sábado, 29 de dezembro de 2007

SALSA BRAVA

Estou nesse momento numa praia da Costa Rica chamada Salsa Brava. Trata-se de um point de surf mundialmente famoso. Direitas imensas, tubulares, em fundo de coral, com gente de varias (desculpe-me, mas nao estou conseguindo botar acento em nada nos computadores daqui)partes do mundo surfando. O que percebi? Que nao esta facil para mim pegar certas ondas. Estou caindo nos mares, mas com grande necessidade de usar a inteligencia, saber o momento de entrar nas ondas, e voltar para o pico (lugar onde as ondas quebram), pois percebo que "yo no tengo mas la forca de antes". Caramba, hoje nao foi facil. O proprio pessoal que esta comigo ficou meio apavorado.

O duro e reconhecer que meus filhos estao melhores do que eu. Mal acreditei no que vi. Eles estao se lancando em tudo. Amanha iremos para um lugar chamado Limon, onde ha uma ilha que quebra as ondas que mais gosto, as esquerdas (so no surf sou de esquerda).

Que legal o GLOBO REPORTER botar na retrospectiva do ano os protestos do Rio de Paz. Que alegria saber que cristao estao envolvidos com movimento tao importante. Como esse trabalho tem aberto portas evangelisticas. Nao posso descrever minha alegria de ter participado de tudo isso. O surf e bom, mas servir o Senhor de nossa vida e infinitamente melhor.

Soube da morte por assassinato de evangelicos no Rio. Sera que a igreja vai agora se despertar para a necessidade de fazer algo? Nos nao estamos livres dessa tragedia.

Um forte abraco para todos!

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

YO HABLO DE COSTA RICA!

Cheguei ontem à noite aqui na Costa Rica. Estou realizando um antigo sonho. Meus filhos, mais alguns irmaos da nossa igreja na Barra e eu, estamos fazendo uma surf trip(uma viagem exclusivamente voltada para a prática do surf) por três países: Costa Rica, Panamá e Nicaraguá. Sim, batem altas ondas nesses lugares, uma verdadeira maravilha. E, bons preços. Hoje tirei a ferrugem. Peguei umas três a quatro horas de onda. Começando por baixo, pegando as chamadas "merrecas" (ondas pequenas) para nao fazer feio quando tiver que pegar as chamadas "morras" (ondas grandes).

Como é que fiz? Vendi um carro. Paguei umas contas, e, com a economia, meti o pé na estrada. Penso que mais vale as recordaçoes de uma viagem como essa do que andar num carro mais confortável.

Por enquanto está muito legal. Depois do ano de maior, mais ampla e mais diversificada atividade pastoral de toda a minha vida, estou descansando e tendo tempo de estar com os filhos biológicos e com os filhos espirituais, rapazes calvinistas, amantes de teologia e que aprenderam a surfar para a glória de Deus.

Para mim é uma volta ao passado. Um retorno às raízes. E eu que larguei o sonho de andar pelo mundo pegando onda, para ser pastor, vejo agora a fidelidade divina, concedendo-me esta oportunidade inesquecível. Como é bom andar com o Senhor Jesus. " Refrigera-me a alma".

REPORTAGEM DA VEJA
Espero, assim que tiver tempo, poder responder às sandices de um certo escritor americano que teve algumas de suas idéias divulgadas pela revista VEJA. Mas, que trabalho mal feito. Um festival de idéias fáceis inconsistentes.

REVERENDO ANTONIO ELIAS
Que saudade.

QUEM QUISER FALAR COMIGO:
1.Se for possível, espere pela minha volta.
2.Escreva para o blog.
3.Fale com a minha secretária (2618 9034).

RIO DE PAZ
Está firme. Fique de olho nos debates desse verao na praia de Copacabana. Nao deixe de orar pela queda na taxa de letalidade no nosso estado. Quando cheguei à Costa Rica, fui avisado por alguém que aqui há assalto a turista, mas sem morte. O rapaz inclusive completou: "Nao é como o Brasil, onde se mata muito". Nossa fama é mundial, lamentavelmente.

sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

A ÚLTIMA MENSAGEM DO REVERENDO ANTONIO ELIAS

Acabei de receber a triste notícia que o reverendo Antonio Elias faleceu hoje pela manhã. Ele é o pai espiritual de toda uma geração. Meu pai espiritual. Fui convertido na igreja que ele plantou, ele exerceu papel decisivo na minha entrada no ministério sagrado, batizou minha mãe, pregou inúmeras vezes na igreja onde sou pastor, concedeu-me conselhos em momentos cruciais da minha vida, ensinou-me a amar a igreja de Cristo, a pregar para consolar o abatido de espírito, entre tantas outras bênçãos mais que recebi através da sua preciosa vida.

