sexta-feira, 20 de julho de 2007

O RETRATO DE UM NAÇÃO DESNORTEADA


Nos últimos meses nossos olhos testemunharam uma seqüência de tragédias no nosso país, sintomáticas de uma enfermidade grave, crônica e metastática. Ela é grave porque tem representado a morte, pelos mais diferentes meios, de milhares de brasileiros. São mais de 15000 mortos por assassinato em 2007, dois aviões que explodiram com centenas de passageiros, um número absurdo de pessoas mortas em acidentes de trânsito, nas esburacadas, inseguras e mal sinalizadas estradas brasileiras. Fora a miséria, a falta de assistência hospitalar, o desemprego e as condições subumanas de habitação. Esta doença é crônica, porque não é circunstancial, nem somente relacionada a um modelo de governo. É cultural, relaciona-se a uma forma de pensar, agir e sentir. Algo que se reflete na falta de planejamento das nossas ações, na impontualidade, no desrespeito à santidade da vida humana, na mentira, na irresponsabilidade e na inércia. Ela resulta no pitbull que sai da casa do vizinho e desfigura o rosto de uma criança até o avião que cai levando desgraça para centenas de lares. E, ninguém é responsabilizado. Marquises desabam, obras públicas desmoronam, aviões caem, pneus explodem em buracos, e, um povo culturalmente condicionado lida com condescendência com tudo isto. Trata-se de uma metástase porque se espalhou pelo corpo social inteiro. Atingiu os três poderes, levando ao descrédito uma democracia obtida com suor e sangue.

Uma crise de liderança profunda está sendo experimentada pela nossa nação. Dizem que somos um povo de expectativas messiânicas. Que aguardamos a chegada de um libertador. Alguém que surja no cenário trazendo a solução que só será encontrada pela conjugação de esforços do todo da população. Mas, observamos um povo sem iniciativa, ignorante do funcionamento do próprio Estado, que sente o problema, mas não sabe onde está a solução. Num contexto como esse é óbvio que a presença de uma liderança íntegra, inteligente, capaz, sábia e apta para falar de uma maneira que o povo entenda é fundamental. Não precisamos de um messias. Carecemos de homens e mulheres que representem para o Brasil o que Winston Churchill representou para a Inglaterra na Segunda Guerra, o que Lutero representou para a Alemanha na Reforma do século XVI e o que Davi representou para Israel após a morte do rei Saul. O que vemos é uma raça de líderes imorais, mentirosos, mal preparados e sem compaixão, representando o interesse de milhares de seres humanos privados do que de mais elementar um país deve oferecer aos seus cidadãos.

Até a liderança eclesiástica não escapa desta crítica. Pastores em crise de meia idade levando para internet conflitos que deveriam ser administrados por eles na presença de Deus em oração, meditação e espera. Um silêncio que deveria ser rompido apenas após a obtenção de respostas vindas da parte de Deus. Homens que permitem que as circunstâncias da vida determinem sua teologia, em vez de aprenderem a fazer a leitura dos fatos da vida à luz das lentes da verdade eterna. O silêncio da igreja em face do desrespeito aos direitos humanos no Brasil é uma negação da essência do evangelho de Cristo. Raça de covardes. Valentes no púlpito, mas tímidos na hora de correr riscos para a glória de Deus e a salvação do homem. Pastores capazes de mandar o enfermo crer na sua cura, mas que na hora de botar telhado na igreja, introduzem homens corruptos no seio da congregação, muitas vezes parando o culto a Jesus Cristo para candidatos políticos ímpios falarem, usando o nome de Deus em vão.

A população encontra-se confusa. Cansada de tanta impunidade, tornou-se sedenta de punição e vingança, o que é diferente de ter sede justiça. Quem tem sede da verdadeira justiça está mais preocupado em estabelecer a culpa do que condenar o acusado, em prevenir o crime do que puni-lo. Uma sociedade orgulhosa de haver vaiado o presidente, enquanto se omite em questões mais sérias por não estar disposta a fazer o que é mais custoso. Vaiar o presidente da república é fácil. Não custa nada a ninguém. O difícil é não praticarmos o que condenamos nos outros. Aquilo de que carecemos é nos organizarmos, protestarmos e pressionarmos o poder público para que o direito e a justiça corram como um rio caudaloso no Brasil. O que precisamos é de um mutirão nacional de amor e compaixão. O asfalto subindo o morro, mas não para comprar cocaína, e, sim, para doar vida. Por que as igrejas do nosso país não se mobilizam para uma entrada nas comunidades pobres, introduzindo nessas localidades milhares de médicos, dentistas, advogados, assistentes sociais, engenheiros, entre tantos outros, a fim de cuidarmos dos problemas imediatos destas pessoas?

Eu tenho esperança. Acredito que esta crise é necessária. A imprensa tem feito seu trabalho. Nossas vergonhas estão sendo expostas. Estamos começando a ficar corados. Uma nova geração de líderes haverá de emergir. Nós vamos ficar livres deste opróbrio de modo pacífico, ordeiro e respeitoso para com as leis do Estado democrático de direito. E, entre os muitos caminhos que podemos tomar, deixe-me sugerir um. Falo agora para aqueles que crêem no que eu creio. Os que têm a minha esperança. Acreditam no Cristo que amo. Organizemos a sociedade brasileira para a participação na vida do país a partir da organização da igreja. Somos milhares. Se um terço de nós não vale nada, ainda somos milhares. Deus tem um povo no Brasil. Oh! Se este povo tivesse consciência do seu poder. Milhares e milhares. Organizados. Com facilidades impressionantes de comunicação. Reúnem-se todos os domingos. Estão em todos os lugares. O fenômeno social mais extraordinário da história recente do Brasil. Temos o Espírito Santo. Temos o socorro do exército angelical de Javé, o nosso Deus. Se fizermos o bem nessa nação, é provável que os que hoje nos menosprezam haverão de nos tratar com respeito. Eles verão as nossas boas obras e glorificarão ao nosso Pai que está no céu. Disse um dos amigos íntimos do Senhor Jesus, o grande apóstolo Pedro, na sua primeira epístola no capítulo 3 versículos 13 e 14: “Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom? Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois”.

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