terça-feira, 30 de outubro de 2007

AS ÚLTIMAS 72 HORAS

Não está sendo fácil manter o ritmo de trabalho com o meu atual estado de saúde. Nada grave. Não se trata de um espinho na carne. Acredito que a agenda, somada à chuva que tomei no protesto de segunda-feira retrasada em Copacabana, arruinaram comigo. Caí de cama com uma virose que deu ensejo à minha crise anual de sinusite. Contudo, não pude parar.

Domingo preguei duas vezes na minha igreja. Procurei falar sobre a base bíblica para a atuação da igreja ao lado da sociedade não cristã na luta pela defesa dos direitos humanos. Procurei dar ênfase ao conceito calvinista de graça comum. Esta ação do amor de Deus mediante a qual o não cristão torna-se capaz de enriquecer a vida dos seres humanos das mais diferentes formas - no campo da arte, da ciência, da tecnologia, da literatura, e assim por diante.

Terminei a segunda pregação sem voz. Fui dormir me sentindo bastante mal. Mas, veio a segunda-feira e com ela uma reunião ao ar livre na praia de Copacabana para definirmos os rumos do Rio de Paz e realizarmos o protesto contra a violência que fazemos toda segunda-feira em frente à Avenida Princesa Isabel. Foi um momento riquíssimo. Cristãos e não cristãos juntos, lutando pela vida.

Hoje participei de um protesto em frente ao fórum do Rio, que foi realizado pelo Gabriela Sou da Paz, dos meus caríssimos Santiago e Cleyde, pais da Gabriela, que foi morta no metrô da Tijuca no ano de 2003, com um tiro no coração, quando tinha apenas 14 anos.

Agora, estou retornando para a leitura de um livro que está me agradando imensamente: Cidadania no Brasil, de José Murilo de Carvalho. Ele fala sobre a história dos direito civis, políticos e sociais do povo brasileiro. Na verdade, um histórico de indiferença e desrespeito à vida. Parece que no nosso país nunca houve na prática um contrato social.

sábado, 27 de outubro de 2007

ESTRANHO SILÊNCIO

Vejo com espanto o silêncio da igreja em face da violência reinante na nossa cidade. Primeiro, porque o cristianismo prega a santidade da vida humana. Crer que o homem foi criado a imagem e semelhança de Deus e ao mesmo tempo conviver com um massacre de vidas humanas, trata-se de uma injustificável inconsistência intelectual. Segundo, porque Deus julga sua igreja quando esta deixa de exercer sua função profética na história. Um peixe grande pode engoli-la, caso ela se proponha a fugir da face de Deus. Por que o avivamento não vem? Por que falta transcendência em nossos cultos? Por que tantos escândalos em nossas comunidades? Por que tanta perda de membros? Deus não tem interesse em derramar do seu Espírito sobre uma igreja desalmada. Terceiro, porque estamos diante de uma oportunidade única de restaurarmos nossa credibilidade e confiança perante a opinião pública. Milhares passariam a nos levar a sério caso nos vissem nas ruas expressando nossa indignação em face do alto índice de letalidade da nossa cidade.

Ainda é tempo de nos arrependermos. O peixe grande pode nos vomitar na praia da vontade de Deus para nossa vida. E que na nossa Nínive, preguemos contra sua violência, com compaixão por este povo grande e que não sabe discernir o certo do errado.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

DESABAMENTO NO COMPLEXO DO ALEMÃO

Três crianças entre dois e três anos morreram hoje soterradas num desabamento ocorrido no Complexo do Alemão. A tragédia ocorreu no mesmo lugar onde a polícia recentemente matou 19 supostos traficantes. Será que o Estado não poderia entrar com a mesma energia nesta comunidade pobre, mas para evitar que desgraças, como a morte dessas crianças, ocorram novamente? Por que a sociedade do Rio de Janeiro não se levanta para levar condições dignas de vida para estas pessoas?

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

O FÓRUM - I

O Primeiro fórum sobre Violência, Participação Popular e Direitos Humanos, realizado pelo Rio de Paz e a ONU, chegou ao fim na tarde de hoje. Todos os cariocas deveriam ter ouvido tudo o que pudemos ouvir nestes dois dias. O quadro do desrespeito à vida, em especial, da violência no Rio de Janeiro (o que não é privilégio apenas da nossa cidade)é gravíssimo.

Um ex-comandante do Bope fez as seguintes declarações: "estamos enxugando gelo", "estou cansado da guerra", "não dá mais para ver áreas ocupadas pelo crime sem a presença do Estado". Isto significa, que um policial tarimbado, percebe a ineficácia de um política de segurança pública de confronto, que não venha acompanhada da presença definitiva do Estado nessas comunidades dominadas por bandidos. A classe média está vibrando com uma espécie de combate ao crime, comprovada historicamente como ineficaz. Lembre-se que o filme Tropa de Elite, retrata uma realidade de dez anos atrás. Dez anos. O que mudou? É so morte de policial e traficante.

