terça-feira, 29 de julho de 2008

SAIU NO BLOG REPÓRTER DE CRIME DO GLOBO ONLINE

RIO DE PAZ
Libertação no lugar de uma política de confronto
Costumo dizer que ao longo de 26 anos na cobertura de temas ligados à segurança pública e criminalidade jamais encontrei movimento social mais inclusivo do que o do Rio de Paz, que luta pela redução dos homicídios no país e, especialmente no Rio de Janeiro, conquistou a mídia também por apresentar a estética da violência com cruzes, rosas, balões e faixas pretas. O movimento não apenas ouve representantes de todos os setores da sociedade - dos policiais aos acadêmicos - como é um dos poucos da sociedade civil que deu um sentido mais amplo e mais últil à expressão "direitos humanos". Outro dia, o líder do Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, foi ao enterro de um PMs executados na Lagoa, onde a ONG colocou a faixa "Mataram aqui dois seres humanos que trabalhavam em condições desumanas".

Na semana passada, discretamente, o líder do Rio de Paz esteve reunido com o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, que concedeu espaço na sua agenda para ouvir o clamor do movimento. O encontro resultou num momento que considero histórico para a luta contra a violência no estado. O secretário aceitou a proposta de diálogo permanente entre a cúpula da segurança e a sociedade, por meio de um fórum organizado pelo Rio de Paz, periodicamente, com participação de representantes da sociedade, que inclui gente da polícia, da academia e da imprensa. Se este governo está aberto a ouvir a sociedade sobre que polícia ela quer, é possível também que a sociedade seja convocada a participar do processo de busca por soluções para a segurança e não fique mais na confortável posição de platéia, só cobrando providências do poder público.

Em artigo exclusivo para este blog, o líder do Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, afirma que é preciso trocar a política de confronto por uma política de libertação, no combate ao crime nas favelas. No artigo, ele faz uma pergunta simples que já deveria ter sido respondida até mesmo por pesquisadores da área de segurança: "Por que não há um investigação séria e eficaz nas vias de acesso da cidade? Por que transferir o trabalho de apreensão para as comunidades pobres apenas?"

Conheça aqui e agora um pouco mais do pensamento de Antônio Carlos que já respondeu inclusive a perguntas de leitores do GLOBO sobre o movimento. Assim como eu, Costa não é contra o confronto entre polícia e criminosos, mas sim contra a transformação desse ponto na principal política da segurança pública.




"POR UMA POLÍTICA DE LIBERTAÇÃO

Fala-se muito sobre a chamada política de confronto do governo do estado do Rio de Janeiro. Após um ano e meio de muito confronto, marcado por baixas de civis inocentes e policiais, sem conseqüência significativa alguma para a diminuição do número de homicídios, que deve chegar em dezembro à marca de 21.000 em dois anos (se contarmos homicídio doloso, encontro de cadáver, auto de resistência, latrocínio, pessoas que foram assassinadas e que se encontram na categoria “desaparecidos” e policiais mortos), a população começa a perceber que seu apoio inicial ao confronto estava equivocado.

Um dos dramas da vida reside no fato de que em muitas ocasiões há um lado dialético na verdade. Os dois lados de uma mesma moeda que precisam ser levados em consideração. Uma sutileza que passa despercebida pelos que se recusam a pensar de modo duplo. C. S. Lewis, famoso autor das "Crônicas de Nárnia", costumava dizer que o erro vem aos pares. Extremos opostos que se nos apresentam, forçando-nos a fazer uma escolha entre ambos, quando na verdade a escolha de ambos os lados representará a opção pela meia verdade. Como diz o famoso médico e teólogo galês, Martin Lloyd-Jones: “Não há nada pior na busca pela verdade do que elevarmos à condição de verdade completa um aspecto da verdade”. Em suma, pessoas podem estar numa discussão apresentando pontos de vista diferentes sobre um determinado tema e ambas estarem erradas.

Só um completo desconhecedor da natureza humana para eliminar o confronto da política de segurança pública. Sendo o homem quem é o estado tem que se fazer valer do monopólio do uso da força. Nossa tendência ao mal tem que ser refreada ou pela força da persuasão racional ou pelo poder coercitivo do estado. A idéia de eliminarmos a responsabilidade humana em razão do histórico de miséria da vida do malfeitor, fará com que admitamos como normais crimes que nenhuma miséria é capaz de justificar. Contudo, a meta do combate à violência mediante o confronto pode ser alcançada de modos diferentes, adaptando os meios aos fins estabelecidos e às circunstâncias históricas.

A atual política de segurança do estado do Rio de Janeiro está equivocada por vários motivos. Os números da violência estão aí para mostrar que houve algum equivoco e que uma correção de rumo urgente precisa ser feita. Senão vejamos.

Há um erro estratégico, incompreensível mesmo para um leigo, de focar o combate ao tráfico e ao uso ilegal de armas na comunidade pobre e não no entorno da cidade do Rio de Janeiro. Sabe-se que essas drogas vêm pelas nossas estradas. Por que não há um investigação séria e eficaz nas vias de acesso da cidade? Por que transferir o trabalho de apreensão para as comunidades pobres apenas?

A idéia de que há um preço de vidas a ser pago pela população a fim de que a violência seja reduzida é moralmente incorreta e unilateral. Esse preço está sendo pago pelos pobres e não pela classe média. Quem tem morrido em troca de tiros entre policiais e traficantes é gente como a menina Fabiana da Mangueira e o menino Ramon de Guadalupe, e não as crianças do Novo Leblon e do Mandala na Barra da Tijuca. Não se combate a violência com o foco mais voltado para a morte do malfeitor do que a proteção da vítima. É imoral trocar tiro com armamento que fura parede de alvenaria sabendo que há criança dentro das casas que situam-se nas regiões onde ocorrem os conflitos.

A invasão sem a intenção de ocupar as áreas dominadas por narcotraficantes representa um desembarque da Normandia pela metade. A um custo altíssimo de vidas entra-se numa região, mata-se dezenas, traumatiza-se crianças, para no minuto seguinte voltar-se para batalhões e delegacias, deixando a mesmíssima área devastada totalmente desguarnecida. Um observador estrangeiro atento será levado a pensar que ou enlouquecemos, ou perdemos o senso de valor da vida humana, ou somos um povo atrasado sob todos os pontos de vista. Precisamos de uma política de libertação. O estado precisa fazer com a população pobre o que o exército colombiano fez com a ex-refém das Farc, Ingrid Betancourt: “Somos do exército da Colômbia, a senhora está livre”. A falta de uma perspectiva de ocupação tem levado os próprios integrantes das polícias à percepção frustrante de que estão “enxugando gelo”. Olha, eu vi gente graúda da nossa segurança pública expressando para mim essa semana essa terrível frustração.

A morte de garotos envolvidos com o tráfico sem a presença definitiva do estado em áreas dominadas pelo crime e a criação de condição para a chegada de políticas públicas nas comunidades pobres, é outro aspecto desse desperdício de tempo, recursos e vida. Sabe-se que para cada jovem morto há uma fila indiana de reservistas do crime prontos para substituir os que pereceram. Rapazes com uma demanda de auto-aceitação imensa. Sabedores do fato de que com um fuzil na mão vão poder levar as meninas para a cama, ter o destino de vidas humanas em suas mãos e comprar os bonés, tênis e roupas de grifes famosas. Tudo isso num contexto de ausência completa de uma referência paterna, colapso da experiência familiar, perda de valores, pobreza e evasão escolar. Sem o estado presente e oferecendo condições dignas de vida para esses jovens, nós vamos entrar para a história como cidadãos do estado que mais matou e menos realizou para a promoção da vida e paz.

Como esperamos vencer essa crise terrível, a maior que a minha geração enfrentou, com a condição de penúria em que se encontra a nossa polícia? Nossa polícia trabalha em circunstância desumana. Os policiais que tombaram na proteção dos moradores da Fonte da Saudade ganhavam menos do que o custo fixo de cada filho das famílias para as quais ofereciam segurança. Como pagar tão mal a homens que exercem função social de tamanha importância e que correm risco de vida tamanhos no exercício de sua profissão? Essa polícia carece de melhores salários. Soldo digno de atrair os melhores jovens da nossa sociedade para o exercício do ofício de policial. Essa polícia carece de ser melhor qualificada. Não se pode botar uma arma na mão de uma homem, dizer que ele tem o direito de usá-la com base em um pacto social que envolve o consentimento de milhões de seres humanos, e não prepará-lo para tarefa que envolve vida e morte. Essa polícia carece de homens que saibam comandar e inflamar seus comandados com altos ideais de serviço ao próximo.

Tudo isso depende de investimento. Essa semana soube através de gente importante da área da segurança pública do nosso estado que o Rio de Janeiro precisa de mais 10.000 policiais para um policiamento ostensivo à altura das demandas do estado. Sabe-se também, conforme acabei de mencionar, que o salário do policial deve ser aumentado. Perguntei: “Mas, porque esse investimento não é feito?” Em tom que me pareceu sincero e tomado de frustração ouvi meu interlocutor dizer: “O estado do Rio de Janeiro não tem dinheiro”. Pensei: “Meu Deus, essa gente tinha que vir a público e admitir isso. A população tem o direito de saber se o estado tem condição ou não de oferecer segurança para os seus cidadãos”. Porque das duas uma: ou vamos embora daqui por causa do medo, ou nos mobilizamos para salvar o Rio de Janeiro por causa do amor. Se é assim, o governo federal peca ao deixar o segundo estado em arrecadação da federação sob um massacre sistemático de vidas humanas, não oferecendo recursos para que os homens que estão à frente da secretaria de segurança pública possam trabalhar.

Sou um leigo sobre segurança pública. No início do ano passado eu não sabia a diferença entre Polícia Civil e Militar. Não sabia que a primeira é responsável pelo serviço investigativo (no Rio de Janeiro são elucidados menos de 2% da autoria de homicídio doloso) e a segunda pelo policiamento ostensivo. Mas, venho de dias nos quais entrevistei todo mundo. Falei com coronéis da PM, parente de vítima, jornalistas, pesquisadores, presidente do ISP, secretário de segurança e o próprio governador. Cheguei à essas conclusões. Gostaria de saber se estou errado, se sou alarmista ou ingênuo. Aguardo convencimento racional do meu possível erro de avaliação.

Nós só não podemos fazer o que é tão próprio do brasileiro, deixar para a amanhã o que devemos fazer hoje. Não há mais espaço para procrastinação. Não podemos decidir não decidir, permitir que a maldade dos perversos seja reforçada pela fraqueza dos virtuosos, tornando-nos assim cúmplices de um genocídio. A hora de agirmos com mais bom senso é agora, especialmente quando tomamos conhecimento do fato de que pode ser que um terceiro monstro esteja para nascer na nossa cidade, o pior de todos. Permitimos o narcotráfico e a milícia, e, agora, surge no cenário o envolvimento com o crime baseado em ideologia de libertação dos oprimidos dos centros urbanos. Imagine marginais treinados para infernizar a cidade e julgando com isso que estão salvando os pobres.

