De: Andre Freitas - Editoria Jornal Bairros - O GLOBO
Enviada em: terça-feira, 22 de julho de 2008 19:20
Para: Lilian Fernandes - Editoria Jornal de Bairros - O
GLOBO Cc: Andre Freitas - Editoria Jornal Bairros - O GLOBO
Assunto: Rio de paz - Voce pergunta
1. Penso que muito da violência ocorrida no Rio de Janeiro
provêm da frouxidão da própria polícia no combate
aos
criminosos, o que indiretamente está relacionado à alta
corrupção que assola a corporação. Nesse sentido,
quais as
idéias que a Rio de Paz tem para propor ao Governador do
Estado, Sérgio Cabral, de redução drástica da
corrupção na
polícia militar e civil, com vista a uma cidade mais
segura?
Ligia de Barros Louback
Copacabana - Rio de Janeiro
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2. Caro Antônio,
Primeiro quero me solidarizar com vc e com todos os cariocas
que hoje são reféns do medo, da insegurança e do
descaso com
a vida humana. Nos últimos tempos sinto-me obrigada fazer
algo para que esta cidade volte a ser um lugar onde
realmente se possa morar em paz. Vc acha que se fizermos um
movimento enchendo a cidade e os meios de comunicação
(principalmente jornais com grande circulação e out
doors)
de anúncios em que os cidadãos cariocas exigem seus
direitos
de ir e vir , de segurança e de uma cidade condizente com
o
que pagamos de impostos poderemos ter algum retorno? Tenho a
ilusão de que anunciando para o país e exterior que o
Rio
grita por SOCORRO podemos pressinoar políticos,
governantes
e instituições a agirem melhor. O que vc pensa ? Fica a
sugestão. Lu Fraga
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3. Faço mestrado em Adm. Pública na FGV-RJ e minha
dissertação é um estudo de caso sobre a cidade do Rio
de
Janeiro. Minha metodologia usa como fonte entrevistas com
pessoas e organizações que participam ou influenciam no
planejamento urbano. Tenho duas perguntas para o Sr.
Antônio
Carlos Costa, fundador da ONG Rio da Paz: - Quais são suas
dificuldades para fazer valer suas reivindicações com
poder
público? - Qual a sua avaliação sobre a
participação da
sociedade na sua organização?
Agradeço antecipadamente,
Leonardo De Vincenzi
Mestrando em Administação Pública pela FGV-Ebape
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4.Por que continuar fazendo ações de
"conscientização da
população" ao invés de pressionar as autoridades por
mudanças e atitudes palpáveis para resolver o problema
da
violência!?!?
Não vejo como prático "chocar" para "despertar" as
pessoas
enquanto as autoridades se isolam por trás de uma mistura
de
autoritarismo, arrogância e descaso!
Por que não fazer estas ações na frente de quem
realmente
precisa ser "conscientizado"?!?! Por exemplo: despejar um
rastro de tinta vermelha na frente do Batalhão PM onde
estão
lotados os "irresponsáveis" que detonaram o menino João
Roberto?!?! Ou colocar um marcador, tipo relógio, na
frente
do Palácio Guanabara, indicando quanto tempo (estimado)
falta para a PM matar mais um inocente?!?! Garanto que estas
ações sim vão ser muito melhor aceitas pela
população e
terão ainda mais impacto junto à mídia... bem melhor
do que
considerar nós, as vítimas, como co-responsáveis desta
situação!!!
Atenciosamente,
Richard C. Lins
5. Como diz um email que está correndo a internet,
assinado
por um(a) tal Dimmi Amora, diga ao Governador Sérgio
Cabral
para suspender a política de confronto. Sem isto, com
certeza vc estará soltando (ou plantando, ou pintando) bem
mais que 4.000 balões!!! Diga também para ele descer do
palanque e deixar de sonhar em ser vice de Lula ou do
candidato dele, em 2010. Muitas pessoas inocentes ainda
vão
morrer, muito patrimônio será desvalorizado, a qualidade
de
vida desta cidade estará comprometida se Sérgio Cabral
insistir em continuar com esta postura arrogante e
desleixada frente ao caos que domina o Estado.
Atenciosamente,
Richard C. Lins
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6. Quando vai haver mais uma mobilização contra o
disparo
inconsequente???
Gilmar das Graças Rios Lopes
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7. Caro Antônio,
Gostaria de fazer duas perguntas:
Em sua opinião qual é a relação entre o consumo de
drogas
pela classe média e a violência na cidade do Rio de
Janeiro?
O que, efetivamente, as igrejas protestantes podem fazer
para reverter a violência em nossa cidade?
Um grande abraço.
