terça-feira, 16 de setembro de 2008

ESTOU DE VOLTA

Desde que comecei o blog nunca fiquei tanto tempo sem postar uma mensagem. Não se trata de falta de estímulo, pois estou certo de que essas mensagens escritas pela internet têm um efeito salutar muito grande. Mas, simplesmente não tive tempo nem cabeça para escrever.

Passei por lutas. Batalhas difíceis que exigiram muito de mim. Tomei consciência dos meus pecados e da necessidade de ser um homem melhor. Não quero ter espírito público e fracassar ao mesmo tempo no relacionamento com o ser humano concreto que cruzou o meu caminho. Em outras palavras, não quero amar o Homem e não ser capaz de amar o homem.

Foi um período de novas tentações. Provas que tem a ver com o meu novo momento de vida e talvez a idade. Há lutas que são inerentes a certas fases de nossa vida. Os pecados da juventude, por exemplo, dão lugar aos pecados da meia-idade, que por sua vez são diferentes dos conflitos morais da velhice. O apóstolo Paulo diz: " Fuja dos pecados da mocidade...". "Satanás veleja com o vento", já dizia o pregador Puritano, Thomas Brooks.

Foi uma fase de perda. A morte da Cleyde Prado pegou a todos nós de surpresa. Ela estava fazendo pelo Rio de Paz muito mais do que muitos irmãos na fé que conheço - homens e mulheres que teimam divorciar ética privada de ética pública. Gente que no tempo da escravidão trataria de cuidar bem dos escravos, mas sem se envolver com a luta pelo término da escravidão.

A morte da Cleyde foi assim. Na noite de quarta-feira, estávamos juntos participando de uma das reuniões na Casa de Espanha do grupo montado pelo Rio de Paz, composto por pesquisadores, parentes de vítima, entre outros, que participa do Fórum Permanente de Segurança Pública. A cada quinze dias temos esses encontros no Instituto de Segurança Pública a fim de acompanharmos de perto tudo o que está acontecendo nessa esfera do governo. Naquele dia conversamos até às 10h30 da noite. A Cleyde teve uma ótima participação. No dia seguinte, na parte da manhã, recebo a notícia de que ela havia acabado de fazer um AVC. O quadro era irreversível. Na sexta ela viria a morrer. Obviamente, mais uma vez, fomos remetidos ao sentido da vida. O que somos? Pelo que lutamos? Nunca em toda a minha existência senti tanto a fragilidade da vida humana. Estamos pendurados por um fio. O orgulho, definitivamente, é o pecado que menos combina com a nossa condição de seres cuja vida passa como a nuvem. O principal dessa história é que mais uma voz que se levantava contra a violência foi silenciada no nosso país.

Nesse período de sumiço trabalhei muito. Viajei para João Pessoa, onde preguei duas vezes para os pastores da cidade, e, em um encontro com o prefeito, o secretário de segurança do estado e várias lideranças eclesiásticas, falei sobre o problema da violência no Brasil e a luta do Rio de Paz.

Realizamos também um fórum com os candidatos à prefeito da cidade do Rio de Janeiro. Algo inédito, pois pela primeira vez, esses homens foram chamados para responder uma simples pergunta: como o prefeito pode colaborar para a redução das mortes violentas na nossa cidade?

Preguei bastante. Dei início a um antigo sonho. Estou pregando agora todas as segundas-feiras no centro da cidade. Creio que nunca mais sairei de lá. O meu desejo é o de contrabalançar o engajamento político-social com a obra de pregação da Palavra de Deus.

Li muito. Várias coisas ao mesmo tempo (algumas ainda não terminei). Desde a Ortodoxia de Chesterton, passando por Reasons for God do excelente Tim Keller, A República de Platão, A Política de Althusius, Sociologia de Giddens, até Os Princípios Políticos Aplicáveis a todos os Governos de Benjamin Constant. Fora outras coisas mais. Confesso que estou pensando em buscar uma preparação formal na área de Ciência Política. Lutar pela justiça no Brasil entrou para sempre no meu coração. Fico feliz por perceber quantas portas evangelísticas se abrem quando expressamos o verdadeiro amor cristão dessa forma. Ver brasileiro viver melhor e muita gente convertida ao cristianismo são coisas que me têm movido no momento.

Ontem recebi uma notícia maravilhosa. Através do trabalho do Rio de Paz, numa parceria que estamos desenvolvendo com o escritório do advogado João Tancredo (ex-presidente da comissão de direitos humanos da OAB-RJ) conseguimos a primeira indenização para parente de vítima de homicídio. O Paulo Roberto, pai do menino João Roberto (morto por policiais da PM na Tijuca), receberá uma pensão do governo. É o início de uma enxurrada de pedidos de indenização que serão feitos pelo Rio de Paz. Assim, a justiça é feita e a omissão do poder público na área da segurança pública é confrontada.

Só para terminar. Estou amando minha esposa como nunca a amei. Tivemos recentemente dois dias maravilhosos em Porto de Galinhas. O melhor vinho não é oferecido por Cristo no início da festa. A igreja está indo muito bem. O Rio de Paz não matou a igreja. Pelo contrário. Hoje há um sentimento de relevância no ar. Os cultos estão lotados. E muitas portas foram abertas para a pregação das Escrituras Sagradas.

Agradeço a Deus pela sua paciência. Louvo o seu nome por essa graça que ama o feio e nos faz esquecer da tentativa de buscarmos provar a nossa inocência na presença de Deus, isto porque o evangelho nos ensina que, é mais sábio e verdadeiro confiar na misericórdia divina do que na nossa pureza de coração.

5 comentários:

  1. Antonio só existe um. Seja lá onde esteve, seja bem vindo. Valorizo as suas palavras, não tanto por elas, mas por saber que são suas.
    Que a paixão por Cristo em sua alma e a pregação desta paixão pra os homens, continue a ser o ponto alto do seu ministério.
    Um abraço a este ausente físico e presente em memória, que muito fez bem a minha lama conhecer.
    Um abraço da turma: Andrea, Luisa e Biatriz.
    Glalter

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  2. Em meu comentário onde vocês lerem "lama", toquem por "alma". Please.
    Glalter Rocha

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  3. Pr Antonio
    Estamos acompanhando virtualmente seu arduo trabalho: na igreja, no Rio de Paz e tb no novo ponto de pregaçao no centro, etc... recebo informaçoes do amado pastor, e fico feliz de saber que sua luta esta trazendo retorno... como a indenizaçao do pai do menino Joao Roberto... Gloria a Deus!!
    Que prevaleça o pulpito, mas que o "Antonio" atarefado, tenha forças divinas para sustentar todos seus projetos.
    Saudades!
    Fique com Deus e firme nas promessas de Jesus !
    Abs
    Débora Krug, Alessandro e Nicolas

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  4. Querido Pr. Antônio, sua paixão por Jesus e sua obra, me dá forças e ânimo pra todos os meus projetos e sonhos.Nós o amamos, Dalva e família.

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  5. Á espera do próximo post ...

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