Ainda é tempo. Houve povos que enfrentaram problemas mais graves dos que os nossos e os superaram. Nossa geração pode vencer essa batalha da violência. Mas, para isso precisamos trocar a idéia de confronto pela idéia de libertação. E isso mediante a união de todos nós que amamos e nos orgulhamos do estado maravilhoso que Deus nos deu para habitar em paz.
Antônio Carlos Costa
Rio de Paz"

domingo, 27 de julho de 2008

ORAÇÃO EM DIAS DE SONHOS, LUTAS E APREENSÕES

Recentemente fiz essa oração em culto da nossa igreja e alguém registrou. De fato meu coração, sonhos e principais preocupações estão registrados nessa súplica
Oração

Senhor, nosso Deus e Pai
Nós rogamos a ti
que em nome do Senhor Jesus
Tu emprestes sentido às nossas ações
Ajudando-nos agir movidos por uma real compaixão
Por um real interesse pelo bem estar destas pessoas

Sabemos que se formos esperar sentimentos 100% puros
Não sairemos de casa, não pregaremos a tua palavra
Não faremos bem algum, Senhor

Contudo, pedimos a ti que estejamos fazendo o que é correto
Pelo motivo correto
Que o nosso trabalho seja um culto a ti
Que tu te agrades das obras das nossas mãos
Que haja lealdade ao teu evangelho
Fidelidade à tua palavra
Amor genuíno
Lágrimas nos olhos
A decisão de ensinar, pregar e curar
Por força da compaixão experimentada

Compaixão que resulta do fato
De que as multidões estão aflitas e exaustas
Como ovelhas que não tem pastor
Levanta pastores para esta cidade
Homens e mulheres
Ainda que não tenham o título
Que estejam a agir como tais
Que enxugam a lágrima
Que levantam o caído

Que está acostumado
A só ouvir sobre tragédia
Guarda esta igreja
Mantenha-nos unidos
Apaixonados pela nossa missão
Que missão gloriosa Senhor
Trazer o céu para a terra
Levar pessoas ao céu
Como é bom ser crente
Como é bom estar na igreja

Não é um partido político
São homens e mulheres que professam a fé em Jesus Cristo

E que juntos tomaram a decisão de viver para a glória de Cristo
Ó Deus amado,
Não leva em consideração a nossa participação
Nos pecados de nossa cidade
Nós estamos em algum nível envolvidos
Com esta maluquice toda
Perdoa-nos pela falta de lágrimas

Não há nada que mais nós deploramos
Do que a falta de lágrimas
Lágrimas de compaixão
Dá-nos dons, dá-nos estratégia
Dá-nos visão
Envia o teu exército angelical
Mais uma vez nós te pedimos
Senhor, porque há uma batalha espiritual sendo travada nesta cidade
Há crimes que são praticados
Que só podem ser explicados espiritualmente
obras das trevas, do príncipe do mal Senhor
Levando o ser humano a se comportar
num nível inferior aos dos animais Irracionais

E agora que vamos participar da tua ceia
Alimenta a tua igreja espiritualmente
Testifica com o nosso espírito que somos teus filhos
Que nosso pecados foram perdoados,
Que somos amados do Senhor nosso Deus
Pois a alegria do Senhor é a nossa força
E nós nunca estamos mais alegres
Do que quando sentimos o sinal da tua aprovação
Quando percebemos que o Senhor está sorrindo para nós
Tudo o que queremos é viver assim:
Sermos o deleite do teu coração
Que tu possas, Senhor e permita-nos usar de um antropomorfismo
Que tu possas cutucar as pessoas que estão aí no céu
E dizer: veja os meus servos, o quanto me amam e
manifestam o meu caráter, como são parecidos comigo
Sim eu vejo o meu DNA neles
Eles vivem a vida que o meu Filho viveu

Ah Senhor, isto é tudo o que queremos
Mais do que ouro e prata
É trazermos alegria ao teu coração
A ponto do Senhor poder dizer o que disse para Cristo:
Tu és o meu Filho amado
Em ti eu me comprazo
Eu curto a tua vida,
A tua vida me é cara,
A tua vida me é preciosa
Eu me encanto contigo
Porque tu és feitura minha
Preparado pela minha graça
Para praticar boas obras as quais eu o Deus todo poderoso
Preparei de antemão para que o meu povo andasse nelas.

Deus querido,
Distribui dons aqui agora,
Dá-nos uma nova capacitação
Dá-nos uma nova unção
Uma nova visão.
David Willberforce sonhou com uma Inglaterra livre da escravidão.
Martin Luther King sonhou com uma América livre do racismo
Lutero sonhou com uma reforma
Moisés sonhou com a retirada do povo da escravidão do Egito
Josué sonhou com a posse da terra de Canaã
O Apóstolo Paulo sonhou com a evangelização dos judeus
O Apóstolo Pedro sonhou levar o evangelho aos gentios
Dá-nos sonhos, sonhos
Porque nós queremos, no dia do juízo final,
chegar com as mãos cheias diante do teu trono de graça
E poder dizer:

Toma Senhor de volta o resultado do teu amor por nós
Foi isso que nós fizemos do grande amor
que tu manifestaste pela nossa vida.
ó Senhor, leva-nos a uma santidade universal
Que não haja uma só área de nossas vidas
Resistindo ao Espírito Santo
Que sejamos santos em tudo

A nossa cidade está em trevas Senhor
Mantenha a nossa integridade
Que não negociemos o nosso caráter
Que possamos iluminar mesmo
E quem está ao nosso redor
possa enxergar melhor as coisas mediante o contato conosco

Faz assim Senhor,
Em nome de Jesus,
Amém
oração final
IPB 13/07/2008
mensagem "ovelhas exaustas e sem pastor"
Mateus 9:35-38

sábado, 26 de julho de 2008

PERGUNTAS E RESPOSTAS PARA OS LEITORES DO JORNAL O GLOBO

De: Andre Freitas - Editoria Jornal Bairros - O GLOBO
Enviada em: terça-feira, 22 de julho de 2008 19:20
Para: Lilian Fernandes - Editoria Jornal de Bairros - O
GLOBO Cc: Andre Freitas - Editoria Jornal Bairros - O GLOBO
Assunto: Rio de paz - Voce pergunta


1. Penso que muito da violência ocorrida no Rio de Janeiro
provêm da frouxidão da própria polícia no combate
aos
criminosos, o que indiretamente está relacionado à alta
corrupção que assola a corporação. Nesse sentido,
quais as
idéias que a Rio de Paz tem para propor ao Governador do
Estado, Sérgio Cabral, de redução drástica da
corrupção na
polícia militar e civil, com vista a uma cidade mais
segura?

Ligia de Barros Louback
Copacabana - Rio de Janeiro
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2. Caro Antônio,
Primeiro quero me solidarizar com vc e com todos os cariocas
que hoje são reféns do medo, da insegurança e do
descaso com
a vida humana. Nos últimos tempos sinto-me obrigada fazer
algo para que esta cidade volte a ser um lugar onde
realmente se possa morar em paz. Vc acha que se fizermos um
movimento enchendo a cidade e os meios de comunicação
(principalmente jornais com grande circulação e out
doors)
de anúncios em que os cidadãos cariocas exigem seus
direitos
de ir e vir , de segurança e de uma cidade condizente com
o
que pagamos de impostos poderemos ter algum retorno? Tenho a
ilusão de que anunciando para o país e exterior que o
Rio
grita por SOCORRO podemos pressinoar políticos,
governantes
e instituições a agirem melhor. O que vc pensa ? Fica a
sugestão. Lu Fraga

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3. Faço mestrado em Adm. Pública na FGV-RJ e minha
dissertação é um estudo de caso sobre a cidade do Rio
de
Janeiro. Minha metodologia usa como fonte entrevistas com
pessoas e organizações que participam ou influenciam no
planejamento urbano. Tenho duas perguntas para o Sr.
Antônio
Carlos Costa, fundador da ONG Rio da Paz: - Quais são suas
dificuldades para fazer valer suas reivindicações com
poder
público? - Qual a sua avaliação sobre a
participação da
sociedade na sua organização?

Agradeço antecipadamente,

Leonardo De Vincenzi

Mestrando em Administação Pública pela FGV-Ebape

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4.Por que continuar fazendo ações de
"conscientização da
população" ao invés de pressionar as autoridades por
mudanças e atitudes palpáveis para resolver o problema
da
violência!?!?

Não vejo como prático "chocar" para "despertar" as
pessoas
enquanto as autoridades se isolam por trás de uma mistura
de
autoritarismo, arrogância e descaso!

Por que não fazer estas ações na frente de quem
realmente
precisa ser "conscientizado"?!?! Por exemplo: despejar um
rastro de tinta vermelha na frente do Batalhão PM onde
estão
lotados os "irresponsáveis" que detonaram o menino João
Roberto?!?! Ou colocar um marcador, tipo relógio, na
frente
do Palácio Guanabara, indicando quanto tempo (estimado)
falta para a PM matar mais um inocente?!?! Garanto que estas
ações sim vão ser muito melhor aceitas pela
população e
terão ainda mais impacto junto à mídia... bem melhor
do que
considerar nós, as vítimas, como co-responsáveis desta
situação!!!

Atenciosamente,

Richard C. Lins

5. Como diz um email que está correndo a internet,
assinado
por um(a) tal Dimmi Amora, diga ao Governador Sérgio
Cabral
para suspender a política de confronto. Sem isto, com
certeza vc estará soltando (ou plantando, ou pintando) bem
mais que 4.000 balões!!! Diga também para ele descer do
palanque e deixar de sonhar em ser vice de Lula ou do
candidato dele, em 2010. Muitas pessoas inocentes ainda
vão
morrer, muito patrimônio será desvalorizado, a qualidade
de
vida desta cidade estará comprometida se Sérgio Cabral
insistir em continuar com esta postura arrogante e
desleixada frente ao caos que domina o Estado.

Atenciosamente,

Richard C. Lins
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6. Quando vai haver mais uma mobilização contra o
disparo
inconsequente???

Gilmar das Graças Rios Lopes
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7. Caro Antônio,
Gostaria de fazer duas perguntas:
Em sua opinião qual é a relação entre o consumo de
drogas
pela classe média e a violência na cidade do Rio de
Janeiro?
O que, efetivamente, as igrejas protestantes podem fazer
para reverter a violência em nossa cidade?

Um grande abraço.