Eduardo Carpenter
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8. Quero parabenizar o Sr. Antonio Carlos Costa e
agradecê-lo pelo empenho em melhorar a nossa cidade e
nosso
país. Infelizmente estou pouco a pouco perdendo a
esperança.
Um país que, em pleno século XXI, aceita a existência
de
Foro privilegiado e outras tantas aberrações me parece
inviável. A impunidade e a desmoralização do nosso
judiciário e legislativo perpetuam este intolerável
ciclo de
violência. Parece-me a hora de um "choque de ordem". Como
forçarmos nossos juízes e políticos a fazerem algo?
Não
tenho a menor idéia. Se estes profissionais tivessem o
mesmo
empenho em mudar estas distorções quanto têm para
defenderem
os interesses próprios, veríamos uma luz ao final do
túnel.
Não é este o caso.
Abraço,
Claudio Tovar.
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9. Prezado.
Aproveitando esta oportunidade, gostaria de saber, o por
quê
de nenhuma ONG ou entidade, não cobra do Governador a
ocupação em definitivo das favelas pela polícia.
Sabemos que 80% dos roubos de carro no Rio de Janeiro são
de
traficantes e que eles sempre levam estes carros para dentro
delas. Se a polícia estiver dentro da favela, não tará
traficante e se não tem traficante, o número de roubos
diminui.
Também não adianta criar batalhões da polícia nas
entradas
das favelas. Elas devem ser criadas, no CENTRO delas. Um
exemplo de desperdício de dinheiro, foi a construção
do
Batalhão da Maré, onde sabemos que a polícia fica de
um lado
e os marginais do outro. Não adianta em nada aquele
batalhão.
Moro perto de Inhaúma e passo sempre pela Estrada Velha da
Pavuna, para ir ao trabalho. Por muito tempo assisti a
incompetência dos governantes, que exigiram a vinda da
Guarda Nacional para o Rio de Janeiro e os colocaram nas
ruas próximas as favelas do Complexo do Alemão. Eles
não
faziam nada e parecia mais soldadinhos de chumbo.
Porque não utilizar estes policiais para ocupar as
favelas(dentro)?
Atenciosamente,
Marcelo Vasconcellos.
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11. Nome: yvonne bezerra de mello - Email
- 17/7/2008 - 19:57
Nós estamos numa guerra de fato, numa guerra civil onde os
mocinhos e bandidos se confundem. O que não podemos
permitir
são fuzilamentos à luz do dia e muias pessoas mortas.
faz
pouco tempo eu fui reconhecer um corpo no IML, o de uma
criança baleada e fiqueie starrecida com o número de
pessoas
assassinadas, queimadas, dilaceradas naquela local; Uma
verdadeira barbárie. Você não acha que a falta de
educação,
de instrução, de parâmetros de conduta está acabando
com
essa cidade e esse país? Eu trabalho 8 horas do meu dia
numa
favela violenta e sei doq ue estou falando. Atencioasmente
Yvonne Bezerra de mello
Coordenadora do projeto uerê
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12.Nome: Olga Costa - 17/7/2008 - 19:50
Prezado Antônio Carlos,
Boa noite.
Parabéns pela persistência, acima de tudo!
Cidadania é um hábito, e sou testemunha do esforço e
da
seriedade da ONG, em todos os sentidos. Me parece que o
Gustavo explicou com exatidão o porquê das
manifestações
acontecerem onde acontecem, e sob que formato:
repercussão.
Gostaria de saber em que pé se encontra a idéia de se
fixar
um local permanente para a coleta de assinaturas para o
manifesto pela redução de homicídios, além de outras
atividades.
Abraço fraterno.
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13. Nome: sorriso carioca - 17/7/2008 - 19:29
Caro Antônio Carlos, o senhor acha que as medidas
sugeridas
por seu movimento serão suficientes para controlar a
violência no Estado do Rio de Janeiro ? O Senhor não
acha
que as medidas sugeridas são insuficientes para resolver
as
causas da violência ?
Sabemos que a violência no Rio de Janeiro tem causas bem
conhecidas: Tráfico de Drogas, Corrupção das
Autoridades,
Impunidade dos Criminosos, Polícia despreparada e mal
paga,
Política ineficiente de segurança, Desigualdade Social e
Falta de Assitência do Estado aos pobres.
Considero que as suas sugestões são importantes, mas
buscam
apenas solucionar uma ou duas das causas da violência. A
principal causa: a disputa pelos pontos de tráfico de
drogas
parece não ser solucionada com suas sugestões.
