sábado, 31 de maio de 2008

A CIDADE NÃO MAIS DIVIDIDA





Na semana passada o Rio de Paz foi para as ruas por motivos opostos. Na segunda-feira protestamos, nas escadarias da câmara municipal, contra o assassinato, praticado por policiais militares, de um rapaz de 19 anos, evangélico, pobre, morador de Bangu. Na quarta-feira protestamos contra o assassinato, praticado por marginais sem farda, de um senhor de 85 anos de idade, judeu, rico, morador do Leblon.

O que há em comum entre ambos os episódios? Ambos tratavam-se de vidas preciosas. Ambos foram cruelmente mortos. Ambos deixaram para trás parentes inconsoláveis. O Rio de Paz está agora preparando uma passeata com todas essas pessoas juntas. A comunidade judaica e a comunidade evangélica. Ricos e pobres. Todos encontrando forças em meio à dor para impedir que tamanho sofrimento não aconteça na vida de outros.

Fico feliz de haver abraçado essa causa. Não consigo mais ser ministro do evangelho dentro de quatro paredes. Quero continuar pregando o evangelho (o que jamais deixei de fazer, apesar de estar envolvido em tantas frentes de batalha) na minha igreja e nas igrejas do país que têm me convidado para o exercício da tarefa que mais amo: anunciar a graça de Deus que está em Cristo. Mas, esse evangelho que prego gera homens novos. Homens novos têm fome e sede de justiça.

quarta-feira, 28 de maio de 2008

CARTA QUE O RIO DE PAZ ENTREGOU AO COMANDO GERAL DA POLÍCIA MILITAR DO RIO

Rio de Janeiro, 26 de maio de 2008.

Coronel Gilson Pitta Lopes
Comandante Geral da Polícia Militar
do Estado do Rio de Janeiro

Senhor Comandante Geral,

O Rio de Paz, entidade sem fins lucrativos que vem buscando contribuir para a redução de homicídios no país, vem à presença de Vossa Senhoria para expor e protestar acerca dos seguintes fatos, que são do seu conhecimento.

No último dia 18 de maio, o jovem Willian de Souza Marins, de 19 anos, foi vítima de homicídio doloso cometido por policiais do Grupamento Ações Táticas (GAT) do 14º BPM, de Bangu.

O crime ocorreu em uma localidade próxima à casa em que vivia com seus pais e irmão, em uma área de moradias populares conhecida como Favela do 48, em Bangu.

Supostamente confundido com um criminoso em fuga, ele foi executado a sangue-frio por agentes do poder público fardados encarregados de fazer cumprir a lei e de proteger a sociedade.

A família do rapaz - revoltada e desesperada - afirma ter à disposição da Justiça testemunhas que relataram ter visto Willian ser baleado na perna, ficar sentado ao chão por minutos, falando aos policiais, e a seguir ser executado sem piedade por esses integrantes do 14º BPM. Essas mesmas testemunhas ouviram os PMs interrogarem violentamente o rapaz que, baleado e caído, durante todo o tempo negou qualquer ligação com o tráfico de drogas. Os policiais não aceitaram suas explicações ou os pedidos de misericórdia.

Em alguns minutos o jovem foi detido, julgado e condenado à morte por um pelotão de fuzilamento da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, que a sociedade mantém para protegê-la garantindo o cumprimento da lei. Contrariando todos os princípios constitucionais que regem o país, e o ordenamento internacional referente à dignidade da pessoa humana, aos quais todas as instituições do Estado estão obrigadas.

Os policiais do 14º BPM que praticaram esse homicídio tentaram legitimá-lo através do muito conhecido ardil de incriminar a vítima, colocando em suas mãos armas e drogas que já levam consigo, com esse e com outros propósitos. Estudos e relatos da mídia e de familiares de vítimas têm revelado detalhes da repetição dessa patética fraude ao longo de décadas, levando o Brasil a responder pelo mais alto índice mundial de execuções sumárias por parte de suas Polícias. Quase todas tolerantemente impunes.

Em incursões em comunidades carentes o teatro se repete: todos são culpados e a lei inexiste. Os abusos e crimes são qualificados como autos de resistência. Ninguém acredita, sobretudo policiais e seus chefes superiores, que conhecem bem o que se passa. Estou certo de que o senhor também não acredita nesse tipo de farsa.

Por meio deste documento, quero testemunhar perante este Comando que, diferentemente do que alegaram os policiais militares em questão, como declararam na ocorrência registrada na 34ª DP de Bangu, nº 034-04833/2008, onde sua versão foi pacificamente aceita, Willian não tem e nunca teve qualquer envolvimento com o crime.

Sua idoneidade moral é atestada não apenas pela família, como pela vizinhança, por amigos e pastores evangélicos que conviviam com ele na Igreja Presbiteriana onde congregava. Ele era um jovem honesto, querido, religioso praticante, e que fazia parte de um grupo de música Gospel.