O delegado da polícia federal, Antonio Rayol, falou no debate de hoje sobre o quanto uma ação inteligente da polícia poderia prender estes mesmos traficantes sem derramar tanto sangue. Esses homens namoram, comemoram aniversário, vão ao shopping, assistem partida de futebol no estádio, ou seja, basta usar a cabeça, e essa gente haverá de parar atrás das grades, sem a necessidade de uma criança de 4 anos levar um tiro no coração.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A AGENDA DE HOJE

Hoje a tarde e a noite serão intensas. Estou saindo agora para o escritório da ONU a fim de fazer as checagem final dos preparativos do fórum de amanhã. Mais tarde estarei na praia de Copacabana em mais um "1 Hora Pela Vida". Assim que terminar nosso ato público, partirei para um encontro no jornal o Globo com um dos nossos mais importantes consultores, o excelente jornalista Jorge Antonio Barros.

A partir de amanhã, começaremos a escrever os principais ítens do nosso manifesto contra a violência do Rio. Marco histórico. Esperamos que surja um documento que corresponda às expectativas da sociedade, e acima de tudo, da justiça, no que tange a defesa do direito à vida.

É difícil variar de assunto quando tantas pessoas morrem por assassinato todos os dias. Estamos na luta. Creio que com a ajuda dos céus vamos ver a taxa de letalidade do nosso Estado cair.

Antes que eu me esqueça, estou esperando por você em Copacabana (em frente à avenida Princesa Isabel) hoje às 20h.

sábado, 20 de outubro de 2007

QUERES FOGO DO CÉU?

"... Senhor, queres que mandemos descer fogo do céu para os consumir? Jesus, porém, voltando-se os repreendeu e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Pois o Filho do homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las...". (Evangelho de Lucas 9: 54-56)

É considerável o número de pessoas que aprovaram a recente incursão da polícia do Rio de Janeiro na favela da Coréia, no bairro de Senador Camará, esta semana. Uma cena que chamou a atenção de todos, em especial, foi a do helicóptero da polícia atirando nos rapazes que fugiam. Todos foram mortos, apesar da facilidade com que poderiam ser presos.

Há base teológica para o Estado usar o poder da espada. A vida em sociedade exige o poder de coerção da lei para que haja ordem. A natureza humana jamais permitiu que as coisas fossem diferentes. O Estado tem que aplicar a lei.

O que muitos se esquecem, contudo, é que aplicar a lei significa também as seguintes coisas, num caso como esse:

1. Entrar na comunidade comandada pelo crime para ficar, e isto mediante planejamento fruto de serviço de inteligência, capaz de garantir um mínimo de letalidade.

2.Foge ao espírito do evangelho desejar a morte a priori. É melhor prevenir o crime do que puni-lo. E se tiver que haver punição, que a morte seja recurso usado apenas após a utilização de todas as tentativas possíveis para impedir o malfeitor de ir adiante no seu intento de continuar na prática do crime.

Vou ter que parar por aqui. Domingo tem mais. Infelizmente estou escrevendo numa noite de sábado. Amanhã é trabalho duro. Dois sermões logo de manhã cedo. Só um pouco mais. Acabei de chegar do Engenhão, onde fui assistir um jogo do Botafogo (ganhamos!). Mais uma vez pude ver o quanto a falta de ordem gera conflitos inevitáveis. Pouquíssmos guichês e locais de entrada. Centenas e centenas de pessoas se acotovelando para entrar no estádio, inclusive muitas crianças. O que ocorre? as pessoas acabam ficando nervosas, vendo o tempo passar, a hora do jogo se aproximar, a fila que não anda, entre tantos outros inconvenientes mais. Ali, pude ver, de forma resumida, o quanto o Estado, ao se fazer ausente e não cumprir a lei, conduz os homens a conflitos que poderiam ser evitados. Depois eu vou mostrar as fotos que tirei.
Um bom domingo (dia do Senhor - domini) para todos!

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

O NONSENSE DO PRESENTE MOMENTO


Estou atônito, com o lugar que foi dado pela nossa mídia, para o que aconteceu ontem, na zona oeste do Rio de Janeiro. Supostos traficantes mortos (10), uma criança de 4 anos assassinada por um bandido, policiais feridos (1 morto), enfim, cenas de guerra, e o noticiário dá mais destaque ao insosso jogo da seleção brasileira de futebol do que a uma tragédia social.

Veja os absurdos do noticiário de hoje:

1. Garotos correndo atrás da bola para ganharem milhões, e policiais expondo suas vidas à morte para receberem no fim do mês, um soldo absolutamente incompatível com a importância social do seu trabalho.

2. Rapazes rendidos, fugindo desarmados, caçados como animais, quando poderiam ser facilmente imobilizados e presos, em vez de serem mortos pela polícia. A polícia tem o direito de matar? não resta dúvida que sim. Não tenho como defender bandido que resiste, com forte armamento, a investida justa da polícia. Mas, se pode prender, por que matar? Se isto não foi possível ontem, sugiro que argumentos mais fortes do que as cenas da televisão (que podem nos enganar) nos sejam apresentados. Por que esta preocupação? Para defender marginal? Não, para fazer cumprir a lei. E, matar é sempre uma tragédia. Trata-se de solução para situações in extremis.