Eu tenho uma sugestão para engrossar a sua lista:
criação de
postos policiais no alto dos morros habitados. Caso o posto
funcione direito, integrado ao comando central, o Estado
estará mas perto do problema. Agora entrar e sair da
favela,
só aumenta a violência. ________________________________
14. Apelido: MilaOliveira - 17/7/2008 - 19:03
Vejo muitas pessoas dizendo que não adianta nada esses
protestos pacíficos. Engano, fazem um enorme efeito, ainda
mais se mais pessoas aderissem, atualmente uma ínfima
parcela da população participa das ações, se
conseguisse
reunir a quantidade de pessoas q frequenta as ruas do Rio no
carnaval, por exemplo, o governo se assustaria com a
quantidade de pessoas insatisfeitas e tomaria algumas
medidas. Acho que falta a divulgação a respeito das
manifestações, eu gostaria muito de participar, porém
só
fico sabendo depois que já aconteceu.
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15.Nome: Admar Branco - 17/7/2008 - 18:58
Prezadíssimo amigo Antônio,
parabéns pela entrega do manifesto ao Governador, que o
convidou a apresentar propostas para humanizar as nossas
polícias. A pergunta é: qual daquelas propostas contidas
no
manifesto tem chance de ser aplicada por este Governo, na
sua opinião (levando em conta a política de segurança
implementada no estado do Rio)?
Já houve algum retorno do Governador com relação à
entrega
do Manifesto pela Redução de Homicídios? Se houver
passeata
pra cobrar isso, conte comigo. Se o caso for pedir o
impeachment deste Governador, conte mais ainda.
Ab.
Admar
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16. Apelido: Alertese - 17/7/2008 - 18:24
Claro que é melhor do que não fazer nada, mas se fazer
passeata, abraçar a Lagoa, ou qualquer ato tivesse
resultado
positivos nós viveriamos no melhor dos mundos. Ao
contrário,
a cada dia que passa só vemos aumentar a violência.
Posso
citar algumas opções para diminuir a violência: Fazer
valer
a lei para TODOS; dar ensino da qualidade de um Santo
Inácio
à todas as escolas públicas, para que todos possam ter
as
mesmas oportunidades; Vontade politica de mudar; colocar
toda a popução carcerária para produzir para a
sociedade;
aplicar a pena máxima para quem dos poderes executivo,
legislativo e judiciário, que cometerem delitos, pois
teóricamente são responsáveis pelos demais. É
fácil, mas não
é simples. Tem que partir de todos, só depende de nós.
A
pergunta é ? O que realmente está sendo feito para que
se
mude esse quadro ?? ________________________________
17. Apelido: 007contraocrime - 17/7/2008 - 17:30
Sr. Antonio Carlos Costa,
Nossa sociedade sempre responsabiliza o governo (que tem sim
grande parte de responsabilidade), porém é tímida na
participação e engajamento nos movimentos que visam
promover
algum tipo de mudança ou chamar a atenção para os
problemas
existentes. Falam que "soltar balões", fazer passeatas,
"espalhar cruzes' não "resolve' nada. Eu não concordo e
considero todos esses movimentos importantes, quando nada
sinalizam que parte expressiva da sociedade não aceita e
naõ
está indiferente a essa dura realidade.
Lhe faço duas perguntas: O Sr. e sua ONG costumam receber
propostas concretas de como mudar a realidade e dar
"solução
aos problemas" por parte desses que lhe criticam ?
Qual o peso e a importância que uma Campanha de retirada
das
ruas de nossas crianças, que por aí estão morrendo e
matando
, drogadas e famintas, teria nos índices de violência e
na
melhora da imagem da cidade. O Rio de Paz estaria disposto a
abraçar essa causa e pressionar as autoridades nesse
sentido
? ________________________________
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18 . Nome: Marco Túlio Amaral Pereira - Email
- 17/7/2008 - 17:20 Não
é
chegada a hora de a população carioca reagir perante
órgãos
competentes que fazem as leis e cobrar que uma lei severa e
dura seja criada no Estado para servir de exemplo aos outros
contra criminosos que tomaram conta desta que já foi um
dia,
uma cidadde maravilhosa? Ficar fazendo passeata para a paz,
não vale nada. Lei. Lei é quem dá as regras para se
viver ao
menos mais tranquilo. ________________________________
19. Apelido: perito - 17/7/2008 - 17:12
Pq a velha demagogia, com os acordos tácitos entre a
burguesia e a favela? Algo do tipo: Rocinha, eu te dou uma
quadra de esportes, duas creches, etc e vc deixa eu passar a
noite na estrada tranquilo! Chega de demagogia; a
violência
é muito maior que o que está ocorrendo; decorre da falta
de
respeito pelos mais humildes, da falta de transporte, de
saúde, de educação, e não da falta de PMs. A zona
sul não
está nem aí para a periferia- há 35 anos é assim.
