro de 2007

O CORAÇÃO E O BRAÇO DA SOCIEDADE CIVIL

Acabei de receber por e-mail, um documento que conta com a adesão de várias pessoas e instituições conhecidas, convidando-me a apoiar um manifesto contra o que chamam de “política de extermínio” do atual governo do Estado do Rio de Janeiro. Fiquei feliz com esta mobilização por pelo menos três motivos.

Em primeiro lugar, é uma nota de esperança observar pessoas tão conhecidas, talentosas e dos mais diferentes setores da sociedade preocupadas com a violência no Rio de Janeiro. O nosso silêncio em face da barbárie é tão revelador da nossa patologia social quanto os crimes praticados.

Em segundo lugar, a preocupação com uma política de segurança que respeite as leis do estado democrático de direito, revela o amadurecimento de uma sociedade capaz de compreender que, o caminho da lei e da democracia é mais lento e trabalhoso, mas seus ganhos são mais profundos e duradouros. Os que não têm conhecimento da saga humana na busca de relações sociais justas, somente estes, são capazes de anuir à busca de solução para problemas sociais ao arrepio da lei.

Em terceiro lugar, o entendimento de que não se resolve o problema da violência com bala, mas com política pública que respeite a santidade da vida humana, especialmente a do pobre, trata-se de uma aspiração legítima de uma sociedade capaz de compreender que, é melhor prevenir o crime do que puni-lo.

Sendo assim, ao ver tanta gente boa junta ao lado de instituições respeitáveis, com preocupações tão justas, pensei que poderíamos estar começando a virada de que este estado carece no campo da segurança pública. O elemento novo: o engajamento da sociedade civil. Contudo, sem o braço do poder público, pouco podemos fazer. É assim que ficou acordado neste chamado pacto social sob o qual estamos como povo. Precisamos de uma união da sociedade civil com os seus governantes, o coração e o braço, respectivamente, de uma nação organizada politicamente.

O governo do estado carece do apoio da sua população. Não proclamo uma participação acrítica. Mas, falo sobre a compreensão, apesar de as divergências que possam haver (eu mesmo tenho as minhas), de que os nossos atuais governantes estão administrando um problema grave e crônico. Assumiram a direção do nosso estado num contexto em que 19 pessoas haviam sido assassinadas em pontos diferentes da cidade (oito delas mortas carbonizadas) numa ação orquestrada por facções criminosas. Lembro-me da comoção social daqueles dias, que assumiu proporções mais amplas, por ocasião, um mês e meio após aos crimes supramencionados, da morte do menino João Hélio. A cidade clamava uníssona por ordem e paz. Fora isto, qual governante é capaz de enfrentar os interesses corporativistas sem o apoio da população? Precisamos criar um situação apta a fazer com que os anseios do povo sobrepujem os interesses egoístas de uns poucos que lucram com a desgraça. A praga da violência tem raízes culturais que para serem arrancadas exigem a mobilização de toda a sociedade.

Por estes e tantos outros motivos mais, venho propor o seguinte caminho, a fim de que associemos ao manifesto, o que pode representar benefício positivo para a população. Este acréscimo que representaria ganho concreto e amplo para os cidadãos cariocas, envolveria humanizar a ação da polícia, levar cidadania para comunidades pobres e buscar a segurança de uma população que encontra-se cativa da ação de marginais, cujas espécies de crimes que têm praticado sistematicamente na nossa cidade, não encontram justificativa na pobreza. Não há miséria que justifique arrancar a mama da moça e depois degolá-la, ou deixar um animal faminto durante dias, para depois este ter seu instinto de fome satisfeito no corpo de uma pobre vitima humana, ou retalhar o corpo de alguém para após agonia inimaginável do refém, matar.

É fundamental que procuremos o diálogo com o governo do estado. Carecemos de propor ao nosso governador a assunção de que o Rio de Janeiro é ingovernável no campo da segurança pública sem a presença e o investimento maciço do governo federal. Clamamos por policiamento ostensivo, por exemplo, mas não há efetivo, e o que há não recebe investimento à altura do seu valor social. O Rio de Janeiro precisa de ser desarmado já. Discussão que não passe por uma tentativa de salvar os quase 10000 cidadãos fluminenses que serão mortos ano que vem, não está à altura da principal e mais urgente necessidade social da nossa sociedade.

Chegou a hora de mostrarmos que nesta terra pessoas não se reúnem apenas para cantar e sambar, mas que temos aqui um povo que não perdeu a alma, amante da justiça, e que está se levantado como um só corpo para que no ano de 2008, a taxa de letalidade do nosso estado caia de modo espantoso. Este ano (10 meses) já foram 4500 mortos por assassinato, 45000 lesões corporais dolosas e mais de 3000 conterrâneos estão desaparecidos. Fora, os autos de resistência (pessoas mortas em confronto com a polícia). Que estes números não mais se repitam. E que a sociedade civil e o poder público encontrem solução que leve em consideração, tanto a desigualdade social que precisa ser mitigada, quanto a crueldade que precisa ser reprimida.

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