3. O colpaso do nosso sistema penitenciário, associado às brechas da lei, estimulam o policial a sentenciar o criminoso à morte (embora não justifique), mesmo quando este já está rendido, pois aquele sabe que no Brasil o crime não é devidamente punido. O policial prende, para ser morto lá na frente pelo mesmo criminoso, agora solto novamente.

4. Estas ações da polícia, tão aclamadas pela classe média, têm se mostrado, ineficazes (até admito que sem algumas delas as coisas estariam piores). Esta política está aí há anos. Faz-se a incursão à comunidade pobre, mata-se um monte de gente, para no minuto seguinte, deixar a área ser ocupada novamente pelo crime. Isto equivaleria a seguinte situação: após o desembarque da Normandia, as tropas aliadas, irem embora no dia seguinte, deixando a área entregue aos alemães novamente. Venceu a batalha, mas não conquistou o território. Sem a presença do Estado nestas regiões, policiais e civis inocentes continuarão a ser mortos.

5. Sem repressão não há esperança para o problema da criminalidade do Rio. Mas, sem política pública para as comunidades pobres, uma nova geração de garotos pobres se levantará de novo, para matar e ser morta.

6. O governo do Estado carece da ajuda do governo federal. Sem este, o Rio é ingovernável no campo da segurança pública. Nosso Estado não fabrica armas nem drogas. É responsabilidade da União coibir a entrada destes materiais no Brasil e no nosso Estado. Não há governador, por mais capaz e firme na tentativa de acabar com a violência que seja, que consiga, sem esta ajuda, dar um fim neste inferno em que nos encontramos.

Há muito mais o que falar. É tudo tão óbvio, que a vontade que dá é a de não falar nada. Mas, algo me diz que devemos oferecer nossa garganta a Deus, para que mais uma vez ele diga aos homens: "Não matarás".

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

ACONTECIMENTOS DECISIVOS


Este dias estão certamente entre os mais importantes para a curta história do movimento Rio de Paz. Nós nos encontramos na reta final dos preparativos para o fórum sobre "Violência, Participação Popular e Defesa dos Direitos Humanos", que será realizado nos dias 23 e 24 do corrente, no Palácio Itamaraty, no Rio. Este encontro, trata-se de uma parceria do Rio de Paz com a ONU, cujo objetivo é o de informar a sociedade civil sobre o que está acontecendo no campo da segurança pública no Estado do Rio de Janeiro, a fim de que haja um envolvimento consciente da população carioca, no combate àquilo que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso acredita ser, o problema social mais grave da história presente do Brasil: a violência das nossas cidades. Pesquisa recente indica que 59% da população brasileira têm a mesma opinião.

Ao término deste fórum, um documento será redigido, no qual constará uma lista de reivindicações a ser apresentada pela sociedade civil às autoridades públicas brasileiras. Nossa esperança é que o povo se una em torno deste manifesto, e faça a constituição federal ser cumprida num dos seus pontos mais básicos - o direito à vida.

domingo, 14 de outubro de 2007

FAZ 25 ANOS

Há 25 anos, neste mesmo feriado que está terminando hoje, eu me convertia ao cristianismo. O acontecimento mais importante de toda minha vida foi o encontro com o Deus que me criou, preservou e revelou-se a mim na pessoa de seu único Filho. Não é a fé em Deus que me dá esperança, mas a fé neste Deus (C. S. Lewis). Eu não creio em Deus, eu creio em Cristo (Lutero). Oh! graça bendita que me abriu os olhos e fez-me desejar a beleza perfeita e que se afeiçoou por mim.

Como comemorei este aniversário de conversão? Na sexta passada fui para a cidade de Mendes a fim de participar como preletor do retiro anual da minha igreja. Falei sobre a essência do evangelho na noite do mesmo dia, e a partir de sábado fiz uma análise da doutrina da santificação à luz do capítulo 3 da Carta aos Colossenses. Minha impressão é que saímos de lá lavados pela palavra de Deus.

Após o encerramento do retiro, parti com os voluntários do Rio de Paz para o Maracanã, com o propósito de realizar mais um ato público contra a violência no Rio de Janeiro. Levamos um cartaz escrito: "O Rio Chora pelas suas 4100 Vítimas de Assassinato em 2007"; e e mais 4100 velas que seriam acesas no intervalo do jogo, em memória do número correspondente de cidadãos fluminenses assassinados só este ano. As estatísticas mostram que 41% destes homicídios ocorrem na capital. Infelizmente, não pudemos realizar o protesto. Fomos impedidos de utilizar as velas acesas no estádio. Porém, pudemos apresentar a faixa, cujo conteúdo só nós conhecíamos. Ali ficamos, indo de um lado para o outro, até pararmos num lado da arquibancada que se encontrava mais vazio. Nenhuma manifestação de apreço por parte dos torcedores pelos locais que passamos. Para nós é tudo muito chocante, pois julgamos que tantas mortes em tão pouco tempo deveriam abalar todos os moradores da cidade. Mas, como os que morrem, na maioria das vezes são negros e pobres, isto não faz diferença para nossa vida. Alguma coisa me diz que quando dizemos que a morte desta gente não nos importa, estamos menosprezando nossa própria existência, negando o sentido da vida e nos tornando sujeitos aos justo julgamento de Deus. Amigo, Deus tem que julgar nossa sociedade. Como um Deus santo pode tolerar que suas criaturas racionais vivam uma vida contrária à vida do próprio Deus?