Agora, que
a periferia incomoda, tentam fazer esses "acordos". Faça
uma
passeta em Saracuruna, em Vilar dos Teles e não as
ridiculas
cruzes em Copacabana; sabe pq não faz? pq a elite não
está
nem aí para a periferia. Sr Antônio, menos demagogia!
Perdi
muitos amigos de infancia, pela violencia, na Baixada;
nenhum saiu na midia, pelo contrario, pobre quando morre e
sai na midia e logo alcunhado de bandido. Vc espera o que
dos filhos dessas pessoas? Ainda vai piorar muito.
Desigualdade sempre houve, mas o que existia era respeito.
Sai daí Sr Antônio. // ________________________________
20 . Nome: Newton Cardozo de Miranda - 17/7/2008 - 16:56
Pergunto novamente: Por que quando um pai mata uma criança
numa favela na Ilha do Governador (fato que aconteceu
realmente) não aparece autoridade nenhuma para pensar nas
maneiras de como acabar com a violência em nossa cidade?
Ai
quando um fato igual acontece no eixo Barra-Zona Sul aparece
até campanha da pastoral da criança e o presidente Lula
contra a violência e ainda autiridades dizendo que medidas
serão tomadas e de fato o são? Por que os movimentos
pela
paz só tem e só pedem apoio do governo para o eixo
Barra-Zona Sul? Por favor não fujam e não respondam com
filosofias de frase de caminhão!
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2 1 . Apelido: M_P - 17/7/2008 - 15:57
Caros da ONG Rio de Paz e de O Globo,
Fala-se muito em combater a violência de diversas formas:
educação, melhores salários para os agentes de
segurança,
inclusão social, enfrentamento, exército nas ruas etc.
Mas
eu nunca ouvi falar, seja de ONG ou de pessoa pública,
algo
parecido com a sociedade fazer a sua própria Mea Culpa.
Pois
, se uma pessoa veste uma camisa branca e vai numa
manifestação abraçar a Lagoa pedindo paz e depois sai
dali e
passa no Pavão-Pavãozinho e compra um sacolete de
cocaína,
essa pessoa ou é hipócrita ou demagoga. O tráfico de
drogas
ao meu ver, um dos grandes responsáveis pela nossa atual
violência urbana, é imensamente financiado pelos
usuários de
drogas. E quem são essas pessoas ? São da classe
média,
classe pobre, ricos etc, ou seja, a sociedade civil! Outra
coisa(sem querer ser simplista): se no alto do morro não
tem
fábrica de armas e/ou de munição, como os traficantes
são
tão bem armados ? Tb nunca ouvi falar em plantação de
coca
nos altos dos morros. O que a ONG pensa sobre ?
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2 2 . Nome: christina nunes quinto - 17/7/2008 - 13:06
Sr. Antonio Costa;
Pessoas como o senhor, com o seu condão de liderança e
poder
de mobilização quando a população se encontra imersa
neste
estado de letargia no caos e na situação limítrofe na
qual
nos achamos no Rio, são uma esperança de mudança
efetiva
n'algum sentido que nos salve a tempo de uma tragédia
maior.
O que venho sentindo, e muitos, é que do jeito que está
a
coisa a curto prazo desaguará numa tragédia de
proporções
dantescas. O povo está apavorado; mas é um pavor mudo,
tolhido, acuado, imobilizado na incapacidade de reagir.
Gostaria de que o senhor sugerisse meios, a nós, a
população
assustada do Rio de Janeiro, de se manifestar, de contagiar
a outros. Como escritora, uso a minha arma, que é a
palavra
escrita, num esforço de despertamento em sites onde
publico,
mas desanimo, pois percebo o poder de alcance
RESPOSTAS:
1. A polícia militar é parte do problema e parte da solução do problema da segurança pública do estado do Rio de Janeiro. Trata-se de uma instituição composta, em parte, por um grupo significativo de pessoas envolvidas com as mais diferentes modalidades de crime. Mas, de igual modo, qualquer solução para o problema da violência passa pela polícia militar. Em razão do fato de o homem ser quem ele é, um ser capaz de tornar-se adversário do seu semelhante (como dizia Hobbes:" O homem é o lobo do homem"), a vida em sociedade é inviável sem uma polícia limpa, honrada e bem treinada. Porém, pelo fato de a polícia ser composta por seres humanos, tal como qualquer outra instituição, carece de controle e supervisão. Uma corregedoria independente e eficaz é uma condição indispensável para a existência de uma polícia que esteja à altura das demandas de segurança de toda e qualquer sociedade, especialmente se levarmos em consideração o fato de que à instituição policial foi delegado o uso da força.