Diante dos inequívocos fatos acima expostos, o movimento Rio de Paz – que em sua luta pela mobilização da sociedade brasileira pela redução de homicídios, tem apoiando o trabalho sério das Polícias – vem solicitar de Vossa Senhoria, como o Comandante Geral da Polícia Militar, os seguintes pontos:

1) Agilidade e transparência na apuração dos fatos;
2) Garantia de preservação da integridade física e moral das testemunhas dos fatos narrados acima, assim como de parentes e amigos da vítima;
3) Proteção contra ameaças e retaliações a moradores, religiosos e comerciantes da Favela do 48, em Bangu;
4) Determinação à Corregedoria da Polícia Militar e à Corregedoria-Geral Unificada de trabalho de investigação isenta e técnica, que resulte em rápida elucidação do homicídio, para que os responsáveis sejam afastados das ruas e entregues à Justiça criminal.

Acreditamos, sinceramente, que as providências acima vão permitir que seja feita justiça; para que seja demonstrado e preservado o comando hierárquico iniciado na Constituição em vigor; para salvaguardar a honra dos profissionais que formam a corporação Polícia Militar do Estado do Rio.

Uma instituição com 199 anos de história, criada para proteger toda a sociedade, não pode se render à vergonha imposta por alguns - à força, dentro e fora da corporação.

Coronel Pita, em sua honrosa carreira – tal como na minha – não é a primeira vez, e, desgraçadamente, não será a última vez que vemos fatos revoltantes como esses repetidos e repetidos.

Eu e Vossa Senhoria não conseguiríamos mudar o mundo. Mas temos um trabalho público a realizar, e esse trabalho inclui repudiar o injusto, exigir liberdade de consciência e arbítrio para fazer opções e lutar pela prevalência da lei.

Em razão desses compromissos inerentes às nossas funções, peço que se empenhe corajosamente por uma investigação profissional do bárbaro homicídio praticado por um de seus homens.





Antonio Carlos Costa
Presidente do Rio de Paz

terça-feira, 27 de maio de 2008

DANDO VOZ A QUEM NÃO TEM VOZ

----- Mensagem encaminhada -----
De: "RIO DE PAZ"
Para:
Assunto: RIO DE PAZ: Manifesto
Data: Thu, 22 May 2008 15:10:06 -0300


Obrigado pela sua participação. Você acaba de
contribuir
para o combate do problema social mais grave do presente
momento da história do nosso país: a morte por
assassinato
de milhares de cidadãos brasileiros.

Para que o mal o mal triunfe, é necessário apenas que os
homens de bem permaneçam inativos. ˜ Edmund Burke.

Nome: MICHELE MARIA MARQUES DE ARAUJO
Tipo Doc.: IDENTIDADE
Atividade: RECEPCIONISTA/SAÚDE
Cidade: RIO DE JANEIRO - RJ
País: BRASIL

Comentários: ESTOU ESTREMAMENTE
INDIGNADA COM A VIOLÊNCIA EM NOSSO PAÍS, ACABEI DE
PERDER UM
GRANDE AMIGO E COMPANHEIRO DE ATIVIDADES DE ADORAÇÕES AO
SENHOR JESUS. PRA QUE SERVE A POLÍCIA, PARA ACABAR COM A
BANDIDAGEM E PROTEGER A POPULAÇÃO OU PARA DESTRUIR O
SONHO E
A VONTADE DE VIVER DE PESSOAS INOCENTES? ISSO É UMA
COVARDIA
!!! TEMOS QUE ACABAR COM ISSO...!!!

CARTA DE UM MAIS QUE AMIGO DO WILLIAM

Para que o mal o mal triunfe, é necessário apenas que os
homens de bem permaneçam inativos. ˜ Edmund Burke.

Nome: MAGNO DE SOUZA BARBOSA
Tipo Doc.: IDENTIDADE
Atividade: DESEMPREGADO
Cidade: Rio de Janeiro - RJ
País: BRASIL

Comentários: PERDI MAIS QUE UM AMIGO, UM IRMãO.
MENTIRAS
FORAM DITA SUJANDO O NOME DELE, PALAVRAS NO QUAL FORAM PARA
A MíDIA E MUITOS AO LEREM ACHARAM COISAS QUE MEU
IRMÃO NÃO ERA E SIM UM MÚSICO DE CRISTO... BUSCO PELA
JUSTIÃÇA
PORQUE UM JOVEM Q LOUVAVA A DEUS SER CHAMADO DE TRAFICANTE E
AINDA COLOCAREM OBJETOS NO QUAL ELE NUNCA SEGUROU COMO ARMAS
, ISSO é UMA INJUSTIÇA E TUDO ISSO TEM QUE SER
DESFEITO.

CARTA DE UM AMIGO DO WILLIAM

Para que o mal o mal triunfe, é necessário apenas que os
homens de bem permaneçam inativos. ˜ Edmund Burke.

