segunda-feira, 30 de julho de 2007

VENCENDO A TIRANIA DO MOMENTO


Viver ao sabor dos ventos das circunstâncias da vida é viver precariamente. A existência humana está constantemente sujeita a uma série de infortúnios que escapam totalmente ao seu controle, mesmo que o ser humano viva da forma mais prudente e sábia possível. Em suma, as coisas nem sempre saem como planejamos.

Sempre fez parte da literatura filosófica, e, em especial da chamada literatura de sabedoria, a preocupação quanto à forma que devemos lidar com os altos e baixos da vida. Pensemos em algumas destas soluções que têm sido propostas:

1. A resposta da resignação. Os proponentes deste ponto de vista simplesmente assumem o fato de que tudo encontra-se fora do nosso controle e não há nada o que fazer mesmo, senão, submetermos nossa vida ao destino cego. Há variações quanto a este ponto de vista. Uns ensinam que a saída está em não nos apegarmos a nada, diminuirmos nossas expectativas com relação a uma vida que nos promete muito e não cumpre nada. Outros chegam ao ponto de assumirem uma postura absolutamente niilista. Ou seja, afirmam que nada tem sentido. A melhor coisa é morrer cedo, e melhor do que morrer cedo é nunca haver nascido.

2. A resposta do carma. De acordo com esta doutrina, nossos infortúnios não se originam no acaso, mas numa espécie de governo moral universal que faz com que paguemos em vida os erros que cometemos numa vida da qual não nos lembramos. Trata-se de uma visão de mundo que tende ao imobilismo. Conduz o homem à decisão de não tentar fugir desta sentença estabelecida antes do seu nascimento.

3. A resposta do cristianismo. O cristianismo difere de vários modos das respostas propostas acima. Em primeiro lugar, o cristianismo afirma a liberdade e o direito do ser humano desejar. Há espaço dentro da fé cristã para a existência de sonhos legítimos, mesmo em face do caráter incerto de todas as coisas. Isto porque, Deus pode satisfazer aos desejos do coração de um homem e de uma mulher. A Bíblia está repleta do testemunho de pessoas que a despeito da percepção do elemento trágico da vida, ousaram sonhar e muito realizaram neste vale de lágrimas em que vivemos. Esta capacidade de sonhar está inserida na cosmovisão cristã, é um corolário do cristianismo bíblico: para a fé cristã a dimensão impessoal da vida está sujeita a dimensão pessoal da vida. No Mar da Galiléia o Senhor Jesus fez o vento e as ondas cessarem.

Em segundo lugar, o cristianismo afirma a realidade do céu. O cristão é estimulado a desejar, mas jamais a esperar nesta vida aquilo que ele só terá quando houver uma completa transformação cósmica, a criação de novos céus e nova terra, promessa feita por Cristo reiteradas vezes. O fato do homem não se satisfazer com este mundo, como lembra C. S. Lewis, não significa que o plano de Deus fracassou, mas que o homem foi criado para um mundo transfinito e transtemporal. Nossos melhores momentos nesta vida são apenas lembranças do que nos aguarda na glória.

Em terceiro lugar, o cristianismo afirma o caráter incerto da condição humana debaixo do sol. Não sabemos o que nos aguarda. Orações podem não ser ouvidas nos termos em que as apresentamos a Deus. Sendo assim, a fé cristã nos estimula a prática do contentamento, o que significa a decisão de momento a momento dizermos um racional “muito obrigado” a Deus, mesmo que as coisas não estejam andando como esperávamos. Há um paradoxo aqui. O cristão não se alegra pelo sofrimento em si, se possível, faz o que estiver ao seu alcance para evitá-lo ou superá-lo, mas aquiesce à vontade daquele que faz com que todas as coisas concorram para o bem dos que amam a Deus.

Em quarto lugar, o cristianismo não desnaturaliza o ser humano, mas dá-lhe recursos para que o que anda com Cristo se supere. Quando vem a dor, o cristianismo não ensina a ninguém que é pecado chorar. Mas, ninguém deve viver de uma tal maneira que sua relação com Deus e o seu caráter sejam determinados pelas circunstâncias da vida. O cristão é chamado por Deus a vencer a tirania do momento.

Em quinto e último lugar, entre o muito que poderíamos falar, permita-me apresentar um ponto final indispensável. A vida neste planeta é dura, curta e incerta. Por isto, quando uma pessoa se converte, Deus não lhe dá um pijama para descansar, mas uma armadura para guerrear: “revesti-vos de toda a armadura de Deus...”. O cristão faz parte de uma comunidade peregrina, que encontra-se no meio de uma travessia, que se dá através de uma terra árida, ocupada por forças malignas e cheia de serpentes. Tudo isto exige a necessidade de vigilância, constante oração, estudo das Sagradas Escrituras, comunhão com a igreja, participação no sacramento da ceia e santidade de vida.

Que Deus ajude a você e a mim a vermos que beleza de vida é a vida cristã. Que saibamos vivê-la, e, no secreto, na solitude, na prática das disciplinas espirituais, nos prepararmos para ela. Em vivendo assim, poderemos dizer juntamente com o apóstolo Paulo: “... porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado, como também ser honrado; de tudo e em todas as circunstâncias já tenho experiência, tanto de fartura, como de fome; assim de abundância, como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece” (Fp 4:11-13).

sábado, 28 de julho de 2007

A SOBERANA PROVIDÊNCIA DIVINA


"Não se vendem dois pardais por uma asse? e nenhum deles cairá em terra sem o consentimento de vosso Pai".
Este texto extraído do Evangelho de Mateus capítulo 10 verso 29 nos ensina as seguintes lições:
1. Deus governa o universo soberanamente.
2. Deus governa o universo nos seus mínimos detalhes.
3. Deus governa o universo de acordo com seu cuidado paternal pelo seu povo.

O universo é regido por leis que foram determinadas por Deus. Porém, a Confissão de Westminster faz bem ao fazer uma separação entre causa secundária e causa primária. Existem as causas secundárias daquilo que acontece num universo onde encontram-se em operação leis naturais estabelecidas por Deus. Para o cristão não há nenhum problema no ser humano sair em busca das causas científicas que estão por trás dos acontecimentos da vida. Contudo, o texto supra mencionado nos ensina que Deus é a causa primária de tudo o que acontece. No fim da linha, dentro de uma sucessão de causa e efeito, aquele que faz ciência a partir de categorias cristãs de pensamento encontrará um Deus soberano que tudo faz como lhe agrada.

Meu último ponto: o universo é composto por duas partes. Há nele uma dimensão material, inanimada, incapaz de expressar vontade, pensamento e sentimento, e, uma porção que é pessoal, capaz de ter consciência do todo e de si mesma. O que a fé cristã nos ensina é que, o impessoal está sujeito ao pessoal. Tudo o que existe tem que dizer amém para a vontade soberana de Deus. Não cai pardal do céu fora do âmbito desta determinação santa, bondosa e sábia.

