quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O NONSENSE DO PRESENTE MOMENTO


Estou atônito, com o lugar que foi dado pela nossa mídia, para o que aconteceu ontem, na zona oeste do Rio de Janeiro. Supostos traficantes mortos (10), uma criança de 4 anos assassinada por um bandido, policiais feridos (1 morto), enfim, cenas de guerra, e o noticiário dá mais destaque ao insosso jogo da seleção brasileira de futebol do que a uma tragédia social.

Veja os absurdos do noticiário de hoje:

1. Garotos correndo atrás da bola para ganharem milhões, e policiais expondo suas vidas à morte para receberem no fim do mês, um soldo absolutamente incompatível com a importância social do seu trabalho.

2. Rapazes rendidos, fugindo desarmados, caçados como animais, quando poderiam ser facilmente imobilizados e presos, em vez de serem mortos pela polícia. A polícia tem o direito de matar? não resta dúvida que sim. Não tenho como defender bandido que resiste, com forte armamento, a investida justa da polícia. Mas, se pode prender, por que matar? Se isto não foi possível ontem, sugiro que argumentos mais fortes do que as cenas da televisão (que podem nos enganar) nos sejam apresentados. Por que esta preocupação? Para defender marginal? Não, para fazer cumprir a lei. E, matar é sempre uma tragédia. Trata-se de solução para situações in extremis.

3. O colpaso do nosso sistema penitenciário, associado às brechas da lei, estimulam o policial a sentenciar o criminoso à morte (embora não justifique), mesmo quando este já está rendido, pois aquele sabe que no Brasil o crime não é devidamente punido. O policial prende, para ser morto lá na frente pelo mesmo criminoso, agora solto novamente.

4. Estas ações da polícia, tão aclamadas pela classe média, têm se mostrado, ineficazes (até admito que sem algumas delas as coisas estariam piores). Esta política está aí há anos. Faz-se a incursão à comunidade pobre, mata-se um monte de gente, para no minuto seguinte, deixar a área ser ocupada novamente pelo crime. Isto equivaleria a seguinte situação: após o desembarque da Normandia, as tropas aliadas, irem embora no dia seguinte, deixando a área entregue aos alemães novamente. Venceu a batalha, mas não conquistou o território. Sem a presença do Estado nestas regiões, policiais e civis inocentes continuarão a ser mortos.

5. Sem repressão não há esperança para o problema da criminalidade do Rio. Mas, sem política pública para as comunidades pobres, uma nova geração de garotos pobres se levantará de novo, para matar e ser morta.

6. O governo do Estado carece da ajuda do governo federal. Sem este, o Rio é ingovernável no campo da segurança pública. Nosso Estado não fabrica armas nem drogas. É responsabilidade da União coibir a entrada destes materiais no Brasil e no nosso Estado. Não há governador, por mais capaz e firme na tentativa de acabar com a violência que seja, que consiga, sem esta ajuda, dar um fim neste inferno em que nos encontramos.

Há muito mais o que falar. É tudo tão óbvio, que a vontade que dá é a de não falar nada. Mas, algo me diz que devemos oferecer nossa garganta a Deus, para que mais uma vez ele diga aos homens: "Não matarás".

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