Num dos meus últimos encontros com ele, quando ele encontrava-se internado no CTI de um hospital em Niterói, o reverendo da cama que se encontrava, virou-se para mim quando encontrava-me à porta para sair e disse-me: "eu te amo". Até então ele nunca havia dito isso para mim, embora sempre o tivesse demonstrado das formas mais comoventes possíveis. Espero até o fim da minha vida andar nos seus passos, amando a Deus e a Sua Palavra e pregando uma mensagem que seja ao mesmo tempo simples e capaz de encorajar os seres humanos, nesta vida dura, curta e incerta que todos levamos.

Escrevo essas linhas na sua casa, ao lado do seu quarto. Há um solenidade e paz que não sou capaz de descrever. Dona Maria José, sua esposa, acabou de me passar a última mensagem dele, escrita há três semanas quando ele se encontrava no hospital, tendo que se submeter a sessões diárias de diálise.

ACEITE ESSE PRESENTE !

Lc. 2:8-11
“...é que hoje vos nasceu, na cidade de Davi,
O Salvador, que é Cristo, o Senhor”. (v.11)

Ele era esperado, anunciado pelas Escrituras. Mas, quando chegaria?
Somente o Pai conhecia o tempo certo.
“Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel”
(Is 7:14).
“...um menino nos nasceu, um filho se nos deu...e o seu nome será: Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz....” (Is. 9:6).
- Mas, quando viria?
E naquela noite o anjo diz aos pastores que guardavam os seus rebanhos: “Hoje vos nasceu o Salvador...” !
Veio a palavra, primeiramente, a quem talvez nem estivesse, no momento, preocupado com o assunto. E as pessoas simples e humildes, não a ilustres e importantes. (É verdade que também os Magos viram a Sua estrela - Mt.2:1-2 -, tiveram a sua oportunidade e a aceitaram!).
“...hoje vos nasceu...”
“Hoje” é o dia aceitável! “Hoje, se ouvirdes a sua voz, não endureçais os vossos corações"! (Hb.4:7) Pois a mensagem do anjo ainda afirma: “...vos nasceu”. Ou seja: nasceu para vós, para mim e para você!
- Quem nasceu? “Cristo, o Senhor”! O “Emanuel” (Deus conosco)! O “Maravilhoso, Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz”!
Seu valor não pode ser descrito: apenas é mencionado e pode ser provado por aquele que o desejar, pois Ele não se impõe: “Eis que estou à porta e bato; se alguém ouvir a minha voz, e abrir a porta, entrarei em sua casa, e cearei com ele e ele comigo”.
(Ap. 3:20)
Depois de conhecê-lO, de encontrá-lO ainda na manjedoura, os pastores, felizes, saíram divulgando “o que lhes tinha sido dito a respeito desse menino”! E todos se admiravam!
É muito importante aceitar esse Presente! E nós que O aceitamos, vamos, como aqueles pastores, contar aos que passam pelo nosso caminho, o que Ele tem feito em nossa vida, o que tem sido para nós!

Vale a pena!

Feliz Natal em 2007! E que Deus o abençoe e a toda a sua casa!

Antonio Elias e Maria José

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

A ROSA 6001


Ontem, pela manhã, estive presente no enterro da menina Fabiana Santos Oliveira de 11 anos, morta no último sábado no complexo da Mangueira, vítima de bala perdida. O que passo a relatar jamais sairá da minha memória, como lembrança amarga de anos de irracionalidade, maldade, indiferença e dor.

Assim que cheguei ao Cemitério do Caju, pude observar o pranto de centenas de pessoas simples, e os gritos da avó, que implorava à neta para que esta saísse do caixão a fim de que ambas retornassem para casa: “Fabiana, sai daí" (falava em alta voz), "vamos voltar para casa, eu te amo”. A mãe, inconsolável, era amparada por dois parentes. Procurei me aproximar. Disse para ela que a Bíblia diz através dos lábios de Cristo que o reino dos céus é dos pequeninos. Ao que ela me respondeu: “Moço, tira a minha filha de lá, ela não nasceu para ficar ali. O que vou dizer para o irmão dela, de cinco anos, que está aguardando o retorno da irmã? Oh! Eu tinha um casal de filhos, agora só tenho um filho”.