Que consolo viver num universo como este. A alegria da alma piedosa é incalculável. Não há foto enviada pelo telescópio Hubble que possa assustar o crente. Todos os corpos celetes dizem sim à palavra do Pai de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

Que mistério esta soberania! Como conciliá-la com a responsabilidade humana e as dores da vida? Mas, é justamente neste tipo de universo que gostaríamos de viver - um mundo no qual nem o acaso, nem as forças cegas, nem o inferno, têm a palavra final. Prefiro viver neste tipo de mundo ensinado pelo Senhor Jesus, com toda a sua inescrutabilidade, a viver num universo que me leva a crer que por trás da vida há um demiurgo (uma criatura intermediária entre a natureza divina e a humana), um simulacro de Deus, ou seja, um ser que além de não ser onipotente e soberano, é um super-anjo incompetente, capaz criar a vida e deixá-la escapar ao seu controle.

Prefiro esta teologia dos pardais à tentativa racionalista de diminuir a divindade(ou ignorá-la), na perspectiva de encaixar num sistema de pensamento os fatos da vida que fogem à nossa compreensão. Tal decisão nos remete para problemas intelectuais mais graves ainda, capazes de remover da vida toda a consolação que Deus tencionou que auferíssemos da sua santa Palavra.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

O DESESPERO PÓS-MODERNO


Acabei de ler o livro, Aprender a Viver, do filósofo francês Luc Ferry, que foi ministro da educação da França entre 2002-2004. O que Ferry se propõe a fazer é defender como único propósito de vida o humanismo secular. Do que se trata? O humanismo secular é uma visão de mundo que dispensa a filosofia clássica, o cristianismo, o humanismo do renascimento e o niilismo de Nietzsche, e abraça o amor pelo próximo como o único modo do ser humano encontrar sentido na vida. Daí a palavra humanismo. O termo "secular" enfatiza a negação de qualquer espécie convicção religiosa ou crença na existência de Deus como base intelectual para esta espécie de divinização do homem. Deus não é mais o centro da ética, mas, sim, o homem.

Ferry faz uma descrição bastante clara de toda a história da filosofia, mostrando como através do tempo o sonho da filosofia grega morreu, dando ensejo a uma filosofia de desconstrução (filosofia do martelo na mão) que está sempre em busca do motivo não confessado que encontra-se por trás de cada corrente de pensamento. Não há objetividade alguma. Nenhuma razão para afirmarmos o valor da vida humana, da democracia, da liberdade e da justiça.

Acontece que não conseguimos viver sem crer nestes valores. A solução que Ferry propõe, está em nós, a partir de um ponto de vista fenomenológico (reconhecendo os fatos da vida sem procurar explicá-los ou fundamentá-los), afirmarmos estes valores, muito embora não tenhamos nenhuma base intelectual para estabelecermos os mesmos. Temos que viver com eles porque não conseguimos viver sem eles. O ser humano pode negar a existência da moral, mas jamais se viu (como lembra C. S. Lewis) uma sociedade que tenha recebido com festa o soldado que por covardia abandonou seus companheiros no campo de batalha.

Apesar de Ferry reconhecer que por trás de toda filosofia verdadeira há o desejo humano de encontrar solução para a realidade da morte, o homem pós-moderno chegou num ponto, em que a morte deve ser considerada problema sem solução, fato que temos que admitir, do qual não podemos escapar. O que sobra é a necessidade de vivermos cada momento sem esperança de espécie alguma, e, aceitando o fato de que embora não haja base intelectual para o valor da vida humana, a nós só nos cabe viver em função do próximo, fazendo do exercício deste amor o principal fundamento da vida.

Bom, infelizmente não disponho neste momento de tempo para fazer uma análise mais acurada do livro de Ferry. Tudo o que gostaria de ressaltar é o fato de que estamos vivendo um momento de desespero filosófico completo. O que se é ensinado é que a vida exige que demos um salto no escuro, que embora a razão não nos deixe alternativa alguma, somos forçados a fazer uma escolha que empreste sentido à nossa existência, num mundo onde tudo caminha para o nada, onde todos vamos morrer e nos separar daqueles que mais amamos,e, sem um Deus para quem possamos oferecer nossas melhores obras como expressão do nosso amor por ele. É como viver a experiência da moça que após saber que o homem que tanto ama não mais virá, deixou de ver sentido em passar perfume no seu corpo.

Confesso, que a vida sem Cristo é para mim um enigma. Como os seres humanos conseguem viver sem a esperança cristã? É lamentável observar que o filósofo francês supra mencionado, reconhece que nenhuma corrente de pensamento promete ao homem o que o cristianismo promete. Ele reconhece que a esperança cristã é a que melhor atende as demandas do coração humano, contudo, ele diz que se recusa a crer. O que gostaria que me respondessem os que dizem que não conseguem crer é, o quanto estes buscaram com sinceridade a verdade e se de fato não cometeram a desonestidade intelectual de rejeitar o cristianismo sem ao menos terem parado para considerá-lo. A Bíblia diz: "Buscar-me-eis e me achareis quando me buscardes de todo o vosso coração".

segunda-feira, 23 de julho de 2007

UM FINAL DE SEMANA DE CORAÇÃO APERTADO


Todo domingo eu prego na minha igreja. Ontem não foi diferente. O texto da minha mensagem foi o da epístola de Paulo aos filipenses, capítulo 4 versos 11 e 12. Procurei dar ênfase a seguinte declaração: "... porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação". Mas, como costuma acontecer, subi ao púlpito para pregar para a igreja e para mim mesmo.

Eu já vinha de uma semana difícil. Procurando me recuperar do cansaço das atividades do primeiro semestre (o que ainda não consegui) e procurando administrar no meu coração a dor que todos nós brasileiros experimentamos na semana passada, quando um avião da TAM explodiu ceifando aproximadamente 200 vidas humanas. A imaginação vai... e, tal como você, fiquei pensando em todo o horror vivido pelos que ficaram e pelos que se foram. Dois relatos impressionaram a milhares: a posição de alguns dos corpos carbonizados, mostrando as pessoas com as mãos estendidas como se estivessem a se proteger do perigo iminente, e, outras como se estivessem a orar. A cena que não deveria ter sido gravada, das pessoas perante um rádio ouvindo a leitura dos nomes dos parentes mortos, marcou-nos também profundamente.

A falta de direção da nação, a ausência de linhas de responsabilidade bem definidas, a carência de uma ação preventiva, o silêncio das nossas autoridades, a forma passional de se lidar com os problemas - ou seja, a manifestação de todos os males da cultura brasileira na tragédia, a revelação do ser brasileiro, fizeram parte desta tristeza de alma experimentada por tantos amigos e irmãos, e, também por mim.

E, em meio a tudo isto, vivi a perda infinitamente menos dolorosa, mas real e sofrida para mim, de um dos meu cachorros. Morreu o meu labrador. Seu nome era Luther. Ele chegou à nossa casa quando tinha quatro meses. Era de cor caramelada, dócil, manso, obediente, e o melhor amigo do Muffet, nosso outro labrador (eu posso te garantir que esta raça é convertida)que agora vai ter que aprender a viver sem o seu melhor amigo. O Luther morreu com dignidade. Submeteu-se calmamente a todo o tratamento que fizemos, como por exemplo, a aplicação de soro que tivemos que fazer quase que a tarde inteira de sábado. E, ontem, quando acordei pensando em preparar o coração para o culto e pregação, fui ao canil e o encontrei inicialmente num canto imóvel, porém respirando. Eu o chamei e ele não respondeu. Após ter ido à cozinha, ao voltar para vê-lo, o encontrei morto. O pobrezinho não deu nenhum trabalho. Não gemeu, não latiu, tratando de ficar no seu cantinho como que se preparando para a morte. Fica aqui meu muito obrigado ao Lobão, irmão na fé e veterinário, que fez tudo o que estava ao seu alcance para salvar a vida do Luther, e, minha gratidão a Deus, que no seu amor sem fim, deu-nos estes animais encantadores, tão reveladores da verdade bíblica que diz que todas as coisas foram feitas por amor a nós seres humanos.

