LER PARA QUÊ?
Nestes últimos dias tenho andando aflito por me encontrar longe dos livros. Não tenho conseguido parar para ler. Só os amantes da boa leitura sabem o que isto significa. No meu caso, posso comparar a experiência, a um estômago doendo.
A grande consolação nisto tudo é que tenho trabalhado para valer. Ver o resultado das leituras antigas, na minha vida no presente, é o que tem aliviado a dor da saudade dos momentos de solitude com uma boa obra literária na mão.
Eu entrei de fato nesta luta contra o desrespeito aos direitos humanos na nossa terra. Em especial, conforme todos têm podido acompanhar, tenho procurado chamar a atenção da sociedade civil e do poder público para o fato de que, não há hoje no Brasil necessidade social maior do que o combate ao elevado índice de criminalidade de nossas cidades. Sem o direito à vida assegurado não há sentido em se falar sobre os demais direitos. Penso que se minhas leituras, especialmente a da Bíblia, não me levarem a fazer algo para impedir a morte de tantos compatriotas, é melhor que eu não leia nada. Ler para ostentar saber e aumentar minha responsabilidade diante de Deus e dos homens, sem que isto resulte em benefício para os de minha raça, é viver a vida de um idiota desalmado, porém consciente dos fatos.
Este final de semana será bastante intenso. O Rio de Paz realizará três atos públicos contra a violência nas nossas principais cidades: Belo Horizonte, Rio de Janeiro e São Paulo. Se juntarmos o número de pessoas assassinadas nos quatro Estados onde estamos realizando protestos (já fizemos em Pernambuco no mês passado) chegamos à inacreditável cifra de quase 10 000 homicídios. Note que estou falando de quatro Estados, de um total de 27 que compõe a nossa República Federativa.
Não posso imaginar alguém num contexto como este se sentir no direito de dizer: "Cada um tem o seu chamado, o combate a violência não é a vocação da minha vida". Pergunto: você julga que um alemão que tivesse dito este tipo coisa sobre o Nazismo na Segunda Grande Guerra teria agido corretamente? Acredito em chamados específicos em contextos onde os males sociais são isolados sem assumirem proporções imensas e sem quase fazerem parte da cultura nacional. Mas, quando falamos de 41 000 brasileiros assassinados por ano (isto há vários anos), quem pode dizer que não está se comportando como frio, covarde e alienado, aquele que se recusa a participar da luta contra um mal que tem desgraçado a vida de tantas pessoas?
Estamos nos organizando em todas as capitais do Brasil. O Movimento está se espalhando. Creio que nunca mais o sangue do brasileiro haverá de custar o que custa hoje. Nós vamos lutar para que a santidade da vida humana seja respeitada na nossa terra. Vai ser divulgada no mundo a notícia de que no Brasil a vida humana passou a ter valor.
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