A ENTREGA DO MANIFESTO AO GOVERNADOR
Ontem foi um dia importante. Cumprimos uma antiga promessa. A promessa de levarmos à maior autoridade do nosso estado, o Manifesto pela Redução de Homicídio no Brasil. Tudo foi assim:
Na segunda-feira, uma jornalista do Globo ligou para mim, desejosa de saber se faríamos algum ato público, em razão da morte do Daniel Duque, o jovem de 18 anos que foi morto, num tiro a queima-roupa, dado por um policial militar, que fazia a segurança do filho de uma promotora pública. Disse para ela, em tom informal, que estávamos pensando em realizar algo sim, em frente ao Palácio Guanabara. Ainda falei da nossa intenção de irmos à sede da ONU em Nova Iorque, caso nossos clamores pelo término da violência não fossem atendidos. Pela graça divina, já temos gente nos Estados Unidos disposta a nos ajudar e a promessa de uma correspondente de uma agência internacional de notícia que cobre o Brasil de mobilizar a imprensa nos Estados Unidos a fim de que haja uma boa cobertura. Creio, que não será difícil também sermos recebidos na ONU, em razão do relacionamento iniciado ano passado na organização dos fóruns sobre violência, e, o fato indiscutível, que a nossa causa é justa e baseada em dados irrefutáveis.
Pois bem, o que aconteceu, é que aquela conversa virou uma reportagem que ganhou destaque numa parte nobre do caderno Rio do referido jornal. Resultado: das seis e uns quebrados da manhã em diante meu telefone não parou de tocar com toda a mídia querendo saber se faríamos o protesto. Em seguida, recebi um telefonema da mãe do jovem assassinado em Ipanema e a convidei para que estivesse conosco no protesto. Como uns dos nossos sonhos é o de unir a cidade partida, liguei para o meu amigo Jorginho, ex-jogador de futebol e assessor do técnico Dunga na seleção de futebol, para que ele representasse Guadalupe nesse ato público, pois o Jorginho é de lá e justamente naquela região houve o crime bárbaro envolvendo a vida do menino Ramón de 6 anos, que morreu vítima de um tiro na cabeça desferido por um policial militar. O Jorginho fez algo mais importante, por não poder estar presente em razão de compromissos pessoais já agendados, conseguiu enviar a tia do menino e um representante do Bola pra Frente que trabalha na comunidade.
Confesso que não deu tempo nem de tomar banho. Saí correndo para o Palácio, mas não sem antes organizar com os voluntários cada etapa do protesto e redigir o release que enviamos para todos os orgãos de imprensa. Cheguei em cima do laço. Graças a Deus ao mesmo tempo em que chegaram nossos voluntários e a imprensa. Fixamos os dois balões, estendemos as faixas, a mãe do Daniel e a tia do Ramón se abraçaram em meio as lágrimas, e, subitamente, veio o convite para que converssássemos com o governador que, de modo gentil nos recebeu.
Ele ouviu os parentes em primeiro lugar. Escutou atentamente o relato de ambos. Em meio a conversa, ligou para o Comandante Geral da Polícia Militar, pedindo apuração rigorosa dos crimes e lamentando os erros que têm sido cometidos por alguns policiais militares. Crimes que podem jogar a população, segundo ele, contra o governo. Pude ver o quanto ele se mostrou ansioso por poder ver a polícia passando por um processo de humanização.
O que lhe falei? Pensei, não vou perder tempo. Tratarei de falar o que um profeta do Antigo Testamento falaria se estivesse no meu lugar. Falei-lhe sobre o que me levou ao envolvimento com essa causa. Ele perguntou se eu era parente de vítima, e, pela graça divina, pude dizer-lhe que não. Falei da indignação inicial da qual fui acometido no dia 28 de Dezembro de 2006, ocasião em que o crime organizado matou 19 pessoas em pontos diferentes da cidade. Disse-lhe que a raiva inicial deu lugar ao sentimento de compaixão pelos parentes das vítimas, por causa do contato com essa gente e presença em cerimônias fúnebres de pessoas assassinadas, o que o levou a dizer que considera o nosso trabalho muito bonito.
Não pude deixar de tocar nos casos de desaparecimento (4633 ano passado) e na suspeita de que 70% resultam de homicídio. Deplorei as execuções das quais temos tido notícia. Disse-lhe que não é certo matar quando se pode prender. Entreguei-lhe o manifesto. Fiz um breve comentário sobre a origem do seu conteúdo, resultado de muita conversa com o que temos de melhor na nossa cidade em termos de conhecimento sobre segurança pública.
Ressaltei o fato de que não sou contra o seu governo e que muito embora não concorde com tudo o que ele faz, torço pelo seu sucesso, pois suas vitórias reais são a vitória nossa e dos nossos filhos. Disse-lhe que estava empenhado para que ele tivesse respaldo popular a fim de dar fim a violência no Rio de Janeiro. Ele pediu ajuda para a realização de um trabalho visando a humanização da polícia militar. Comentei que não sou contra a repressão e que a polícia dever cumprir o seu trabalho de combater a violência, mas não da forma como muitas vezes é feita. Estavam ali na mesa pessoas que perderam parentes queridos por força da ação equivocada de policiais militares.
Já próximos da porta, pude afirmar que a morte iminente de 4000 seres humanos no nosso estado é inaceitável e que algo deveria ser feito para salvá-los. Disse-lhe que o governo federal tem sua parcela de responsabilidade e que em breve estaremos em Brasília montando um cemitério, na Esplanada dos Ministérios, referente à morte anual de 50000 brasileiros.
Espero em Deus que esse encontro represente a salvação de milhares de vidas preciosas. Essa é a minha oração. Não tenho a mínima esperança de que a violência no Rio de Janeiro cesse sem uma intervenção divina através de agentes humanos da justiça.
Parabéns, querido Antonio, por mais esta graça alcançada!
ResponderExcluirContinue contando comigo.
Em amizade divina,
Admar