O DESESPERO PÓS-MODERNO
Acabei de ler o livro, Aprender a Viver, do filósofo francês Luc Ferry, que foi ministro da educação da França entre 2002-2004. O que Ferry se propõe a fazer é defender como único propósito de vida o humanismo secular. Do que se trata? O humanismo secular é uma visão de mundo que dispensa a filosofia clássica, o cristianismo, o humanismo do renascimento e o niilismo de Nietzsche, e abraça o amor pelo próximo como o único modo do ser humano encontrar sentido na vida. Daí a palavra humanismo. O termo "secular" enfatiza a negação de qualquer espécie convicção religiosa ou crença na existência de Deus como base intelectual para esta espécie de divinização do homem. Deus não é mais o centro da ética, mas, sim, o homem.
Ferry faz uma descrição bastante clara de toda a história da filosofia, mostrando como através do tempo o sonho da filosofia grega morreu, dando ensejo a uma filosofia de desconstrução (filosofia do martelo na mão) que está sempre em busca do motivo não confessado que encontra-se por trás de cada corrente de pensamento. Não há objetividade alguma. Nenhuma razão para afirmarmos o valor da vida humana, da democracia, da liberdade e da justiça.
Acontece que não conseguimos viver sem crer nestes valores. A solução que Ferry propõe, está em nós, a partir de um ponto de vista fenomenológico (reconhecendo os fatos da vida sem procurar explicá-los ou fundamentá-los), afirmarmos estes valores, muito embora não tenhamos nenhuma base intelectual para estabelecermos os mesmos. Temos que viver com eles porque não conseguimos viver sem eles. O ser humano pode negar a existência da moral, mas jamais se viu (como lembra C. S. Lewis) uma sociedade que tenha recebido com festa o soldado que por covardia abandonou seus companheiros no campo de batalha.
Apesar de Ferry reconhecer que por trás de toda filosofia verdadeira há o desejo humano de encontrar solução para a realidade da morte, o homem pós-moderno chegou num ponto, em que a morte deve ser considerada problema sem solução, fato que temos que admitir, do qual não podemos escapar. O que sobra é a necessidade de vivermos cada momento sem esperança de espécie alguma, e, aceitando o fato de que embora não haja base intelectual para o valor da vida humana, a nós só nos cabe viver em função do próximo, fazendo do exercício deste amor o principal fundamento da vida.
Bom, infelizmente não disponho neste momento de tempo para fazer uma análise mais acurada do livro de Ferry. Tudo o que gostaria de ressaltar é o fato de que estamos vivendo um momento de desespero filosófico completo. O que se é ensinado é que a vida exige que demos um salto no escuro, que embora a razão não nos deixe alternativa alguma, somos forçados a fazer uma escolha que empreste sentido à nossa existência, num mundo onde tudo caminha para o nada, onde todos vamos morrer e nos separar daqueles que mais amamos,e, sem um Deus para quem possamos oferecer nossas melhores obras como expressão do nosso amor por ele. É como viver a experiência da moça que após saber que o homem que tanto ama não mais virá, deixou de ver sentido em passar perfume no seu corpo.
Confesso, que a vida sem Cristo é para mim um enigma. Como os seres humanos conseguem viver sem a esperança cristã? É lamentável observar que o filósofo francês supra mencionado, reconhece que nenhuma corrente de pensamento promete ao homem o que o cristianismo promete. Ele reconhece que a esperança cristã é a que melhor atende as demandas do coração humano, contudo, ele diz que se recusa a crer. O que gostaria que me respondessem os que dizem que não conseguem crer é, o quanto estes buscaram com sinceridade a verdade e se de fato não cometeram a desonestidade intelectual de rejeitar o cristianismo sem ao menos terem parado para considerá-lo. A Bíblia diz: "Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração".
Pois é, Reverendo...até entendo o que esse filósofo francês compreende o que, do ponto de vista dele, seja o significado da vida: fazer o bem ao outro; mesmo que esse fazer bem seja desprovido do sentido religioso-cristão. Acho que às vezes fico a pensar assim também em alguns momentos (que são muitos!) de minha existência. No entanto, é possível que muitos que tentam encontrar um significado puramente humanista pra vida podem, no fim dessa escapatória existêncial, se encontrar com a morgadez e, talvez,questionem como "seria tão legal que existisse algo após essas cortinas"... particularmente, "luto" com isso todos os dias, qdo escuto péssimas notícias na tv ou qdo escuto respostas simplistas ou sermões hipócritas de um montão de gente religiosa.
ResponderExcluirAinda bem que,no meu caso, sempre vence a idéia/crença de que o que Jesus "falou" nos Evangelhos é real . Isso é o que me faz "ainda" acreditar que algo de bom exista do outro lado!
A propósito, gosto muito de seus textos; tenho seu blog no meu agregador rss. E, foi um prazer te ouvir aqui em Campina Grande no Encontro da Consciência Cristã (pena que tava chuvendo tanto! Quase "São Pedro" derrubava o quiosque em que estávamos!).
Até mais!
Caro César,
ResponderExcluiro projeto humanista tem duas necessidades intelectuais sérias: 1. Uma base racional para a afirmação da dignidade do homem. Que valor pode ter um ser que é obra do nada mais o acaso e que caminha para a impessoalidade?
2. Uma base motivacional para a virtude. O cristão faz o que faz por amor a Deus. Por isso, esta é uma característica da ética cristã - a espontaneidade. Há no cristianismo um senso de inevitabilidade em razão do conhecimento de Deus.
Reverendo,sinceramente, não gostaria de ser duro com os humanistas-existecialistas, mas, se eu assim vivesse preferia morrer! (embora para eles viver ou morrer.... parece não fazer a menor diferença).
ResponderExcluiro Humanismo é um refúgio... furado, mas é nele que tais homens se escondem.
Fica nítido que muitos deles são apenas cegos (digo muitos porque alguns deles além de cegos são arrogantes... como é o caso desse autor, que chega a afirmar o cristianismo como resposta mas não dá o braço a torcer)....
Nossa oração é que aquele que conhce o mais prfundo anseio humano (Espírito Santo) os tarnsforme e os eleve a uma posição de filhos!
Parabéns pela postagem!