Nome: CARLOS FERNANDO SANTOS DA ROCHA
Tipo Doc.: IDENTIDADE
Atividade: PROFESSOR
Cidade: RIO DE JANEIRO - RJ
País: BRASIL

Comentários: HOJE ESTAMOS TRISTES PELA MORTE DO
NOSSO SABIÁ, DO NOSSO WILLIAN SABIÁ. MORTO VIOLENTAMENTE
POR
POLICIAIS AQUI EM BANGU NO RIO DE JANEIRO. QUANTOS WILLIANS
AINDA MORRERÃO? DISSERAM QUE ELE PORTAVA MOCHILA COM
ARMAS,
DROGAS E DINHEIRO. A ÚNICA ARMA QUE O WILLIAN PORTAVA ERA
A
PALAVRA DE DEUS E SUA GUERRA, ERA CONTRA A MALDADE. NÃO
VAMOS DEIXAR QUE MAIS ESSA MORTE FIQUE IMPUNE.

A TRAGÉDIA QUE NÃO TEM POUPADO A IGREJA: CARTA DO PAI DE UMA ADOLESCENTE CRENTE

Nome: LUIS CARLOS DE MELO SAMPAIO
Tipo Doc.: IDENTIDADE
Atividade: GUARDA MUNICIPAL
Cidade: RIO DE JANEIRO - RJ
País: BRASIL
DESEJO QUE ESTE MANIFESTO TENHA
SUCESSO CHEGANDO AS AUTORIDADES COMPETENTES, PARA QUE SEJA
FEITO ALGO POIS NÃO QUERO PASSAR POR OUTRO TRAUMA ONDE
VIDAS
DE INOCENTES SERVOS DO SENHOR ESTÃO MORRENDO POR PESSOAS
QUE
TEM A OBRIGAÇÃO DE PROTEGER ELES ESTÃO MATANDO.
RECENTEMENTE
PASSEI POR UMA SITUAÇÃO QUE JAMAIS GOSTARIA DE PASSAR O
NAMORADO DA MINHA FILHA UM JOVEM E CANTOR GOSPEL FOI
BRUTAMENTE EXECUTADO PELA POLICIA. MAS DEUS ATRAVES DO SEU
ESPIRITO SANTO NOS CONFORTA E COM CERTEZA A MINHA FILHA VAI
SUPERAR POIS ELA TEM JESUS.

CARTA DA NAMORADA DO WILLIAM. LUIZE RAIANE, 15 ANOS

Nome: LUIZE RAIANE MIRANDA SAMPAIO
Tipo Doc.:
Documento:
Atividade:
Cidade: Rio de Janeiro - RJ
País: BRASIL

SOU NAMORADA DE UM JOVEN CHAMADO WILLIAN MARINS QUE FOI MORTO TRÁGICAMENTE
POR POLICÍAIS INCOPETENTES.ESTOU MUITO INDIGUINADA COMISSO,ALÉM
DE MATAR ELE O ACUSARAM DE TRAFICANTE,UMA COISA QUE JAMAIS
ELE SERIA.UM RAPAZ BOM,TEMENTE A DEUS E ADORAVA CANTAR
LOUVORES A ELE!! SEI QUE O MEU TEMPO NÃO É O TEMPO DE
DEUS
,MAIS SE FOI DEUS QUE ME DEU O WILLIAN ELE MESMO PODE
TIRA-LO DE MIM!!! MAIS QUE A JUSTIÇA SEJA FEITA!ASSIM COMO
FOI MEU NAMORADO PODERIA SER OUTRA PESSOA QUERIDA CAINDO NAS
MÃOS DE POLICIAIS INCAPACITADOS!!! APOIO O RIO DE PAZ E
PODEM CONTAR COMIGO PARA O QUE DER E VIER!! QUE A JUSTIÇA
SEJA FEITA!!!

ONTEM À NOITE, NA CINELÂNDIA - O VERDADEIRO ATO PROFÉTICO

OS ATAQUES DE TRISTEZA

Esses últimos 30 dias têm representado para mim o convívio com a tristeza.É claro, houve momentos de intensa gratidão a Deus. Os protestos de Recife e do Aterro do Flamengo foram um sucesso sob todos os aspectos. A presença de centenas de irmãos na fé, na Praia da Boa Viagem, trabalhando até as 3h da manhã para montar a imagem de um campo de batalha, e a cobertura da imprensa pernambucana dando-nos a primeira página dos principais jornais do estado, foram motivos de alegria e esperança. Ver a igreja da qual eu sou pastor ficando 2000 cruzes durante toda uma noite, em lugar perigoso, tanto do ponto de vista da segurança pública quanto do ponto de vista do trânsito, dando ensejo a criação de uma imagem que retrata o cenário de barbárie que se estabeleceu em um estado, e tudo isto ganhando ampla cobertura da nossa imprensa, inclusive dos canais de televisão CNN e BBC, foi também motivo de gratidão a Deus. Fora as respostas às orações, o senso de perdão de pecados e a certeza de que minha vida se vê hoje envolvida em algo bonito - a luta pela vida e a justiça, usando as armas da fé, da razão, da lei, da criatividade e da compaixão.