Eduardo Carpenter

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8. Quero parabenizar o Sr. Antonio Carlos Costa e
agradecê-lo pelo empenho em melhorar a nossa cidade e
nosso
país. Infelizmente estou pouco a pouco perdendo a
esperança.
Um país que, em pleno século XXI, aceita a existência
de
Foro privilegiado e outras tantas aberrações me parece
inviável. A impunidade e a desmoralização do nosso
judiciário e legislativo perpetuam este intolerável
ciclo de
violência. Parece-me a hora de um "choque de ordem". Como
forçarmos nossos juízes e políticos a fazerem algo?
Não
tenho a menor idéia. Se estes profissionais tivessem o
mesmo
empenho em mudar estas distorções quanto têm para
defenderem
os interesses próprios, veríamos uma luz ao final do
túnel.
Não é este o caso.

Abraço,

Claudio Tovar.

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9. Prezado.

Aproveitando esta oportunidade, gostaria de saber, o por
quê
de nenhuma ONG ou entidade, não cobra do Governador a
ocupação em definitivo das favelas pela polícia.

Sabemos que 80% dos roubos de carro no Rio de Janeiro são
de
traficantes e que eles sempre levam estes carros para dentro
delas. Se a polícia estiver dentro da favela, não tará
traficante e se não tem traficante, o número de roubos
diminui.

Também não adianta criar batalhões da polícia nas
entradas
das favelas. Elas devem ser criadas, no CENTRO delas. Um
exemplo de desperdício de dinheiro, foi a construção
do
Batalhão da Maré, onde sabemos que a polícia fica de
um lado
e os marginais do outro. Não adianta em nada aquele
batalhão.

Moro perto de Inhaúma e passo sempre pela Estrada Velha da
Pavuna, para ir ao trabalho. Por muito tempo assisti a
incompetência dos governantes, que exigiram a vinda da
Guarda Nacional para o Rio de Janeiro e os colocaram nas
ruas próximas as favelas do Complexo do Alemão. Eles
não
faziam nada e parecia mais soldadinhos de chumbo.

Porque não utilizar estes policiais para ocupar as
favelas(dentro)?

Atenciosamente,
Marcelo Vasconcellos.
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11. Nome: yvonne bezerra de mello - Email
- 17/7/2008 - 19:57
Nós estamos numa guerra de fato, numa guerra civil onde os
mocinhos e bandidos se confundem. O que não podemos
permitir
são fuzilamentos à luz do dia e muias pessoas mortas.
faz
pouco tempo eu fui reconhecer um corpo no IML, o de uma
criança baleada e fiqueie starrecida com o número de
pessoas
assassinadas, queimadas, dilaceradas naquela local; Uma
verdadeira barbárie. Você não acha que a falta de
educação,
de instrução, de parâmetros de conduta está acabando
com
essa cidade e esse país? Eu trabalho 8 horas do meu dia
numa
favela violenta e sei doq ue estou falando. Atencioasmente
Yvonne Bezerra de mello
Coordenadora do projeto uerê
________________________________

12.Nome: Olga Costa - 17/7/2008 - 19:50
Prezado Antônio Carlos,
Boa noite.

Parabéns pela persistência, acima de tudo!
Cidadania é um hábito, e sou testemunha do esforço e
da
seriedade da ONG, em todos os sentidos. Me parece que o
Gustavo explicou com exatidão o porquê das
manifestações
acontecerem onde acontecem, e sob que formato:
repercussão.

Gostaria de saber em que pé se encontra a idéia de se
fixar
um local permanente para a coleta de assinaturas para o
manifesto pela redução de homicídios, além de outras
atividades.

Abraço fraterno.
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13. Nome: sorriso carioca - 17/7/2008 - 19:29
Caro Antônio Carlos, o senhor acha que as medidas
sugeridas
por seu movimento serão suficientes para controlar a
violência no Estado do Rio de Janeiro ? O Senhor não
acha
que as medidas sugeridas são insuficientes para resolver
as
causas da violência ?

Sabemos que a violência no Rio de Janeiro tem causas bem
conhecidas: Tráfico de Drogas, Corrupção das
Autoridades,
Impunidade dos Criminosos, Polícia despreparada e mal
paga,
Política ineficiente de segurança, Desigualdade Social e
Falta de Assitência do Estado aos pobres.

Considero que as suas sugestões são importantes, mas
buscam
apenas solucionar uma ou duas das causas da violência. A
principal causa: a disputa pelos pontos de tráfico de
drogas
parece não ser solucionada com suas sugestões.

Eu tenho uma sugestão para engrossar a sua lista:
criação de
postos policiais no alto dos morros habitados. Caso o posto
funcione direito, integrado ao comando central, o Estado
estará mas perto do problema. Agora entrar e sair da
favela,
só aumenta a violência. ________________________________

14. Apelido: MilaOliveira - 17/7/2008 - 19:03
Vejo muitas pessoas dizendo que não adianta nada esses
protestos pacíficos. Engano, fazem um enorme efeito, ainda
mais se mais pessoas aderissem, atualmente uma ínfima
parcela da população participa das ações, se
conseguisse
reunir a quantidade de pessoas q frequenta as ruas do Rio no
carnaval, por exemplo, o governo se assustaria com a
quantidade de pessoas insatisfeitas e tomaria algumas
medidas. Acho que falta a divulgação a respeito das
manifestações, eu gostaria muito de participar, porém

fico sabendo depois que já aconteceu.
________________________________

15.Nome: Admar Branco - 17/7/2008 - 18:58
Prezadíssimo amigo Antônio,

parabéns pela entrega do manifesto ao Governador, que o
convidou a apresentar propostas para humanizar as nossas
polícias. A pergunta é: qual daquelas propostas contidas
no
manifesto tem chance de ser aplicada por este Governo, na
sua opinião (levando em conta a política de segurança
implementada no estado do Rio)?

Já houve algum retorno do Governador com relação à
entrega
do Manifesto pela Redução de Homicídios? Se houver
passeata
pra cobrar isso, conte comigo. Se o caso for pedir o
impeachment deste Governador, conte mais ainda.

Ab.
Admar
________________________________

16. Apelido: Alertese - 17/7/2008 - 18:24
Claro que é melhor do que não fazer nada, mas se fazer
passeata, abraçar a Lagoa, ou qualquer ato tivesse
resultado
positivos nós viveriamos no melhor dos mundos. Ao
contrário,
a cada dia que passa só vemos aumentar a violência.
Posso
citar algumas opções para diminuir a violência: Fazer
valer
a lei para TODOS; dar ensino da qualidade de um Santo
Inácio
à todas as escolas públicas, para que todos possam ter
as
mesmas oportunidades; Vontade politica de mudar; colocar
toda a popução carcerária para produzir para a
sociedade;
aplicar a pena máxima para quem dos poderes executivo,
legislativo e judiciário, que cometerem delitos, pois
teóricamente são responsáveis pelos demais. É
fácil, mas não
é simples. Tem que partir de todos, só depende de nós.
A
pergunta é ? O que realmente está sendo feito para que
se
mude esse quadro ?? ________________________________

17. Apelido: 007contraocrime - 17/7/2008 - 17:30
Sr. Antonio Carlos Costa,

Nossa sociedade sempre responsabiliza o governo (que tem sim
grande parte de responsabilidade), porém é tímida na
participação e engajamento nos movimentos que visam
promover
algum tipo de mudança ou chamar a atenção para os
problemas
existentes. Falam que "soltar balões", fazer passeatas,
"espalhar cruzes' não "resolve' nada. Eu não concordo e
considero todos esses movimentos importantes, quando nada
sinalizam que parte expressiva da sociedade não aceita e
naõ
está indiferente a essa dura realidade.

Lhe faço duas perguntas: O Sr. e sua ONG costumam receber
propostas concretas de como mudar a realidade e dar
"solução
aos problemas" por parte desses que lhe criticam ?

Qual o peso e a importância que uma Campanha de retirada
das
ruas de nossas crianças, que por aí estão morrendo e
matando
, drogadas e famintas, teria nos índices de violência e
na
melhora da imagem da cidade. O Rio de Paz estaria disposto a
abraçar essa causa e pressionar as autoridades nesse
sentido
? ________________________________

________________________________

18 . Nome: Marco Túlio Amaral Pereira - Email
- 17/7/2008 - 17:20 Não
é
chegada a hora de a população carioca reagir perante
órgãos
competentes que fazem as leis e cobrar que uma lei severa e
dura seja criada no Estado para servir de exemplo aos outros
contra criminosos que tomaram conta desta que já foi um
dia,
uma cidadde maravilhosa? Ficar fazendo passeata para a paz,
não vale nada. Lei. Lei é quem dá as regras para se
viver ao
menos mais tranquilo. ________________________________

19. Apelido: perito - 17/7/2008 - 17:12
Pq a velha demagogia, com os acordos tácitos entre a
burguesia e a favela? Algo do tipo: Rocinha, eu te dou uma
quadra de esportes, duas creches, etc e vc deixa eu passar a
noite na estrada tranquilo! Chega de demagogia; a
violência
é muito maior que o que está ocorrendo; decorre da falta
de
respeito pelos mais humildes, da falta de transporte, de
saúde, de educação, e não da falta de PMs. A zona
sul não
está nem aí para a periferia- há 35 anos é assim.
Agora, que
a periferia incomoda, tentam fazer esses "acordos". Faça
uma
passeta em Saracuruna, em Vilar dos Teles e não as
ridiculas
cruzes em Copacabana; sabe pq não faz? pq a elite não
está
nem aí para a periferia. Sr Antônio, menos demagogia!
Perdi
muitos amigos de infancia, pela violencia, na Baixada;
nenhum saiu na midia, pelo contrario, pobre quando morre e
sai na midia e logo alcunhado de bandido. Vc espera o que
dos filhos dessas pessoas? Ainda vai piorar muito.
Desigualdade sempre houve, mas o que existia era respeito.
Sai daí Sr Antônio. // ________________________________

20 . Nome: Newton Cardozo de Miranda - 17/7/2008 - 16:56
Pergunto novamente: Por que quando um pai mata uma criança
numa favela na Ilha do Governador (fato que aconteceu
realmente) não aparece autoridade nenhuma para pensar nas
maneiras de como acabar com a violência em nossa cidade?
Ai
quando um fato igual acontece no eixo Barra-Zona Sul aparece
até campanha da pastoral da criança e o presidente Lula
contra a violência e ainda autiridades dizendo que medidas
serão tomadas e de fato o são? Por que os movimentos
pela
paz só tem e só pedem apoio do governo para o eixo
Barra-Zona Sul? Por favor não fujam e não respondam com
filosofias de frase de caminhão!