Qual a relação de tudo o que acabei de relatar e o versículo acima que serviu de base para o meu sermão? Creio firmemente que é possível viver com contentamento. É possível não vivermos sob a tirania do momento, ou o poder das circunstâncias. Falando de uma forma positiva, é possível viver acima das circunstâncias, não sem derramar lágrimas, não sem se surpreender com a insânia dos homens, não sem ter que saber lidar com a perda de um animal num contexto em que pessoas estão chorando pela morte dos seus próprios filhos, mas não permitindo que o lado escuro da vida nos impeça de ver as expressões da bondade divina, não admitindo que o caráter se torne pior por causa da dor e não aceitando que o coração se afaste de Deus por causa do caráter imperscrutável dos seus planos eternos.

Eu sei algumas coisas: Deus é soberano, a porção impessoal do universo tem que dizer amém para a porção pessoal do universo. Todas as galáxias, todos os asteróides, todos os cometas, todos os sóis, todas as estrelas, todas a moléculas, todos os átomos estão submissos àquele que faz todas as coisas de acordo com o propósito da sua vontade.

Aguardo na ponta dos pés a chegada da parousia, da vinda do Senhor Jesus, da criação de novos céus e nova terra. Esta presente ordem vai passar. A santidade de Deus exige que este mundo tal como o é não permaneça para sempre.

E, acima de tudo, Cristo morreu por mim. O amado do Pai foi imolado no calvário. O amado. Tudo o que foi feito contra a vida de Cristo foi feito contra a vida do amado do Pai. Ele não morreu por causa da inveja da liderança religiosa judaica do seu tempo, nem pelo ódio das autoridades romanas, mas por causa do amor do Pai. Ele foi entregue por Deus. O Pai não lhe retirou o cálice do juízo. E, ele amorosamete sorveu até a última gota deste cálice de tormento indizível.

Por isto eu digo: "Inferno e todos os demônios, não tentem extrair de mim resposta para o que não posso entender. Vocês cobram de nós crentes explicações para a morte dos homens e até mesmo de animais. Contudo, há um outro absurdo para o qual não há explicação - a morte do amado Senhor Jesus. Na cruz ele não apenas justifica o pecador, mas justifica a si mesmo num mundo sofredor. O Filho de Deus se fez filho dos homens para que os filhos dos homens se fizessem filhos de Deus. É isto que nos espanta e nos faz crer que por trás de uma providência aparentemente cruel há um coração que sangra de amor por nós - o coração daquele que nos criou, e que por ser quem ele é, nós faz ansiar por um mundo onde haja justiça. Não são as suas tentações que nos fazem angustiar quando vemos o mal prevalecer no mundo, mas a imagem e semelhança de Deus que carregamos. É por causa dele, da sua existência e nossa criação à sua imagem e semelhança que até mesmo, pelo menos em um ponto, estas tentações infernais nos fazem parar para pensar (muito embora elas aprofundem nossa fé, tornem nossas declarações teológicas mais precisas e nos aproximem mais de Deus), porque vocês não tentam pedras, troncos, nem animais irracionais, mas aqueles que foram criados por um ser justo,e, que por isto, têm também senso de justiça".

sexta-feira, 20 de julho de 2007

O RETRATO DE UM NAÇÃO DESNORTEADA


Nos últimos meses nossos olhos testemunharam uma seqüência de tragédias no nosso país, sintomáticas de uma enfermidade grave, crônica e metastática. Ela é grave porque tem representado a morte, pelos mais diferentes meios, de milhares de brasileiros. São mais de 15000 mortos por assassinato em 2007, dois aviões que explodiram com centenas de passageiros, um número absurdo de pessoas mortas em acidentes de trânsito, nas esburacadas, inseguras e mal sinalizadas estradas brasileiras. Fora a miséria, a falta de assistência hospitalar, o desemprego e as condições subumanas de habitação. Esta doença é crônica, porque não é circunstancial, nem somente relacionada a um modelo de governo. É cultural, relaciona-se a uma forma de pensar, agir e sentir. Algo que se reflete na falta de planejamento das nossas ações, na impontualidade, no desrespeito à santidade da vida humana, na mentira, na irresponsabilidade e na inércia. Ela resulta no pitbull que sai da casa do vizinho e desfigura o rosto de uma criança até o avião que cai levando desgraça para centenas de lares. E, ninguém é responsabilizado. Marquises desabam, obras públicas desmoronam, aviões caem, pneus explodem em buracos, e, um povo culturalmente condicionado lida com condescendência com tudo isto. Trata-se de uma metástase porque se espalhou pelo corpo social inteiro. Atingiu os três poderes, levando ao descrédito uma democracia obtida com suor e sangue.

Uma crise de liderança profunda está sendo experimentada pela nossa nação. Dizem que somos um povo de expectativas messiânicas. Que aguardamos a chegada de um libertador. Alguém que surja no cenário trazendo a solução que só será encontrada pela conjugação de esforços do todo da população. Mas, observamos um povo sem iniciativa, ignorante do funcionamento do próprio Estado, que sente o problema, mas não sabe onde está a solução. Num contexto como esse é óbvio que a presença de uma liderança íntegra, inteligente, capaz, sábia e apta para falar de uma maneira que o povo entenda é fundamental. Não precisamos de um messias. Carecemos de homens e mulheres que representem para o Brasil o que Winston Churchill representou para a Inglaterra na Segunda Guerra, o que Lutero representou para a Alemanha na Reforma do século XVI e o que Davi representou para Israel após a morte do rei Saul. O que vemos é uma raça de líderes imorais, mentirosos, mal preparados e sem compaixão, representando o interesse de milhares de seres humanos privados do que de mais elementar um país deve oferecer aos seus cidadãos.

Até a liderança eclesiástica não escapa desta crítica. Pastores em crise de meia idade levando para internet conflitos que deveriam ser administrados por eles na presença de Deus em oração, meditação e espera. Um silêncio que deveria ser rompido apenas após a obtenção de respostas vindas da parte de Deus. Homens que permitem que as circunstâncias da vida determinem sua teologia, em vez de aprenderem a fazer a leitura dos fatos da vida à luz das lentes da verdade eterna. O silêncio da igreja em face do desrespeito aos direitos humanos no Brasil é uma negação da essência do evangelho de Cristo. Raça de covardes. Valentes no púlpito, mas tímidos na hora de correr riscos para a glória de Deus e a salvação do homem. Pastores capazes de mandar o enfermo crer na sua cura, mas que na hora de botar telhado na igreja, introduzem homens corruptos no seio da congregação, muitas vezes parando o culto a Jesus Cristo para candidatos políticos ímpios falarem, usando o nome de Deus em vão.