O que me arrasa, levando-me a ver tudo com um senso de irrealidade, inclusive a vida das nossas próprias igrejas, são as mortes por assassinato que acontecem perante os olhos de uma população que não chora e se compadece.

A morte do William Marins de 19 anos apenas, e a dor vivida por tantos irmãos na fé, especialmente seus pais, permanecem na minha memória, como lembrança de um sofrimento que eu não sei como faria para administrar na minha frágil vida.

Ontem fui mais uma vez para a Cinelândia. Discursei, discursei e discursei. Passei antes pelo quartel general da Polícia Militar do Rio de Janeiro e entreguei uma carta ao comando geral de repúdio à morte de uma irmão na fé, executado fria e cruelmente por policiais militares.

Sinto-me pregando para um vale de ossos secos, mas sem o sopro divino agindo sobre os cadáveres. Por que a igreja continua calada? Por que amigos próximos continuam inertes? Por que faço contato com pastores, explico o caso: "um irmão na fé foi executado!" E nada.

Então eu oro: " Deus, chegamos ao tempo do cumprimento da profecia que diz que no final dos tempos o amor de muitos esfriará? Pai, não permita que eu e os que amo percam a humanidade porque a destruição do homem pelo homem se tornou comum".

A EXECUÇÃO DO SABIÁ DE DEUS - POR JORGE ANTONIO BARROS

Aqui vai o post que o grande jornalista de O Globo acabou de emitir pelo seu blog.

VIOLÊNCIA POLICIAL
Um canto de esperança para resgatar a memória de Sabiá
Depois de prestar seu depoimento em solidariedade ao amigo assassinado por PMs, o jovem ficou paralisado num canto, acuado, e sequer se animou a cantar em homenagem ao ex-companheiro de banda. Eu me aproximei dele suavemente. E perguntei o que estava acontecendo.

"Estou com medo e preocupado, acho que não devia falar nada porque os PMs estão ali, nos olhando", disse o jovem, como se estivesse fazendo algo errado.

Os PMs que estavam ali nos olhando não eram os que haviam praticado o ato criminoso, que impiedosamente matou o dono de uma voz maravilhosa, que amava os cânticos de louvor e tinha o doce apelido de Sabiá - Willian de Souza Marins, 19 anos, que foi preso, julgado e condenado à morte por dois policiais do 14o BPM (Bangu).

Tranqüilizei o rapaz e, ao final da manifestação de protesto contra a morte de Willian, agora à noite, na Cinelândia, propus ao líder do movimento Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, que fôssemos até os PMs que montavam guarda na praça para cumprimentá-los.

"Esquecemos de agradecer durante a manifestação que vocês estavam aqui também para nos proteger", disse ao sargento, chefe da guarnição, acompanhado de um cabo. Eles perceberam que falávamos sério, foram cordiais, disseram compreender sem qualquer problema o teor do ato público de protesto que reuniu cerca de 150 pessoas nas escadarias da Câmara de Vereadores do Rio.

Um oficial da PM, à paisana, que acompanhava a manifestação à distância, reconheceu que poucas vezes em sua carreira viu uma manifestação de protesto contra atos criminosos de policiais e não contra toda a polícia. O que assistimos agora à noite na Cinelândia foi uma manifestação não apenas de solidariedade aos parentes e amigos da vítima, mas um ato de profunda pedagogia no cenário da guerra não convencional que vivemos nesta cidade, em que diariamente tombam inocentes e culpados. A pedagogia que precisamos aprender, sobretudo na área da segurança pública: a busca constante do diálogo por mais grave que seja uma situação de conflito.

A julgar pelos depoimentos de pastores, líderes comunitários e amigos da vítima, o jovem era mesmo inocente. Chorando, sua mãe, d. Sandra, lembrou que sempre lhe recomendava que não deixasse de levar documentos para apresentá-los no caso de uma abordagem policial. Dessa vez a identidade de Willian serviu apenas para evitar que ele fosse sepultado numa cova rasa de um cemitério de indigentes, sem identificação. Ele foi morto num domingo e seu corpo, porém, só apareceu no dia seguinte no Instituto Médico Legal, onde seu pai, foi reconhecê-lo.

A pedagogia da mobilização para o protesto contra a morte de Willian se viu também num raro encontro entre a cúpula da Polícia Militar com integrantes de uma comissão formada pelo Rio de Paz, Viva Rio, OAB e parentes e amigos do rapaz, ontem à tarde, no auditório do quartel-general da PM. O chefe de gabinete do comandante-geral, coronel Gilson Pitta, o coronel Braga, ouviu a todos com atenção e se prontificou a tomar as providências necessárias para a apuração do caso. Ele estava acompanhado do comandante do 14o BPM, coronel Da Silva, superior dos policiais envolvidos no episódio.