Gostaria de ver hoje homens no comando das nossas polícias que fizessem os seus comandados sonhar com altos ideais, dotados de espírito público e cônscios do valor social do seu trabalho. Mas, como exigir tamanho nível de compromisso profissional com salários tão baixos, treinamento inadequado e liderança que muitas vezes não serve de exemplo?
2.Eu acredito que o problema da violência no Rio de Janeiro é de tal magnitude, que todos deveríamos estar engajados nessa luta pela vitória da vida sobre a morte. Todas as emissoras de televisão, rádios, revistas, universidades, agências de publicidade, partidos políticos, igrejas, etc. deveriam estar envolvidos em campanhas educativas visando a diminuição da violência. Nossas paixões precisam ser educadas. Os jovens precisam de outras referências e heróis. A informação inteligente, em linguagem simples e visando atingir tanto a mente como o coração da população pode levar muitos a parar com o tiro e matar a arma. Soube que o filme Tropa de Elite fez com que muitos jovens sentissem vergonha de usar drogas, isso em razão do fato de descobrirem a conexão direta entre consumo de drogas e homicídio. A pressão sobre o poder público é igualmente válida. Faz-se assim no mundo inteiro. E nas ruas. Só aqui é que julgamos ingênuo quem protesta.
3. A minha maior dificuldade é que não tenho uma multidão comigo. O silêncio e inatividade dos homens e mulheres de bem são as principais causas de a justiça e a lei não prevalecerem no nosso país. Na maioria dos casos, os nossos estados são governados por homens que, pelos mais diferentes motivos, estão impedidos de enfrentar interesses corporativistas. Há muita gente que não quer abrir mão do lucro da violência. As melhores idéias são abortadas no nascedouro mediante intimidação por parte daqueles que por puro egoísmo não querem pagar o preço da paz. Se a população não se levantar, adeus. É grave a crise de autoridade no nosso país. Sinto-me feliz, contudo, pelos muitos que se juntaram a nós, que participam da “vaquinha” para a realização dos protestos e que passam noites inteiras preparando os protestos pacíficos que servem de grito por parte de uma sociedade farta de tanta morte.
4. Eu creio que nossas ações devem ser condizentes com os alvos que almejamos. Queremos a paz. Nossas armas, portanto, devem ser as armas da paz. Penso que deveríamos priorizar o uso da força da razão e da lei. Vivemos em um regime democrático. Há caminhos para a expressão da legítima vontade popular, dentro dos limites do pacto social sob o qual estamos, que podem ser tomados por nós. Basta que os conheçamos. Não consigo me imaginar envolvido em qualquer atividade que pode levar as pessoas a crerem que, devido aos métodos que empregamos, não temos interesse real pela paz. As vezes vejo pessoas falando sobre direitos humanos de uma forma tão desumana que sou levado a dizer que elas não têm interesse pelo homem. O Rio de Paz tem procurado ser respeitoso na forma de se dirigir às autoridades públicas, embora contundente na mensagem que emite. Recentemente estive na frente do Palácio Guanabara num protesto contra a morte de um jovem em Ipanema e uma criança em Guadalupe. Criamos uma situação que levou o nosso governador a nos receber. E a partir daí um diálogo foi estabelecido e agora já temos agendado um fórum regular para discussão sobre segurança pública, no qual estarão presentes gente do governo e representantes da sociedade civil. Nós vamos acompanhar passo a passo o que está em curso no campo da segurança pública do nosso estado. Se eu tivesse sido descortês talvez o diálogo nunca se iniciasse.
5. Eu não sou contra o confronto. Estou longe da linha de defesa dos direitos humanos que elimina a responsabilidade humana em razão de problemas sociais. Miséria alguma justifica os crimes que estão sendo praticados por narcotraficantes na nossa cidade. Sou contra a política de confronto e a favor da política de libertação. Qual a diferença entre uma e outra? A política de libertação na área da segurança pública teria como meta ocupar as áreas que hoje estão fora do controle do estado. Não esse desembarque da Normandia pela metade, caracterizado pela idéia de invadir sem a intenção de ocupar. É grave erro usar prioritariamente a força em lugar da inteligência, vencer muitas batalhas sem esperança de vencer a guerra, matar quando se poderia prender, preocupar-se mais com a destruição do malfeitor do que com a preservação da vida inocente, apreender armas e drogas nas favelas quando isso poderia ser feito no entorno da cidade. O maior absurdo é não levar em consideração o fato de que para cada garoto morto em confronto há uma multidão de jovens em zona de risco, prontos para substituírem os que pereceram. Rapazes com um demanda psicológica de auto-aceitação imensa para cuja satisfação o tráfico é o caminho. Com um fuzil nas mãos esses rapazes têm as moças nas mãos, compram suas roupas de grifes famosas, sentem-se com o destino de vidas humanas nas mãos e assim formam um senso de dignidade pessoal. Tudo isso num contexto de ausência de referência de paterna, colapso familiar, falta de opção de lazer, miséria, crise de valores e evasão escolar. Sem política pública para essas áreas carentes a violência no Rio de Janeiro nunca chegará ao fim.