A população encontra-se confusa. Cansada de tanta impunidade, tornou-se sedenta de punição e vingança, o que é diferente de ter sede justiça. Quem tem sede da verdadeira justiça está mais preocupado em estabelecer a culpa do que condenar o acusado, em prevenir o crime do que puni-lo. Uma sociedade orgulhosa de haver vaiado o presidente, enquanto se omite em questões mais sérias por não estar disposta a fazer o que é mais custoso. Vaiar o presidente da república é fácil. Não custa nada a ninguém. O difícil é não praticarmos o que condenamos nos outros. Aquilo de que carecemos é nos organizarmos, protestarmos e pressionarmos o poder público para que o direito e a justiça corram como um rio caudaloso no Brasil. O que precisamos é de um mutirão nacional de amor e compaixão. O asfalto subindo o morro, mas não para comprar cocaína, e, sim, para doar vida. Por que as igrejas do nosso país não se mobilizam para uma entrada nas comunidades pobres, introduzindo nessas localidades milhares de médicos, dentistas, advogados, assistentes sociais, engenheiros, entre tantos outros, a fim de cuidarmos dos problemas imediatos destas pessoas?

Eu tenho esperança. Acredito que esta crise é necessária. A imprensa tem feito seu trabalho. Nossas vergonhas estão sendo expostas. Estamos começando a ficar corados. Uma nova geração de líderes haverá de emergir. Nós vamos ficar livres deste opróbrio de modo pacífico, ordeiro e respeitoso para com as leis do Estado democrático de direito. E, entre os muitos caminhos que podemos tomar, deixe-me sugerir um. Falo agora para aqueles que crêem no que eu creio. Os que têm a minha esperança. Acreditam no Cristo que amo. Organizemos a sociedade brasileira para a participação na vida do país a partir da organização da igreja. Somos milhares. Se um terço de nós não vale nada, ainda somos milhares. Deus tem um povo no Brasil. Oh! Se este povo tivesse consciência do seu poder. Milhares e milhares. Organizados. Com facilidades impressionantes de comunicação. Reúnem-se todos os domingos. Estão em todos os lugares. O fenômeno social mais extraordinário da história recente do Brasil. Temos o Espírito Santo. Temos o socorro do exército angelical de Javé, o nosso Deus. Se fizermos o bem nessa nação, é provável que os que hoje nos menosprezam haverão de nos tratar com respeito. Eles verão as nossas boas obras e glorificarão ao nosso Pai que está no céu. Disse um dos amigos íntimos do Senhor Jesus, o grande apóstolo Pedro, na sua primeira epístola no capítulo 3 versículos 13 e 14: “Ora, quem é que vos há de maltratar, se fordes zelosos do que é bom? Mas, ainda que venhais a sofrer por causa da justiça, bem-aventurados sois”.

quarta-feira, 18 de julho de 2007

O CARÁTER INCERTO DA VIDA


Quando soube do acidente da TAM, ocorrido no dia de ontem em São Paulo, encontrava-me na igreja, saindo de uma reunião de oração que realizamos semanalmente. Em seguida fui para um restaurante com a minha esposa, o nosso missionário que trabalha em Porto Alegre e mais alguns amigos. Havia algo de diferente no ar. Aquela atmosfera que sempre é criada quando uma tragédia desta proporção ocorre. Lembro-me de alguém haver me contando da sensação que teve ao chegar nas barcas de Niterói, quando um incêndio em um circo matou centenas de pessoas na cidade na década de 60. Ele, até então, não sabia de nada que havia ocorrido, mas havia um clima na cidade, algo que era comunicado de alguma forma pelas pessoas, que o levou a pensar em alguma tragédia que certamente ocorrera. Estes dramas costumam se refletir nos nossos rostos, nas nossas conversações, e, cumprem um papel importante na nossa vida – remetem-nos para um contato direto com a vida tal como a vida é.

O fato é que estas tragédias nos deixam entristecidos, reflexivos e mais circunspectos. O que costumamos pensar numa hora como esta? Primeiro, por que aconteceu com eles e não comigo? Eu mesmo já fiz este vôo entre Porto Alegre e São Paulo. Milhares o fizeram e não aconteceu nada com eles. Contudo, ontem, centenas de corpos carbonizados. Segundo, qual o sentido da vida? Se tudo pode acabar de modo tão rápido, há propósito na nossa existência? Terceiro, como me preparar para tudo isto? Sendo a vida dura, curta e incerta, qual a melhor forma de se administrar a nossa existência? Pessoas no dia ontem, dentro de um avião, se dirigiam de uma cidade para outra pensando em comprar, vender, casar, mudar, estudar, entre tantos outros sonhos pessoais mais, e, subitamente, um susto, um estrondo e o fim.

Gostaria que você considerasse algumas coisas em razão das verdades que emergem de situação trágica como esta, e, que podem penetrar de modo mais profundo no nosso coração quando somos postos perante a realidade da vida e da condição humana:

1. Considere a brevidade da vida e o caráter incerto de todas as coisas. A sua e a minha vida passam como um sonho: “O homem nascido da mulher vive breve tempo, cheio de inquietação, nasce como a flor e murcha, foge como a sombra e não permanece”. Portanto, invista no essencial. Não perca tempo com aquilo que subitamente vai deixar de fazer todo o sentido para sua vida. Trabalhe, ame, estude e sonhe. Mas, saiba que você tem uma alma. E, mais alguns verões, mais alguns invernos, mais alguns natais, mais alguns anos ou dias, e, sua vida será cortada deste mundo. Você terá que se separar de tudo quanto ama. Foi Cristo quem disse: “De que vale um homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma”? Reconcilie-se com Deus através de Cristo. Peça a Deus perdão pelos dias de insanidade – dias nos quais você não levou em consideração o fato de que há um Deus a quem você deve culto, amor e submissão. O Senhor Jesus disse que ninguém que vai a ele será lançado fora. Corra para Deus, receba o seu perdão e tome posse da bênção da vida eterna que pode ser recebida por você mediante a fé em Cristo, sem que você precise se anular ou dar dinheiro para igreja. Esta salvação é gratuita. Foi conquistada pelo sangue daquele que morreu por causa da nossa insânia, a fim de que não tivéssemos que pagar nossa dívida morrendo também. Oh! Amigo, não despreze oferta de salvação, tão cheia de misericórdia, que Deus está fazendo para sua vida. Você não vai tirar nenhuma lição deste acidente? Será que ele não permtirá que você conclua que o dia que se chama hoje, é o dia da oportunidade de redenção?

2. Considere o fato surpreendente de que Deus tem preservado sua vida. Aquelas pessoas que morreram ontem não eram piores do que você. Talvez esta mensagem esteja sendo lida por centenas e centenas de pessoas que são malvadas. Pessoas que não amam a Deus com todo o ser e não amam ao próximo como a si mesmas. E, contudo, elas não estavam lá. Seus corpos não estão entre os daqueles que pereceram de uma maneira tão repentina. Por quê? Isto tudo nos remete para o mistério da soberana vontade de Deus. Penso, entretanto, que numa ocasião como esta, seria sábio que em vez de você tentar sondar o imperscrutável, saindo em busca de respostas que não foram dadas aos seres humanos conhecer, que você considerasse o seu caso. Você está vivo. Isto não é devido à sua bondade inerente, mas a graça de um Deus que está nesta tragédia chamando uma nação para se arrepender dos seus pecados e tomar a decisão de levar o Criador à sério. Sua vida tem sido preservada. Mas, para quê? Para você tornar a dos outros insuportável? Para você esbanjá-la numa vida desregrada, na qual em nome da liberdade e da felicidade você se comporta como um animal irracional? Você tem uma alma. Uma alma que habita dentro de uma estrutura frágil que a qualquer momento se desfará. Por isto, com gratidão e espanto, em razão da manutenção milagrosa da sua vida, corrija o seu caminho, volte-se para aquele que mais o ama – o seu Criador, entregando sua vida a Ele. O Deus, que pela sua providência tem dado oportunidade a você e a mim de nos arrependermos e crermos.