A menina é enterrada. Volto, a fim de ir embora, e observo que estou caminhando ao lado do pai e do avô, o mesmo que havia presenciado a morte da neta e recebera um tiro no braço. Tratei de me identificar, dizendo, entre outras coisas, que havia realizado o protesto do último sábado na Praia de Copacabana, no qual penduramos num varal de 2km 6000 rosas, que representavam o número aproximado de homicídios no nosso estado em 2007. O avô e o pai da vítima recebem-me de modo muito gentil. Caminhamos lentamente. O avô resolve abrir o seu coração em meio as palavras de consolo que eu procurava lhe comunicar: “Eu vi a hora que ela foi atingida pela bala. Pedimos ajuda a alguém para levar minha neta para o hospital, mas os pneus do fusca que haveria de levá-la, foram furados à bala, por homens que não queriam que saíssemos do local. Mas, conseguimos ir para o hospital. No caminho minha neta dizia: “Vovô eu vou ficar bem?" "Fabiana", dizia o avô, "vamos orar o Pai Nosso”. Ao que ela prontamente obedeceu. Fizeram a oração. Logo após, a menina vinha a falecer.

Por duas vezes, enquanto caminhávamos na direção da saída do cemitério, o avô contou-me o que ocorrera poucas horas antes da morte da neta. Naquele mesmo dia, a Fabiana, ao ver o noticiário na televisão sobre o protesto das rosas, virou-se para a avó e disse: “Vovó, veja, botaram 6000 rosas na praia porque 6000 pessoas foram assassinadas”. A avó respondeu: “É Fabiana, nós estamos vivendo em um mundo muito mau”. O que a avó não sabia é que dentro de instantes, sua netinha de 11 anos, haveria de fazer parte desta estatística. Ao tomar conhecimento da morte da menina, a avó, na sua angústia, foi levada a dizer para seus familiares: “Oh! A minha netinha é a rosa 6001”.

Saí do cemitério, e com a permissão da família, voltei para a Praia de Copacabana para montar novamente um varal. Só que agora, com o propósito de o varal receber uma única rosa. Uma rosa que simbolizasse a vida que foi ceifada logo após brotar. A vida da Fabiana, que tal como a menina Alana, e os meninos Hugo e João Hélio, perdeu a vida de modo brutal, numa cidade que tem permitido que crianças não cheguem à vida adulta.

Por que estou contando esta história? Respondo francamente: para emocioná-lo. Apresento esse relato na esperança de que alguém se comova. Se não formos tocados no campo dos nossos sentimentos, os mais nobres e humanos de que somos capazes de experimentar, de modo algum vamos ter energia suficiente para acabar com estas mortes que têm desgraçado a vida de tantas famílias. No fundo, sabemos o que deve ser feito, mas parece que falta-nos como sociedade, compaixão, a fim de que ajamos de modo determinado para que mais vidas não sejam desarraigadas antes do tempo.

Antônio Carlos Costa
Rio de Paz

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

MANIFESTO RIO DE PAZ

“Para que o mal triunfe, é necessário apenas que os homens de bem permaneçam inativos”.

Entre 1991 e 2007 foram mortos mediante assassinato aproximadamente 116.000 cidadãos fluminenses. Cerca de 80% destas vítimas tiveram sua vida interrompida na região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro. A maioria esmagadora, moradores de comunidades pobres das zonas norte e oeste. E tudo isto, num contexto em que não se sabe quantos dentre os mais de 4000 desaparecidos de 2007 foram assassinados. São números inaceitáveis. Representam o colapso do pacto social no seu item mais fundamental, o direito à vida. Nós, cidadãos cariocas, reconhecemos o erro de havermos permanecido calados. Milhares de conterrâneos tiveram a vida quitada pelo crime e não oferecemos resistência.

Sendo assim, entendemos que não basta botarmos a culpa no poder público, que agora, mais do que nunca, por estar enfrentando um problema crônico, endêmico e histórico, carece da mobilização de todos nós, homens e mulheres que reconhecem o valor incalculável da vida humana, a fim de que ao lado dos seus governantes o povo carioca obtenha a maior conquista social de toda a sua história: a vitória da vida sobre a morte.