Os oficiais da PM receberam uma carta, na qual o presidente do Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, pede que o caso seja investigado com total isenção e rapidez e os policiais acusados sejam afastados e punidos, e as testemunhas do caso tenham garantida sua integridade física e moral.

Durante o ato realizado nas escadarias da Câmara, amigos e parentes vestidos de preto - em sinal de luto - exibiram faixas e juntos recitaram o Pai Nosso, a oração universal, puxada pelo pastor Ebenézer, da Assembléia de Deus, de uma das comunidades pobres também marcadas pela violência. Como integrante da manifestação, senti que não era apenas mais um grito no vazio, mas um cântico de esperança de que seja feita justiça à morte de Sabiá.

sábado, 24 de maio de 2008

ATO PÚBLICO NA CINELÂNDIA: O SANGUE DE UM JUSTO ESTÁ CLAMANDO

Veja o texto do jornalista Jorge Antonio Barros do jornal O Globo. Por favor, leia com atenção e participe.

BARBÁRIE
Um inocente é preso, julgado e condenado à morte por PMs
Na época da ditadura os jornais publicavam pequenas notas de pé de página informando ou desinformando que um jovem "subversivo" havia morrido atropelado em fuga, perseguido por agentes da repressão política*. Os jornais não faziam por mal, mas não era nada disso. A informação era divulgada pelos órgãos de segurança que agiam em conssonância com o que se passava nos porões do regime militar, em que o militante político era torturado até a morte e entrava automaticamente para as estatísticas de atopelamento.

Os tempos sombrios de violência que vivemos - tanto por parte dos criminosos como por parte de maus elementos do aparelho policial - nos levam de volta ao passado.

Os jornais de hoje também publicam notas de pés de página afirmando que mais um traficante foi morto em tiroteio com a polícia. E, na grande maioria das vezes, aplaudimos a ação enérgica da polícia porque afinal alguém está tomando alguma providência contra o crime encastelado nas áreas pobres da cidade. Não resta dúvida de que a ação policial, mesmo por meio de operações mal planejadas, é fundamental para mostrar a presença do Estado (poder público) em áreas dominadas pelos foras-da-lei de todo tipo. Mas nem sempre o que se lê numa nota de jornal é a expressão mais pura da verdade.

Assim como ocorria no regime militar, os órgãos de segurança de hoje são rápidos e eficientes para divulgar sua versão à imprensa e os meios de comunicação muitas vezes lentos ou ineficientes para desmontá-la.

Cada vez mais policiais bandidos estão forjando apreensões de armas e drogas para justificar suas execuções.

É o que se pode concluir do Caso Willian (Willian de Souza Marins, de 19 anos) que foi executado com a pecha de traficante, mas ninguém duvida de que sua idoneidade moral era exemplar.

Mesmo assim ele foi preso, julgado e condenado à morte por policiais do Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 14o Batalhão da Polícia Militar (Bangu), na tarde do domingo passado, dia 18 de maio de 2008. E para justificar sua morte, os policiais colocaram arma, granada e drogas na mochila dele. Há testemunhas que viram isso, mas temem serem também assassinadas.

Seu corpo só foi aparecer segunda-feira no Instituto Médico-Legal. Willian era um jovem dedicado à fé evangélica e a música cristã. Nunca teve passagem pela polícia e nem sequer qualquer envolvimento com o crime. E foi morto duas vezes de uma vez só.

Rio de Paz faz manifestação contra a morte de inocente

Para impedir que o caso de Willian seja mais um a entrar para as estatísticas como um auto de resistência (morte em suposto confronto com a polícia), quando na verdade ele foi covardemente executado por
agentes do Estado, o movimento Rio de Paz apóia a família e amigos do rapaz e convida a sociedade fluminense a participar de um ato público de protesto contra o crime praticado por PMs, marcada para às 18h da próxima segunda-feira, dia 26 de maio, na Cinelândia, em frente à Câmara dos Vereadores do Rio de Janeiro, no Centro do Rio.

Participarão amigos e parentes do rapaz, além de representantes de entidades da sociedade civil e do movimento de defesa dos direitos civis.

Daquele local, um grupo de amigos do rapaz vai partir às 15h30m em direção ao quartel-general da PM, na Rua Evaristo da Veiga - a menos de 200 metros dali - onde entregará uma carta pedindo que a Polícia Militar
investigue o caso com isenção, transparência e máxima urgência. Os manifestantes pedirão também a proteção das testemunhas que viram o jovem ser executado pelos policiais militares. Eu vou!

quinta-feira, 22 de maio de 2008

William de Souza Marins. 19 anos. Servo de Deus. Assassinado domingo passado

SAIU NO JORNAL O DIA

Espero amanhã ter forças para falar sobre o enterro desse jovem crente que foi assassinado essa semana por policiais militares.