Muitos poderão julgar esta mensagem alarmista, oportunista e escrita no calor das emoções. Não amigo, daqui a dez anos, ou, mil anos, não haverá tempo de calmaria que nos impedirá de considerar a brevidade e incerteza da vida. E, como pastor que sou, penso que cumpro meu dever como cristão e alguém que é sustentado por uma comunidade de cristãos para proclamar a mensagem do evangelho, ao aproveitar uma tragédia como a ocorrida ontem em São Paulo para chamar amigos, parentes e compatriotas a se deixarem abalar pela mensagem eloqüente que nos está sendo transmitida por este acidente de avião. Concluo, com as palavras que o próprio Senhor Jesus um dia proferiu para um povo que passara por uma experiência parecida com a que nós estamos passado. O texto encontra-se no Evangelho de Lucas, capítulo 13 versículos de 1 à 9:

1. Naquela mesma ocasião, chegando alguns, falavam a Jesus a respeito dos galileus cujo sangue Pilatos misturara com os sacrifícios que os mesmos realizavam. 2. Ele, porém, lhes disse: Pensais que esses galileus eram mais pecadores do que todos os outros galileus, por terem padecido estas coisas? 3. Não eram, eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. 4. Ou cuidais que aqueles dezoito sobre os quais desabou a torre de Siloé e os matou eram mais culpados que todos os outros habitantes de Jerusalém? 5. Não eram, eu vo-lo afirmo; mas, se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis. 6. Então, Jesus proferiu a seguinte parábola: Certo homem tinha uma figueira plantada na sua vinha e, vindo procurar fruto nela, não achou. 7. Pelo que disse ao viticultor: Há três anos venho procurar fruto nesta figueira e não acho; podes cortá-la; para que está ela ainda ocupando inutilmente a terra? 8. Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa-a ainda este ano, até que eu escave ao redor dela e lhe ponha estrume. 9. Se vier a dar fruto, bem está; se não, mandarás cortá-la.

segunda-feira, 16 de julho de 2007

NÃO PRECISAMOS TIRAR NOTA DEZ


Ainda agora eu estava correndo na academia e pela televisão vi a derrota de uma atleta brasileira numa competição de ginástica. O que me chamou a atenção na cena foram as lágrimas da ginasta e a ação impassível dos juízes, nada preocupados com o pranto da moça, e, sim, em dar uma nota proporcional ao seu desempenho. Não podia ser diferente. Numa competição esportiva a nota é dada pela perfomance do atleta, e, não, pela sua expressão de arrependimento ao perceber o erro cometido.

Fiquei a pensar em como na nossa relação com Deus é diferente. A Bíblia revela um Deus que se dá por satisfeito ao ver nossa lágrima de sincera tristeza pelo pecado praticado. Quando nos aproximamos diante dele, através de Cristo, clamando por perdão, ele nos trata como se tivéssemos tirado nota dez. Passa a se relacionar conosco como se jamais tivéssemos pecado.

"Erguendo-se Jesus e não vendo a ninguém mais além da mulher, perguntou-lhe: Mulher, onde estão aqueles teus acusadores? ninguém te condenou? repondeu ela: ninguém, Senhor. Então lhe disse Jesus: nem eu tão pouco te condeno; vai, e não peques mais".

UM EXTRATO DO SERMÃO DE ONTEM

A MENSAGEM TEVE COMO BASE O TEXTO DE FILIPENSES 4:10-20

O Deus-Criador pode realizar mediante seu governo soberano e poder infinito tudo aquilo que no seu amor, sabedoria e bondade prometeu fazer pela vida do seu povo. Por isso, ele (o apóstolo Paulo) via as coisas boas da vida como manifestações daquela graça sem fim, e, as aparentemente ruins, como longe de deporem contra o amor de Deus. Ele não permitia que as circunstâncias da vida determinassem sua teologia. Era a sua teologia que determinava as leituras que ele fazia do que lhe acontecia e sua conseqüente resposta à vida.

Em seguida, no verso 12, o apóstolo Paulo fala sobre que tipo de circunstância de vida ele estava falando. Ele menciona tudo aquilo que a providência divina pode determinar que passemos. A providência pode determinar que passemos por experiências de humilhação. Sim, Deus pode no seu amor permitir que seus amados filhos sejam tratados com desrespeito. Ou, então, não impedir que seu amado povo passe por algum tipo de limitação humilhante. Contudo, ele podia dizer: “sei estar humilhado”. A humilhação assumia uma outra característica para ele. Ela podia estar sendo usada por Deus para aproximar o seu servo do seu Criador, ou, quem sabe, levá-lo a glorificar o Pai na presença dos homens. Aqui observamos com clareza que o que nos acontece não tem o poder de necessariamente determinar nossa resposta emocional ao que ocorre, mas a avaliação que fazemos dos fatos da vida. Se compreendemos que por trás da vida há uma providência plena de amor e sabedoria, nós poderemos dizer juntamente com o apóstolo Paulo: "... aprendi a viver contente em toda e qualquer situação".

sábado, 14 de julho de 2007

A IMPRENSA INTERNACIONAL E O PAN

Acabei de passar por alguns sites dos principais jornais do mundo: Le Figaro, The New York Times, El Pais, Daily Telegraph, The Washington Post, e, nada sobre o PAN. Será que não está faltando senso de proporção a nós? Supreendeu-me a mesma falta de divulgação na mídia internacional da eleição do Corcovado.

Quero dar uma dica: Você quer ver o Brasil ser notícia no mundo inteiro? façamos uma aliança nacional, envolvendo a sociedade civil, os três poderes, a classe empresarial, os artistas, os meios de comunicação e as igrejas, contra a violência. Lutemos para que saiamos vitoriosos na competição da luta contra o crime, e, seremos notícia no mundo inteiro. Este é o resgate que o Brasil está precisando fazer da sua imagem perante a opinião pública mundial.

A AUTO-ESTIMA DO RIO


A auto-estima da cidade do Rio de Janeiro está nas alturas. O Corcovado ganhou o concurso das setes maravilhas do mundo, as instalações dos jogos parecem ser um colosso e a abertura do PAN foi uma maravilha.

Para quem mora nesta cidade e a ama,contudo, o sentimento de perplexidade não tem limite. Sugiro que todos respondamos as perguntas que emergem deste espanto:

1. Entrar para assistir jogos no Maracanã sempre foi um filme de terror. Pessoas se acotovelando, crianças sendo esmagadas, falta de local de estacionamento, guichês em número insuficiente, banheiros imundos, poltronas sujas e insegurança ao redor do estádio. Por que pessoas precisam vir de fora e exigirem um padrão de atendimento ao público reconhecido por todos os povos desenvolvidos, para aprendermos a tratar o público como gente? Até que ponto este desrespeito às pessoas é sintomático de uma cultura que menospreza a vida?

2. Como o poder público se mobiliza para um evento dessa natureza, investindo tempo e dinheiro, num contexto em que nossa cidade clama por investimento em hospitais, escolas, saneamento e segurança? Não se trata de ser contra os jogos, trata-se de ser contra uma inversão de valores criminosa.