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2 1 . Apelido: M_P - 17/7/2008 - 15:57
Caros da ONG Rio de Paz e de O Globo,
Fala-se muito em combater a violência de diversas formas:
educação, melhores salários para os agentes de
segurança,
inclusão social, enfrentamento, exército nas ruas etc.
Mas
eu nunca ouvi falar, seja de ONG ou de pessoa pública,
algo
parecido com a sociedade fazer a sua própria Mea Culpa.
Pois
, se uma pessoa veste uma camisa branca e vai numa
manifestação abraçar a Lagoa pedindo paz e depois sai
dali e
passa no Pavão-Pavãozinho e compra um sacolete de
cocaína,
essa pessoa ou é hipócrita ou demagoga. O tráfico de
drogas
ao meu ver, um dos grandes responsáveis pela nossa atual
violência urbana, é imensamente financiado pelos
usuários de
drogas. E quem são essas pessoas ? São da classe
média,
classe pobre, ricos etc, ou seja, a sociedade civil! Outra
coisa(sem querer ser simplista): se no alto do morro não
tem
fábrica de armas e/ou de munição, como os traficantes
são
tão bem armados ? Tb nunca ouvi falar em plantação de
coca
nos altos dos morros. O que a ONG pensa sobre ?
________________________________


2 2 . Nome: christina nunes quinto - 17/7/2008 - 13:06
Sr. Antonio Costa;
Pessoas como o senhor, com o seu condão de liderança e
poder
de mobilização quando a população se encontra imersa
neste
estado de letargia no caos e na situação limítrofe na
qual
nos achamos no Rio, são uma esperança de mudança
efetiva
n'algum sentido que nos salve a tempo de uma tragédia
maior.
O que venho sentindo, e muitos, é que do jeito que está
a
coisa a curto prazo desaguará numa tragédia de
proporções
dantescas. O povo está apavorado; mas é um pavor mudo,
tolhido, acuado, imobilizado na incapacidade de reagir.
Gostaria de que o senhor sugerisse meios, a nós, a
população
assustada do Rio de Janeiro, de se manifestar, de contagiar
a outros. Como escritora, uso a minha arma, que é a
palavra
escrita, num esforço de despertamento em sites onde
publico,
mas desanimo, pois percebo o poder de alcance

RESPOSTAS:

1. A polícia militar é parte do problema e parte da solução do problema da segurança pública do estado do Rio de Janeiro. Trata-se de uma instituição composta, em parte, por um grupo significativo de pessoas envolvidas com as mais diferentes modalidades de crime. Mas, de igual modo, qualquer solução para o problema da violência passa pela polícia militar. Em razão do fato de o homem ser quem ele é, um ser capaz de tornar-se adversário do seu semelhante (como dizia Hobbes:" O homem é o lobo do homem"), a vida em sociedade é inviável sem uma polícia limpa, honrada e bem treinada. Porém, pelo fato de a polícia ser composta por seres humanos, tal como qualquer outra instituição, carece de controle e supervisão. Uma corregedoria independente e eficaz é uma condição indispensável para a existência de uma polícia que esteja à altura das demandas de segurança de toda e qualquer sociedade, especialmente se levarmos em consideração o fato de que à instituição policial foi delegado o uso da força.
Gostaria de ver hoje homens no comando das nossas polícias que fizessem os seus comandados sonhar com altos ideais, dotados de espírito público e cônscios do valor social do seu trabalho. Mas, como exigir tamanho nível de compromisso profissional com salários tão baixos, treinamento inadequado e liderança que muitas vezes não serve de exemplo?

2.Eu acredito que o problema da violência no Rio de Janeiro é de tal magnitude, que todos deveríamos estar engajados nessa luta pela vitória da vida sobre a morte. Todas as emissoras de televisão, rádios, revistas, universidades, agências de publicidade, partidos políticos, igrejas, etc. deveriam estar envolvidos em campanhas educativas visando a diminuição da violência. Nossas paixões precisam ser educadas. Os jovens precisam de outras referências e heróis. A informação inteligente, em linguagem simples e visando atingir tanto a mente como o coração da população pode levar muitos a parar com o tiro e matar a arma. Soube que o filme Tropa de Elite fez com que muitos jovens sentissem vergonha de usar drogas, isso em razão do fato de descobrirem a conexão direta entre consumo de drogas e homicídio. A pressão sobre o poder público é igualmente válida. Faz-se assim no mundo inteiro. E nas ruas. Só aqui é que julgamos ingênuo quem protesta.

3. A minha maior dificuldade é que não tenho uma multidão comigo. O silêncio e inatividade dos homens e mulheres de bem são as principais causas de a justiça e a lei não prevalecerem no nosso país. Na maioria dos casos, os nossos estados são governados por homens que, pelos mais diferentes motivos, estão impedidos de enfrentar interesses corporativistas. Há muita gente que não quer abrir mão do lucro da violência. As melhores idéias são abortadas no nascedouro mediante intimidação por parte daqueles que por puro egoísmo não querem pagar o preço da paz. Se a população não se levantar, adeus. É grave a crise de autoridade no nosso país. Sinto-me feliz, contudo, pelos muitos que se juntaram a nós, que participam da “vaquinha” para a realização dos protestos e que passam noites inteiras preparando os protestos pacíficos que servem de grito por parte de uma sociedade farta de tanta morte.

4. Eu creio que nossas ações devem ser condizentes com os alvos que almejamos. Queremos a paz. Nossas armas, portanto, devem ser as armas da paz. Penso que deveríamos priorizar o uso da força da razão e da lei. Vivemos em um regime democrático. Há caminhos para a expressão da legítima vontade popular, dentro dos limites do pacto social sob o qual estamos, que podem ser tomados por nós. Basta que os conheçamos. Não consigo me imaginar envolvido em qualquer atividade que pode levar as pessoas a crerem que, devido aos métodos que empregamos, não temos interesse real pela paz. As vezes vejo pessoas falando sobre direitos humanos de uma forma tão desumana que sou levado a dizer que elas não têm interesse pelo homem. O Rio de Paz tem procurado ser respeitoso na forma de se dirigir às autoridades públicas, embora contundente na mensagem que emite. Recentemente estive na frente do Palácio Guanabara num protesto contra a morte de um jovem em Ipanema e uma criança em Guadalupe. Criamos uma situação que levou o nosso governador a nos receber. E a partir daí um diálogo foi estabelecido e agora já temos agendado um fórum regular para discussão sobre segurança pública, no qual estarão presentes gente do governo e representantes da sociedade civil. Nós vamos acompanhar passo a passo o que está em curso no campo da segurança pública do nosso estado. Se eu tivesse sido descortês talvez o diálogo nunca se iniciasse.

5. Eu não sou contra o confronto. Estou longe da linha de defesa dos direitos humanos que elimina a responsabilidade humana em razão de problemas sociais. Miséria alguma justifica os crimes que estão sendo praticados por narcotraficantes na nossa cidade. Sou contra a política de confronto e a favor da política de libertação. Qual a diferença entre uma e outra? A política de libertação na área da segurança pública teria como meta ocupar as áreas que hoje estão fora do controle do estado. Não esse desembarque da Normandia pela metade, caracterizado pela idéia de invadir sem a intenção de ocupar. É grave erro usar prioritariamente a força em lugar da inteligência, vencer muitas batalhas sem esperança de vencer a guerra, matar quando se poderia prender, preocupar-se mais com a destruição do malfeitor do que com a preservação da vida inocente, apreender armas e drogas nas favelas quando isso poderia ser feito no entorno da cidade. O maior absurdo é não levar em consideração o fato de que para cada garoto morto em confronto há uma multidão de jovens em zona de risco, prontos para substituírem os que pereceram. Rapazes com um demanda psicológica de auto-aceitação imensa para cuja satisfação o tráfico é o caminho. Com um fuzil nas mãos esses rapazes têm as moças nas mãos, compram suas roupas de grifes famosas, sentem-se com o destino de vidas humanas nas mãos e assim formam um senso de dignidade pessoal. Tudo isso num contexto de ausência de referência de paterna, colapso familiar, falta de opção de lazer, miséria, crise de valores e evasão escolar. Sem política pública para essas áreas carentes a violência no Rio de Janeiro nunca chegará ao fim.

6. Muitos de nós aplaudiram no ano passado a atual política de confronto. Agora choramos. A coisa chegou perto de nós. O disparo inconsequente resulta da relação inconsequente que a sociedade e o poder público têm com a polícia. Queremos o uso progressivo e inteligente da força, mas não trabalhamos duro para que investimento pesado seja feito na nossa polícia a fim de que esses homens recebam um salário que esteja à altura do valor social da sua atividade profissional e riscos que correm no exercício da sua profissão, como também, o preparo psicológico e técnico de que carecem para que saiam às ruas fardados e com arma na mão em nome de milhares e milhares de pessoas. Essa decisão de delegar o uso da força e colocar uma arma em nome de toda uma sociedade nas mãos de uma pessoa (muitas vezes jovem demais e vinda de lares desestruturados) é algo muito sério.

7. A relação entre o uso de drogas e a violência é estreita. Todos sabemos. Não sei como uma pessoa pode viver em paz com a sua consciência sabendo que o seu prazer representa investimento no crime e desgraça para milhares. Essa relação, contudo, poderia ser menor se houvesse política pública para o tratamento do dependente químico de drogas, um foco mais voltado para o traficante do que o usuário e o combate ao tráfico mais no entorno dos pontos de venda e vias de acesso da cidade do que na comunidade pobre. As igrejas protestantes deveriam saber que essa demanda por drogas resulta da insaciabilidade da alma humana, pois todos "fomos criados para Deus e o nosso coração não encontra descanso enquanto não descansa em Deus" (Agostinho), e aí anunciar um Cristo que não seja uma outra espécie de droga alucinógena, mas um Salvador que liberta, nos faz amar a vida e ao próximo e conduz-nos a querer o céu sem nos esquecermos da terra.

8. De fato precisamos viver num país onde a aplicação da sanção penal seja mais ligeira e certa. Nosso juristas e legisladores estão diante da tarefa de adaptarem as leis à triste realidade que nos cerca. Mas, será que alguns deles, terão interesse em promulgar leis que os condenarão bem como aos seus próprios filhos? Mudar a lei não basta, sua aplicação tem que se tornar segura. Que lei poderá dar conta da violência no nosso estado num contexto em que a taxa de elucidação da autoria de homicídio doloso é de menos de 2%?

9. Sua análise é perfeita. Fiz essa seriíssima pergunta recentemente a uma alta autoridade da segurança pública do nosso estado. Fiquei chocado com a resposta. Ele me disse que o Rio de Janeiro carece de mais 10 000 homens para o policiamento ostensivo e retomada das áreas hoje entregues a narcotraficantes. Perguntei: "Mas, porque não investimos nesses novos soldados e aumentamos o salário desses policiais?". Resposta: " O estado não tem dinheiro". Ou seja, o que não foi ainda admitido (o que deveria ser feito numa coletiva para a imprensa com a presença do governador e do secretário de segurança) é que nossos governantes não têm recursos para trabalhar (veja, estou reproduzindo a informação que me foi passada de um modo que me pareceu sincero). Sendo assim, cabe perguntar: Onde está o governo federal? Como explicar o fato de que o segundo estado em arrecadação da federação não tem recursos para impedir um massacre sistemático de vidas humanas?

