A CIÊNCIA MAIS SUBLIME
Certamente Deus não usa problemas particulares que enfrentamos a fim de nos levar aos seus pés por um prazer sádico de nos ver humilhados. Não se trata de nenhum desejo de auto-afirmação sobre aqueles que ele mesmo criou.
Nenhum ser humano pode acrescentar glória ao ser de Deus. Deus independe de tudo e todos para amar e ser feliz: “Quem, pois, conheceu a mente do nosso Senhor? Ou quem foi seu conselheiro? Ou quem primeiro lhe deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele e por meio dele e pare ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém”. Muito menos podemos aceitar a idéia de que Deus esteja em busca de um amor capaz apenas de buscá-lo em face da realidade da privação. Ele é suficientemente excelente para que os homens dele se aproximem pelo simples prazer de estar na sua presença. Como dizia Jonathan Edwards: “Os santos preferem o que eles já têm de Deus do que qualquer coisa do mundo... as visões que as vezes são dadas a eles da beleza e excelência de Deus são mais preciosas para eles do que todos os tesouros dos ímpios”.
O que podemos admitir é que Deus pode começar com o nosso egoísmo e terminar com o amor interessado acima de tudo na contemplação da sua beleza. É legítimo Deus usar as preocupações humanas a fim de que nos aproximemos do seu ser. Essa é a essência do amor aplicado com sabedoria: levar o objeto desse mesmo amor ao seu fim mais excelso pela via do caminho mais sábio. Nesse sentido, Deus revela sua infinita sabedoria ao usar nossas frustrações para que o busquemos em oração.
Tudo o que ele quer é que o tenhamos. Para que o tenhamos é necessário que o conheçamos. Para que o conheçamos é fundamental que busquemos a sua presença. A oração é a principal avenida para o conhecimento de Deus. Essa é a razão pela qual Deus cria no espírito humano esse senso de dependência absoluta a fim de que o homem o procure, e, em o procurando, encontre não apenas aquilo deseja, mas conheça o próprio Deus. Como foi levado a dizer num dos seus sermões o grande pregador inglês Charles Spurgeon:
“Nada é melhor para o desenvolvimento da mente do que a contemplação da divindade. Trata-se de um assunto tão vasto, que todos os pensamentos se perdem na sua imensidão; tão profundo que nosso orgulho desaparece em sua infinitude. Podemos compreender e aprender muitos outros temas; derivando deles uma certa satisfação pessoal e pensando enquanto seguimos o nosso caminho: “Olhe, sou sábio”. Mas, quando chegamos a essa ciência superior e descobrimos que nosso fio de prumo não consegue sondar sua profundidade e os nossos olhos de águia não podem ver sua altura, nos afastamos pensando que o homem vaidoso pode ser sábio, mas não passa de um potro selvagem; exclamando então solenemente: “Nasci ontem e nada sei”. Nenhum tema contemplativo tende a humilhar mais a mente do que os pensamentos sobre Deus.
Ao mesmo tempo porém que este assunto humilha a mente, ele também a expande.
Aquele que pensa com freqüência em Deus, terá a mente mais aberta do que alguém que apenas caminha penosamente por este estreito globo... o melhor estudo para expandir a mente é a ciência de Cristo, e Este crucificado, e o conhecimento da divindade na gloriosa Trindade. Nada alargará mais o intelecto, nada expandirá mais a alma do homem do que a investigação dedicada, ansiosa e contínua do grande tema da divindade.
Ao mesmo tempo que humilha e expande, este assunto é eminentemente consolador. Na contemplação de Cristo existe um bálsamo para cada ferida; na meditação sobre o Pai, há consolo para todas as tristezas, e na influência do Espírito Santo alívio para todas as mágoas. Você quer esquecer a sua tristeza? Quer livrar-se dos seus cuidados? Então, vá, atire-se no mais profundo mar da divindade de Deus; perca-se na sua imensidão, e sairá dele completamente refrescado e revigorado. Não conheço coisa que possa confortar mais a alma, acalmar as ondas de tristeza e da mágoa, pacificar os ventos da provação do que uma meditação piedosa a respeito da divindade. É para esse assunto que chamo a atenção nessa manhã..."
Conhecer a Deus, amá-lo com um amor santo e puro, é seu principal alvo para seres que, devido a constituição do seu próprio ser, não se satisfazem com nada que esteja aquém da contemplação da beleza perfeita. Lá está o homem, portanto, prostrado, plenamente cônscio da sua limitação, a suplicar a ajuda de um outro – o seu Criador. Um diálogo é estabelecido, um contato é feito e a fonte de toda a dádiva é conhecida. Ana, orando, conheceu a Deus numa medida em que até então não conhecia. Sua oração resultou de um anelo legítimo não cumprido. O anseio consciente do coração pode levar o que ora a encontrar aquilo que não estava procurando e que de tanto carecia – o próprio Deus.
Extraído do livro que estou nesse momento rescrevendo: Enquanto o Sonho Não Nasce: Por que Deus Adia a Realização dos Nossos Sonhos?
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