6. Muitos de nós aplaudiram no ano passado a atual política de confronto. Agora choramos. A coisa chegou perto de nós. O disparo inconsequente resulta da relação inconsequente que a sociedade e o poder público têm com a polícia. Queremos o uso progressivo e inteligente da força, mas não trabalhamos duro para que investimento pesado seja feito na nossa polícia a fim de que esses homens recebam um salário que esteja à altura do valor social da sua atividade profissional e riscos que correm no exercício da sua profissão, como também, o preparo psicológico e técnico de que carecem para que saiam às ruas fardados e com arma na mão em nome de milhares e milhares de pessoas. Essa decisão de delegar o uso da força e colocar uma arma em nome de toda uma sociedade nas mãos de uma pessoa (muitas vezes jovem demais e vinda de lares desestruturados) é algo muito sério.
7. A relação entre o uso de drogas e a violência é estreita. Todos sabemos. Não sei como uma pessoa pode viver em paz com a sua consciência sabendo que o seu prazer representa investimento no crime e desgraça para milhares. Essa relação, contudo, poderia ser menor se houvesse política pública para o tratamento do dependente químico de drogas, um foco mais voltado para o traficante do que o usuário e o combate ao tráfico mais no entorno dos pontos de venda e vias de acesso da cidade do que na comunidade pobre. As igrejas protestantes deveriam saber que essa demanda por drogas resulta da insaciabilidade da alma humana, pois todos "fomos criados para Deus e o nosso coração não encontra descanso enquanto não descansa em Deus" (Agostinho), e aí anunciar um Cristo que não seja uma outra espécie de droga alucinógena, mas um Salvador que liberta, nos faz amar a vida e ao próximo e conduz-nos a querer o céu sem nos esquecermos da terra.
8. De fato precisamos viver num país onde a aplicação da sanção penal seja mais ligeira e certa. Nosso juristas e legisladores estão diante da tarefa de adaptarem as leis à triste realidade que nos cerca. Mas, será que alguns deles, terão interesse em promulgar leis que os condenarão bem como aos seus próprios filhos? Mudar a lei não basta, sua aplicação tem que se tornar segura. Que lei poderá dar conta da violência no nosso estado num contexto em que a taxa de elucidação da autoria de homicídio doloso é de menos de 2%?
9. Sua análise é perfeita. Fiz essa seriíssima pergunta recentemente a uma alta autoridade da segurança pública do nosso estado. Fiquei chocado com a resposta. Ele me disse que o Rio de Janeiro carece de mais 10 000 homens para o policiamento ostensivo e retomada das áreas hoje entregues a narcotraficantes. Perguntei: "Mas, porque não investimos nesses novos soldados e aumentamos o salário desses policiais?". Resposta: " O estado não tem dinheiro". Ou seja, o que não foi ainda admitido (o que deveria ser feito numa coletiva para a imprensa com a presença do governador e do secretário de segurança) é que nossos governantes não têm recursos para trabalhar (veja, estou reproduzindo a informação que me foi passada de um modo que me pareceu sincero). Sendo assim, cabe perguntar: Onde está o governo federal? Como explicar o fato de que o segundo estado em arrecadação da federação não tem recursos para impedir um massacre sistemático de vidas humanas?
11(na verdade 10). Existem o que poderíamos chamar de soluções de médio e longo prazo para o problema da violência. A educação é uma delas. Uma das principais (família e uma base intelectual para a construção de valores morais como a que encontramos no cristianismo teriam que estar incluídas nessa lista). Do ponto de vista do que o estado pode fazer, a medida mais importante. Porém, crianças que não são estimuladas dentro de casa a estudar, são ao mesmo tempo enviadas para escolas caindo aos pedaços, com professores mal preparados, currículos desinteressantes e métodos de ensino enfadonhos. Uma geração inteira já se perdeu. Bilhões de neurônios desperdiçados. Analfabetos funcionais que sabem ler, mas não sabem interpretar texto. Continuo a afirmar, contudo, que soluções ainda que parciais de curto prazo precisam ser buscadas. Até o final do ano, de acordo com as estatísticas, mas 5 000 pessoas deverão ser assassinadas no nosso estado. Há uma justificativa moral para uma ação imediata.
