segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Adeus, Hugo - "Oito mil terão a vida interrompida em 2008"


Este texto foi publicado no blog Repórter de Crime, do jornalista do jornal O GLOBO, Jorge Antonio Barros. Eu o escrevi logo após haver recebido a notícia de que o menino Hugo, de apenas do 12 anos, que na semana passada fora vítima de uma bala perdida enquanto jogava futebol em um clube do Leblon, havia acabado de morrer.

A partir daqui o Jorge Antonio faz a introdução do seu post. A parte em intálico é o texto que enviei.

Estou acabando uma jornada pesada de plantão de sábado, a cabeça gira, o coração bate meio conturbado depois de saber da notícia da morte de Hugo, de 12 anos, que estava há uma semana internado em estado grave, vítima de uma bala perdida no Clube Federal, no Leblon. Dimmi Amora, repórter, me avisa: "Morreu o menino do Leblon". Corro para fazer a terceira edição, troca matéria de lugar, a busca rápida por destaque na edição, o editor decide dar chamada na primeira página.

Estou cansado de tanta violência, mas não podemos desistir. A inspiração foge totalmente e um internauta me salva. Por acaso, não é um internauta anônimo e sequer usa apelido (nick) para fazer três comentários que transformo num texto único neste post. É o líder do movimento Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, a quem aprendi a admirar ainda mais este ano, por sua incansável luta pela vida e contra os números absurdos de homicídios, com os quais nos acomodamos há mais de uma década.

Nem pedi licença a ele, mas aqui vai seu desabafo, que assino embaixo:

"Acabei de receber a notícia de que o menino Hugo de 12 anos, atingido por uma bala perdida no Leblon há uma semana, que gostava de futebol e torcia pelo Botafogo, morreu. Faço duas orações nesta noite de sábado: "Deus, consola o coração desta família. Deus, perturba os que estão calados e recusam-se ir para as ruas protestar.

Peço a todos perdão pela minha forma de falar. Mas, entendam que escrevo numa noite de sábado, na qual meus dois filhos adolescentes (que gostam de futebol, torcem para o Botafogo, ou seja, crianças reais, iguais ao Hugo) estão na sala assistindo a um filme, após termos passado o dia de hoje na praia. Como está a cabeça dos pais do Hugo neste momento? Eu não posso esperar a tragédia alcançar a minha família a fim de aprender a ser gente. Não creio em um Deus carrasco. Nao creio que a única forma de ajudar é indo para as ruas. Mas, não resta dúvida de que em muitas ocasiões nossas consciências precisam de ser despertadas. E, de igual modo, é fato fora de controvérsia que, milhares nas ruas protestando contra a letalidade pode fazer toda a diferença. A média anual de homicídios no nosso estado é de 8.000 vítimas. Isto significa que 8.000 seres humanos terão a vida interrompida mediante assassinato ano que vem. Não aceito em hipótese alguma a assunção de que nao podemos fazer nada para evitar essas mortes

Fala-se muito em termos de solução de médio e longo prazo para o problema da segurança pública no nosso estado, devido à gravidade e complexidade do problema. Isto é inegável. Julgo, contudo, que temos que pensar também em termos de solução de curto prazo. Qualquer governo capaz de afirmar que não tem como salvar estas vidas (8.000, de acordo com a estatística do SUS), está admitindo numa certa medida o colapso do pacto social no qual nos encontramos, e isto no que nele há de mais fundamental: o direito à vida.

Vejam os números parciais da violência no nosso estado no ano de 2007: 5.000 homicídios dolosos 4.000 desaparecimentos, 60.000 lesões corporais dolososas, 30 policiais mortos em serviço 1.100 autos de resistência Tenho vergonha destes números. É a nossa geração que está sendo derrotada e presenciando este massacre de vidas humanas. No espírito de M. Luther King, gostaria de encerrar dizendo que, o silêncio dos bons me deixa aturdido, mais do que o grito dos facínoras."


Num país europeu, nem precisa ser sério, no mínimo grande parte da sociedade sairia às ruas para manifestar sua dor, se unindo por exemplo ao protesto dos policiais, marcado para às 10h deste domingo, perto do Forte de Copacabana, contra a morte do policial Eduardo Demoro, ocorrida em novembro.

Mas certamente cada um tem muito o que fazer pela própria sobrevivência e a vida segue seu curso, e o que é pior, sem solidariedade nem lágrimas.

Um comentário:

  1. A coisa está cada vez mais complicada meu amigo. Estive pensando, em quantas tragédias o carioca experimentou em 2007. Desde o assassinato do João hélio, passando pela violência aos turistas franceses e italianos, alé, das incontáveis balas perdidas, o Rio de Paz, tem chorado o choro de familias inteiras. acabei de chegar do banco, de onde ouvi a história de uma senhora que teve todos os seus bens roubados, a qual, juntamente com sua irmã e sobrinhas quase foram assassinadas. Até quando isso continuará? Que Deus o abençoe ricamente e lhe dê forças para continuar levando avante a bandeira da paz. Vamos em frente, Renato vargens

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