Todos foram embora do estádio, e ali ficamos. A arquibancada vazia e nós ali querendo dizer: agora vamos voltar à vida real. Vamos lutar pelo nosso próximo. Já nos divertimos, vamos agir como homens. Um policial apareceu e disse-nos que alguém, cuja identidade prefiro não revelar, pediu que tirássemos a faixa. Foi o que fizemos.

Agora estou em casa. Escrevendo este texto. Cansado do final de semana, atônito com a insensibilidade humana. Entrei no site de um dos jornais da cidade e vi as fotos da passeata gay em Copacabana. Um milhão de pessoas nas ruas. Um milhão. Veja as fotos. Aconteceu hoje. Na mesma cidade que viu a morte no início do ano da menininha Alana de 12 anos, vítima de bala perdida, cuja mãe em seguida perdeu o irmão por assassinato. O Rio, que presenciou a morte do menininho João Hélio.

Esta mesma mobilização em favor da defesa do direito à vida, salvaria milhares. Amanhã estarei em Copacabana, às 20h, com a minha vela acesa e o meu "Placar da Barbárie". Quantos estarão lá? Tenho vontade de chorar.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

1 HORA PELA VIDA


O mais novo ato público do Rio de Paz, tem como objetivo criar um mecanismo de mobilização popular constante e crescente. Agora, quem se encontra indignado com a violência no nosso país, vai ter a oportunidade de participar de um protesto pacífico e ininterrupto, pois é nossa intenção não sair das ruas até a taxa de letalidade cair na nossa cidade. A persistência do amor haverá de vencer a presença crônica da barbárie. Outras cidades brasileiras estão aderindo a esta nova forma de protesto. Já temos gente se preparando para criar este tipo de ato público em Belo Horizonte, Porto Alegre, Recife e São Paulo. Aqui no Rio, no decurso de uma semana, já conseguimos pessoas que vão organizar o "1 Hora pela Vida" em Icaraí (algo me diz que teremos muita gente nesta praia de Niterói), Cinelândia (18h), Ipanema e Barra.

Nossa esperança é que milhares de pessoas estejam todas as semanas nas ruas. Recentemente, fui entrevistado por um correspondente da revista americana TIME, desejoso de conhecer um pouco mais a história do Rio de Paz. Ao término da entrevista, fiz o papel de entrevistador, e perguntei ao jornalista: "O que você sugere quanto a estes protestos que temos realizado?" Ele me respondeu: "O grande problema com os protestos no Brasil é que eles não têm continuidade". Esta declaração não saiu mais da minha cabeça. Estou certo de que uma multidão sistematicamente nas ruas faria toda a diferença. É o que os franceses chamam de "Le Pouvoir da la rue". O poder da rua.

Meu Deus, uma coisa simples como esta, salvaria a vida de milhares. Agora, você tem a oportunidade. Participe conosco. Crie um "1 Hora pela Vida" no seu bairro. Em breve estaremos apresentando um conjunto de reivindicações a fim de que nos unamos em torno de um documento que represente nossas principais aspirações - e aí, pressão pacífica e respeitosa sobre o poder público para que algo aconteça.

Como nossas cidades estão precisando destes "ingênuos" nas ruas.

Obs. A foto acima foi tirada de um ato público na faculdade americana Virgina Tech, após a morte de vários dos seus alunos, num atentado. Mas, nós somos muito espertos e julgamos que este tipo de coisa que nações civilizadas fazem, não deve ser praticado por nós.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

SERMÃO DE DOMINGO 7 DE OUTUBRO

A VOZ DO SANGUE

“Disse Caim a Abel, seu irmão: vamos ao campo. Estando eles no campo, sucedeu que se levantou Caim contra Abel, seu irmão, e o matou. Disse o Senhor a Caim: onde está Abel, teu irmão? Ele respondeu: Não sei: acaso sou eu tutor de meu irmão? E disse Deus: que fizeste? A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim” (Gn 4:8-10)

Aqui estamos diante de um relato digno de constar em qualquer livro de história geral – a história do primeiro caso de homicídio. A riqueza desta passagem consiste no fato de que uma análise teológica do episódio é feita – o dia em que pela primeira vez um ser humano matou um de sua raça. Tal acontecimento, para sermos mais pessoais, é relatado pela Bíblia tal como foi visto pelo olhar do Criador do homicida e da vítima.

Uma lição básica e preliminar nos é ensinada por esta passagem: Deus atentou para o que ocorreu. Deus viu.

Uma grande verdade emerge deste texto: Deus conhece a forma como cada um de nós se relaciona com o próximo. Uma pergunta se impõe: o que significa aos olhos de Deus a nossa prática do mal contra aquele que faz parte da nossa raça?