3. O cartão-postal principal da nossa cidade, uma das sete maravilhas do mundo moderno, o Cristo Redentor, aponta para a existência de alguém que passou pelo solo desse planeta, ensinando aos homens a tratarem seu semelhante com dignidade. O que o Cristo da bíblia tem a dizer sobre um povo que honra a sua estátua, mas não se submete à sua palavra?

Talvez, alguém lendo esta mensgem, possa ser levado a dizer: "Mas que cara chato. Que sujeito contrário à alegria. Só consegue ver o lado escuro das coisas". Amigo, pense em como você se sentiria, ao assistir a festa de ontem pela televisão, se fosse pai de uma criança que morreu vítima de bala perdida, se um parente seu tivesse morrido num hospital público por falta de assistência médica, ou se você morasse numa casa com ratazana roçando o seu pé.

sexta-feira, 13 de julho de 2007

A DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA AMERICANA E NÓS


"Consideramos verdades evidentes por si mesmas que todos os homens são criados iguais, que são dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, entre os quais a Vida, a Liberdade e a procura da Felicidade; que para proteger tais direitos são instituídos os governos entre os Homens, emanando seus justos poderes dos consentimentos dos governados. Que sempre que uma forma de governo se torna destrutiva, é Direito do Povo alterá-la ou aboli-la e instituir um novo governo, fundamentado em princípios e organizando seus poderes da forma que lhe parecer mais capaz de proporcionar segurança e Felicidade".

Você acabou de ler as frases inciais da Declaração de Independência dos Estados Unidos. Os cidadãos em geral daquela nação estão familiarizados com esta afirmação estupenda, que teve como um dos seus signatários, o pastor presbiteriano John Witherspoon. Vamos a algumas conclusões sobre o que acabamos de ler e aplicações práticas à realidade do quadro social do nosso país:

1. Havia uma base intelectual firme para a afirmação dos Direitos do Homem e da necessidade do Estado ser democrático e promotor da vida. A Declaração de Independência Americana parte da firme convicção de que o ser humano pode reconhecer racionalmente a verdade ("verdades evidentes por si mesmas") e que há um Criador, em razão de cuja existência a vida de todo ser humano tem valor. Como podemos esperar encontrar motivos para vivermos em sociedades justas, quando esta base intelectual é removida? Como professores que ensinam que tudo é relativo, que a realidade que nos cerca é absurda, que a razão não nos leva a lugar algum e o homem é obra do nada mais o acaso, podem com consistência e integridade intelectual se levantar contra os males sociais que assolam nosso país?

2.Os objetivos supremos da organização do povo americano como um Estado democrático e de Direito foram apresentados de modo bem claro perante o povo. O Estado existe para viabilizar e proteger os chamados direitos inalienáveis do homem, a saber: o direito à vida, à liberdade e à procura da felicidade. Uma economia forte não deve ser jamais o único critério de aferição da saúde de um país. Brasileiros e brasileiras estão privados do direito à vida em razão do problema da violência, e, prejudicados quanto a busca da felicidade, por viverem num país profundamente desigual. A população tem clamado pela utilização da força nas comunidades pobres onde o crime se instalou (e, saiba que não sou favorável à impunidade, seja a dos que usam colarinho branco e que matam com uma caneta na mão, seja a daqueles que andam sem camisa e que matam com um fuzil na mão), mas não revela o mesmo tipo de preocupação quanto às profundas desigualdades sociais que têm marcado a nossa história. Será que podemos dizer em sã consciência que toda esta violência não tem a mínima relação com a miséria?

3. O povo tem o direito e o dever de protestar quando as finalidades do Estado não estão sendo cumpridas. Até quando vamos jogar toda a responsabilidade quanto aos infortúnios e humilhações do nosso país sobre os ombros do poder público? O que nos impede de clamar por justiça e paz na nossa nação? quem nos convenceu que um milhão de ingênuos nas ruas sistematicamente não mudariam este quadro de barbárie nas nossas cidades? quem ocultou dos nossos olhos o fato de que ingleses, americanos, franceses, entre outros tem todo um histórico de conquistas sociais obtidas nas ruas? quem disse que este tipo de coisa não pode ser feita de modo pacífico, democrático, ordeiro e ao mesmo tempo inflexível no sonho de fazer a vida do brasilerio não ser nunca mais menosprezada?

Não há nada que esteja na Declaração de Independência Americana que não esteja na nossa atual Constituição Federal, como meta e valor a serem perseguidos pelo Estado brasileiro. O que parece é que perdemos de vista a razão de ser de uma sociedade, tornamo-nos covardes e nos esquecemos do valor incomensurável da vida humana.

quarta-feira, 11 de julho de 2007

NÃO HÁ NADA DE NOVO NA ECLESIOLOGIA CATÓLICA


Não vejo porque ficarmos surpresos com o ponto de vista do Papa Bento XVI, expresso esta semana, acerca da doutrina da igreja (eclesiologia). O Vaticano nunca demonstrou sinal de que é possível Cristo ter uma igreja fora desta estrutura hierárquica que tem um Papa infalível no topo. Dentro da tradição católica, portanto, para um ser humano ter garantia de salvação é necessário que ele faça parte deste sistema de governo eclesiástico.

Este conceito de salvação, confinado a uma estrutura episcopal-monárquica sediada em Roma, trata-se de uma doutrina que não tem o suporte de nenhuma passagem das Escrituras do Antigo e do Novo Testamento. Onde quer que haja a correta pregação da Palavra de Deus, a ministração dos sacramentos e o exercício da disciplina eclesiástica, aí temos uma igreja. A Bíblia fala muito sobre como uma igreja deve funcionar. Mas, não há um só texto que apresente um governo universal, baseado na infalibilidade de concílios e de um mortal. A história nega tanto esta infalibilidade quanto a impossibilidade de haver igreja fora desta linha de submissão ao Vaticano. Os Papas e os concílios erraram inúmeras vezes. Foi esta igreja que sustentou a tese de que a terra é o centro do universo, e, que por isso foi levada a condenar Galileu Galilei, que com o seu telescópio podia se certificar com a razão mediante a utilização do sentido da visão, de uma realidade irrefutável que a tradição tentava negar.

Como podemos negar a realidade da presença de Cristo entre os protestantes? Quer dizer que Lutero, Calvino, Bach, Rembrandt, Jonathan Edwards, William Wilberforce e Martin Luther King, entre tantos outros, não faziam parte da igreja de Cristo? O que falar deste impulso para a produção de obras de arte, as mais encantadoras, através de homens como alguns dos supracitados; a libertação de sistemas absolutistas, com o trabalho do filho de puritanos, o protestante John Locke; a promoção do saber, levada a cabo pelos calvinistas americanos, que entre outras coisas, fundaram as universidades de Yale, Princeton e Harvard; a criação de uma mentalidade que culminou no surgimento de toda uma forma de trabalhar geradora de riquezas e avanços em todos os campos do saber? Como posso ouvir uma declaração como esta, eu, que um dia num templo protestante conheci um Cristo absolutamente amável que hoje é o meu maior amor? O que falar dos meus amigos, os melhores que conheço, que fazem parte das chamadas igrejas evangélicas? Com todos os seus problemas, foi esta igreja que me levou a Cristo e na qual conheci as pessoas de caráter mais belo que conheço.

