OS ATAQUES DE TRISTEZA
Esses últimos 30 dias têm representado para mim o convívio com a tristeza.É claro, houve momentos de intensa gratidão a Deus. Os protestos de Recife e do Aterro do Flamengo foram um sucesso sob todos os aspectos. A presença de centenas de irmãos na fé, na Praia da Boa Viagem, trabalhando até as 3h da manhã para montar a imagem de um campo de batalha, e a cobertura da imprensa pernambucana dando-nos a primeira página dos principais jornais do estado, foram motivos de alegria e esperança. Ver a igreja da qual eu sou pastor ficando 2000 cruzes durante toda uma noite, em lugar perigoso, tanto do ponto de vista da segurança pública quanto do ponto de vista do trânsito, dando ensejo a criação de uma imagem que retrata o cenário de barbárie que se estabeleceu em um estado, e tudo isto ganhando ampla cobertura da nossa imprensa, inclusive dos canais de televisão CNN e BBC, foi também motivo de gratidão a Deus. Fora as respostas às orações, o senso de perdão de pecados e a certeza de que minha vida se vê hoje envolvida em algo bonito - a luta pela vida e a justiça, usando as armas da fé, da razão, da lei, da criatividade e da compaixão.
O que me arrasa, levando-me a ver tudo com um senso de irrealidade, inclusive a vida das nossas próprias igrejas, são as mortes por assassinato que acontecem perante os olhos de uma população que não chora e se compadece.
A morte do William Marins de 19 anos apenas, e a dor vivida por tantos irmãos na fé, especialmente seus pais, permanecem na minha memória, como lembrança de um sofrimento que eu não sei como faria para administrar na minha frágil vida.
Ontem fui mais uma vez para a Cinelândia. Discursei, discursei e discursei. Passei antes pelo quartel general da Polícia Militar do Rio de Janeiro e entreguei uma carta ao comando geral de repúdio à morte de uma irmão na fé, executado fria e cruelmente por policiais militares.
Sinto-me pregando para um vale de ossos secos, mas sem o sopro divino agindo sobre os cadáveres. Por que a igreja continua calada? Por que amigos próximos continuam inertes? Por que faço contato com pastores, explico o caso: "um irmão na fé foi executado!" E nada.
Então eu oro: " Deus, chegamos ao tempo do cumprimento da profecia que diz que no final dos tempos o amor de muitos esfriará? Pai, não permita que eu e os que amo percam a humanidade porque a destruição do homem pelo homem se tornou comum".
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