12 (na verdade 11). Nós estamos em busca da nossa "Praça de Maio". O local para onde possamos ir a fim de expressarmos juntos nosso protesto contra os homicídios que ocorrem no estado. Ali ocorreriam manifestações simbólicas, debates e manteríamos um placar com os números da violência a fim de a população se manter informada (o nível de informação é muito baixo. Poucos cariocas sabem que em 2007 desapareceram 4633 pessoas, das quais suspeita-se que 70% foram assassinadas. O dramático: essas pessoas desaparecidas e mortas não constam na lista de homicídio doloso). Creio que teremos esse lugar a partir do mês de Agosto.
13 (na verdade 12). Conforme já afirmei, sem a intenção de ocupação só experimentaremos mortes de civis inocentes e policiais. O manifesto do Rio de Paz pela redução de homicídio não contempla tudo o que precisa ser feito. Porém, trata-se de algo tão abrangente que alguém já o chamou de o meu " I Have a Dream'. O que essa pessoa queria dizer é que o manifesto é sonho que devemos manter diante dos olhos, mas quase que irrealizável. Em suma, deveríamos ser mais modestos. Mas, não tenho dúvidas de que se aquelas medidas forem implementadas experimentaremos uma redução histórica no número de homicídios. Por isso, continuo sonhando com ele. Muita coisa boa já aconteceu na história da humanidade por causa do trabalho de sonhadores inveterados.
14 (na verdade 13). Dizem que somos ingênuos. Quisera que o Rio de Janeiro tivesse milhares de ingênuos nas ruas perseverantemente protestando contra a violência. Para participar das nossas manifestações, basta entrar no site www.riodepaz.org.br e se inscrever como membro do Peacemakers (pacificadores, em inglês). A partir dessa adesão (para a qual nada é ou será cobrado) o novo membro do Rio de Paz receberá por email nossos pedidos de ajuda visando a realização das manifestações.
15 (14). Creio que a reivindicação mais urgente de todas é o investimento em salário e qualificação do policial militar. É exequivel. Sem esse investimento, em quem está lá na ponta correndo risco para a proteção da sociedade, nenhum outro investimento resolverá o problema da violência. Nesse momento estamos dando início ao diálogo com o governador e a secretaria de segurança pública. Esse é o caminho de gente civilizada. Fomos recebidos pelo governador, secretário de segurança e presidente do ISP. Queremos parceria com os nossos governantes. Uma queda de braço com o poder público nesse presente momento da nossa história pode representar muitas perdas de vidas. Não tenho interesse em quem quer ser aproveitar politicamente desse momento. Gente que torce por mais assassinatos por força de toda uma expectativa de tomada de poder e lucro pessoal. Quem torce pelo fracasso desse governo é inimigo do povo. O Rio de Paz é contra a atual política de segurança pública, mas quer estar ao lado dos seus governantes, e, em vez de criticar de longe tenciona ajudar de perto.
16 (15) Graças a Deus estamos com balõezinhos, cruzes, rosas, etc. conscientizando pessoas, unindo o povo e agindo na esfera do poder público. Não há nada que os perversos dessa cidade mais queiram do que nos manter filosofando sobre o problema da violência em casa sem agirmos nas ruas. Em todas as nações desenvolvidas há um histórico de conquistas sociais obtidas nas ruas. O Rio de Paz, além dos protestos, tem levado consolação para os parentes das vítimas de homicídio, criou um banco de horas para que profissionais dos campos do direito e da psicologia levem socorro em ambas as áreas para essas pessoas, organizará um Fórum no mês de Setembro em pareceria com a ONU sobre o tema Violência, Participação Popular e Defesa dos Direitos Humanos e iniciou o diálogo com o governo do estado a fim de que a sociedade civil acompanhe de perto os rumos da segurança pública. Tudo isso sem verba pública.
17 (16). Os que criticam, na maioria das vezes, não nos oferecem alternativa alguma. Surpreende-nos ser atacados por pessoas que nada fazem e nos tratam como se fossemos culpados por protestar. E olha que nossa ação é pacífica e não trás transtorno para a cidade. Mas, há aqueles que se preocupam, não querem que percamos nosso tempo e não gostariam de ver uma coisa bonita perder fôlego gradativamente. Tenho recebido muita ajuda de gente especialista em segurança pública. Algumas das melhores mentes da cidade têm me auxiliado. Sem elas eu estaria perdido, pois minha área de formação acadêmica não é segurança pública (isso é em parte até bom porque todos acabam tratando-me com uma certa condescendência). Socorrer essa crianças que estão em vias de fazer parte da lista de auto de resistência seria gesto humanitário de grande proveito para o combate à violência. O que envolver a luta pela vida desses seres que foram criados por um Ser que os ama, terá sempre o nosso apoio, luta, suor e lágrimas.