1. DEUS TEM COMO DETESTÁVEL O DOLO DAS NOSSAS AÇÕES.
Observe que a Bíblia descreve não apenas o homicídio, mas a forma como ele foi tramado. Um dia Caim virou-se para seu irmão e o convidou para ir ao campo. O convidou para quê? Orar, contemplar a natureza, conversar, trabalhar? Não. Tudo o que ele queria era destruir a vida do seu irmão longe da vista de todos. Este é o ponto: Deus sabe também diferenciar homicídio culposo de homicídio doloso. Ele conhece o que fazemos. Ele conhece o que nos motiva a fazer o que fazemos. Sabe das nossas ações. Sabe das nossas intenções. De longe penetra nossos pensamentos, a ponto de saber de antemão quando estamos maquinando o mal contra alguém. Ele tem consciência da nossa trama para adulterar, passar alguém para trás, destruir a reputação do próximo, manipular os sentimentos de uma pessoa. Ele sabe até mesmo quando nossa boa obra não é boa. Quando ela é boa apenas no gesto e não no propósito.

2. DEUS CONHECE O NOME DO PECADO DO HOMEM.
Tudo é pecado aos seus olhos. Alguns pecados são mais graves do que outros. Uma coisa é pecar contra um estranho, outra coisa é pecar contra a mãe. Ambos são pecado. Mas, o primeiro é menos grave do que o segundo. Quanto mais devemos a alguém, quanto mais uma pessoa é excelente, quanto mais por motivos naturais devemos nos mostrar inclinados a amar um ser humano, pior a nossa iniqüidade praticada contra o mesmo.

Nossos pecados podem receber os mais diferentes tipos de classificação. Uns são intelectuais, outros são emocionais. Alguns estão na categoria de pecado de omissão. Outros na categoria de pecado de comissão. Pecamos quando fazemos certas coisas. Pecamos quando deixamos de fazer outras.

Nosso pecado contra o nosso semelhante pode receber o nome de inveja, traição, indiferença, entre tantas outras designações mais. São muitas as formas de tornarmos a vida de alguém mais difícil. No caso do texto que acabamos de examinar, a Bíblia diz que Caim matou Abel. Seu pecado é chamado de homicídio.

3. DEUS TEM COMO ABOMINÁVEL O ATO DE DEIXARMOS DE VER NOSSO SEMELHANTE NA PERSPECTIVA CORRETA.

É curioso observar nesta passagem a quantidade de vezes em que a palavra irmão aparece no texto. Ela ocorre cinco vezes. Às vezes de modo aparentemente desnecessário: “Onde está Abel, teu irmão?”.

O texto enfatiza o fato de que Caim era irmão de Abel. E isto cinco vezes em três versículos. Por que? Certamente para enfatizar o fato de que um dos erros de Caim foi o de deixar de ver seu irmão pela perspectiva correta. Ela não havia matado um boi, uma galinha ou uma lagartixa. Ele matara um homem. Alguém criado a imagem e semelhança de Deus. Um ser com potencial para fazer ciência, mandar uma espaçonave para Marte, escrever poesia, governar nações, olhar para as estrelas e atribuir sua existência a Deus. Caim interrompera a vida de alguém a quem Deus muito estimava. Matou alguém cuja vida pertencia a um outro – a Deus.

O homem até hoje tem dificuldade de saber o que se passa na cabeça de um animal. Os cães pensam e amam? Ao matar Abel, Caim havia matado um irmão. Alguém da sua raça. Um ser cuja interioridade ele conhecia muito bem – pelo simples fato de ser homem, irmão, membro da mesma raça.

Sem este irmão a vida se tornaria insossa. Deus criou o homem para ser feliz ao lado de um semelhante. Felicidade plena é justamente aquele que é compartilhada. Ao destruir a vida de Abel, Caim havia destruído a sua.

4. DEUS NÃO APROVA QUALQUER ESPÉCIE DE RELAÇÃO DO HOMEM COM O SEU SEMELHANTE QUE SEJA IRRESPONSÁVEL.

No verso nove, o texto de Gênesis apresenta o homem funcionando da pior forma. O ser humano numa péssima condição espiritual, moral e psicológica. O que caracteriza este homem? Primeiro a mentira. Ele mente a Deus. Ele diz que não sabia do paradeiro do seu irmão: “Onde está Abel, teu irmão? não sei”. Claramente a Bíblia quer dizer que ele sabia e deveria saber. Esta é a pergunta que nos é feita todos os dias: “onde está Abel, teu irmão?”.

Em seguida, Caim oferece sua resposta final a Deus: “por acaso sou eu tutor do meu irmão?”. Note, perdoa-me repetir, que quem diz é Caim. Um homem num péssimo momento de sua vida. Como funciona a alma de um homem mau? O que o caracteriza? Segundo a passagem que estamos examinado, este homem é profundamente individualista. Julga que não tem nenhuma responsabilidade pela felicidade do seu semelhante. Tem como certo o fato de que não cabe a ele atentar para o bem estar da vida do seu irmão. Tudo o que lhe cabe fazer é viver. Cuidar do que é seu.