O Rio de Paz, após ouvir as principais autoridades em segurança pública do nosso estado (meio acadêmico e poder público), vem por meio deste manifesto apresentar as principais medidas que julgamos que precisam ser tomadas no campo da segurança pública, no anelo de que em 2008 comecemos a experimentar a maior queda da taxa de homicídio de toda a nossa história. Não aceitamos em hipótese alguma a assunção de que não há o que se fazer para que o número de homicídios de 2007 não se repita no próximo ano.

MEDIDAS PRINCIPAIS:

 Estabelecer como prioridade central das políticas de segurança a redução dos crimes letais, com metas específicas de diminuição.

 Redefinir a metodologia de intervenção policial em comunidades pobres para um policiamento de tipo comunitário (baseado no modelo GPAE), de modo a reprimir o uso indiscriminado de armas de fogo, reduzir as balas perdidas, afirmar a autoridade da lei.

 Priorizar a investigação dos crimes letais e do uso de armas e munições ilegais a fim de que homicidas sejam julgados e condenados. A não apuração destes crimes estimula a prática do crime.

 Reforçar o policiamento ostensivo.

 Fazer com que a aplicação das sanções da lei seja mais rápida e certa a fim de dissuadir a prática do crime.

 Construir mais presídios e oferecer condições dignas de vida para os nossos presos. Não podemos conviver em pleno século XXI com campos de concentração.

 Determinar metas de redução da letalidade policial, de forma que diminua o número de policiais feridos e mortos e o número de civis feridos e mortos em operações policiais.

 Monitorar o consumo de munição por unidades de polícia e por policial. Para tanto, contratar marcação de munição por lotes de 50 cartuchos e aprimorar controle de estoques nas unidades.

 Lançar grande programa de formação e reciclagem, segundo doutrina e métodos que levem à qualificação do uso da força, à redução dos riscos para terceiros e para os próprios policiais, bem como à eficiência na resolução de problemas e prevenção de desordens.

 Aumentar o salário dos policiais militares, num valor compatível com a importância social destes profissionais e riscos que enfrentam no exercício do seu trabalho. Segurança não tem preço.

 Ampliar programas de apoio à segurança dos policiais e à de suas famílias.

 Reforçar as Corregedorias, conferindo a elas independência em relação às chefias de polícia.

 Valorizar a Ouvidoria, para que amplie sua independência e capacidade investigativa.

 Atualizar os dados da violência apresentados pelo Instituto de Segurança Pública a partir da informatização das chamadas delegacias tradicionais.

 Priorizar a juventude, em políticas de integração educacional, lazer, saúde e de geração de trabalho e renda.

 Restaurar os direitos fundamentais das comunidades pobres (livre expressão, ir e vir e vida).

 Tratar como problema de saúde pública a dependência química de drogas alucinógenas e realizar um amplo trabalho de educação e combate ao uso de drogas.

 Promover ações de interação positiva entre as polícias e as comunidades, particularmente com a infância e a juventude.

 Reivindicar que o governo federal cumpra o seu papel no combate à violência, investindo nas áreas pobres da cidade, disponibilizando recursos para a segurança pública e fazendo a fiscalização das principais vias de acesso à região metropolitana do Rio de Janeiro, no intuito de combater a entrada de drogas e armas.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Adeus, Hugo - "Oito mil terão a vida interrompida em 2008"


Este texto foi publicado no blog Repórter de Crime, do jornalista do jornal O GLOBO, Jorge Antonio Barros. Eu o escrevi logo após haver recebido a notícia de que o menino Hugo, de apenas do 12 anos, que na semana passada fora vítima de uma bala perdida enquanto jogava futebol em um clube do Leblon, havia acabado de morrer.

A partir daqui o Jorge Antonio faz a introdução do seu post. A parte em intálico é o texto que enviei.

Estou acabando uma jornada pesada de plantão de sábado, a cabeça gira, o coração bate meio conturbado depois de saber da notícia da morte de Hugo, de 12 anos, que estava há uma semana internado em estado grave, vítima de uma bala perdida no Clube Federal, no Leblon. Dimmi Amora, repórter, me avisa: "Morreu o menino do Leblon". Corro para fazer a terceira edição, troca matéria de lugar, a busca rápida por destaque na edição, o editor decide dar chamada na primeira página.