11(na verdade 10). Existem o que poderíamos chamar de soluções de médio e longo prazo para o problema da violência. A educação é uma delas. Uma das principais (família e uma base intelectual para a construção de valores morais como a que encontramos no cristianismo teriam que estar incluídas nessa lista). Do ponto de vista do que o estado pode fazer, a medida mais importante. Porém, crianças que não são estimuladas dentro de casa a estudar, são ao mesmo tempo enviadas para escolas caindo aos pedaços, com professores mal preparados, currículos desinteressantes e métodos de ensino enfadonhos. Uma geração inteira já se perdeu. Bilhões de neurônios desperdiçados. Analfabetos funcionais que sabem ler, mas não sabem interpretar texto. Continuo a afirmar, contudo, que soluções ainda que parciais de curto prazo precisam ser buscadas. Até o final do ano, de acordo com as estatísticas, mas 5 000 pessoas deverão ser assassinadas no nosso estado. Há uma justificativa moral para uma ação imediata.

12 (na verdade 11). Nós estamos em busca da nossa "Praça de Maio". O local para onde possamos ir a fim de expressarmos juntos nosso protesto contra os homicídios que ocorrem no estado. Ali ocorreriam manifestações simbólicas, debates e manteríamos um placar com os números da violência a fim de a população se manter informada (o nível de informação é muito baixo. Poucos cariocas sabem que em 2007 desapareceram 4633 pessoas, das quais suspeita-se que 70% foram assassinadas. O dramático: essas pessoas desaparecidas e mortas não constam na lista de homicídio doloso). Creio que teremos esse lugar a partir do mês de Agosto.

13 (na verdade 12). Conforme já afirmei, sem a intenção de ocupação só experimentaremos mortes de civis inocentes e policiais. O manifesto do Rio de Paz pela redução de homicídio não contempla tudo o que precisa ser feito. Porém, trata-se de algo tão abrangente que alguém já o chamou de o meu " I Have a Dream'. O que essa pessoa queria dizer é que o manifesto é sonho que devemos manter diante dos olhos, mas quase que irrealizável. Em suma, deveríamos ser mais modestos. Mas, não tenho dúvidas de que se aquelas medidas forem implementadas experimentaremos uma redução histórica no número de homicídios. Por isso, continuo sonhando com ele. Muita coisa boa já aconteceu na história da humanidade por causa do trabalho de sonhadores inveterados.

14 (na verdade 13). Dizem que somos ingênuos. Quisera que o Rio de Janeiro tivesse milhares de ingênuos nas ruas perseverantemente protestando contra a violência. Para participar das nossas manifestações, basta entrar no site www.riodepaz.org.br e se inscrever como membro do Peacemakers (pacificadores, em inglês). A partir dessa adesão (para a qual nada é ou será cobrado) o novo membro do Rio de Paz receberá por email nossos pedidos de ajuda visando a realização das manifestações.

15 (14). Creio que a reivindicação mais urgente de todas é o investimento em salário e qualificação do policial militar. É exequivel. Sem esse investimento, em quem está lá na ponta correndo risco para a proteção da sociedade, nenhum outro investimento resolverá o problema da violência. Nesse momento estamos dando início ao diálogo com o governador e a secretaria de segurança pública. Esse é o caminho de gente civilizada. Fomos recebidos pelo governador, secretário de segurança e presidente do ISP. Queremos parceria com os nossos governantes. Uma queda de braço com o poder público nesse presente momento da nossa história pode representar muitas perdas de vidas. Não tenho interesse em quem quer ser aproveitar politicamente desse momento. Gente que torce por mais assassinatos por força de toda uma expectativa de tomada de poder e lucro pessoal. Quem torce pelo fracasso desse governo é inimigo do povo. O Rio de Paz é contra a atual política de segurança pública, mas quer estar ao lado dos seus governantes, e, em vez de criticar de longe tenciona ajudar de perto.

16 (15) Graças a Deus estamos com balõezinhos, cruzes, rosas, etc. conscientizando pessoas, unindo o povo e agindo na esfera do poder público. Não há nada que os perversos dessa cidade mais queiram do que nos manter filosofando sobre o problema da violência em casa sem agirmos nas ruas. Em todas as nações desenvolvidas há um histórico de conquistas sociais obtidas nas ruas. O Rio de Paz, além dos protestos, tem levado consolação para os parentes das vítimas de homicídio, criou um banco de horas para que profissionais dos campos do direito e da psicologia levem socorro em ambas as áreas para essas pessoas, organizará um Fórum no mês de Setembro em pareceria com a ONU sobre o tema Violência, Participação Popular e Defesa dos Direitos Humanos e iniciou o diálogo com o governo do estado a fim de que a sociedade civil acompanhe de perto os rumos da segurança pública. Tudo isso sem verba pública.

17 (16). Os que criticam, na maioria das vezes, não nos oferecem alternativa alguma. Surpreende-nos ser atacados por pessoas que nada fazem e nos tratam como se fossemos culpados por protestar. E olha que nossa ação é pacífica e não trás transtorno para a cidade. Mas, há aqueles que se preocupam, não querem que percamos nosso tempo e não gostariam de ver uma coisa bonita perder fôlego gradativamente. Tenho recebido muita ajuda de gente especialista em segurança pública. Algumas das melhores mentes da cidade têm me auxiliado. Sem elas eu estaria perdido, pois minha área de formação acadêmica não é segurança pública (isso é em parte até bom porque todos acabam tratando-me com uma certa condescendência). Socorrer essa crianças que estão em vias de fazer parte da lista de auto de resistência seria gesto humanitário de grande proveito para o combate à violência. O que envolver a luta pela vida desses seres que foram criados por um Ser que os ama, terá sempre o nosso apoio, luta, suor e lágrimas.

18 (17). Mediante os protestos já chegamos à sede do governo. Uma parceria histórica entre governo e população haverá de ser levada a cabo. As leis de nada servirão se a autoria dos homicídios dolosos não for elucidada. Se queremos mais prisões precisamos querer também reforma do sistema prisional. Abominamos os campos de concentração nazistas da Segunda Grande Guerra? Então, deveríamos ter vergonha também e abominar os campos de concentração nos quais são postos os presos do nosso estado.

19 (18). Posso imaginar a sua dor, meu caríssimo amigo. Mas, não deixe a sua dor levá-lo a usar as mesmas armas dos que você abomina. Nosso modo de falar pode denotar a presença em nossos corações da mesma violência que condenamos nos outros. A luta pela justiça social pode tornar-nos amargos e soberbos por estarmos fazendo o bem, menosprezando os demais. Eu tenho enfrentando essas tentações na minha vida. Sou do seu time. Estamos do mesmo lado. Não se deve dirigir nesses termos a quem quando muito pode ser chamado de ingênuo, mas não alguém que quer o mal do seu semelhante. Estou fazendo com sinceridade o que julgo ser útil para a vida dos meus conterrâneos. A escolha da Zona Sul deu certo. A mensagem tem ido para milhares de lares do Brasil e do mundo. Gostaria que fosse assim nas áreas pobres da cidade, mas não é. O que posso fazer? Eu mesmo moro na periferia de Niterói. Um protesto desses não surtiria efeito algum se fosse realizado em Icaraí. Temo que nem os jornais locais fariam a cobertura. Lembre-se, porém, que quando estamos numa área rica da cidade protestando estamos chamando a atenção prioritariamente para o quadro dramático das áreas pobres. Recentemente estive no enterro de um rapaz pobre que foi assassinado em Bangu. Realizei um protesto no Leblon para lembrar essa morte. Botamos no gabinete do governador a tia do menino Ramon, de Guadalupe, que morreu com um tiro na cabeça desferido por um policial militar. Estivemos na missa da menina pobre de nome Alana, cuja morte chocou a todos nós. Visitamos o menino João Roberto no CTI do Copa D'or. Experiência por demais dolorosa. Em Dezembro do ano passado penduramos 6000 rosas na Praia de Copacabana para lembrarmos a morte de 6000 seres humanos no nosso estado no ano de 2007. Quando soubemos da morte da menina Fabiana, de 12 anos apenas, moradora do Morro dos Telégrafos, voltamos para a praia a fim de pendurarmos uma única rosa em homenagem a ela. Sei que a auto-exaltação não é boa, mas quando estamos tão carentes de gente ao nosso lado, lembranças e informações como essas tornam-se necessárias para que a nossa sociedade saiba que vários cariocas se levantaram de modo não preconceituoso para combater a violência no morro e no asfalto.

20 (19) É inegável o fato de que a cidade só não parou ainda para dar um fim à violência porque os assassinatos que ocorrem nas comunidades pobres não ocorrem na mesma extensão na áreas habitadas por moradores de classe média. Essas comunidades pobres precisam do apoio da classe média. Uma ação baseada em amor real que crie condição de igualdade de oportunidade para esses milhares de seres humanos. O que essas comunidades não precisam é do paternalismo que faz com que a pobreza seja vista como virtude e não como condição da qual se deve sair mediante estudo e trabalho duro.

21 (20) A violência do Rio de Janeiro é uma tragédia na qual vítima e algoz muitas vezes se confundem. A polícia que executa e se deixar corromper é a mesma que trabalha em condições desumanas. O governo que apóia a política que até mesmo alguns dos principais atores da segurança pública chamam de "enxuga gelo" é o mesmo que herdou um problema crônico das administrações passadas. Pense na própria sociedade. A mesma sociedade que que quer o fim da violência é a mesma que consume drogas, relativiza valores morais absolutos e absolutiza o que é relativo, como, por exemplo, a busca desenfreada por prazeres que não levam em consideração o próximo. É a sociedade que não respeita mais a santidade do lar. Casais que combatem a violência da cidade, mas que não percebem o exemplo que deixam para os seus filhos ao se tratarem como inimigos dentro da própria casa. Pais que recusam-se a impor limites para seus filhos, lançando para a vida em sociedade pequenos reis que nunca ouviram a palavra "não" dos seus progenitores. Poderíamos ainda falar sobre os valores preconizados pela chamada pós-modernidade, ensinados em nossas escolas e universidades, por professores que debocham de toda noção de certo e de errado. Todos deveríamos nos arrepender de termos transformado de uma forma direta ou indireta, pela ação deliberada ou omissão desalmada, o Rio de Janeiro numa antecâmara do inferno, objeto de espanto para pessoas do mundo inteiro.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

AVANÇOS E ESPANTO

Tenho sido constantemente cobrado por pessoas próximas e distantes quanto aos resultados das ações do Rio de Paz. Tudo o que posso dizer é que as coisas estão caminhando. O corpo de psicólogos que ajudarão parentes de vítimas de homicídio já foi formado, advogados e juristas de peso estão se aproximando a fim de que as famílias de pessoas assassinadas sejam indenizadas, entramos com o pedido de prisão preventiva de um policial que matou um jovem inocente, estamos fazendo pontes entre grupos e pessoas que não se comunicavam a fim de juntos lutarmos contra a violência, os protestos têm mantido aceso na memória da população os números da violência, em Agosto realizaremos o debate sobre o tema "Como o prefeito pode ajudar na redução de homicídio?" com os prefeitáveis do Rio, em Setembro organizaremos em parceria com a ONU o II Fórum sobre "Violência, Participação Popular e Defesa dos Direitos Humanos". Fora a ajuda financeira e psicológica que já prestamos aos parentes de vítimas de homicídio.