5. DEUS, NA SUA SANTIDADE, SEMPRE OUVE OS APELOS DA JUSTIÇA.
Agora, a informação espantosa. A voz do sangue. A voz do sangue clamando aos céus. O que a Bíblia quer dizer com isto? Obviamente, não se trata de ensinar que a alma esteja no sangue – que o sangue fale literalmente. Tudo o que a passagem quer nos ensinar é que a maldade praticada pelo homem, demanda da parte de Deus uma resposta. A vítima é apresentada como apelando ao céu. Note que não é a vítima que demanda por justiça. O que exige justiça é o fato. O sangue derramado. A vida que se foi.

Deus não pode ver a maldade praticada pelo homem contra o homem sem se irar. Sua santidade exige que ele revele seu desprazer. Ele não pode deixar de condenar aquele que vive uma vida diferente da vida que o próprio Deus vive. Não se trata de capricho. O texto não diz que ele está condenando o homem por motivo tolo. O homem é apresentado aqui como alguém que está praticando algo que inviabiliza a vida. E não apenas isto: está se comportando como fera. Destruindo o que Deus ama e tem em alta estima. Em suma, vivendo de modo diferente de Deus.

APLICAÇÃO

Quais as conseqüências práticas do que acabamos de ver para nossa vida?

1. ELIMINE O DOLO DE SUAS AÇÕES.

Não seja maquiavélico. Não maquine o mal. Não ludibrie as pessoas. Por que você está propondo este tipo de coisa para esta pessoa? O que você tenciona no fundo com esta conversa, este convite, esta aproximação? Quem você está querendo destruir?

Que todo seu movimento na direção do próximo seja no sentido de promover a vida deste, e não, egoisticamente, exaltar a sua. Caim levou Abel para o campo a fim de destruir a vida do seu irmão. Para onde você está levando esta pessoa do seu relacionamento? O que você quer com ela? Quem você está usando? Quem você está enganando? Deixe de ser malvado! Aprenda a se relacionar com as pessoas para a glória de Deus. Que quem cruzar o seu caminho volte para casa se sentindo melhor. Seja ovelha. Que as pessoas não tenham medo de você. Que você não seja uma coisa lisa, perigosa, traiçoeira. Que ninguém esteja vivendo pior por causa de você.

2. DÊ NOME A FORMA COMO VOCÊ ESTÁ SE RELACIONADO COM O PRÓXIMO.

Que nome dar ao tipo de objetivo de suas relações com o próximo? O que você tem feito pode ser chamado do quê? Mentira, inveja, ódio, traição, leviandade, homicídio? O que você está matando na vida do seu semelhante? Seu nome? Sua auto-estima? Sua saúde? Sua alegria de viver? Sua felicidade está sendo construída às custas da desgraça do seu semelhante?

Quem é você? Mentiroso, fraudulento, preguiçoso, encostado, traidor, ladrão, amargurado? O que você espera alcançar através deste plano de ser feliz passando por cima de um monte de gente?

3. VEJA O PRÓXIMO PELA PERSPECTIVA CORRETA.

Você sabe quem é aquele que tem sido menosprezado, usado e destruído por você? Qual o seu conceito sobre o homem? Ele é o seu irmão? Você por acaso pensa que a dor do seu estômago é diferente da dele? Você pensa que para ele, perder um filho, é mais fácil do que o é para você? Insensível. Quem lhe disse que você é a alma mais nobre que existe, a criatura mais sensível do planeta, e que o seu semelhante não sente o que você sente?

Você é daqueles que diz que quanto mais conhece os homens mais ama o seu cão? Quem lhe disse que você não faz parte desta raça, que no seu caso é diferente, pois você é bom e não precisa de salvação? O que o impede de usar a mesma misericórdia e paciência de que você carece?

Você acha que a solução para a violência no nosso país é a bala? Você quer que bombas sejam jogadas nas comunidades pobres? Você quer ver "descer fogo do céu"? O que o faz desejar mais a destruição dos malfeitores do que a prevenção do crime? Por que você não luta com o mesmo ardor para que políticas públicas sejam implementadas em áreas pobres, a fim de que situações de conflito não se estabeleçam? A miséria jamais justificará o crime. Mas, seres humanos bem alimentados, vivendo em condições dignas e que passaram pela escola, tendem a lidar melhor com o seu semelhante. Por que não se mata tanto em Paris, Londres e Santiago do Chile? Você vibra com o assassinato de um homem? Olha amigo, mesmo nos casos em que quem morreu mereceu, porque se insurgiu contra a autoridade constituída por Deus e atentou contra a vida do próximo, penso que a satisfação do nosso senso de justiça deveria vir acompanhada do pesar de ver uma obra prima destruída, uma vida que tomou o rumo que não deveria ter tomado. Que nessas horas você também diga, e com espanto: “ali estaria eu, se Deus não tivesse tido misericórdia de mim”.

4. ASSUMA SUA RESPONSABILIDADE PERANTE O SEU SEMELHANTE.

Você e eu somos responsáveis pelo nosso próximo. Deus,está perguntado: “Onde está Abel, teu irmão?”. Onde estão os três mil cidadãos fluminenses que desapareceram no ano de 2007? Por que mais de 4000 foram assassinados? Como explicar os 42000 feridos? O que falar dos presos que vivem em condição subumanas?