PMs acusados de execução

Cantor de banda evangélica morreu com três tiros quando seguia para apresentação em templo

Francisco Edson Alves


Rio - Em clima de revolta, pelo menos 200 pessoas acompanharam ontem de manhã, no Cemitério do Murundu, em Realengo, o enterro do cantor da banda gospel Orlit, Willian de Souza Marins, de 19 anos. Morador da Favela do 48, em Bangu, o rapaz foi morto por volta das 18h15 de domingo, na Rua Natal, na mesma localidade, durante suposta operação de uma equipe do Grupamento de Ações Táticas (GAT) do 14º BPM (Bangu). Willian tinha saído de uma LAN house e estava a caminho de uma igreja da Assembléia de Deus, onde se apresentaria. Segundo testemunhas, alguns dos cerca de 12 PMs começaram a atirar na direção do músico e, depois de ele ser baleado acidentalmente nas pernas, o teriam assassinado.

“Com medo do tiroteio, Willian correu e foi atingido nas pernas. Já sentado na calçada, ele implorou para que não o matassem, dizendo que era evangélico e morava na área. Mesmo assim, foi impiedosamente executado”, contou uma testemunha, durante o enterro.

No registro inicialmente feito na 35ª DP (Campo Grande) e depois transferido para a 34ª DP (Bangu), policiais do GAT alegaram que Willian estaria armado com fuzil e pistola e teria mochila com 158 trouxinhas de maconha, granada e certa quantia em dinheiro.

O comandante do 14º BPM, coronel Pedro Paulo da Silva, informou, através da assessoria de imprensa da PM, que o batalhão abriu investigação para apurar o caso. Os PMs — o número exato de policiais não foi informado — teriam ido à comunidade apurar solicitação do Disque-Denúncia para verificar tráfico de drogas e teriam sido recebidos a tiros por bandidos. Willian, ainda segundo a assessoria, teria sido atingido por “bala perdida”. Os policiais que participaram da incursão não foram presos administrativamente e continuam trabalhando normalmente.

INDIGNAÇÃO

A versão dos PMs revoltou amigos, parentes e representantes da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e do Movimento Rio de Paz. “Meu filho jamais se envolveu com coisas erradas. Só sabia cantar louvores a Deus por onde ia, tanto que seu apelido era Sabiá”, lamentou a mãe do jovem, Sandra de Souza Marins, 41.

“Willian, o caçula de meus três filhos, concluiu recentemente o segundo grau e tinha ido à LAN house para conferir se havia passado numa prova para aprendiz de marinheiro. O sonho dele era entrar para a Marinha ou ser bombeiro”, lamentou o motorista Jaldenir Mataruna Marins, 45.

Documento será levado ao governador

Integrantes da banda Orlit contaram que Willian estava feliz, pois o conjunto preparava o lançamento de seu primeiro CD. “A única arma que ele usava era uma guitarra e a munição, palavras de salvação”, disse Magno de Souza Barbosa, 19, um dos líderes da banda. “Estamos acompanhando de perto o caso e exigimos apuração rigorosa”, afirmou Evânia Pacheco Araújo, da Comissão de Direitos Humanos da OAB.

Willian foi enterrado com camisa branca com a inscrição “Eu sei que meu redentor vive”. “Não deixaria minha filha, de 15 anos, namorá-lo se ele não fosse um jovem íntegro, que tinha conduta exemplar em tudo que fazia”, comentou o guarda municipal Luiz Carlos Sampaio, 41, pai da namorada de Willian. “Estávamos juntos há um ano e fazíamos planos maravilhosos de casar e ter filhos. Willian dizia que, com a banda, não queria fazer sucesso, apenas levar a palavra de Deus”, contou a jovem.

Membros de diversas igrejas evangélicas, com apoio da ONG Rio de Paz, já recolheram mais de mil assinaturas para abaixo-assinado que será entregue ao governador Sérgio Cabral e à cúpula da Secretaria de Segurança, exigindo rigor nas investigações.

Pai do jovem Thiago Oazen, morto por policiais no último dia 28, em Jacarepaguá, Sérgio Oazen, 41, ficou indignado ao saber da morte de Willian. “Jovens inocentes continuam morrendo em ações desencadeadas por policiais despreparados e covardes”, lamentou ele.

CORPO FICOU DESAPARECIDO

Segundo parentes, a família só conseguiu localizar o corpo de Willian no Instituto Médico-Legal (IML) na segunda-feira à tarde. “Fomos informados de que ele tinha sido levado na mala de uma viatura para o Hospital Albert Schweitzer, em Realengo, onde já teria chegado morto. Até os documentos do meu filho desapareceram”, contou Jaldenir.