Estou cansado de tanta violência, mas não podemos desistir. A inspiração foge totalmente e um internauta me salva. Por acaso, não é um internauta anônimo e sequer usa apelido (nick) para fazer três comentários que transformo num texto único neste post. É o líder do movimento Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, a quem aprendi a admirar ainda mais este ano, por sua incansável luta pela vida e contra os números absurdos de homicídios, com os quais nos acomodamos há mais de uma década.

Nem pedi licença a ele, mas aqui vai seu desabafo, que assino embaixo:

"Acabei de receber a notícia de que o menino Hugo de 12 anos, atingido por uma bala perdida no Leblon há uma semana, que gostava de futebol e torcia pelo Botafogo, morreu. Faço duas orações nesta noite de sábado: "Deus, consola o coração desta família. Deus, perturba os que estão calados e recusam-se ir para as ruas protestar.

Peço a todos perdão pela minha forma de falar. Mas, entendam que escrevo numa noite de sábado, na qual meus dois filhos adolescentes (que gostam de futebol, torcem para o Botafogo, ou seja, crianças reais, iguais ao Hugo) estão na sala assistindo a um filme, após termos passado o dia de hoje na praia. Como está a cabeça dos pais do Hugo neste momento? Eu não posso esperar a tragédia alcançar a minha família a fim de aprender a ser gente. Não creio em um Deus carrasco. Nao creio que a única forma de ajudar é indo para as ruas. Mas, não resta dúvida de que em muitas ocasiões nossas consciências precisam de ser despertadas. E, de igual modo, é fato fora de controvérsia que, milhares nas ruas protestando contra a letalidade pode fazer toda a diferença. A média anual de homicídios no nosso estado é de 8.000 vítimas. Isto significa que 8.000 seres humanos terão a vida interrompida mediante assassinato ano que vem. Não aceito em hipótese alguma a assunção de que nao podemos fazer nada para evitar essas mortes

Fala-se muito em termos de solução de médio e longo prazo para o problema da segurança pública no nosso estado, devido à gravidade e complexidade do problema. Isto é inegável. Julgo, contudo, que temos que pensar também em termos de solução de curto prazo. Qualquer governo capaz de afirmar que não tem como salvar estas vidas (8.000, de acordo com a estatística do SUS), está admitindo numa certa medida o colapso do pacto social no qual nos encontramos, e isto no que nele há de mais fundamental: o direito à vida.

Vejam os números parciais da violência no nosso estado no ano de 2007: 5.000 homicídios dolosos 4.000 desaparecimentos, 60.000 lesões corporais dolososas, 30 policiais mortos em serviço 1.100 autos de resistência Tenho vergonha destes números. É a nossa geração que está sendo derrotada e presenciando este massacre de vidas humanas. No espírito de M. Luther King, gostaria de encerrar dizendo que, o silêncio dos bons me deixa aturdido, mais do que o grito dos facínoras."


Num país europeu, nem precisa ser sério, no mínimo grande parte da sociedade sairia às ruas para manifestar sua dor, se unindo por exemplo ao protesto dos policiais, marcado para às 10h deste domingo, perto do Forte de Copacabana, contra a morte do policial Eduardo Demoro, ocorrida em novembro.

Mas certamente cada um tem muito o que fazer pela própria sobrevivência e a vida segue seu curso, e o que é pior, sem solidariedade nem lágrimas.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

LUTERO, O AMADO LUTERO!


Acabei de ler uma série de sermões e livros do grande reformador alemão, que marcam o início do seu trabalho, numa época em que sua teologia encontrava-se em pleno desenvolvimento e marcada em parte pela sua herança católica. Mas, mesmo assim, que mergulho na graça de Deus! O Deus de Lutero não amedronta. É pão para o faminto de misericórdia, fonte de água viva para o sedento de perdão. Um Deus maior do que aquele que é apresentado pela religião.

Lendo Lutero diretamente na fonte, ficamos com a nítida impressão que grande parte das igrejas evangélicas do Brasil não é protestante.

Aqui vai uma das suas declarações, extraída da sua "Demonstração das Teses Debatidas no Capítulo de Heidelberg (1518):

"... o amor de Deus, vivendo no ser humano, ama pecadores, maus, tolos, fracos, para torná-los justos, bons, sábios e fortes; assim, antes se derrama e proporciona o bem. Pois os pecadores são belos por serem amados, e não amados por serem belos. O amor humano evita os pecadores e os maus. Cristo diz: Não vim chamar justos, mas pecadores".