Ontem estive com o secretário de segurança, José Mariano Beltrame. Fui franco e tive como interlocutor um homem que se mostrou muito transparente. O conteúdo da conversa só posso divulgar mediante autorização do secretário. Mas, penso que não seria uma traição minha dizer que saí do encontro certo de que o governo federal tem que socorrer o estado do Rio de Janeiro. Não que o secretário de segurança tenha feito alguma reclamação, mas para mim ficou nítido que esse homem carece de recursos para trabalhar. Há um deficit de 10 000 policiais militares para o policiamento ostensivo do Rio de Janeiro, bem como ocupação de áreas dominadas pelo narcotráfico. O salário do policial militar precisa ser urgentemente aumentado. Isto ajudará a tirar o policial do "bico" que tanto prejudica o seu trabalho como também atrairá jovens melhor preparados para os quadros da PM, tal como ocorre na Polícia Federal. Bom, o que fazer quando a sociedade civil toma conhecimento do fato de que o estado não tem recursos para investir em segurança? Precisamos de investimento na polícia e faltam recursos. Se é assim, fica evidente que a população terá que se unir, pois a tragédia social da violência é de tal magnitude e complexidade que exige a mobilização de todos nós, homens e mulheres interessados em ver a morte se render à vida no nosso estado, e o governo federal, por sua vez, terá que se fazer presente neste momento gravíssimo da nossa história. Espero por evidências mais concretas de que a União tem interesse pelo bem estar de 16 000 000 de vidas humanas.

Enquanto isso, estamos caminhando para atingirmos em Dezembro a marca de 21 000 homicídios em apenas 2 anos.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

ENTREVISTA À RÁDIO CBN HOJE CEDO

O DRAMA DOS POLICIAIS



Essa foto extraída do Estadão expressa o equilibrio que o Rio de Paz procura para suas ações:

-Queremos a repressão, mas sem execução.
-Queremos limpeza da polícia, mas também investimento.
-Somos contra a política de segurança do estado do Rio de Janeiro, mas não abrimos mão de lutarmos ao lado dos nossos governantes.
-Somos a favor da mobilização popular, mas entendemos que o povo carece do governo.

É mediante essa dialética que julgamos que haveremos de vencer a morte no nosso estado.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

ONTEM, NO ENGENHÃO.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

AS LUTAS E DESAFIOS DOS ÚLTIMOS DIAS

BANCO DE HORAS
Que beleza de idéia! Estamos entrando em contato com dezenas de psicólogos e advogados a fim de oferecermos serviço gratuito em ambas as áreas para parentes de vítima de homicídio. Estou prevendo uma enxurrada de indenizações e socorro para pessoas que haverão de aprender a dar uma direção positiva para a dor.

PROTESTO NO ENGENHÃO
Acabei de chegar do estádio do meu glorioso time. Só que dessa vez não fui para ver o Botafogo jogar, mas para pedir por uma nova polícia. Estendemos na arquibancada, com a ajuda da torcida Loucos pelo Botafogo, uma faixa com o seguinte dizer: " Exigimos limpeza e investimento na polícia". Vem mais por aí nas arquibancadas dos estádios de futebol do Brasil.

FÓRUM SOBRE VIOLÊNCIA
Participei hoje à tarde de um encontro com vários representantes da sociedade civil, que tem como meta uma ampla união do povo do Rio de Janeiro, visando a diminuição dos homicídios no nosso estado. Creio que está em curso algo muito bonito.

MAIS UM PASTOR ASSASSINADO
Até quando a igreja permanecerá em silêncio?

CANSAÇO
Gostaria de poder escrever mais. Tenho muita coisa para falar, mas que cansaço. Contudo, vivendo os dias mais empolgantes da minha vida. Amo servir a Cristo.

terça-feira, 15 de julho de 2008

SAIU NO GLOBO ONLINE DESSA SEGUNDA-FEIRA

SOLIDARIEDADE
Vítimas de violência recebem assistência psicológica e jurídica da ONG Rio de Paz
Publicada em 14/07/2008 às 09h11m
O Globo Online

RIO - A tragédia da perda de um familiar por conta da violência urbana não se resume à dor imediata pela morte. Além do permanente abalo psicológico, é preciso conviver com processos judiciais para obter uma indenização e acompanhar inquéritos policiais quando as circunstâncias dos crimes não são imediatamente esclarecidas. Pensando nisso, a ONG Rio de Paz , que já oferece atendimento psicológico e jurídico gratuito às vítimas de violência, resolveu oficializar e ampliar seu projeto assistencial. A idéia é reunir, inicialmente, dez psicólogos e dez advogados no atendimento a cerca de 50 famílias do município do Rio a partir desta segunda-feira. À frente da coordenação está a ex-secretária nacional de Justiça, Elizabeth Sussekind, que será responsável pela organização desses grupos de especialistas. Segundo ela, o apoio é voltado, principalmente, para as classes mais baixas, que não têm recursos para acompanhar o andamento dos casos.

- Vemos famílias que ficam destroçadas pelo choque, principalmente as de baixa renda. Estávamos entrando em contato com psicólogos e advogados amigos que pudessem ajudá-las, mas ainda era pouco. Diante do número crescente de vítimas, resolvemos institucionalizar isso. Vamos montar um grupo de suporte permanente que atenda em seus consultórios ou escritórios. Profissionais de diferentes perfis vão prestar um serviço voluntário e montarão um banco de horas - explicou Elizabeth.

Blog DizVentura: A rosa número 6.001

Segundo Antônio Carlos Costa, presidente do Rio de Paz, o acontecimento decisivo para a oficialização do projeto foi a morte do jovem Willian, de 19 anos, assassinado por policiais militares na Comunidade 48, em Bangu . A família do jovem, que era cantor de uma banda evangélica, é a primeira a receber oficialmente a assistência jurídica. O advogado ligado ao Rio de Paz que acompanha o caso entrou, inclusive, com um pedido de prisão preventiva dos dois policiais acusados do crime nesta sexta-feira. De acordo com o delegado Gilberto Dias, da 34ª DP (Bangu), o inquérito será concluído esta semana. O pai de Willian, Jaldenir Mataruna Marins, de 45 anos, diz que, sem a ajuda na área legal, não seria tarefa fácil acompanhar a elucidação do caso.

- A gente não tem condições financeiras para pagar um advogado. Se não fosse o Rio de Paz, tudo ficaria mais complicado - contou Jaldenir.

Ouça o áudio completo da entrevista de Jaldenir Mataruna Marins, pai de Willian:

Vamos lutar pela elucidação dos homicídios dolosos. Mas não basta a punição dos culpados. Temos que amparar psicologicamente as vítimas.
O movimento Rio de Paz também pretende auxiliar as vítimas de violência a processar o estado. Segundo Antônio Carlos Costa, as autoridades do governo devem ser diretamente responsabilizadas pela política de segurança, que tem sido estéril na hora de conter a escalada de crimes no Rio. Para o presidente, a responsabilização judicial do estado e os altos gastos com possíveis indenizações podem motivar os investimentos na mudança de conduta dos policiais.

- Estamos entrando em contato com advogados de renome para que eles ajudem as vítimas a saber o que fazer depois da perda. Processar o estado é um instrumento para desestimular a prática criminosa e uma forma de fazer justiça - defendeu Antônio Carlos.

O movimento também vai realizar a primeira pesquisa sobre o paradeiro de pessoas desaparecidas. De acordo com o presidente Antônio Carlos Costa, suspeita-se que 70% delas tenham sido assassinadas:

- Vamos lutar pela elucidação dos homicídios dolosos. Apenas 1,6% deles são solucionados. Mas não basta a punição dos culpados, temos que amparar as pessoas. A grande luta delas agora é voltar a encontrar energia para viver e se livrar da depressão latente. A ferida pela morte não cicatriza, mas acreditamos que a pessoa pode dar um curso saudável à dor.

Para o vocalista da banda Detonautas, Tico Santa Cruz, que participa dos protestos do Rio de Paz desde o início do ano, o trabalho de psicólogos é essencial para que as famílias se recuperem do trauma:

- A assistência psicológica é fundamental para essas pessoas se encontrarem depois de tudo o que aconteceu. É uma perda muito difícil. Eu mesmo precisei de atendimento psicológico quando o Rodrigo Netto ( guitarrista da banda baleado na Zona Norte do Rio após tentativa de assalto ) morreu. É possível transformar essa energia ruim em coisa positiva.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

SALVOS PELA CRUZ


Essa cena chamou a atenção de todos os fotógrafos presentes na praia de Copacabana no dia em que o Rio de Paz realizou o protesto dos 4000 balões. Nós havíamos soltado os balões, mas sem que o desejássemos, estes ficaram presos pela cruz. Lembro-me de haver corrido para soltá-los, quando ouvi fotógrafos e cinegrafistas mais sensíveis do que eu gritarem: "não solta não, não solta não". Eles perceberam antes de mim que uma mensagem lindíssima estava sendo emitida naquele momento. O que tem de foto sobre essa cena. Para mim ela significou uma profecia e uma lição. O sonho das vidas que serão salvas mediante a ação dos cristãos na nossa cidade. O fato de que essa é a missão da igreja: salvar os que estão com a vida por um fio.

BANCO DE HORAS

ATENDIMENTO SOLIDÁRIO A FAMILIARES DE VÍTIMAS DE HOMICÍDIO

Sabemos que o Estado, universidades e igrejas prestam preciosos serviços a pessoas carentes. A Defensoria Pública, indispensável à garantia de acesso ao Judiciário, é responsável pelo acompanhamento de milhares de causas a cada ano. Mas a tragédia da violência é maior do que a estrutura existente, mais exigente do que os horários disponíveis e a agilidade possível.

Portanto, complementando serviços semelhantes já existentes, durante o ano de 2008 algumas famílias vitimadas pela morte, que estão sob a atenção do Rio de Paz, foram encaminhadas a psicólogos e advogados amigos, para que obtivessem serviços indispensáveis ao momento de forma solidária. A disponibilidade aberta consiste na responsabilidade social que assumem, realizando relevante trabalho a favor de pessoas extremamente vulneráveis.