Será que você está dizendo: “Não sei: por acaso sou eu tutor de meu irmão?”. Você se condena pelas suas próprias palavras. Se você o chama de irmão, já é responsável. Se você não o chama, sua condição é trágica. Você não o vê tal como Deus o vê. Você está cego. As trevas lhe cegaram os olhos. Se você o chama de “homem”, ou, “ser humano”, e ao mesmo tempo não se importa, você já se condenou também. O que você está dizendo é: “ali vai um de minha raça”. Se você sabe que ele é da sua raça, você também sabe o que ele sente. Você sabe o que deve significar ter um filho preso, estuprado e assassinado. Você sabe o que é ser caluniado, desprezado e perseguido.

Poucos textos da Bíblia mostram de modo tão claro o quanto Deus rechaça o liberalismo puro, o mercado regendo tudo, o darwinismo sendo aplicado à vida econômica e social, num contexto em que o Estado não é capaz de socorrer os que ficaram para trás na corrida. O cristianismo certamente não é contrário a meritocracia, a liberdade e o Estado ágil e democrático. O que o cristianismo condena é o modelo econômico e social que não ampara os necessitados, que nem sempre são os preguiçosos. A verdadeira religião, diz a Bíblia, é amparar os órfãos e as viúvas nas suas necessidades.

Fazendo uma aplicação prática à realidade que nos cerca: nós somos responsáveis pelo que está acontecendo no Brasil no campo da segurança pública. Não podemos ficar calados, especialmente quando nossa legislação nos dá o direito de falar. Um genocídio ocorre diante dos nossos olhos, e não o resistimos, nem nos comovemos.

5. TEMA A DEUS.

A voz do sangue clama. Pode ser que autoridades públicas e líderes religiosos não a ouçam. Mas, aquele que reina, tem todo o poder e mantém o nosso batimento cardíaco, ouve. A maldade que você pratica contra o seu semelhante não passa despercebida por Deus. O massacre de vidas humanas que hoje ocorre na nossa nação está patente aos olhos daquele que tudo vê.

Como Deus não haverá de nos julgar? Se o Brasil não se arrepender da sua maldade, Deus haverá de julgá-lo. Se a igreja não ouvir o que Deus ouve, Deus haverá de julgá-la também.

Surpreende-me o fato de não havermos passado por uma tragédia natural qualquer. Nossas iniqüidades são conhecidas do mundo inteiro, e seu odor tem chegado aos céus.

Não estabeleça nenhuma espécie de relação com ninguém que provoque a Deus. O sofrimento que esta pessoa tem passado por sua causa tem chegado aos ouvidos de Deus. Não destrua a obra de Deus. Não brinque com o que Deus ama.

CONCLUSÃO

Sei que todos nós nos sentimos confrontados por uma passagem como esta, que expõe o que somos e fazemos. O que fazer? Nos desesperarmos, a ponto de desistirmos de nós mesmos, assumindo nossa animalidade e incapacidade de nos transcendermos? Creio que não. Uma outra parte desta história é o sacrifício daquele amou, por isto se habilitou a salvar mediante sua morte aqueles que desaprenderam a amar.

A primeira decisão a tomar é correr para Cristo em busca de perdão, confessando nossa participação no pecado de Caim. Cristo veio justamente para salvar os que não sabem o que fazer de suas próprias vidas, por se sentirem partícipes de toda esta história de maldade, que tem marcado de modo tão claro, a trajetória da raça humana na face da terra.

Saiba, contudo, que ele não quer apenas perdoar você, mas transformá-lo também. Peça a ele que o livre da sua participação na natureza de Caim. Todo aquele que vem a Cristo, de modo algum ele o lançará fora. É na presença dele, como um doente na presença de um médico, que você será curado da incapacidade de nossa raça de amar e considerar o próximo irmão, em razão dessa nossa origem comum.

Antônio Carlos Costa
Igreja Presbiteriana da Barra

sexta-feira, 5 de outubro de 2007

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

UMA OPORTUNIDADE ÚNICA DE PARTICIPAÇÃO POPULAR CONTRA A VIOLÊNCIA


O que houve com a nossa geração? Esta é a pergunta que devemos todos fazer quando pensamos no nosso convívio com a barbárie no Rio de Janeiro. Que justificativa podemos encontrar para o nosso silêncio? Um genocídio acontece diante dos nossos olhos e não fazemos resistência e nem nos comovemos? Nosso chão tem recebido mais do sangue dos nossos conterrâneos do que água da chuva. Somente em 2007 já presenciamos a morte de mais de 4100 seres humanos no nosso Estado. Cerca de 42.000 pessoas foram feridas. O que isto representa? Corpos mutilados, deformados e inválidos. Neste exato momento 3000 vidas encontram-se sem paradeiro. Desapareceram. Onde estão?