Jamais chegaria ao ponto de dizer que não há verdadeiros cristãos no catolicismo. Os reformadores nunca assumiram este ponto de vista. Eu tenho sido muito enriquecido através das obras dos católicos Etienne Gilson, Jean Guiton, Frederick Copleston, entre outros. Só não posso dizer amém para o seu sistema doutrinário e sistema de governo. Sou protestante até a medula. Minha consciência não está mais nas mãos de um homem. Não preciso mais me confessar a um pecador para obter o perdão para os meus pecados. Não careço mais de tentar ganhar o amor de Deus, mediante a prática daquilo que Deus nunca pediu de mim (em que texto do Novo Testamento vemos endosso para algo como o sírio de nazaré ou as peregrinações a lugares sagrados?), para me livrar do purgatório ou do inferno. Cristo já me purgou de todos os pecados. Ele levou sobre o madeiro toda a loucura da minha vida. Eu não tenho o que acrescentar a este sacrifício de valor infinito. Foi o sangue do Filho de Deus que foi derramado. O que é necessário mais para que eu possa conviver melhor com a minha consciência? Hoje posso dizer para parentes e amigos: "seu eu morrer antes de vocês, não orem por mim, nem façam ofertas para que eu saia de um lugar de tormento. Sou filho de Deus por um ato de pura graça e amor. Não há mérito em mim. Não sou digno desta salvação, eu sei. Todos os dias sou humilhado pelas minhas fraquezas. Mas, conheci o Cordeiro, sem defeito e sem mácula. Ele fez uma oferta perfeita e definitiva pelas minhas transgressões. Estou livre. Se um dia eu tiver que passar pelas agonias da morte, se a providência permitir que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal algum, pois o que ele disse para o ladrão arrependido, ele vai dizer para mim: 'hoje mesmo estarás comigo no paraíso". Adeus medo. Adeus terrores de consciência. Eu creio mais na misericórdia daquele que me salvou como um tição tirado do fogo do que na minha inocência.

Apesar de tudo o que acabei de expressar, não vejo necessidade de reeditarmos os conflitos religiosos do passado que, tanto nos cansaram e causaram a perda de tantas vidas. Não vejo motivo para deixarmos de trabalhar juntos com os católicos nas ocasiões em que virmos nossas agendas tangenciarem. Temos muito ponto em comum, especialmente na área da defesa dos direitos humanos. Sou pluralista. Embora creia em verdades absolutas e anseie viver num mundo de cristãos calvinistas, penso que não temos alternativa, devido as nossas diferenças, senão vivermos em sociedades onde todos tenham o direito de professar livremente suas convicções religiosas.

Creio que há um lado positivo nisto tudo. Muito sangue protestante foi derramado no passado pela defesa das doutrinas da graça. Verdades que anunciam a existência de um Deus bom e que é capaz de declarar o pecador justo, mediante a fé em nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo somente. Quem sabe, a partir de agora, vamos procurar expressar nosso amor pelos amigos católicos de uma outra forma? Não negando a verdade em nome da unidade e do amor, mas não permitindo que ela nos impeça de tratar com respeito membros de uma igreja que ainda não abraçou a reforma do século XVI. O que pode vir a ocorrer. Especialmente, se nós protestantes reconhecermos as inconsistências do nosso testemunho e humildemente nos aproximarmos para o diálogo em amor. Oh! que glória se um dia isto acontecer. Os anjos dariam glória a Deus e o mundo seria iluminado.

segunda-feira, 9 de julho de 2007

O LADO TRISTE DA ELEIÇÃO DA ESTÁTUA DO CRISTO


Senti-me feliz, como todo brasileiro e carioca, com a vitória da estátua do Cristo Redentor no concurso para a eleição das sete maravilhas do mundo moderno. Realmente, entre todos os competidores, não pude encontrar nada comparado ao Corcovado. Se pegarmos a estátua e todo o conjunto que a cerca, a natureza esplendorosa do Rio de Janeiro, nosso cartão postal fica imbatível em qualquer disputa desta espécie. Justiça foi feita.

Contudo, fica aquela tristeza de coração quando paro para pensar em dois fatos. O primeiro, na mobilização que houve acompanhada de ampla participação popular. Por que uma coisa como essa não acontece em favor da defesa dos direitos humanos no nosso país? Por que não conseguimos nos unir para lutar contra a violência, o mal social número do Brasil?

A segunda ponta de tristeza relaciona-se ao fato de que há uma quantidade enorme de gente que conhece a estátua do Cristo Redentor, mas não conhece o Cristo que se manifestou no tempo e no espaço há dois mil anos,e, que hoje está vivo - poderoso para redimir a vida de todo aquele que dele se aproxima em arrependimento e fé.

Estou certo de que o Cristo que os evangelhos revelam tem mais prazer em nos ver unidos pela defesa do valor da vida, do que unidos pela defesa do valor de uma estátua, mesmo que seja a sua. Certamente, ele teria satisfação infinitamente maior em nos ver dando guarida para ele no nosso coração, do que mediante uma votação, quem sabe, prestando a ele uma homenagem, que não nos custa nada. Ele nunca pediu para que construíssemos estátuas, mas que permitíssemos que sua imagem fosse moldada no nosso caráter.

sábado, 7 de julho de 2007

A BELEZA QUE NÃO CANSA


Acabei de chegar do meu momento de oração. Tenho o costume de orar enquanto ando. Nesse sentido, meu bairro favorece muito esta prática. Eu resido em Pendotiba - Niterói, uma região da cidade ainda com muito verde, ruas com chão de barro, pássaros de várias espécies e muitos micos. A suavidade do sol da manhã com a serra de Teresópolis ao fundo geram no meu coração uma doçura que não sou capaz de descrever. E, pensar que o mar está tão perto também...

Muitas das idéias quanto aos protestos do Rio de Paz me vêm à mente enquanto pratico este tipo de exercício espiritual. Hoje, no entanto, foi diferente. Em vez de surgirem imagens de protestos, veio-me ao coração a beleza de Deus.

Tomás de Kempis, afirma no seu clássico "A Imitação de Cristo" que, se tivéssemos que ver tudo o que existe no universo nossos olhos nada mais teriam do que uma visão fantástica. Uma visão fantástica. Bom, não devemos jamais negar o valor da criação como instrumento da revelação das perfeições de Deus. Contudo, para onde lancemos o olhar contemplamos o que é finito, mutável e imperfeito. Somente em Deus o espírito humano pode repousar seus olhos sobre o que não se exaure, não se deteriora e não sofre de limitação alguma.

O que acabou de me ocorrer enquanto orava ainda agora, é que a própria idéia de Deus faz com que não consigamos mais nos deter em qualquer outra coisa que não seja ele. O universo com toda sua beleza faz bem ao nosso coração. O cristianismo não nos convida ao menosprezo pela criação. Mas, como podemos fixar os olhos do nosso coração defintivamente sobre aquilo que não pode ser comparado a infinita beleza do Deus dos cristãos? Nele nós encontramos o que está por trás de tudo o que é belo; nos deparamos com o que é insondável e eterno, mas ao mesmo tempo pessoal - a beleza que pensa, age e ama - cujo aspecto mais encantador é a santidade de um ser que não tolera o que é mal, que tem vivido a experiência do amor por toda a eternidade, e, que no tempo e no espaço atraiu sua ira para si mesmo, desviando-a da humanidade assassina a fim de que todos pudéssemos receber um perdão justo.