Mas temos constatado que o volume de casos continua aumentando, e vem exigindo a montagem de uma estrutura ágil para organizar e operacionalizar os dois serviços, cuja prestação cabe a profissionais bem diferentes. Há necessidade de descentralização geográfica, ainda que os trabalhos fiquem restritos apenas ao município do Rio de Janeiro, por incapacidade de expansão até o momento.

Temos procurado conversar com vários profissionais e queremos construir um banco de horas doadas por psicólogos e psiquiatras voluntários; e um núcleo de coordenação de advogados que aceitem uma causa pro bono. O Rio de Paz deseja manter-se como ponte entre as vítimas e os dois núcleos de organização, de forma a prosseguir com a seleção de casos e de profissionais, garantir o fluxo dos casos, a agilidade no encaminhamento, a comunicação entre os profissionais, respeitando a diversidade de orientação e a autonomia em suas práticas.

Também pretendemos entrar em contato com os escritórios universitários operados por professores e estudantes, institutos e hospitais, absorvendo experiências, observando metodologias e descentralizando os atendimentos.

Os beneficiários de nossos serviços serão familiares de vítimas de homicídio: pais, filhos, cônjuges e companheiros, irmãos, avós. Pessoas sob grande tensão e dor, que precisam de atenção, cuidados e proteção imediatos.

Os locais de atendimento serão propostos pelos profissionais, entre consultórios, escritórios, universidades, hospitais e outros que se tornem disponíveis.

O Rio de Paz está cadastrando os serviços oferecidos por meio do site www.riodepaz.org.br.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

VIDAS POR UM FIO



Milhares de vidas estão por um fio. Duas semanas atrás fizemos esse alerta. Pedimos mobilização popular e ação imediata por parte do poder público. Quantos que já morreram nesses últimos quinze dias! Vamos pensar em uma forma de a população entrar na luta. Um mega protesto. Algo contínuo, como as 7 voltas em torno das muralhas de Jericó, até a barreira do mal cair.

Pastores, por favor, vocês têm povo. Estão à frente de milhares. As Ong's não tem povo. Os parentes de vítima idem. É esse o problema que esses movimentos enfrentam. Mas, a igreja é um mundo. Milhares que se reúnem todos os domingos. Comunicação fácil. E fé no braço forte de Deus.

Vamos em frente! " Por que clamas a mim? Diga ao povo que marche".

A RELAÇÃO COM O GOVERNO

Ontem foi o dia das grandes decisões. Agimos de modo concreto visando mudanças reais. Na companhia da excelente Elisabeth Sussenkind, professora da PUC-Rio, ex-secretária nacional de justiça e membro do conselho consultivo do Rio de Paz, estive no Palácio Guanabara a fim de iniciar o possível trabalho de diálogo e parceria da sociedade civil com o governo do nosso estado. Fiz três pedidos: 1. A abertura de um fórum permanente, com o propósito de possibilitar a representantes da sociedade civil o diálogo constante com o governo do estado. Queremos fazer perguntas e ouvir respostas. Acompanhar de perto o que está sendo feito na área da segurança pública do nosso estado. Por que? Porque o problema é gravíssimo, envolve a vida de 16 milhões de seres humanos e a sociedade quer estar presente a fim de saber se nossos governantes estão agindo com coragem, sem procrastinar e implementando as medidas necessárias para que cariocas e fluminenses parem de ser assassinados. 2. A implementação imediata de dois ou três alvos específicos que representem o primeiro passo verdadeiro para a diminuição dos homicídios. Por exemplo: elucidação da autoria dos assassinatos. Hoje, somente 1.6% dos homicídios são elucidados. O cara mata e não é descoberto e muito menos punido. Consequência? impunidade. Resultado da impunidade? Estímulo ao perverso para que este continue acreditando que no Rio de Janeiro o crime compensa. 3. Solicitamos que os dados do ISP sejam atualizados mês a mês. Que se trabalhe duro para que todas as delegacias sejam informatizadas a fim de que conheçamos os números com mais ligeireza. Não dá para esperar até ao final do ano para saber, por exemplo, se a taxa de auto de resistência sofreu queda significativa. Queremos saber se a polícia está deixando de matar quem pode prender, usando mais a cabeça do que o gatilho e não ousando tocar nos inocentes.

Deixe-me falar sobre o que julgo ser uma boa relação com o estado nesse presente momento:

1. Respeito à figura do governador. Que sejamos contundentes nos argumentos, mas educados e respeitosos na forma de nos dirigirmos à autoridade máxima do nosso estado. Esse homem está ali pela vontade do povo. Essa vontade tem que ser respeitada. Não vejo porque termos comportamento que reflete a violência que grassa na nossa sociedade. Queremos paz e respeito ao próximo? Que saibamos usar as armas da razão e da lei, atacando idéias e não homens. Se estes se mostrarem inaptos, envolvidos com o crime e covardes na aplicação da lei e defesa da vida, que usemos os meios legais para tirá-los de onde estão.

2. Não utilizar politicamente esse momento de crise na segurança pública. É maldade sem fim, homens e mulheres, desejarem inviabilizar esse governo porque na verdade o que desejam é vê-lo enfraquecido mesmo, e, isso, por motivos eleitorais. Isso é a iniquidade elevada às alturas. Pensarmos nos nossos projetos políticos antes de pensarmos nos milhares que têm a vida pendurada por um fio. Gente que não quer ver o sucesso desse governo porque tem projeto de poder, pessoas que vibram com cada assassinato e abrem as páginas dos jornais ávidas por encontrarem relatos de crimes capazes de provar a ineficácia da política de segurança pública. Quero dizer uma coisa para essa gente: Não contem comigo. Quem quer ver esse governo fracassar é inimigo do povo.

3. Sem o poder público estamos perdidos. Eu não apóio a atual política de segurança pública, mas penso que melhor do que atacar o governo de longe é tentar ajudá-lo de perto. Creio que o nosso governador carece de esse tipo de aproximação. Lembre-se que ele está lidando com um problema antigo, crônico e gravíssimo. Sem a população ao lado não há esperança. Ninguém, no posto de governador de um estado corrupto até a medula como o nosso é capaz de enfrentar os interesses corporativistas dos que não querem pagar o preço da paz. Malvados. Mil vezes malvados! Por causa de dinheiro e poder permitem que pais desçam à cova crianças de 3 anos de idade. O povo tem que reagir. Não esperar perder parente para tomar a decisão de lutar contra a violência.

4. A pior coisa que pode acontecer nesse momento de extrema gravidade é mantermos uma relação acrítica com esse governo, que está errando muito na área da segurança pública. Ano passado, após o massacre do Complexo do Alemão, a classe média carioca aplaudiu o secretário de segurança numa casa noturna. Aplaudiu à morte e a execução. Deu vivas a um critério de tratamento do crime que se fosse aplicado à vida de todos, deixaria essa cidade vazia, pois todos estaríamos mortos. Todos. Quem escapa dessa insanidade, associada à indiferença e maldade? Quem aqui não é em uma extensão maior ou menor cúmplice desse genocídio? Esse governo será julgado pelo justo juiz do universo caso permita mais execuções, faça vista grossa quanto aos casos de desaparecimento e não trate de libertar imediatamente os pobres que se encontram sob a ditadura imposta pelo crime organizado nas favelas do Rio de Janeiro.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

SINAIS DA PROVIDÊNCIA NA LUTA CONTRA A VIOLÊNCIA

Amigos e irmãos, quanto coisa para lhes falar! Mas, o tempo é exíguo. Muito trabalho. Trabalho difícil, espinhoso. Vejo-me sempre tendo que fazer o que não admite erro. Saudade dos livros, do silêncio da meditação e contemplação da beleza de Deus que está no Cristo crucificado. Mas, dá para sentir sua doce presença enquanto se está na rua, num quarto de CTI ou em um cemitério, lutando pela justiça.

Tenho muito o que falar sobre a ida ao CTI onde estava o menino João Roberto, o enterro, e minhas percepções sobre o momento que estamos vivendo na nossa cidade no campo da segurança pública. Sinto que o braço do Deus a quem sirvo está se movendo. As mortes vão acabar!

Amanhã irei ao Palácio Guanabara às 12h. Meu objetivo é oferecer minha vida a fim de cooperar com o governo de cuja política de segurança pública discordo. Creio que mudanças podem ocorrer. Orem por mim.

À tarde participarei de uma reunião histórica no Viva Rio. Muita gente representando setores diferentes da sociedade civil estará por lá. Inclusive parentes de vítimas. Provavelmente, o pai do menino morto no último domingo na Tijuca.

Estou lutando pela aquisição de uma área na cidade que sirva como a nossa Praça de Maio (Argentina). Ali fixaremos um marco que só será removido quando a taxa de letalidade do Rio chegar à marca de 10 assassinatos por ano para cada grupo de 100 000 pessoas (índice da ONU. Quer dizer, o que a natureza humana permite). Os números da violência ficarão permanentemente expostos a fim de manter a população informada.

Muita coisa está em curso.

Que nenhum mortal queira deter o braço forte do Deus que tem interesse pela paz do Rio de Janeiro. O mal não haverá de resistir à ação dos agentes divinos da justiça e da paz.

terça-feira, 8 de julho de 2008

O CHORO NO CARRO

Sábado passado fui acometido por uma crise de choro enquanto dirigia o meu carro. Naquele dia eu havia participado em Ipanema do protesto em razão do assassinato do jovem Daniel Duque. Pensei em tudo o que meus olhos têm visto. Quanto desespero de tantas famílias! Uma sociedade desnorteada. Mas, não sabia que o pior estava por vir.

Ontem pela manhã, eu ouvi pela internet o depoimento do Paulo Roberto, taxista, cujo filho foi morto com um tiro na cabeça, neste final de semana, no bairro da Tijuca, numa ação impressionantemente desastrada de policiais militares. Decidi ir para o hospital onde a família se encontrava para lhes falar sobre o amor de Deus. O que vi e ouvi, ontem, naquele hospital, fixou-se na minha memória para sempre.

Pude conversar longamente com o pai. Ele falou-me do dinheiro que levantara para a festinha de aniversário do filho. Chorou, chorou e chorou. Lembrou-se do protesto dos balões vermelhos na praia de Copacabana e disse algo análogo ao que já havia ouvido em outra ocasião, através do lábios de um avô que perdera a neta de 12 anos vítima de bala perdida. Em lágrimas o Paulo Roberto falou: "o meu filho foi mais uma bola". Confesso, que eu mesmo que realizei o protesto, ao ver aqueles balões, em alguns momentos, não fui capaz de acreditar que tanta gente estava para morrer. Mas, não realizamos o protesto com base em chute. É estatística. Morte anunciada. Profecia baseada em ciência. E, de lá para cá, é morte, morte e mais morte. A mãe, a quem procurei para levar uma palavra de consolação, disse que as últimas palavras que ouviu do filho dentro do carro foram: "Por que mamãe, por que mamãe?" Era a pergunta de um criança de 3 anos que, não podia entender os apelos de uma mãe aflita, a suplicar para que o filho se agachasse, a fim de salvar a sua vida.