A dor dos que ficam não pode ser menosprezada. Por um único instante, pense em você no lugar de um pai e uma mãe, que foram privados pelo crime, da vida de um filho. Imagine olhar para um armário com as roupas penduradas e ainda com o cheiro de alguém que saiu das suas entranhas, por quem você era capaz de dar a vida, e que foi torturado e morto. Não me chame este texto de piegas e sentimentalista. Ele apenas expressa o desespero de alguém que tenciona tocar nas cordas do coração daqueles que são a solução para esta tragédia.

A resposta para a violência do Rio de Janeiro está na população desta cidade. Não há polícia e governante que possa estancar este rio de sangue sem o apoio dos habitantes deste Estado. O problema é de tal magnitude que, somente a mobilização de todo o organismo social para salvarmos os milhares cuja vida está por um fio. Se nada acontecer até o final do ano, toda a estatística histórica dos últimos dez anos se repetirá.

Milhares de cidadãos cariocas querem fazer alguma coisa. Outros tantos, estão acordando do sono da indiferença. O que de mais precisamos neste atual momento da nossa história é nos organizarmos como sociedade para o combate ao crime. Alguém já disse que "o problema do crime organizado, é que o crime é organizado, e nós não".

Pensando na urgência da participação popular, no combate pacífico à violência, estamos tomando uma decisão esperançosa. Um grupo de cidadãos da nossa cidade decidiu que não vai mais sair das nossas ruas enquanto a taxa de homicídio no Rio de Janeiro não cair. Sim, não vamos sair. Dizem que não há solução. Que se há uma, esta passa somente pela bala. Não cremos nisto. Estamos certos de que mediante o engajamento da população, sem romantismos e espírito fascista, ao lado dos seus governantes, podemos testemunhar da vitória da vida sobre a morte. As gerações futuras vão reconhecer que a nossa foi responsável pelo fim da banalização da vida humana no Rio de Janeiro. Toda uma história de horror está com os dias contados.

A partir do dia 8 de outubro, estaremos todas as segundas-feiras, das 20h às 21h, na Praia de Copacabana, em frente a Avenida Princesa Isabel, num ato público pacífico e silencioso, que está sendo chamado de "1 Hora pela Vida". Os participantes deste gesto de apreço pelo ser humano, deverão estar trajados de uma camisa preta, trazendo nas mãos uma vela acesa dentro de um copo de papel, tal como outros povos têm feito em ocasiões análogas as que nos movem hoje a agir. E ali ficaremos em silêncio. Você pode assumir o compromisso de ficar menos tempo, ou aparecer pelo menos uma vez por mês, não importa. O que vale é que você apareça.

Nossa intenção é que o movimento comece em Copacabana, e parta na direçãos de outras praias, como também ruas, praças e demais locais públicos da nossa cidade. Tudo leva a crer, devido aos contatos que já fizemos que, outros Estados brasileiros se juntarão a nós. Tudo isto significa a oportunidade que, talvez você sempre sonhou de poder participar. Se alguém disser que isto é ingênuo, responda: nações desenvolvidas têm feito assim. Um milhão de ingênuos, sistematicamente nas ruas do Rio de Janeiro, são capazes de mudar a nossa história. Quem pode se opor a todo um povo unido, em torno de uma causa justa? Nesses encontros poderemos conversar uns com os outros. E quem sabe, propostas de políticas públicas surjam, a fim de que as apresentemos ao governo, para que em união com ele, encontremos solução para problema que aflige a todos nós.

Concluo, com a declaração que nunca é demais de ser enfatizada: "Para que o mal triunfe, é necessário apenas que os homens de bem permaneçam inativos".

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

O DEUS DOS GREGOS E O DEUS DOS HEBREUS

Passei os útimos dias estudando filosofia grega. Vim dos pré-socráticos até Aristóteles. Espero amanhã terminar, com os estóicos e os neo-platônicos. Duas coisas me chamaram a atenção nestes estudos, à luz da excelente história da filosofia de Frederick Copleston: a primeira, minha profunda identificação com estes homens, especialmente, Sócrates, Platão e Aristóteles, na busca apaixonada pela verdade - "uma vida não examinada não é digna de ser vivida", "a filosofia nasce do espanto". Sinto-me mais próximo desses homens do que daqueles que fazem parte da minha geração - homens e mulheres mais preocupados com o próximo lançamento de telefone celular do que com o sentido da nossa curta, dura e incerta existência.

Contudo, minha conexão com o passado encontra-se mais em Jerusalém do que em Atenas. Causa-me constante perplexidade, nas ocasiões em que separo tempo para estudar filosofia grega, a falta de encanto por Deus, de expressões de amor pelo Criador, de um conceito de providência e de um Ser para quem eu possa dizer: "eu o amo", e isto ter sentido para Ele e para mim.

Não há salmos na filosofia grega. Eles falam do demiurgo (este agente intermediário da criação), do movedor inamovível, do logos (a razão universal), do Bem, mas não há uma só orientação litúrgica. Não há paixão. Você correrá toda a filosofia grega e não encontrará nada parecido com: "O pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si onde acolha os seus filhotes; eu, os teus altares, Senhor dos exércitos, Rei meu e Deus meu".

Conclusão: aquilo sobre o que os gregos falavam, os hebreus viam.