MANIFESTO RIO DE PAZ
“Para que o mal triunfe, é necessário apenas que os homens de bem permaneçam inativos”.
Entre 1991 e 2007 foram mortos mediante assassinato aproximadamente 116.000 cidadãos fluminenses. Cerca de 80% destas vítimas tiveram sua vida interrompida na região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro. A maioria esmagadora, moradores de comunidades pobres das zonas norte e oeste. E tudo isto, num contexto em que não se sabe quantos dentre os mais de 4000 desaparecidos de 2007 foram assassinados. São números inaceitáveis. Representam o colapso do pacto social no seu item mais fundamental, o direito à vida. Nós, cidadãos cariocas, reconhecemos o erro de havermos permanecido calados. Milhares de conterrâneos tiveram a vida quitada pelo crime e não oferecemos resistência.
Sendo assim, entendemos que não basta botarmos a culpa no poder público, que agora, mais do que nunca, por estar enfrentando um problema crônico, endêmico e histórico, carece da mobilização de todos nós, homens e mulheres que reconhecem o valor incalculável da vida humana, a fim de que ao lado dos seus governantes o povo carioca obtenha a maior conquista social de toda a sua história: a vitória da vida sobre a morte.
O Rio de Paz, após ouvir as principais autoridades em segurança pública do nosso estado (meio acadêmico e poder público), vem por meio deste manifesto apresentar as principais medidas que julgamos que precisam ser tomadas no campo da segurança pública, no anelo de que em 2008 comecemos a experimentar a maior queda da taxa de homicídio de toda a nossa história. Não aceitamos em hipótese alguma a assunção de que não há o que se fazer para que o número de homicídios de 2007 não se repita no próximo ano.
MEDIDAS PRINCIPAIS:
Estabelecer como prioridade central das políticas de segurança a redução dos crimes letais, com metas específicas de diminuição.
Redefinir a metodologia de intervenção policial em comunidades pobres para um policiamento de tipo comunitário (baseado no modelo GPAE), de modo a reprimir o uso indiscriminado de armas de fogo, reduzir as balas perdidas, afirmar a autoridade da lei.
Priorizar a investigação dos crimes letais e do uso de armas e munições ilegais a fim de que homicidas sejam julgados e condenados. A não apuração destes crimes estimula a prática do crime.
Reforçar o policiamento ostensivo.
Fazer com que a aplicação das sanções da lei seja mais rápida e certa a fim de dissuadir a prática do crime.
Construir mais presídios e oferecer condições dignas de vida para os nossos presos. Não podemos conviver em pleno século XXI com campos de concentração.
Determinar metas de redução da letalidade policial, de forma que diminua o número de policiais feridos e mortos e o número de civis feridos e mortos em operações policiais.
Monitorar o consumo de munição por unidades de polícia e por policial. Para tanto, contratar marcação de munição por lotes de 50 cartuchos e aprimorar controle de estoques nas unidades.
Lançar grande programa de formação e reciclagem, segundo doutrina e métodos que levem à qualificação do uso da força, à redução dos riscos para terceiros e para os próprios policiais, bem como à eficiência na resolução de problemas e prevenção de desordens.
Aumentar o salário dos policiais militares, num valor compatível com a importância social destes profissionais e riscos que enfrentam no exercício do seu trabalho. Segurança não tem preço.
Ampliar programas de apoio à segurança dos policiais e à de suas famílias.
Reforçar as Corregedorias, conferindo a elas independência em relação às chefias de polícia.
Valorizar a Ouvidoria, para que amplie sua independência e capacidade investigativa.
Atualizar os dados da violência apresentados pelo Instituto de Segurança Pública a partir da informatização das chamadas delegacias tradicionais.
Priorizar a juventude, em políticas de integração educacional, lazer, saúde e de geração de trabalho e renda.
Restaurar os direitos fundamentais das comunidades pobres (livre expressão, ir e vir e vida).
Tratar como problema de saúde pública a dependência química de drogas alucinógenas e realizar um amplo trabalho de educação e combate ao uso de drogas.
Promover ações de interação positiva entre as polícias e as comunidades, particularmente com a infância e a juventude.
Reivindicar que o governo federal cumpra o seu papel no combate à violência, investindo nas áreas pobres da cidade, disponibilizando recursos para a segurança pública e fazendo a fiscalização das principais vias de acesso à região metropolitana do Rio de Janeiro, no intuito de combater a entrada de drogas e armas.
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