Um pedido foi feito para que parentes, amigos e eu nos dirigíssemos para uma sala a fim de fazer uma prece. Era justamente o local onde estava o corpo do menino João Roberto que, num estado de completa inconsciência, ainda era capaz de respirar. Ao nosso olhos era uma criança dormindo. A pela lisa, o cabelo despenteado, o olho fechado. A avó rompe o silêncio e diz: "Ele está cheio de fios no seu corpo, vejam". A mãe aos prantos. O pai a dizer: "eu te amo meu filho, eu te amo". E lançou-se sobre o corpo inerte do filho.

Tomei fôlego. Pedi a palavra. E falei que era servo de Jesus, com quem tenho andado desde os meus 20 anos de idade. Disse para todos que o reino dos céus é dos pequeninos, pois Cristo disse assim na sua palavra: Deixai vir a mim os pequeninos e não os embaraceis, pois dos tais é o reino de Deus". Afirmei que quem disse isso ressuscitou numa madrugada de domingo, não pode mentir e que ao apresentar essa promessa aos homens, estava a nos ensinar, em nome do Pai que, não havia ninguém naquele CTI que amasse mais o pequeno João Roberto do que o seu Criador. Não há outra coisa a falar numa hora como essa. Um das provas de que o cristianismo é a verdade reside no fato de que ele tem a nos oferecer a mais alta consolação para a mais alta tragédia.

Liguei ontem à noite, em meio a minha tristeza e perplexidade, para um dos assessores mais próximos do governador. Disse-lhe que a população que apoiava a política de confronto está começando a perceber que ela não tem feito diminuir o número de homicídios e tem representado a morte de vidas inocentes. O povo pode se voltar contra o governo. Mas, disse-lhe: " o povo precisa do governo" , portanto, precisamos nos unir para enfrentarmos o poder da perversidade no nosso estado.

Hoje à tarde estarei no Palácio Guanabara a fim de cooperar com o governo de cuja política de segurança pública discordo. Mas que é o governo do meu estado, governo que pode mudar. Mudar a fim de que numa parceira histórica com o todo da população possa dar um fim aos assassinatos de milhares, entre os quais, os muitos Jãozinhos.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

A ENTREGA DO MANIFESTO AO GOVERNADOR


Ontem foi um dia importante. Cumprimos uma antiga promessa. A promessa de levarmos à maior autoridade do nosso estado, o Manifesto pela Redução de Homicídio no Brasil. Tudo foi assim:

Na segunda-feira, uma jornalista do Globo ligou para mim, desejosa de saber se faríamos algum ato público, em razão da morte do Daniel Duque, o jovem de 18 anos que foi morto, num tiro a queima-roupa, dado por um policial militar, que fazia a segurança do filho de uma promotora pública. Disse para ela, em tom informal, que estávamos pensando em realizar algo sim, em frente ao Palácio Guanabara. Ainda falei da nossa intenção de irmos à sede da ONU em Nova Iorque, caso nossos clamores pelo término da violência não fossem atendidos. Pela graça divina, já temos gente nos Estados Unidos disposta a nos ajudar e a promessa de uma correspondente de uma agência internacional de notícia que cobre o Brasil de mobilizar a imprensa nos Estados Unidos a fim de que haja uma boa cobertura. Creio, que não será difícil também sermos recebidos na ONU, em razão do relacionamento iniciado ano passado na organização dos fóruns sobre violência, e, o fato indiscutível, que a nossa causa é justa e baseada em dados irrefutáveis.

Pois bem, o que aconteceu, é que aquela conversa virou uma reportagem que ganhou destaque numa parte nobre do caderno Rio do referido jornal. Resultado: das seis e uns quebrados da manhã em diante meu telefone não parou de tocar com toda a mídia querendo saber se faríamos o protesto. Em seguida, recebi um telefonema da mãe do jovem assassinado em Ipanema e a convidei para que estivesse conosco no protesto. Como uns dos nossos sonhos é o de unir a cidade partida, liguei para o meu amigo Jorginho, ex-jogador de futebol e assessor do técnico Dunga na seleção de futebol, para que ele representasse Guadalupe nesse ato público, pois o Jorginho é de lá e justamente naquela região houve o crime bárbaro envolvendo a vida do menino Ramón de 6 anos, que morreu vítima de um tiro na cabeça desferido por um policial militar. O Jorginho fez algo mais importante, por não poder estar presente em razão de compromissos pessoais já agendados, conseguiu enviar a tia do menino e um representante do Bola pra Frente que trabalha na comunidade.

Confesso que não deu tempo nem de tomar banho. Saí correndo para o Palácio, mas não sem antes organizar com os voluntários cada etapa do protesto e redigir o release que enviamos para todos os orgãos de imprensa. Cheguei em cima do laço. Graças a Deus ao mesmo tempo em que chegaram nossos voluntários e a imprensa. Fixamos os dois balões, estendemos as faixas, a mãe do Daniel e a tia do Ramón se abraçaram em meio as lágrimas, e, subitamente, veio o convite para que converssássemos com o governador que, de modo gentil nos recebeu.

Ele ouviu os parentes em primeiro lugar. Escutou atentamente o relato de ambos. Em meio a conversa, ligou para o Comandante Geral da Polícia Militar, pedindo apuração rigorosa dos crimes e lamentando os erros que têm sido cometidos por alguns policiais militares. Crimes que podem jogar a população, segundo ele, contra o governo. Pude ver o quanto ele se mostrou ansioso por poder ver a polícia passando por um processo de humanização.

O que lhe falei? Pensei, não vou perder tempo. Tratarei de falar o que um profeta do Antigo Testamento falaria se estivesse no meu lugar. Falei-lhe sobre o que me levou ao envolvimento com essa causa. Ele perguntou se eu era parente de vítima, e, pela graça divina, pude dizer-lhe que não. Falei da indignação inicial da qual fui acometido no dia 28 de Dezembro de 2006, ocasião em que o crime organizado matou 19 pessoas em pontos diferentes da cidade. Disse-lhe que a raiva inicial deu lugar ao sentimento de compaixão pelos parentes das vítimas, por causa do contato com essa gente e presença em cerimônias fúnebres de pessoas assassinadas, o que o levou a dizer que considera o nosso trabalho muito bonito.

Não pude deixar de tocar nos casos de desaparecimento (4633 ano passado) e na suspeita de que 70% resultam de homicídio. Deplorei as execuções das quais temos tido notícia. Disse-lhe que não é certo matar quando se pode prender. Entreguei-lhe o manifesto. Fiz um breve comentário sobre a origem do seu conteúdo, resultado de muita conversa com o que temos de melhor na nossa cidade em termos de conhecimento sobre segurança pública.

Ressaltei o fato de que não sou contra o seu governo e que muito embora não concorde com tudo o que ele faz, torço pelo seu sucesso, pois suas vitórias reais são a vitória nossa e dos nossos filhos. Disse-lhe que estava empenhado para que ele tivesse respaldo popular a fim de dar fim a violência no Rio de Janeiro. Ele pediu ajuda para a realização de um trabalho visando a humanização da polícia militar. Comentei que não sou contra a repressão e que a polícia dever cumprir o seu trabalho de combater a violência, mas não da forma como muitas vezes é feita. Estavam ali na mesa pessoas que perderam parentes queridos por força da ação equivocada de policiais militares.

Já próximos da porta, pude afirmar que a morte iminente de 4000 seres humanos no nosso estado é inaceitável e que algo deveria ser feito para salvá-los. Disse-lhe que o governo federal tem sua parcela de responsabilidade e que em breve estaremos em Brasília montando um cemitério, na Esplanada dos Ministérios, referente à morte anual de 50000 brasileiros.

Espero em Deus que esse encontro represente a salvação de milhares de vidas preciosas. Essa é a minha oração. Não tenho a mínima esperança de que a violência no Rio de Janeiro cesse sem uma intervenção divina através de agentes humanos da justiça.

terça-feira, 1 de julho de 2008

DANIEL (18) - RAMÓN (6): COMO FICAR CALADO?





POR CRISTO E PARA A GLÓRIA DO PAI






Realmente não tenho conseguido parar para escrever e gravar novos vídeos. Que dias! Semana passada virei a noite de quinta para sexta em razão do protesto. Quanta luta! Será que chove? Tudo ficará pronto a tempo? Haverá cobertura da mídia dessa vez? Seremos bem compreendidos nesse protesto? Saberei defender a causa da justiça com sabedoria e verdade? De repente, uma ventania. A impressão que dava era a de que todos os balões se levantariam antes de a imprensa chegar. Alguns escapam voando, mas a maioria fica. Aí, dezenas de entrevistas. Temas muito espinhosos.


Termino o protesto e vou para a casa dormir. Descanso um pouco e me dirijo para um encontro de jovens cristãos evangélicos de Niterói a fim de pregar. Saio de lá meia noite. Muita gente querendo se juntar ao Rio de Paz.

Vem o Sábado. Tomo o avião para São Paulo. Passo a noite do mesmo dia com o pastor que pregou no retiro em que me converti. Que homem amável. Um em um milhão. É o pastor Carlos Alberto Quadros Bezerra. Sua presença santificou minha vida. Vem o domingo e prego manhã e noite em sua igreja, a Comunidade da Graça. Dois auditórios diferentes e lotados. Dois encontros inesquecíveis.

Pego o avião segunda de manhã. Chego ao Rio. No caminho de casa procuro consolar por telefone a tia do jovem que fora assassinado em Ipanema por um policial militar. Choro, choro e choro. Família arrasada. Chego em casa. Almoço e logo após dou uma entrevista para o Globo. Parto em seguida para a Rede Globo a fim de tratar do envolvimento da emissora na luta contra a violência no Brasil. Saio feliz da reunião. Gente de peso disposta a ajudar sem pedir nada em troca.

Chego em casa e trato de preparar tudo para o protesto de amanhã no Palácio Guanabara. Dois balões vermelhos com uma cruz preta bem no meio simbolizando a morte de um jovem e uma criança de 6 anos. Ambos assassinados. Agora, a faixa que levamos para Copacabana sofrerá uma pequena alteração. Em vez de " Os 4000 que estão para morrer", escreveremos: "Os 3998 que estão para morrer: quem os salvará?". Porque dois já se foram.

Por que tudo isso? Porque creio na dignidade da vida humana, porque Deus pode nos dar vitória nas ocasiões em que oferecemos nossos corpos a ele para a promoção da justiça, e, acima de tudo, por Cristo, meu Senhor e Salvador, que me ensinou a viver para a glória do Pai.