A PRESENÇA DO EXÉRCITO NO RIO DE JANEIRO
Saiu na edição de hoje do jornal O Globo um entrevista dada por mim sobre o incidente envolvendo militares do exército no Morro da Providência. O jornal afirma que declarei ser favorável a presença do exército na cidade do Rio de Janeiro. É isso mesmo. Foi o que falei e tenho falado desde o início do ano passado. Eis as minhas razões:
1. O Rio de Janeiro experimenta nos dias de hoje um quadro de ingovernabilidade no campo da segurança pública. Pense nos seguintes fatores: a corrupção das polícias, a falta de policiais para a ação ostensiva, o envolvimento de parlamentares com o crime, a expansão das milícias, o poder bélico do tráfico, o caos urbano das áreas pobres, os graves problemas sociais das classes de baixa renda, os interesses corporativistas dos que se recusam a pagar o preço da paz, o número de dependentes químicos de drogas e as rotas abertas (portos, aeroportos, estradas) para a chegada de armas e drogas (num estado que não produz nem uma coisa nem outra). Que governador pode dar conta de uma situação como essa?
2. Os números da violência são absurdos sob todos os aspectos.
3. Milhares de cidadãos fluminenses estão privados dos seus direitos elementares (direito de ir e vir, livre expressão e vida) em razão de morarem em áreas dominadas pelo crime organizado.
4. Aproximadamente 4000 pessoas estão para ser mortas mediante assassinato em razão dos males que acabei de citar. Há uma justificativa moral para uma ação que tenha como meta impedir esse massacre.
5. Nossa polícia não dispõe de recursos humanos e técnicos para dar conta dessa avalanche de maldade.
Responda-me uma pergunta: se você soubesse que há 90% de chance de um parente seu fazer parte dessa lista dos 4000 que vão morrer caso nada aconteça, o que você esperaria que o poder público fizesse?
Para lançar luz sobre os últimos acontecimentos:
- O que esses miltares fizeram com os três jovens do Morro da Providência é hediondo.
- Oficiais do exército já vieram a público reconhecendo o erro.
- O que aconteceu com esses jovens acontece todos os dias no Rio. Qualquer morador de área pobre conhece o "carro da linguiça". Trata-se de um veículo conduzido por policiais para onde são lançadas pessoas que somem para sempre. Sabe-se que traficantes matam sem deixar vestígio. A milícia também some com pessoas. Ano passado mais de 4500 pessoas desapareceram no nosso estado. O que houve de diferente nesse episódio é que a população gritou. E fez bem. É isso o que falta.
- Uma pergunta: se essas torturas seguidas de morte as quais foram submetidos esses jovens tivessem sido perpretadas por policiais, traficantes ou milícia, haveria a quem procurar? Morador pobre tem como reclamar de ações análogas praticadas por essa gente?
- Até onde sabemos o que houve sábado passado trata-se de um caso isolado, não representando o retorno do exército brasileiro aos anos de tortura, maldade gratuita e imbecilidade.
- Precisamos do nosso exército.
- É frustrante para moradores que se encontram sob o fogo cruzado do crime organizado e de policiais corruptos e mal preparados (o que não é o caso de todos os policiais) ver o exército brasileiro trazendo solução para conflitos vividos por haitianos (o que é bom), mas fazendo o papel de espectador da maior tragédia social do presente momento da história do nosso estado.
Só a perda da capacidade de se importar com o próximo nos ajuda a compreender a completa falta de discussão sobre o que fazer para salvar os 4000 que estão caminhando para a morte. O luto aguarda muitas famílias no nosso estado. Que algo seja feito já para evitar tamanho mal.
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