sexta-feira, 26 de setembro de 2008

A FASE DOS FÓRUNS

Nesses últimos dias o que mais fiz foi participar de fóruns sobre segurança pública. Talvez, você que venha me acompanhando nesses últimos anos, esteja observando uma possível incoerência no meu ministério: o discurso monotemático. Só falar de um assunto. Cansei de denunciar o pregador de uma doutrina só. Quem tem me acompanhado mais de perto, entretanto, tem podido observar que continuo acreditando nas mesmas coisas. Para mim não há nada mais urgente e importante, no que tange ao que a igreja pode fazer pelo mundo, do que pregar o evangelho. É isso que tenho feito no púlpito da minha igreja. Nunca permitirei que ele seja politizado. Porém, nunca permitirei que pessoas sejam levadas a crer que falar sobre política é falar sobre o indecoroso e necessariamente sujo.

Ora, fazer política pode ser comparado à tentativa de se administrar um hospício, conforme disse o apologista cristão, Blaise Pascal. Não nego esse fato. Precisa ser afirmado, porém, que a causa final da política trata-se de algo nobre, santo e necessário. Veja o que o grande cientista político cristão, Johannes Althusius, foi levado a dizer sobre o tema: "A causa final da política é o desfrute de uma vida confortável, profícua e feliz, e do bem-estar comum... a causa final é também a conservação de uma sociedade humana que objetive uma vida na qual se possa adorar a Deus, sem erro e pacificamente". Isso é bonito, meu amigo. O cristão pode se filiar a um partido político, por exemplo.

Visando manter uma harmonia entre pregação e compromisso político, dei início a um trabalho evangelístico semanal no centro do Rio, realizei há poucos dias uma imersão, de um dia inteiro, com um grupo de 60 pessoas, na Confissão de Westminster e essa semana comecei um projeto ambicioso - os encontros para pastores e seminaristas. Segunda-feira passada falei manhã e tarde para eles sobre o tema Pregação e Pregadores: a Preparação de Sermões e a Entrega da Mensagem. Só para você ter uma idéia - nesse momento estou apresentando na minha igreja uma séria de mensagens sobre as metáforas e parábolas de Cristo. Simplesmente não tenho espaço para politizar a pregação, pois pregação expositiva em série, fiel ao texto bíblico, não permite esse tipo de coisa.

E, os fóruns? O que rolou? Bom, dois deles foram organizados por nós. Um, realizado no Sindicato dos Jornalistas, com os candidatos à prefeitura do Rio. O foco da discussão foi segurança pública. Nunca, até aquela data, na história das eleições municipais do Rio, um debate dessa natureza havia sido realizado. Em seguida, tivemos a honra de organizar, em parceria com a ONU, o segundo fórum sobre "Violência, Participação Popular e Defesa dos Direitos Humanos".

Esta semana participei, como convidado do IBASE e do CESEC, de um debate sobre o tema violência, realizado na Faculdade Cândido Mendes, com os candidatos ao governo do município do Rio. E, anteontem, o Jornal do Brasil me convidou, para participar do mesmo tipo de debate, só que agora com a presença de todos os candidatos (nos anteriores, os mais bem colocados nas pesquisas não apareceram) e para tratar do todo da administração municipal. Foi bom para a nossa causa, pois em ambos os encontros pude falar sobre a necessidade imperiosa de o prefeito enfrentar os dois problemas mais graves que estamos vivendo no campo da segurança pública, que são as execuções extra-judiciais e o domínio territorial armado por parte de narcotraficantes e milicianos.

Sabe qual a conclusão a que eu chego? Como foi bom no meu período de estudante de teologia, quando estava começando a conhecer a rainha de todas as ciências, não ter abraçado a teologia da libertação. Simplesmente fiquei com Lausanne 74 e a missão integral da igreja, tal como defendida por Rene Padilla, John Stott e Francis Schaeffer. Mais tarde, pela graça divina, mantive contato com a tradição calvinista, essa defensora da democracia, da liberdade e da lei. Promotora das artes e das ciências, fundadora das grandes universidades americanas (Yale, Princeton, Harvard) e proclamadora do evangelho de Cristo (Spurgeon, Whitefield, Edwards, entre outros), e, agora, me vejo falando sobre política (tenho que confessar, amando o tema) sem perder de vista o trabalho de evangelista. Profetizando contra a injustiça social e falando do evangelho para quem perdeu parente assassinado.

O desafio é "pregar o evangelho todo, para todo homem e para o homem todo".

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