Segundo testemunhas, Willian foi morto com um tiro nas pernas, um no tórax, na altura do ombro direito, e outro na barriga. O delegado da 34ª DP, Gilberto Dias, disse que aguarda resultado dos laudos cadavérico e de balística das armas que teriam sido recolhidas dos PMs. Dias, porém, alegou dificuldades em achar testemunhas “que falem o que viram”.

“De repente, os próprios parentes (de Willian) poderiam localizar essas testemunhas, porque com a polícia ninguém fala”, sugeriu. “A segurança pública entrou em colapso”, criticou Antônio Carlos Costa, presidente da ONG Rio de Paz.

quarta-feira, 14 de maio de 2008

O CARÁTER INCERTO DA VIDA



Acabei de capturar essa imagem comovente no Jornal americano The New York Times. Ela retrata uma mãe chorando ao lado do corpo inerte de seu filho que morrera no terremoto que devastou parte da China. Que vontade de levar o evangelho para o povo chinês. Nunca em toda a minha vida me senti tão próximo dessa gente. A natureza humana é a mesma em todas as épocas e lugares. O que a perda de um filho representa para você é o mesmo que representa para a vida de um chinês.

Pense no caráter transitório e incerto da vida. Amigo, tudo é um sonho. Nossa existência passa como as nuvens. O que fazer do nosso orgulho? Prepare-se para a redenção. Não adie seu encontro com Cristo, o Salvador. Só ele serve de abrigo na tormenta.

terça-feira, 13 de maio de 2008

O TERREMOTO NA CHINA

Algumas considerações:

1. Deus é soberano. Este terremoto não o pegou de surpresa. Pássaros caem do céu segundo seu decreto soberano e a terra se move pelo mesmo motivo.

2. Ninguém tem o direito de assumir a função de secretário da divindade a fim de dizer quais motivos levaram Deus a enviar sobre os chineses essa dura prova. O que sei é que se não nos arrependermos igualmente pereceremos. O Brasil tem provocado a Deus com sua violência e a igreja com o seu mercantilismo e silêncio. É certo que eles não são piores do que nós.

3. C. S. Lewis: "Deus fala na nossa consciência, sussurra nos nossos prazeres e grita na nossa tribulação. A tribulação é o megafone de Deus para um mundo surdo".

4. Sua preocupação com a justiça não pode ser maior do que a daquele que lhe conferiu a capacidade de julgar.

5. O problema do sofrimento é um problema do que crê. O que não crê não tem que esperar viver num universo justo. Acaso, forças cegas ou energia impessoal não são capazes de chorar pelos chineses.

6. Tentar ensinar para as pessoas que estes acontecimentos mostram que a vida não tem sentido não faz sentido. Que sentido tem em se tentar levar as pessoas à conclusão que tudo é sem sentido?

7. Deus é bom, sábio e santo. Todos os seus decretos têm como fonte suas perfeições.

8. Dizer que ele decidiu criar e deixar tudo correr solto é chamá-lo de irresponsável.

9. Quando todos os argumentos da razão parecem sem sentido ao divisarmos pessoas soterradas sob suas próprias casas, o Filho de Deus pendurado no madeiro representa Deus justificando a si mesmo em um mundo sofredor. A morte de tantos chineses é um absurdo. A morte do Filho de Deus é o absurdo que desabsurdifica os demais.

10. Orar pelos chineses, ajudá-los a se refazerem e levar o evangelho para eles é melhor resposta a esta desgraça do que entrar em depressão e passar a tão somente filosofar sobre o problema da dor.

A PRIMEIRA QUINZENA DE MAIO

O RETORNO AO BLOG
Finalmente encontrei tempo e força para voltar a escrever. Este mês está sendo um dos mais difíceis dos últimos anos. Nunca tive tanto trabalho na minha vida. Tomar a decisão de não deixar de ser pastor e ainda estar envolvido com a causa dos direitos humanos no Brasil tem me consumido. Acrescente-se a isso o fato de ser pai e marido, estar envolvido com um projeto de tese de doutorado, ter que estudar sobre temas relacionados aos campos da sociologia e política em razão do Rio de Paz e pregar em outras igrejas. Do último post para cá vale destacar o fato de que preguei no retiro de jovens da minha igreja no dia 3, tive uma ótima oportunidade de divulgar o movimento e pregar na Igreja de Nova Vida de Olaria, participei de um jantar com empresários no dia 10 com o objetivo de levantar recursos para o Rio de Paz e domingo passado preguei 3 vezes na minha igreja nos cultos da manhã. Falei sobre a dimensão materna do amor de Deus. Ele é o paradigma de todo amor. O amor materno deve sua origem a Ele. A Bíblia fala claramente sobre esse assunto no capítulo 49 do livro do profeta Isaías.

A VOLTA DOS VÍDEOS
Fique atento, pois estarei botando na rede novos vídeos entre hoje e amanhã. É só entrar no palavraplena.tv. O chat-teológico também será anunciado em breve.