Quão feliz é aquele que conheceu Deus tão amável e fez dele o supremo bem da sua vida.

sexta-feira, 6 de julho de 2007

DOS DELITOS E DAS PENAS – CESARE BECCARIA (IX)


Recentemente, dei início a uma série de comentários sobre o excelente livro de Direito Penal – Dos Delitos e das Penas, do jurista italiano Cesare Beccaria (1738-1793). Gostaria, a partir de agora, de dar início aos artigos que finalizarão a série, após todo este período de dedicação ao Rio de Paz que tanto consumiu meu tempo. Vamos nos dirigir à análise da parte final do livro.

Um ponto que me inquieta no atual momento da vida da nossa nação é a onda de denúncias que tem tomado todo o noticiário. Por um lado, ela denota a força da nossa democracia (todo esse trabalho era inimaginável tempos atrás) e a competência da Polícia Federal (que tem demonstrado um excelente empenho investigativo). Tudo isso está inserido dentro deste contexto de impunidade que tem levado nossa nação a aplaudir ações como essas e exigir a punição dos culpados. O que não podemos esquecer, contudo, é que, na tentativa de corrigir um erro histórico, podemos cair num extremo oposto igualmente nocivo (lembro-me de C. S. Lewis, que nos ensina, no bestseller "Cartas do Diabo para o Seu Aprendiz", que o Diabo nunca manda um erro só. Eles vêm aos pares que representam extremos opostos e nos distanciam da verdade. Pessoas, portanto, numa discussão, podem assumir pontos de vista diametralmente opostos e igualmente equivocados). Qual seria esse oposto deletério da vida em sociedade? A punição de pessoas acusadas sem que todos os trâmites legais tenham sido percorridos e a sentença tenha sido proferida pelo juiz reconhecendo a culpa dos acusados.

Sabemos que em dias de tamanha impunidade, que têm levado malfeitores a debochar da justiça e agir sem medo de sofrer qualquer espécie de condenação, fazer um lembrança como esta parece favorecer mais ainda o crime. Contudo, não há nada pior para nossa vida - mesmo que isso represente mais tempo ainda para que os culpados, através do trabalho de hábeis advogados, consigam fazer seus crimes prescreverem - do que deixarmos de aguardar o pronunciamento do juiz, a fim de que a culpa seja devidamente estabelecida. Se não gostamos que as coisas sejam assim, que mudemos a legislação, a fim de dar mais agilidade à nossa justiça. O que não se pode praticar é passar por cima daquilo que foi aprovado pelos órgãos competentes do Estado Democrático de Direito.

Destruir a reputação de um homem é suprimir da sua vida um bem sem o qual sua existência em sociedade torna-se quase inviável. Quem haverá de querer negociar com alguém acusado de envolvimento com corrupção? Por isso, Beccaria lembra a todos nós que o interesse do juiz deve ser o de buscar a verdade, e, não, o de provar o delito. Esta deve ser também a expectativa da sociedade.

quinta-feira, 5 de julho de 2007

DE VOLTA AO RIO

Já encontro-me no Rio. Entre a saída de São Paulo e esta postagem, contudo, já estive em BH novamente, a fim de dar uma entrevista para o programa Opinião da Rede Minas e conversar com o Amauri que é o coordenador do movimento no Estado de Minas Gerais. Tive um ótimo momento com o pastor Jeremias Pereira. Sonhamos juntos com um serviço de diaconia para o Brasil, feito por intermédio do Rio de Paz, contando com a mão de obra das igrejas. Isto representaria centenas e centenas de profissionais evangélicos, por exemplo, prestando serviço gratuito para comunidades pobres. Você já pensou em realizarmos num determinado dia, no Brasil inteiro, um atendimento médico gratuito e coletivo? Coleta de assinaturas para a apresentação de projetos de lei no Congresso Nacional, fizeram parte da nossa conversa também.

O movimento continua se alastrando pelo país. Estamos montando bases no Brasil inteiro. Creio que no decurso de um mês já estaremos em todo o território nacional. Sem grana suja por trás. Sem político ou partido apoiando. Somente brasileiros comuns. Homens e mulheres que crêem que esta nação pode vir a cumprir um papel relevante na história.

Hoje estive na rádio evangélica El Shaddai. Falei um bocado sobre o nosso movimento. A cantora evangélica Ana Paula Valadão, que estava presente no programa, se colocou a disposição para nos ajudar. Isto, depois do Tico dos Detonautas ligar para mim a fim de tratarmos do Dia Nacional do Combate à Violência e a Corrupção. Fiquei feliz de saber que este amigo, gente finíssima, o Rogério Flausino da banda J. Quest, foi ao programa do Serginho Groisman com a camisa do Rio de Paz. Que coisa bonita! Quanta gente diferente disposta a trabalhar junta contra todo o mal que nos assola.

Estou agora de saída para a Barra. Espero logo mais, ou amanhã, escrever algo sobre o último final de semana. Dias que entraram para sempre na história da minha vida.

segunda-feira, 2 de julho de 2007

NOTÍCIAS DE SÃO PAULO


Encontro-me ainda em São Paulo. Infelizmente não tive tempo nem forças para atualizar o blog. Neste momento procuro recuperar as forças física e espiritual a fim de continuar erguendo a voz contra o absurdo da violência. Os lábios estão rachados do frio de Belo Horizonte e São Paulo, e, o rosto queimado do sol da praia de Copacabana.

O coração encontra-se firme. Ninguém é capaz de me convencer que é razoável e humano permanecer calado numa situação tão grave como a nossa. Confesso que quanto mais tento fazer algo e procuro entender a situação, mais fico chocado com a escuridão em que se encontra o mundo. As análises que alguns fazem da situação são impressionantemente simplistas, longe de tocarem no âmago da questão. Penso que chegou a hora de discutirmos também o quanto o espírito do brasileiro, o ser brasileiro ou a cultura brasileira estão por trás dos nossos infortúnios.

As preocupações com o turismo do Rio de Janeiro deixam-me estupefato. Pessoas estão afirmando que o que fazemos é ruim para a imagem do Rio de Janeiro. Não há nada que possa favorecer mais o turismo do Rio de Janeiro do que a luta contra a morte. Em várias partes do mundo estão sendo feitas reportagens sobre o Rio que põe à mostra toda nosso horror urbano. Uma amiga de Bruxelas (que viu na Bélgica uma reportagem especial sobre o Rio) disse-me que não sabe como conseguimos suportar tudo isto.

Sou daqueles cariocas que quando chegam de viagem no aeroporto Santos Dumont, agradecem a Deus por morar nesta cidade. Não tenho palavras para descrever o que sinto com a visão da Baía de Guanabara e a imagem imponente das nossas montanhas ao fundo. Porém, amo mais a verdade do que o Rio de Janeiro. E, em nome da verdade e do amor, ergo minha voz e clamo: 2 400 assassinatos em 6 meses é obsceno. Não há nada melhor para a imagem do Rio de Janeiro e para sua saudável influência na vida nacional do que mostrarmos que somos uma sociedade que se importa com o próximo.

Bom, é um mundo de coisa a pensar, falar e fazer. Espero com calma expressar minhas impressões sobre tudo o que houve nesses últimos dias. Um abraço a todos. Obrigado pelas orações e o apoio que recebemos em todas as cidades por onde passamos.