quarta-feira, 28 de março de 2007

O PROTESTO PÚBLICO

Anteontem o Rio de Paz realizou seu quarto ato público de 2007. Centenas de pessoas estavam lá reunidas. Homens e mulheres completamente diferentes – havia gente do movimento estudantil brasileiro; cantores como o Tico dos Detonautas e o Gabriel Pensador; parentes de vítimas da violência; diversas ONGs; evangélicos (que foram a maioria). Houve uma ampla cobertura da imprensa, com transmissão ao vivo através de vários telejornais e manchete nos jornais da cidade do dia seguinte.

Pois bem, um dia após ao nosso ato público, uma rádio evangélica da cidade propôs no ar a resposta para a seguinte pergunta: são válidos esses protestos? Resultado final da enquete: 84% dos ouvintes responderam que não. Tudo o que fizemos é inócuo. Por julgar que a manifestação pública é parte da solução para o problema da letalidade obscena da nossa cidade, gostaria de apresentar o meu ponto de vista sobre a questão:

1. Nações desenvolvidas praticam o ato público até hoje. É assim em Washington, Paris, Madri, Roma etc. Estes povos, possuidores de uma cultura de participação popular mais desenvolvida, com todo um histórico de conquistas sociais obtidas nas ruas, conhecem a força do “poder da rua”. Você acha que um milhão de cariocas nas ruas, clamando pelo fim do tiro, não faria diferença alguma?

2. Os que afirmam que isto não dá resultado algum, não dizem o que a população deve fazer, além de ficar em casa assistindo pela televisão o faroeste. Peço que me apontem um caminho melhor, pois sendo a vida impressionantemente curta, não quero perder meu tempo com bobagem. Não me venham dizer que tenho que orar e pregar o evangelho, o que já faço há 24 anos, ao lado de tantos outros irmãos que compreendem que esta é a missão principal da igreja. Porém, respondam-me uma pergunta: quando falta água no seu condomínio, você se tranca no quarto para tão-somente orar a fim de pregar o evangelho para o síndico?

3. Em geral, pessoas somente se engajam quando a bala atinge um parente seu. Decidi não esperar a tragédia me alcançar para aprender a ser gente ou entender que a omissão de uma sociedade de bananas é responsável, em grande parte, pelo inferno que nos cerca.

Por tudo isto, vou em frente. Esperando contra a esperança. Olhando firmemente para o braço que faz com que nove planetas dêem volta em torna de uma bola de fogo suspensa no espaço, crendo que ele haverá de ser estendido a nosso favor, a fim de que nossos conterrâneos, na favela ou no asfalto, cessem de ser assassinados. Há muito tempo não durmo tão bem com a minha consciência.

Antônio Carlos Costa
Cristão – Carioca.

2 comentários:

  1. É isso aí. Só conhecemos a dor do outro quando nos aproximamos dele.
    E nesta manifestação tivemos a oportunidade de ver não atravrés da televisão, mas ao vivo rostos pálidos, tristes, cansados de chorar, de gente que vive esperando todos os dias que algo seja feito. Mães, pais, maridos, esposas...meu Deus quanta dor.
    Somos gente, temos coração. O sangue corre com mais rapidez em nossas veias quando nos deparamos com cenas como esta que vimos na segunda feira. Nosso coração se enche de alegria e esperança por saber que estamos fazendo o que Jesus faria se vivesse em nossos dias. Quando Jesus viu aquela multidão de pessoas que o seguia, teve compaixão delas e disse que eram como ovelhas sem pastor. Esse é o sentimento que vem ao nosso coração quando nos lembramos daquelas pessoas, daqueles rostos cansados de chorar.
    Vamos em frente, o senhor não está só! Existe um pequeno rebanho caminhando ao seu lado.
    Seja forte e corajoso, não temas por que o Senhor teu Deus é contigo por onde quer que fores.
    Conte sempre comigo!

    Liane

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  2. Concordo plenamente.
    Temos que ser solidários com aqueles que tiveram seus parentes e amigos assassinados. Não devemos ficar de braços cruzados esperando que os políticos eleitos decidam olhar para o povo.
    Essas pessoas que votaram na rádio, podem imaginar a decepção desses familiares em ver uma manifestação com um número participantes inferior aos foliões de um bloco de carnaval?
    Não bastasse ter um ente querido assassinado, ainda ter que passar todo esse sofrimento, sem apoio e solidariedade, como se a grande maioria não se importasse?
    Continuarei participando e tenho fé de que a cada novo protesto o número de adesões se multiplicará!

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