18 (17). Mediante os protestos já chegamos à sede do governo. Uma parceria histórica entre governo e população haverá de ser levada a cabo. As leis de nada servirão se a autoria dos homicídios dolosos não for elucidada. Se queremos mais prisões precisamos querer também reforma do sistema prisional. Abominamos os campos de concentração nazistas da Segunda Grande Guerra? Então, deveríamos ter vergonha também e abominar os campos de concentração nos quais são postos os presos do nosso estado.
19 (18). Posso imaginar a sua dor, meu caríssimo amigo. Mas, não deixe a sua dor levá-lo a usar as mesmas armas dos que você abomina. Nosso modo de falar pode denotar a presença em nossos corações da mesma violência que condenamos nos outros. A luta pela justiça social pode tornar-nos amargos e soberbos por estarmos fazendo o bem, menosprezando os demais. Eu tenho enfrentando essas tentações na minha vida. Sou do seu time. Estamos do mesmo lado. Não se deve dirigir nesses termos a quem quando muito pode ser chamado de ingênuo, mas não alguém que quer o mal do seu semelhante. Estou fazendo com sinceridade o que julgo ser útil para a vida dos meus conterrâneos. A escolha da Zona Sul deu certo. A mensagem tem ido para milhares de lares do Brasil e do mundo. Gostaria que fosse assim nas áreas pobres da cidade, mas não é. O que posso fazer? Eu mesmo moro na periferia de Niterói. Um protesto desses não surtiria efeito algum se fosse realizado em Icaraí. Temo que nem os jornais locais fariam a cobertura. Lembre-se, porém, que quando estamos numa área rica da cidade protestando estamos chamando a atenção prioritariamente para o quadro dramático das áreas pobres. Recentemente estive no enterro de um rapaz pobre que foi assassinado em Bangu. Realizei um protesto no Leblon para lembrar essa morte. Botamos no gabinete do governador a tia do menino Ramon, de Guadalupe, que morreu com um tiro na cabeça desferido por um policial militar. Estivemos na missa da menina pobre de nome Alana, cuja morte chocou a todos nós. Visitamos o menino João Roberto no CTI do Copa D'or. Experiência por demais dolorosa. Em Dezembro do ano passado penduramos 6000 rosas na Praia de Copacabana para lembrarmos a morte de 6000 seres humanos no nosso estado no ano de 2007. Quando soubemos da morte da menina Fabiana, de 12 anos apenas, moradora do Morro dos Telégrafos, voltamos para a praia a fim de pendurarmos uma única rosa em homenagem a ela. Sei que a auto-exaltação não é boa, mas quando estamos tão carentes de gente ao nosso lado, lembranças e informações como essas tornam-se necessárias para que a nossa sociedade saiba que vários cariocas se levantaram de modo não preconceituoso para combater a violência no morro e no asfalto.
20 (19) É inegável o fato de que a cidade só não parou ainda para dar um fim à violência porque os assassinatos que ocorrem nas comunidades pobres não ocorrem na mesma extensão na áreas habitadas por moradores de classe média. Essas comunidades pobres precisam do apoio da classe média. Uma ação baseada em amor real que crie condição de igualdade de oportunidade para esses milhares de seres humanos. O que essas comunidades não precisam é do paternalismo que faz com que a pobreza seja vista como virtude e não como condição da qual se deve sair mediante estudo e trabalho duro.
21 (20) A violência do Rio de Janeiro é uma tragédia na qual vítima e algoz muitas vezes se confundem. A polícia que executa e se deixar corromper é a mesma que trabalha em condições desumanas. O governo que apóia a política que até mesmo alguns dos principais atores da segurança pública chamam de "enxuga gelo" é o mesmo que herdou um problema crônico das administrações passadas. Pense na própria sociedade. A mesma sociedade que que quer o fim da violência é a mesma que consume drogas, relativiza valores morais absolutos e absolutiza o que é relativo, como, por exemplo, a busca desenfreada por prazeres que não levam em consideração o próximo. É a sociedade que não respeita mais a santidade do lar. Casais que combatem a violência da cidade, mas que não percebem o exemplo que deixam para os seus filhos ao se tratarem como inimigos dentro da própria casa. Pais que recusam-se a impor limites para seus filhos, lançando para a vida em sociedade pequenos reis que nunca ouviram a palavra "não" dos seus progenitores. Poderíamos ainda falar sobre os valores preconizados pela chamada pós-modernidade, ensinados em nossas escolas e universidades, por professores que debocham de toda noção de certo e de errado. Todos deveríamos nos arrepender de termos transformado de uma forma direta ou indireta, pela ação deliberada ou omissão desalmada, o Rio de Janeiro numa antecâmara do inferno, objeto de espanto para pessoas do mundo inteiro.