A IGREJA EVANGÉLICA
Depois da união de várias igrejas em Recife no protesto que realizamos na Praia da Boa Viagem e da recepção comovente da Igreja de Nova Vida de Olaria fico a pensar no fato de que temos muita gente boa no nosso meio. Mediante aproximação em amor percebe-se como temos verdadeiros irmãos espalhados pelo Brasil e com que facilidade pessoas se envolvem nos sonhos do reino de Deus quando recebem esclarecimento teológico.

O CASO DA MENINA MORTA EM SÃO PAULO
Junto-me a todas aqueles que estão saturados do destaque que a imprensa está dando a esse assunto. Lembre-se que de acordo com a nossa constituição: "Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória".

quinta-feira, 1 de maio de 2008

RIO DE PAZ SE CONSOLIDA EM RECIFE

O Rio de Paz está se tornando um rio caudaloso e que se espalha pelo Brasil. Bases do movimento começam a ser estabelecidas em várias cidades brasileiras. Surge, então, o sonho de ver milhares de brasileiros fazerem uma resistência apaixonada, pacífica e lúcida ao maior mal social do presente momento da história do nosso país: o horror das mortes por assassinato, 50 000 por ano.

Encontro-me nesse momento em Recife, felicíssimo com os resultados do nosso primeiro ato público do ano de 2008 na capital pernambucana. Acabamos de realizar um protesto contra a morte de 1 511 cidadãos desse estado, assassinados entre Janeiro e Abril do presente ano. Com a ajuda do PEbodycount chegamos aos números da violência e aos nomes de 100 dessas pobres pessoas cuja vida foi interrompida pelo crime no mês de Abril.

O que vi jamais sairá da minha memória. Centenas de pernambucanos trabalhando uma madrugada inteira, debaixo de chuva (houve uma hora que chovia e ventava tanto que a impressão que dava era a de que tudo seria varrido da praia) enchendo sacos de lixo de areia. A idéia foi a de que esses sacos de lixo asumissem a forma de um corpo humano, reproduzindo a cena típica das comunidades pobres brasileiras - os corpos que jazem numa rua qualquer após terem recebido um tiro cobertos por este sacos, com o pai e a mãe tendo que interpretar para os seus filhos quando os levam para a escola o que a cena representa. A classe média não suportaria viver essa afronta constante à dignidade humana na extensão em que as comunidades pobres estão vivenciando.

Terminamos o trabalho por volta das 3h30m da madrugada. O dia amanheceu e lá estava aquela dramatização da morte por assassinato montada, contrastando com a beleza da praia da Boa Viagem. Todos os orgãos de imprensa se fizeram presentes e ganhamos o noticiário do país, inclusive do Jornal Nacional, que mencionou o nosso manifesto pela primeria vez dando destaque a três pontos: policiamento ostensivo, combate às drogas e reforma das prisões (há quanto tempo desejava que esse dia chegasse - o dia em que pudesse chamar a atenção da nossa sociedade para esses verdadeiros campos de concentração que são as nossas prisões).

Guardo desse encontro a lembrança da jornalista de uma emissora de televisão que me entrevistou e que ficou visivelmente emocionada com as minhas palavras quando falava sobre o drama das vidas ceifadas pelo crime no Brasil, a união do povo pernambucano no afã de denunciar o mal, os jovens adolescentes que vi aos montes parando pessoas na calçada para assinar o manifesto do Rio de Paz, as centenas de pessoas que pararam para assinar o manifesto, os parentes de vítimas que surgiram com seus relatos sempre comoventes e a simpatia da imprensa com todos os jornalistas como se estivessem a nos ajudar a emitir nossa mensagem contra a violência.

Esse protesto teve algo de diferente em relação aos demais. Pela primeira vez mencionei o nome do presidente da república nas entrevistas. Confesso que não consigo me imaginar ofendendo o presidente do meu país. Não aprovo comentário desrespeitoso à alguém investido de tal autoridade. Aliás, precisamos aprender a ser fortes nos argumentos e respeitosos na forma de nos reportarmos às pessoas. Mas dessa vez tive que falar mencionando o seu nome. Isto porque na noite anterior o vi declarando num discurso que "o Brasil está vivendo um momento mágico". Ele falava sobre os indicadores econômicos. Lá estava eu, porém, a ouvi-lo com a cena dos familiares das pessoas assassinadas no Rio de Janeiro que pude conhecer. Fui levado a pensar no que inevitavelmente saiu da minha boca nas entrevistas de hoje: o Brasil pode até estar vivendo um momento mágico na economia, mas está vivendo um momento trágico na segurança pública, pois 50 000 homicídios por ano é obsceno. Uma nação que ainda não aprendeu a defender o direito prioritário dos seus cidadãos, que é o direito à vida, não tem motivo para se vangloriar do que é sob todos os aspectos secundário, pois, devemos servir a vivos e não a mortos.

Antonio Carlos Costa
Rio de Paz